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D I V A L D O  P E R E I R A  F R A N C O

Divaldo é uma espécie de “embaixador” da doutrina espírita. Entre conferências, seminários e outros contatos, o médium já passou por 52 países em mais de 500 cidades mundo afora, além de 1,8 mil pelo território brasileiro. A missão é sempre a mesma: levar uma mensagem de paz e de renovação dentro dos princípios fundamentais do Espiritismo, preconizados por Allan Kardec

Entrevista com Divaldo Franco
Só a transformação moral pode mudar o mundo

Matéria publicada na edição online do jornal Diarioweb, de São José do Rio Preto,
10 de outubro de 2002 - www.diarioweb.com.br


Igor Galante

Carlos Chimba

O médium Divaldo Pereira Franco: mensagens de paz

Se há uma característica capaz de aproximar todas as religiões do mundo, é sua necessidade de identificar um líder que as represente. Para a doutrina espírita, no caso do Brasil, essa função foi ocupada durante décadas pelo médium Chico Xavier. Depois de sua morte, em junho deste ano, os espíritas passaram a procurar nova referência sobre a qual se apoiar. O nome mais provável para ocupar a lacuna deixada por Chico é o de Divaldo Pereira Franco, 75 anos. Sua idade é coincidente ao tempo de dedicação de Chico Xavier ao Espiritismo. Mas há entre ambos diferenças notáveis, muito além do fato de um ser mineiro e o outro baiano. Divaldo é uma espécie de “embaixador” da doutrina espírita. Entre conferências, seminários e outros contatos, o médium já passou por 52 países em mais de 500 cidades mundo afora, além de 1,8 mil pelo território brasileiro. A missão é sempre a mesma: levar uma mensagem de paz e de renovação dentro dos princípios fundamentais do Espiritismo, preconizados por Allan Kardec, o “codificador” da doutrina.

Divaldo também administra a Mansão do Caminho, gigantesca obra social e educacional em Salvador, que atende atualmente a 3 mil crianças carentes por dia. Também tem um amplo trabalho como psicógrafo: publicou 180 livros psicografados por espíritos. A maioria dessas obras tem traduções em outras línguas. Mas Divaldo Pereira Franco, natural de Feira de Santana, na Bahia, considera ingênuo qualquer paralelismo entre ele e o médium de Uberaba. “Allan Kardec desencarnou e uma plêiade de trabalhadores deu continuidade à sua obra. No Espiritismo não há esse tipo de autoridade se não moral. Assim, o que existe são herdeiros”, diz, em entrevista exclusiva ao Diário.

Confira como foi a entrevista na íntegra:

Diário da Região - Que tipo de mensagem o senhor procura levar a esses encontros com as pessoas pelo Brasil e fora dele?
Divaldo Pereira Franco - As propostas das quais eu sou portador estão baseadas no princípio fundamental do Espiritismo, que são a imortalidade da alma, a comunicabilidade do espírito, a reencarnação. Como vivemos numa sociedade muito agressiva e as pessoas experimentam muitos distúrbios, procuramos dar uma mensagem de paz e de renovação para que a criatura humana seja feliz.

Diário - Desde quando se propôs a essa missão?
Divaldo - Desde o dia 27 de março de 1947, quando eu proferi minha primeira palestra, na cidade de Aracaju. De lá para cá, venho proferindo conferências, realizando cursos, seminários, diálogos, contatos. Já visitei 1,8 mil cidades no Brasil e mais de 500 em 52 países do mundo. Em todas essas oportunidades, procuramos ressaltar essencialmente a grandeza da força espírita, porque a vida sem a base da reencarnação, sob o nosso ponto de vista, perde o seu caráter de lógica, tais as ocorrências que nos apresentam absurdas, sem uma aparente explicação. Dessa forma, levamos uma mensagem de otimismo, sem qualquer proposta de arrebanhamento de indivíduos, porque para nós o importante é ser um bom cidadão, e não ter um rótulo religioso apenas.

Diário - O senhor acha que alguma coisa mudou no seu papel dentro da doutrina espírita depois da morte de Chico Xavier?
Divaldo - Não alterou absolutamente nada. Chico Xavier realizou um périplo, que ele iniciou em 1927 e concluiu com grande brilhantismo neste ano de 2002. Sua tarefa era específica. Ele asseverava ser o médium do livro, mas foi muito mais, porque além de ser um excelente psicógrafo - o maior do mundo em todos os tempos - foi também um homem bom, um cidadão por excelência, um médium multiforme. Ele apresentava em alto índice as potências mediúnicas...

Diário - Vocês se conheciam?
Divaldo - Em 1948, no mês de março, tivemos nosso primeiro contato.

Diário - Como era a relação entre vocês?
Divaldo - Muito afetuosa. Houve um período, entre 1962 e 1974, que eu não tive possibilidade de o visitar. Depois retornamos, e nos últimos anos, em razão da doença dele, eu deixei de vê-lo, para poupá-lo, não obstante fosse sempre a Uberaba, para proferir palestras.

Diário - Como o senhor encara as comparações com Chico, que agora se tornam ainda mais freqüentes?
Divaldo - São destituídas de qualquer fundamento, porque eu sempre fui um trabalhador da causa. Viajo muito, realizo psicografias - já publiquei 180 livros -, mas Chico foi um médium por excelência: publicou 408 ou pouco mais do que isso. As pessoas ingenuamente tentam fazer paralelismos, não há por quê. Primeiro, no Espiritismo, não há esse tipo de autoridade se não moral, para que dê chance a herdeiros ou continuadores. Allan Kardec desencarnou e uma plêiade de trabalhadores deu sentido à continuidade de sua obra. Há no Brasil e no mundo um grande número de médiuns, que certamente não irão preencher a lacuna deixada por Chico Xavier, mas darão prosseguimento ao trabalho da doutrina espírita, com o mesmo amor que Chico demonstrava.

Diário - Qual o peso da palavra caridade dentro da doutrina espírita?
Divaldo - Podemos definir a caridade como o amor no seu sentido mais elevado. Nós temos a beneficência, a solidariedade, o altruísmo, que são expressões de generosidade. Mas a caridade é a doação de amor. Tanto ela é nobre quando damos um pedaço de pão, como no momento em que perdoamos. Não obstante, os espíritas tenham na visão da caridade a promoção do indivíduo, sua dignificação, e esse caráter de caridade moral. Hoje, nós valorizamos também a caridade da educação, porque liberta o indivíduo da ignorância. A caridade é uma luz que acendemos no mundo íntimo para que brilhe sempre.

Diário - O panorama mundial tem apontado conflitos em toda parte, iminência de uma nova grande guerra, violência, miséria. Por que há tanta intolerância?
Divaldo - Um escritor inglês, Thomas Hart, escreveu, há aproximadamente 200 anos: “O homem moderno perdeu o endereço de Deus”. Diria hoje que a criatura humana perdeu o endereço de Deus e perdeu a si mesma. Na hora em que o indivíduo se tornar melhor, o mundo será melhor. Lógico que a justiça social que provém das autoridades pode melhorar a miséria sobre muitos aspectos. Mas será a transformação moral do indivíduo, através da educação, que irá mudar o mundo. As guerras de ontem e de hoje, e as ameaças de guerra, são decorrência dos conflitos de cada indivíduo. Allan Kardec, muito preocupado já em 1856, perguntou aos espíritos o por quê da destruição. Eles responderam: “A destruição é uma necessidade, tudo se destrói para se renovar, mas não é necessário que a criatura humana seja o instrumento da destruição”. E ele voltou a perguntar: “O que leva o homem à guerra?” E os espíritos responderam: “Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e o desbordar das paixões”. Na hora em que houver a predominância da natureza espiritual e o equilíbrio das paixões, não haverá guerra.

Diário - Houve algum fato marcante em sua trajetória que o direcionou para a descoberta da espiritualidade?
Divaldo - Quando eu tinha quatro anos e meio - sendo o 13º filho de uma família muito modesta - estava brincando em minha casa, na cidade de Feira de Santana, na Bahia, onde nasci, e chegou uma senhora, me chamando pelo nome de família: “Di, eu quero falar com Ana”. Então eu gritei para minha mãe, que se chamava Ana: “Mãe, aqui tem uma mulher que quer falar com a senhora”. Minha mãe veio correndo. Quando ela chegou, não viu a pessoa a quem eu me referia. Disse: “Menino, não me tire do trabalho”, e voltou. A senhora voltou a me dirigir a palavra: “Di, eu sou sua avó. Diga a Ana que eu quero falar com ela, eu sou Maria Senhorinha”. Voltei até minha mãe: “Ela está dizendo que é Maria Senhorinha, minha avó”. Minha mãe veio como uma bala, porque ela não havia conhecido a própria mãe. Quando nasceu, minha avó morreu de infecção. E ela nunca havia pronunciado o nome da mãe, porque foi criada por uma irmã, a quem nós consideramos ser a mãe dela. E eu não sabia também o que era avó, porque quando eu nasci os meus quatro avós já estavam mortos...

Diário - Era sua primeira experiência mais próxima com um espírito?
Divaldo - Sim, foi daí que se desencadeou todo esse processo. Eu considero esse o fato mais marcante da minha vida. Ao longo dos anos, inúmeras ocorrências na mediunidade marcaram muito a minha existência. Principalmente no caso de pessoas que me procuraram em profunda angústia, planejando suicídio, programando homicídios, e apareceram os espíritos, dando-lhes notícias, dialogando, mudando seus comportamentos. Tudo isso tem para mim um grande impacto.

Diário - O que são os Espíritos de Luz e os Espíritos Obsessores descritos pelo Espiritismo e de que maneira eles influenciam a vida humana?
Divaldo - Allan Kardec fez a mesma pergunta aos espíritos nobres: “Interferem os espíritos em nossa vida?”. No que responderam: “Mais do que supondes, a ponto de que são eles que vos conduzem”. Os espíritos são as almas das pessoas que viveram na terra. De acordo com seu nível intelecto-moral, ao desencarnarem, dão prosseguimento àquele estágio. Se forem bons, nobres, serão mais elevados; se foram perversos e vulgares, eles prosseguirão com esses conflitos, sendo dessa forma taxados como do bem ou do mal. São chamados obsessores os espíritos maus, que gostam de perseguir, que assediam, se impõem sobre a vontade daqueles que eles tomam como vítimas. Invariavelmente, são espíritos que foram ludibriados, martirizados, e como não souberam perdoar, tornaram-se algozes daqueles que eles consideram os responsáveis pela sua desgraça.

Diário - Existem ‘brechas’ para que eles se aproximem?
Divaldo - A brecha principal é a dívida. Como o endividado é normalmente um espírito também perverso, que não tem ainda a dignidade, que não desenvolveu valores éticos, essas brechas morais permitem a sintonia e o acoplamento, que não é o espírito entrar na pessoa, mas vincular-se à ela, impondo sua vontade e levando a pessoa desde ao transtorno mais singelo, que chamamos de obsessão simples, até a subjugação, o grau mais grave e, às vezes, irreversível, que no Evangelho aparece como possessão. Allan Kardec preferiu a palavra subjugação porque possessão dá a idéia de possuir, como se o espírito entrasse no indivíduo, e não é assim. A subjugação é um domínio mental, das aptidões físicas, das energias.

Diário - E como se libertar disso?
Divaldo - Através da oração, da boa conduta, dos bons sentimentos, da leitura saudável, da fraternidade, da ação da caridade. Nós temos aí a terapêutica preventiva e duradoura.

Diário - É possível que o livre-arbítrio aja sobre o carma de modo a transformá-lo ou redirecioná-lo, ou o Espiritismo não aceita essa possibilidade?
Divaldo - O Espiritismo não adota muito a palavra carma, porque na visão ancestral, o indivíduo que cometeu crime tem de pagar. O Espiritismo adota a lei de causa e efeito. Os efeitos maus vêm de causas degenerativas. Então, o livre-arbítrio, a cada instante, altera nosso carma. Todo o bem que nós fazemos diminui o mal praticado, porque o bem sobrepõe-se ao mal. O bem é a luz, e toda vez que acendemos a luz ela dilui as trevas. Daí, na visão espírita, que é a visão cristã, o amor cobre os pecados da multidão. Não estamos na Terra para sofrer, para pagar. Estamos na Terra para recuperar-nos, regenerarmos, reeducar-nos. O Espiritismo demonstra que nós somos autores do nosso destino, que a felicidade é construída por nós. De acordo com nossos atos, semeamos, e graças a eles, colhemos.

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Entrevista com Divaldo Pereira Franco em São José do Rio Preto, publicada pelo Diarioweb no dia 10 de outrubro de 2000
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