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July 11, 2003

A média inglesa

O fato de, pela primeira vez, o Campeonato Brasileiro ser disputado em pontos corridos está provocando uma enorme desorientação em torcedores, jogadores, treinadores, dirigentes e jornalistas. Ninguém tem muita idéia de como se deve disputar um campeonato dessas características. Os que mais têm noção são os que acompanham os campeonatos europeus há muito tempo. Mas, como esses são poucos, sobram teorias.

Cada um tem a sua, quase sempre baseadas em frases feitas, como “em pontos corridos todo jogo é final”, “empatar fora de casa é mal resultado” e “não pode deixar o líder distanciar”. Bem, a última é até correta, mas é bem óbvia. As outras duas – largamente ditas em transmissões e entrevistas – não são tão corretas assim.

Realmente, qualquer jogo em um campeonato em pontos corridos pode ser crucial. Por exemplo, a Real Sociedad não foi campeã espanhola dessa temporada por dois pontos. Se não tomasse um gol no último minuto quando vencia por 2x1, em casa, o Villarreal, desbancaria o Real Madrid. É o suficiente para dar suporte a essa teoria do “todo jogo é final”. Mas um torneio em pontos corridos é longo o suficiente para que todo mundo cometa seus “pecados”. Assim, basta olhar a campanha do Real Madrid e será possível encontrar pontos bobamente perdidos, como nos 1x5 sofridos em casa diante do Mallorca. Portanto, ao mesmo tempo em que toda derrota pode ser decisiva, quase todos os deslizes são recuperáveis. Apenas os pontos perdidos nas últimas rodadas é que nem sempre têm volta.

Mas a maior bobagem que andam falando é o tal de “empatar fora é mal resultado”. O que essas pessoas querem? Que um time seja campeão vencendo todos os jogos? Na Europa, se utiliza muito o conceito de “média inglesa”, os pontos que um time teria se ganhasse tudo em casa e empatasse sempre como visitante. Óbvio que é hipotético, mas a meta da média inglesa é muito mais palpável do que querer vencer todos os jogos fora de casa.
Para ilustrar como a média inglesa pode ser útil no Brasileirão 2003, veja como ela seria aplicada em campeonatos europeus de pontos corridos nos últimos sete anos:

Espanha
2002/03: O Real Madrid fez 78 pontos. O vice ficou com a Real Sociedad, que igualou a média inglesa (76).
2001/02: o Valencia foi campeão com 75 pontos, 7 a mais que o La Coruña. O time que atingisse a cota seria campeão.
2000/01: o Real Madrid fez 80 pontos (7 a mais que o La Coruña) e ficou com o título. A média inglesa daria o vice-campeonato.
1999/00: o La Coruña terminou com 69 pontos no ano em que saiu da fila, 5 à frente de Valencia e Barcelona. Quem tivesse a média inglesa seria campeão com folgas.
1998/99: o Barcelona disparou e fez 79 pontos, 11 (!) a mais que o Real Madrid. A média inglesa seria vice.
1997/98: novamente deu Barça, com folgas (74 pontos, 9 a mais que o Athletic Bilbao). Mas nem os catalães atingiram a cota.
1996/97: o Barça de Ronaldo e o Real Madrid de Suker dispararam na frente. Com isso, a média inglesa (84 anos pelo inchaço de clubes nesse ano) só seria 3ª colocada, a 6 pontos dos catalães e a 8 dos castelhanos.

Itália
2002/03: A média inglesa na Itália é de 68 pontos (são 18 clubes na Serie A). Internazionale e Milan ficaram na corrida pelo título durante quase todo o tempo. E nem assim atingiram esse patamar. Só a Juve o fez, com 72.
2001/02: O domínio de Juventus, Roma e Internazionale foi tão grande que os três passaram da cota. Mas por pouco. A Juve ficou com 70, um a mais que os romanos e dois a mais que os milaneses.
2000/01: Outro caso de corrida a três que extrapolou a cota. Roma fez 75 pontos, Juventus 73 e Lazio 69.
1999/00: Dessa vez, só dois acima da média inglesa: Lazio, com 72 pontos, e Juventus, com 71.
1998/99: Outro caso de campeão e vice acima da média inglesa. Milan levou o scudetto com 70 pontos, contra 69 da Lazio
1997/98: Juventus, 74, e Inter, 69, ficaram acima da média inglesa.
1996/97: Último ano em que a média inglesa daria o título. A Juve fez 65 pontos, dois a mais do Parma.

Alemanha
2002/03: O domínio do Bayern foi assustador: 75 pontos, 7 a mais da média inglesa. Mas os seguidores mais próximos (Stuttgart e Dortmund) nem chegaram perto (59 e 58).
2001/02: Campeonato equilibradíssimo. Dortmund (70) e Leverkusen (69) ficaram acima da média inglesa. O Bayern Munique a igualou (68).
2000/01: A média inglesa (68) seria campeã com alguma sobra. O título ficou com o Bayern (63 pontos, um a mais do Schalke 04).
1999/00: Bayern Munique e Bayer Leverkusen superaram a cota, ambos com 73 pontos.
1998/99: Com uma campanha fora dos padrões germânicos, o Bayern fez 78 pontos. O Leverkusen ficou a 15.
1997/98: O Kaiserslautern igualou a média inglesa e levou o título.
1996/97: Bayern (71) e Leverkusen (69) ficaram pouco acima da média inglesa.

Inglaterra
2002/03: Na terra que, imagino, tenha criado a média inglesa, campeão e vice ficaram acima dela esse ano. Manchester United fez 83 pontos e Arsenal, 78. A cota foi 76.
2001/02: Três times muito acima dos demais superaram a média inglesa (76). Arsenal (87), Liverpool (80) e Manchester United (77).
2000/01: Só o Manchester United superou a cota (80). O vice Arsenal ficou bem abaixo (70).
1999/00: Com uma campanha absurdamente positiva, o Manchester United fez 91(!) pontos, passando a média em 15. Mas o vice Arsenal ficou abaixo (73)
1998/99: Novamente Manchester e Arsenal na frente, ambos pouco acima da média (79 pontos para os diabos, 77 para os londrinos).
1997/98: Idem ao ano anterior, mas trocando a posição dos protagonistas. Arsenal campeão com 78, Manchester vice com 77.
1996/97: Ninguém acima da média inglesa. Manchester levou a Premiership com 75 pontos. E ainda assim teve folga, pois o vice (Newcastle) fez apenas 68.

França
2002/03: A média inglesa dos franceses é 68 pontos. O Lyon foi bi atingindo justamente essa marca.
2001/02: O Lyon saiu da fila sem alcançar a cota, pois fez 66.
2000/01: O Nantes surpreendeu e levou o título sem contestações. Mas só empatou com a cota.
1999/00: A média inglesa seria campeã folgada. O Mônaco fez apenas 65 pontos, 7 mais que o Paris Saint-Germain.
1998/99: Com uma briga bipolar, foi a única vez nos últimos anos em que alguém ficou acima da média inglesa na França. Bordeaux ficou com 72 pontos, um a frente do Olympique Marseille.
1997/98: Novamente a disputa se limitou a dois times. Mas o melhor que Metz e Lens fizeram foi igualar a média inglesa. O Lens foi campeão pelo saldo de gols.
1996/97: Com 20 clubes, a média inglesa foi de 76 pontos, três a menos do que fez o campeão Mônaco, mas 9 a mais do vice Paris Saint-Germain.

Que conclusões que se pode tirar desse monte de números e aplicar no Campeonato Brasileiro? Bem, fica claro que, em torneios equilibrados, os pequenos acabam tirando muitos pontos dos grandes. Assim, um time que mantiver a média inglesa é postulante sério ao título. No entanto, campeonatos em que dois ou três times disparam acabam com uma quantidade grande de equipes sem interesse, o que ajuda a inflar a pontuação dos líderes.

Por exemplo, vê-se que a Itália registrou um número grande de times acima da cota. Na realidade, esses números mostram como os coadjuvantes do Campeonato Italiano empobreceram, tirando cada vez menos pontos dos grandes. Entre 81 e 95, período do auge do calcio, apenas 4 times estiveram acima da média inglesa: a Juventus de 82 e 95, a Internazionale de 89 e o invicto Milan de 92.

É consenso que futebol daqui é mais equilibrado que qualquer um dos europeus citados. Inclusive, a discrepância entre grandes e pequenos foi o motivo pelo qual os números de Holanda e Portugal nem foram mostrados, pois não teriam muito valor analítico. Portanto, a chance de, no Brasil, os protagonistas perderem pontos para os coadjuvantes é grande, o que torna a média inglesa uma meta mais interessante ainda.

Com esses dados em mãos, é possível afirmar que empatar fora de casa não é um resultado necessariamente ruim. Vitórias fora de casa são fundamentais, seguindo esse raciocínio, para recuperar pontos perdidos em casa ou derrotas como visitante. É verdade que todo mundo tem seus débitos na média inglesa. Mas o princípio de empatar fora continua sendo atraente se for controlado.

A média inglesa do Campeonato Brasileiro de 2003 é 92 pontos. Hoje, com 14 rodadas, a média está em 28 pontos, justamente o patamar em que está o líder isolado Cruzeiro.

Ubiratan Leal




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