Olhos da cor do mar que, de tão claros,
deixam transparecer saudade quando o assunto é
ciranda. A expressão é de Vitalina
Alberta de Souza, a eterna cirandeira da praia do
Janga. O apelido Duda foi escolhido por ela mesma,
quando ainda era criança e balbuciava as
primeiras palavras. O tempo passou, a menina cresceu
na beira do mar e quando virou mulher surgiu uma
das mais conhecidas figuras da cultura popular pernambucana:
Dona Duda.
A cirandeira, nacida no dia 16 de abril de 1923,
compõe canções com a espontaneidade
das brincadeiras de criança, diz que para
ela não há nada melhor do que ver
mãos pegadas umas nas outras, dançando
com a ginga das ondas do mar. "É bom
saber que tem gente jovem que se interessa pela
nossa cultura. A ciranda para mim é como
um jardim e o que me deixa mais feliz é
ver minhas flores e meus cravos tudo florindo",
diz emocionada, durante uma entrevista realizada
em 2001.
A brincadeira de roda faz parte de sua vida desde
os nove anos, quando a diversão era juntar
as amigas, dar as mãos e dançar.
Mas, antes de se dedicar unicamente ao folguedo,
Dona Duda ganhava a vida como costureira. Em 1969
veio a idéia de criar um bar na praia do
Janga, onde foi morar depois de casar.
O sucesso não demorou. "Quando os
freqüentadores do bar descobriram que todo
sábado tinha ciranda, a praia pegou fogo",
diz animada na mesma entrevista. Logo, o cenário
quase deserto de Paulista, na Região Metropolitana
do Recife, foi tomando forma e se desenvolvendo.
Um dos maiores orgulhos da cirandeira foi ter
visto e ajudado a cidade crescer com sua ciranda,
que logo integrou o calendário turístico
de Pernambuco.
"A idéia de promover a ciranda na
praia foi a única maneira de distrair os
filhos dos pescadores, que não podiam freqüentar
as rodas de coco", relembra durante a entrevista
realizada em 2001. Porém, a Ciranda de
Dona Duda ultrapassou limites e brilhou por cinco
anos, fazendo sorrir os que por ali passaram.
Vieram festivais, realizados na praia, que renderam
prêmios e um disco gravado pela extinta
Rozemblit.
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