Momo

Momo é uma adolescente normal que quer somente amar e ser amada. Só que ela tem um problema sério para uma garota japonesa, o excesso de melanina. Melanina, para quem não lembra, é o que dá pigmentação à nossa pele, só que no caso de Momo, a mínima exposição ao sol gera bronzeamento instantâneo. O que seria uma bênção no Brasil, no Japão cheira à vulgaridade e pode comprometer a imagem de uma moça, já que o ideal de beleza - e pureza - está associado a uma pele branca e leitosa. Por essa razão, a moça é assediada na rua por tarados de meia idade, na escola é difamada pelos colegas. Infelizmente, esse não é o maior problema de Momo.

Momo tem uma amiga, Sae, que de amiga não tem nada (Ela me lembra muito a Maria de Fátima da novela Vale Tudo de Gilberto Braga...). Sae faz de tudo para imitar a amiga, e, ao mesmo tempo, espalha histórias que aumentam a "má fama" de Momo. Sae vive grudada na protagonista, e, para completar, a víbora se enquadra perfeitamente no modelo de beleza japonesa: pequenininha, carinha de criança, pele clara, ela é o "kawaii" ambulante. Mesmo assim, Sae não dessiste até conseguir ter tudo o que a amiga deseja. E o que Momo mais deseja? Bem, Momo é apaixonada, desde o ginásio, por um colega de classe, Toji. Só que um dia, uma amiga comum lhe contou que o rapaz não gostava de moças bronzeadas. A partir de então, a pobre Momo decidiu largar a equipe de natação e fazer o possível para se tornar a "branca de neve". Só que era tudo um mal entendido, uma grande mentira da "amiga", já que o rapaz não tinha problema algum com a pele de Momo e só não tolerava as moças que passam o dia na praia ou fazem de tudo - inclusive se prostituir - para pagar seções de bronzeado artificial, ou seja, ele não gosta de "gals". Cavalheiro, Toji sempre Sae, a falsa defende a reputação de Momo e, mesmo sem saber, gosta dela.

Para despistar Sae, que já estava desconfiada, Momo mente e diz que sua paixão é Kairi, um dos garotos mais desejados da escola. Engraçado é que Kairi, dispensa Sae e admite que gosta de Momo... Só que o rapaz, sendo meio sacana, começa a espalhar "histórias" sobre ele e a moça. Com a reputação em jogo, Momo parte para a ofensiva e vai tirar a coisa a limpo com ele... Quase ao mesmo tempo, Toji se dá conta do quanto gosta da dela... Esse, claro, não é o fim da história, é só o começo. Toji, Momo, Kairi (que não é tão mau assim) e Sae vão ainda vão passar por muitas situações, algumas comuns, outras bem inusitadas.

Peach Girl é uma história quase 100% realista e mostra as dificuldades da adolescência. Adultos, na história, temos basicamente três: Ryo, o irmão canalha de Kairi, Misao a responsável enfermeira da escola que parece ter um rolo com os dois irmãos, e Morika que já namorou os dois irmãos. Por aí vocês tiram que a vida de Kairi é um pouco complicada e, sim, ele esconde algumas coisas da pobre Momo. Eu poderia falar mais coisas, afinal a história já acabou faz tempo no Japão, mas para aqui. Deixo você descobrir com quem Momo fica no fim. Mas, falando sério agora, o mais importante para mim não é se Momo fica com Kairi ou Toji, mas vê-la se libertando dos modelos de beleza, retornando ao time de natação e encarando a vida de frente.

Peach Girl foi um dos grandes sucessos do shoujo mangá de sua época e foi publicado quinzenalmente, desde 1998, na revista Betsu-fure(Bessatsu Friend), a mesma revista que publicou Mars. O mangá foi concluído em janeiro de 2004 e o último volume encadernado, o 18, foi publicado em fevereiro. Mas a autora decidiu continuar a série publicando um gaiden centrado em Sae, a nova série, chamada Ura Peach Girl (Peach Girl Reverso) que contou com três volumes.

Miwa Ueda é a autora de Peach Girl e é uma veterana dos mangás com mais de uma década de experiência. Segundo ela, o drama de Momo é inspirado em suas experiências de adolescência e a realmente as personagens parecem adolescentes de carne, osso e neuroses, o que acaba dando Toji, Momo, Kairi crédito as informações da autora. Claro, que não temos como negar que a moda das Gals, deve ter influenciado também, já que ajuda a compor a imagem e o drama de Momo. Outra qualidade é a arte do mangá que é excelente e com uma narrativa bem dinâmica. As imagens coloridas que Ueda desenha são bem psicodélicas e acabam sendo um atrativo a mais para algumas pessoas, embora eu mesma prefira a belíssima arte em preto e branco da autora. Outro atrativo da série é o realismo fantástico que aparece, principalmente, quando a vilãzinha Sae se dá mal. Quando isso ocorre a menina, sempre cheia de si, fica bidimensional, fininha e levinha como uma folha de papel. Ah, quase me esqueci de falar do título! Momo em japonês quer dizer pêssego e ao mesmo tempo é a cor rosa, que seja metáfora para a pele bronzeada da moça.

Peach Girl tem sido sucesso em qualquer lugar onde é publicado, e foi até transformado em seriado live action em Taiwan (imagem). Aliás, nesse país é quase regra fazerem live actions de shoujos de sucesso, e os outros casos famosos são Hana Yori Dango, Mars e Hanakimi. A série foi ou está sendo publicada em muitos países como Itália, França, EUA e, agora também, no Brasil. A nossa primeira edição chegou às bancas em outubro (2003) e deve garantir para os leitores brasileiros bons momentos de lazer.

A editora de Peach Girl no Brasil é a Panini, e a série foi o primeiro shoujo da editora no país. Lamentável foi a opção da editora pelo espelhamento que já na época estava na contra-mão da tendência mundial e da preferência dos consumidores. Na Itália, onde o mangá foi publicado por outra editora, a Play Press, o mangá já não estava sendo espelhado. Nos EUA, o mangá foi publicado pela Tokyopop, a primeira arte espelhado (eu tenho o volume #1), depois foi toda relançada em sentido oriental. Aliás, o título "Change of Heart" usado nos EUA para a segunda metade da série, não é oriundo do Japão, mas foi escolhido para marcar o abandono do espelhamento. O ideal seria abandonar o espelhamento aqui também, mas o retorno da série foi feito mantendo a escolha original. A editora pesquisou, verdade, e a maioria optou pela homogeneidade da coleção, já que não há esperança de relançamento.

Os maiores problemas da edição brasileira, entretanto, foram a baixa qualidade da tradução e os equívocos na adaptação do texto. Por opção da editora (*aqui do Brasil ou da Itália, sei lá*) a tradução estava sendo feita do francês, não do japonês. Fora a perda que isso representa, já que nunca é aconselhável fazer tradução da tradução, o texto ainda era mal revisado, o que tornava muitas cenas confusas; além disso, já esqueceram textos em francês e o uso excessivo de gírias, em especial, o "ficar", também comprometeram a qualidade dos primeiros volumes da edição brasileira. Resolveram o problema depois, mas Peach Girl só tem se salvado porque a história é realmente muito boa, não fosse isso, comprar a edição da Panini seria perda de dinheiro... Fora isso, a editora tem aumentado o preço de seus mangás quase que de 4 em 4 edições sem maiores explicações, fora os atrasos...

Entretanto, apesar dos pesares, ter Peach Girl no mercado brasileiro, naquela época, foi um grande avanço, pois além de ser um shoujo - gênero menosprezado pelas nossas editoras - era um quadrinho voltado para um público que está no fim da adolescência e além. Por isso, a iniciativa da Panini foi válida e louvável, só precisavam respeitar mais as obras que publicam. O sucesso de Peach Girl no Brasil poderia ter aberto muitas portas por aqui, mas não foi assim.

A melhor notícia sobre Peach Girl nos últimos tempos veio do Japão: a série virou anime em janeiro de 2005. Infelizmente, a série decepcionou um pouco os fãs, pois a animação utilizada era das mais precárias. Para se ter uma idéia, Peach Girl anime está no mesmo nível de animação de séries como Hana Momo Yori Dango que em sua época já eram consideradas pobres nesse quesito. Com investimento reduzido, não é surpresa que não tenhamos grandes hits no campo dos shoujo anime nos últimos tempos. Além dos problemas técnicos, o anime é uma versão censurada do mangá, o que vem tirando o impacto (**e coerência**) de algumas cenas. Por exemplo, uma camisinha de Vênus na carteira - pivô de uma forte discussão entre Momo e Toji - foi transformada em inocente presilha de cabelo. A armação de Sae perdeu muito do seu impacto. Pena, porque os dubladores estão ótimos e a história é empolgante. Peach Girl merecia mais!

CANCELA? NÃO CANCELA?

Este parágrafo foi escrito em 28 de julho de 2005 para avisar que, exatamente por causa de todos os erros da Panini, ficamos sabendo que a editora pretende cancelar a série depois do número #24. Nós ficaremos, se as vendas não subirem sem 12 edições de um dos mangás mais comentados pelos fãs. Sim, parece mentira, mas Peach Girl, de acordo com sua editora, dá prejuízo. Se você não quer que seu mangá favorito desapareça das bancas, assine o abaixo-assinado e mande um e-mail para a Panini, além de comprar o mangá, é claro. Se quiser saber da história toda, visite meu blog. É de morrer de raiva.

Só acrescentando, até hoje, em 28 de janeiro de 2006, não se confirmou se Peach Girl será ou não concluído. 24 edições foram lançadas, o abaixo-assinado foi um sucesso, os fãs se manifestaram e, duvido, que as vendas não tenham subido. Enfim, mas nada disso contou muito. Para que não pensemos que é perseguição com Peach Girl, lembro a todos que estão lendo que Crayon Shin-chan (*lançado da forma mais não-mangá possível por aqui*) e Éden também estão no mesmo barco. A única diferença foi que nós nos mobilizamos, mas empresas no Brasil não respeitam os consumidores e acham que nos fazem um favor ao oferecerem seus produtos. Temos que comprar calados e aceitar qualquer coisa ou nada, como no caso Peach Girl... Uma grande lástima!

Leram aí em cima? Pois é, decidi manter esses dois parágrafos para que a história do caso não fosse perdida. Devo avisar, porém, que Peach Girl voltou a ser publicado em outubro de 2007. Vitória dos fãs, esforço da Elza Keiko, editora de mangás da Panini. Vamos ver se agora a coisa segue tranqüila até o fim. Espero que os fãs fiéis continuem comprando o mangá e que mais gente descubra essa simpática obra de Miwa Ueda que temos o prazer de ter novamente em nossas bancas.




Webmistress: Valéria "Utena-sama" - 11/11/2003


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