29/05/2009 - 11:10
SÃO PAULO | Cheguei, um pouco cansado pelo desconforto do avião, um sonho bizarro — eu estava no mesmo avião, na mesma fileira, com gente diferente a meu lado e eu voltei a 2006; fiquei inconformado e não havia entendido o porquê, querendo voltar para a realidade —, quatro malas, muita coisa para tirar, e a análise de que minha conta bancária faleceu depois de uns sete anos e só deixa dor de cabeça.
Cheguei e fui informado de que Tomas Scheckter, um dos mais zueiras do grid e a cara do Jason Biggs, o protagonista de American Pie, vai substituir Milka Duno em Milwaukee. A Milka, a simpaticona e predicados embutidos que encontrei na terça-feira no Sakura, à espera da comida japonesa que nunca vinha, ao lado do Benito, da Daniela, do Alberto, do Polehtto, do Carsten e do Fausto, e a Milka, toda de preto, foi reconhecida por alguns fãs, tirou fotos, sorriu, ficou mais um tempinho e saiu.
Cheguei e lembrei que, ao falar de estar de preto, não falei da história do padre que fica no cruzamento das ruas à noite. Ainda vou dedicar um post a isso, mas preciso que o Thiago Medeiros me passe a foto. Thiago que me ligou às 4h30 da manhã, aqui de São Paulo, só para falar “não acredito!, você?”, uma piada interna, o Thiago é um cara que faz o estilo “tô nem aí”, mas senta o pé, boa gente demais. Como todos os outros.
Cheguei e já coloquei o relógio de parede da Ganassi na parede, tirei a miniatura do carro do Dan Wheldon da caixa e falta só o do Marco Andretti, para que ambos fiquem do lado da Jordan 2003 do Giancarlo Fisichella. E tem a bandeira quadriculada em miniatura ao lado do computador, bem como o chaveirinho de Indy. E ainda falta a placa do Indianapolis Motor Speedway e sua ‘centennial era’ e a do ‘Speed Limit’ de 230 mph.
Cheguei. A cabeça está lá ainda, mas logo o hábito volta. O trânsito de São Paulo e a garoa da manhã já ajudou muito nisso.
Autor: Victor - Categoria(s): F-Indy
Tags: F-Indy, Indianápolis, São Paulo
28/05/2009 - 02:33
INDIANÁPOLIS | É minha última noite. E que chuva. E que tempestade.
Mas foi tudo — ou quase tudo — muito bom. Uma primeira vez que, diz o ditado, é inesquecível.
A hospitalidade e paciência do Polehtto e do Allatere, por quem tenho uma gratidão ad eternum, a encenação com o Medeiros, a simpatia da Aline, a parceria do Benito, a atenção e os elogios da Dani — Kososki será a musa do blog; ela vai matar o Benito —, o Marsili e sua zica, os papos com a Bia, o Danilo e a ajuda em Indy e Indy.
O autódromo — descrevê-lo é indescrítivel —, as coisas que vi e que aconteceram, a corrida, o trabalho, as entrevistas, a exclusiva e a visita, os bons lugares para visitar e comer, para ver e comprar, o Lakeshore e o Circle Center, a Allisonville e a Keystone, as igrejas e o padre do qual não falei, as bandeiras quadriculadas e patrióticas, o mito KFC ao qual não fui e o bauru, todos símbolos de uma realização.
É isso. Ano que vem tô de volta.
Autor: Victor - Categoria(s): F-Indy
Tags: corrida, Indianápolis, Indy, resumo
24/05/2009 - 17:53
INDIANÁPOLIS | A vida tem dessas, de pôr as pessoas à prova. Se até outro dia Helio Castroneves lutava e sofria para se manter livre, eis que meses depois, neste domingo (24), obteve o máximo da glória que pode alcançar na carreira. Confirmando o favoritismo, pelo que fez nos treinos e pelas estatísticas, o brasileiro venceu as 500 Milhas de Indianápolis.
Helio aproveitou-se da briga entre Dan Wheldon e Danica Patrick no fim da prova para desgarrar e sobrar no oval de 2,5 milhas, subindo os alambrados do circuito pela terceira vez. É a coroação de um piloto que precisou vencer uma batalha judicial das mais ferozes até outro dia.
Townsend Bell foi a surpresa da corrida, levando a KV ao quarto lugar. Will Power, que chegou em determinado momento a ser a ameaça de Helio, ficou em quinto, numa corrida marcada por um gravíssimo acidente entre os brasileiros Vitor Meira e Raphael Matos.
A corrida começou após uma largada falsa, por conta da pressa de Helio, e durou uns dez segundos em bandeira verde. Porque Mario Moraes e Marco Andretti, dois dos pilotos mais jovens do grid, acharam-se logo na saída da primeira curva. Proporções devidas, a cena foi semelhante ao toque de Bia Figueiredo na sexta, pela corrida da Indy Lights. Como a piloto brasileira, o compatriota não viu e não foi avisado pelo spotter de que Marco estava na linha de cima. Moraes, tido como o azarão da Indy 500, arrastou-se no muro.
Marco era a desolação pura; a voz e o desabafo nem precisavam denunciar; Moraes, o nervosismo. A repórter da ESPN chegou e perguntou a Mario sobre o acidente. “Eu sei que o [número] 26 me acertou. O que ele disse? O que ele disse?”, respondeu, querendo saber sobre o desafeto daquele momento. A jornalista contou que Marco foi na base do “não tenho ideia”. “Ele me acertou. Estava na minha linha. Não sei de onde ele veio”, disse, gaguejando, nervoso e em passos largos. “Onde você vai agora?”, ela continuou, e ele respondeu: “Vou perguntar para ele”, em tom ameaçador.
E segundos depois, os dois, em seus respectivos boxes. Marco, desolado, olhando para o nada. E Mario, de óculos, escondendo o choro.
A relargada veio, e com ela a ascensão de Dario Franchitti à ponta da prova. Que demorou até a volta 19. No intervalo, outra bandeira amarela, causada pela batida de Ryan Hunter-Reay na curva 4 — e o impacto jogou o norte-americano da Vision do outro lado, no muro interno, e posteriormente aos pits — e a primeira parada coletiva nestes.
No primeiro quarto de prova, ficou visível que seis carros se destacavam dos demais naquelas condições: as Ganassi, as Penske, Tony Kanaan e Graham Rahal. Que deixou o grupo reduzido a cinco ao encher o muro no mesmo lugar de Hunter-Reay. Foi passar o retardatário John Andretti entre as curvas 3 e 4, usou a linha externa demais e restou-lhe a lamentação.
A segunda janela de pit-stops, ainda em amarela, manteve Briscoe em primeiro e pôs Dixon à frente de Franchitti, Kanaan e Castroneves, nesta ordem. Só que o ressurgir da verde viu um Briscoe lentíssimo. “Não sei o que aconteceu. Perdi toda a aderência”, logo o australiano falou para a equipe via rádio. Dixou pulou à ponta, enquanto Ryan voltava aos boxes. Problemas nos pneus.
Por conta das estratégias em banho-maria, com poucas ultrapassagens, as atenções começaram a se voltar para os “excluídos” do grupo da ponta. No caso, Raphael Matos. Sétimo no início da prova, beneficiou-se com o abandono de Rahal e com o contratempo de Briscoe e superou Castroneves para ficar na quarta colocação com o carro da Luczo Dragon. Pouca coisa mudou até o terceiro acidente do dia: Davey Hamilton deu no zicado muro da curva 4.
Terceira parada programada, e os mecânicos de Franchitti foram mais rápidos que os do companheiro Dixon. O escocês voltava à liderança, e nada de novo surgiu entre o “novo grupo dos 5″, que passava a contar em definitivo com Matos. Mas bastou o pano verde aparecer para que Dixon recomandasse as ações, por recomendação da Ganassi.
Antes que as 500 Milhas chegassem à metade, eis que o destino aprontava mais uma com Kanaan. Após mexer no botão do volante para um pequeno ajuste, sob controle absoluto do carro, eis que algo se quebrou na parte traseira. Tony foi jogado imediatamente ao muro já perto do fim da reta oposta. O impacto ainda o jogou na entrada da curva 3. Kanaan nada sofreu. Na verdade, Kanaan sofre com Indianápolis.
Então brotou um momento de companheirismo explícito. Via rádio, na volta seguinte à batida, Danica Patrick soltou: “Meu Deus, como é que o Tony está? Está tudo bem, está tudo bem?”, e a equipe acalmava a piloto, então na sexta posição.
Foi a deixa para a quarta parada nos pits. A dupla Dixon-Franchitti seguiu na frente, passando a comboiar Will Power, o até então apagado terceiro carro da Penske. E ainda a prova seguia uma procissão estratégica e calma interessante, mas por vezes monótona. Nem mesmo Briscoe apresentava uma evolução das mais expressivas. Na volta 131, por exemplo, quando a quinta amarela do domingo apareceu por conta do medroso Nelson Philippe — raspou no muro da 4 —, Ryan ainda era 16º.
Explicando o medroso Philippe: o francês admitiu por duas vezes que contorna com certo receio as curvas do circuito de Indianápolis.
Enfim, os pilotos voltaram aos pits, e Dixon permaneceu em primeiro. Só que a Ganassi derrubou Franchitti. A mangueira ficou presa, e o escocês foi para oitavo. Problemas também afetaram Vitor Meira, cujo carro viu-se flamejante após o etanol espirrar. O brasileiro jogou o volante e ameaçou sair; a equipe jogou água, o fogo se foi, o volante retornou a seu posto de origem, Meira voltou à corida, e o público o ovacionou.
Nisso tudo, Castroneves pulou para segundo, com Power em terceiro. Power, então fixo entre os primeiros, caiu para quarto e Paul Tracy, que até hoje tem entalada na garganta a “derrota” aqui em 2002, surgia na disputa.
Matos, que vinha tão bem, despencava para o 20º lugar.
As ações foram retomadas na volta 142, que já começava a delinear o que seria realmente da Indy 500. Por isso Castroneves partiu para cima de Franchitti e superou de pronto. Pouco mais atrás, Dan Wheldon e Townsend Bell puseram as manguinhas de seus carros de fora e subiram ao top-5. Briscoe, então, já se via em oitavo. E até um espantoso Mike Conway brotava, em décimo.
Power passou Dixon no giro 156 e fez a Penske, finalmente, ter dobradinha. E Will começou a virar constantemente mais rápido que Helio, encostando no brasileiro e o ameaçando. Quando uma possível briga pela ponta já levantava o público nas arquibancadas, eis que Justin Wilson, 20º, escapou na entrada da curva 1, rodou e bateu levemente no muro, mas o suficiente para minar suas chances.
Boxes abertos. A Penske trabalhou bem com Helio, devolvendo-o à ponta. Pessimamente com Power, no caso o mecânico da roda traseira direita, que voltou em sexto. E brilhantemente com Briscoe, que renascia na luta pela vitória, catapultado para a segunda colocação.
O top-5 continha, ainda, Wheldon, a ascendente Danica, e o bravo Bell. Dixon? Só em sétimo. Franchitti? Pior, nono. A Ganassi era carta fora.
As táticas passaram a girar em torno da necessidade de se fazer uma parada extra no fim da prova. Briscoe, certamente, sim — então a Penske não teria sido tão brilhante, assim; só pôs menos combustível; Danica perguntava à equipe se estava OK, e a AGR pedia que poupasse o etanol. As conversas pararam quando um fortíssimo acidente surgiu na volta 174. Envolveu dois brasileiros: Meira e Matos.
Na reta principal, Meira vinha com a trajetória interna e emparelhado com Matos na briga pela 17ª colocação. Raphael não aliviou no contorno da tangência e provocou o choque roda com roda. Vitor foi parar violentamente no muro a ponto do carro ficar em 90º, com o assoalho na parede, arrastando-se pela curva 1.
Matos, da Luczo Dragon, foi retirado do carro e precisou de amparo para ser levado à ambulância. Andando, acenou à plateia. Com Vitor a coisa foi mais difícil. Houve demora para que o brasiliense da Foyt fosse removido. Meira não ficou desacordado, mas reclamou de muitas dores nas costas aos fiscais. Foi levado ao Hospital Metodista para exames.
Faltando 20 passagens para o fim, ainda em bandeira amarela, a Penske chamou Briscoe para não correr riscos. Aí, matou as chances de seu piloto. Wheldon passou ao segundo posto, trazendo Danica e a torcida do povo americano.
Na relargada, Danica tentou passar Wheldon por fora, não conseguiu, ambos perderam tempo e, ali, qualquer oportunidade de algo melhor. Porque Helio abriu tanto que não teve nem graça o fim. Foi só observar pelo espelho os adversários de longe. Para então cair em prantos, finalmente, por uma razão mais do que especial. Para comemorar a vitória da vida.
Autor: Victor - Categoria(s): F-Indy, Sem categoria
Tags: F-Indy, Helio Castroneves, Indianápolis, vitória