Manuel Alegre
"Não serei candidato em nome de nenhum partido. Serei candidato por Portugal "

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QUASE UM AUTO-RETRATO
Por Manuel Alegre

Aos vinte e poucos anos escrevi: “meu poema rimou com a minha vida”. Era ainda muito cedo, não sei sequer se é verdade, embora muitas coisas me tivessem já acontecido: amores, partidas, guerra, revoltas, “prisões baixas”. O que mais tarde me levaria a dizer: “biografia a mais”. Muito antes, lá pelos vinte, tinha lido uma frase de André Gide que me impressionou. Dizia ele:“ a análise psicológica deixou de me interessar desde o dia em que cheguei à conclusão de que cada um é o que imagina que é.” Até que ponto sou o que me imaginei ser? Se soubesse pintar ( mas não sei ) faria o meu auto-retrato a olhar para ontem, ou para dentro, ou para outro lado. Distraído-concentrado, presente-ausente, um não sei quê.
Acusam-me de altivez e narcisismo. É sobretudo reserva, timidez e uma incapacidade física de praticar uma certa forma portuguesa de hipocrisia e compadrio. Ou talvez um tique que herdei de família: levantar a cabeça, olhar a direito.
Tenho desde pequeno a obsessão da morte. Não o medo, mas a consciência aguda e permanente, sentida e vivida com todo o meu ser, de que tudo é transitório e efémero e não há outra eternidade senão a do momento que passa. Talvez por isso seja um homem de paixões. Mas não vivi nunca póstumo, nem me construí literariamente. Sei que nenhum verso vence a morte. E não acredito sequer na literatura.
Na poesia, sim. Mas como ritmo, como música interior, canto e encanto, incantação, exorcismo, uma forma de relação mágica com o mundo. A um professor brasileiro que trabalhava numa tese sobre mim, respondi: “Escrita e vida são inseparáveis. Embora eu entenda a poesia como experiência mágica, algo que está aquém e além da literatura.”
Penso, como Texeira de Pascoais, que “o ritmo é a substância das cousas” e que “a poesia nasceu da dança.” Talvez por isso eu goste de flamenco, a música e a dança que estão mais perto do ritmo primordial, da batida do coração e da própria pulsação da terra. Gosto de flamenco e de um certo tipo de fado e dos tangos de Francisco Canaro. E também de Bach e Mozart. Pelas mesmas razões: o ritmo. E da poesia de Lorca que, ao contrário de ideias feitas, nada tem de folclórico ou regionalista, antes se aproxima das energias primitivas e essenciais e é quase, como diria ainda o autor de Marânus, “um bailado de palavras.”
Não sei se, como queria Rimbaud, consegui fazer “coincidir a essência da poesia com a existência do poema.” Cantei, canto. Demanda, errância. Não há senão esse procurar. Na vida, na escrita. Quando faço aquilo de que gosto, faço-o intensamente. A pesca, por exemplo. Ou a viagem. Ou a partilha: um bom jantar em família com alguns amigos, uma reunião conspirativa, a camaradagem na nunca perdida ilusão de que a revolução ainda é necessária e possível. Diria que é outra forma de escrita. Intensa, densa, tensa. Como o amor. E talvez a morte.
Herdei de minha mãe uma certa energia, o gosto da intervenção. De meu pai, o desprendimento, uma irresistível e por vezes perigosa tendência para o desinteresse. Inclusivamente pelos bens materiais. Não é por acaso que só me prendo realmente ao que poderia chamar as minhas armas: espingardas propriamente ditas, “gostei muito de caçar”, canas de pesca, carretos, canetas, livros ( alguns livros ), discos. Os grandes espaços: o deserto, o Atlântico, o Alentejo. E sítios. Certas cidades. Outrora agora: Coimbra, Paris, Roma, Veneza, Lisboa. Certos lugares: o Largo do Botaréu, em Águeda, o rio, a ria ( de Aveiro ), Barra, Costa Nova. Mais recentemente: Foz do Arelho, Barragem de Santa Clara. Certos recantos: a minha casa de Águeda, o solar, já perdido, da minha avó, em S. Pedro do Sul, as casas da minha tia e meus primos na Anadia, a casa de Sophia, a minha casa em Lisboa. A minha mulher, os meus filhos, a minha irmã, os meus amigos. Uma grande saudade dos que morreram, principalmente de meu pai, a quem, por pudor e reserva (somos parecidos), nunca cheguei a dizer em vida o que gostaria de lhe dizer aqui.




BIOGRAFIA DE MANUEL ALEGRE

Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC – Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, membro do TEUC – Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redactor da revista Vértice e colaborador de Via Latina.
A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha de S. Miguel, com Melo Antunes. Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar. É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses. Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964.
Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade. Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas. Poemas seus, cantados por Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade. Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril.
Entra no Partido Socialista onde, ao lado de Mário Soares, promove as grandes mobilizações populares que permitem a consolidação da democracia e a aprovação da Constituição de 1976, de cujo preâmbulo é redactor.
Deputado por Coimbra em todas as eleições desde 1975 até 2002 e por Lisboa a partir de 2002, participa esporadicamente no I Governo Constitucional de Mário Soares. Dirigente histórico do PS desde 1974, é Vice-Presidente da Assembleia da República desde 1995 e é membro do Conselho de Estado (de 1996 e 2002 e de novo em 2005). É candidato a Secretário-geral do PS em 2004, naquele que foi o mais participado Congresso partidário de sempre.
Em 2005 candidatou-se à Presidência da República, como independente e apoiado por cidadãos, tendo obtido mais de 1 milhão de votos nas eleições presidenciais de 22 de Janeiro de 2006, ficando em segundo lugar e derrotando o candidato oficial apoiado pelo PS.
É sócio correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências eleito em Março de 2005.

Sobre a sua obra poética, reeditada sucessivas vezes, Eduardo Lourenço afirmou que “sugere espontaneamente aos ouvidos (...) a forma, entre todas arquétipa, da viagem, do viajante ou, talvez melhor, peregrinante”. O livro Senhora das Tempestades (14.000 exemplares vendidos num mês) inclui o poema com o mesmo nome, que Vítor Manuel Aguiar e Silva considerou “uma das mais belas odes escritas na língua portuguesa”. Publicou os romances Alma (12 edições) e A Terceira Rosa, duplamente premiado. Segundo Paola Mildonian, Manuel Alegre “canta a dor e o amor da história com acentos universais, com uma linguagem que (...) recupera em cada sílaba os quase três milénios da poesia ocidental”. No Livro do Português Errante, Manuel Alegre, segundo Paula Morão, emociona e desassossega: “depõe nas nossas mãos frágeis as palavras, rosto do mundo, faz de nós portugueses errantes e deixa-nos o dom maior (...) – os seus poemas”. O seu livro, Cão como nós, vai na 19ª edição.


Principais condecorações e medalhas
Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, Comenda da Ordem de Isabel, a Católica e Medalha de Mérito do Conselho da Europa, de que é Membro Honorário.
Medalha da Cidade de Veneza, por ocasião do Convénio Internacional “La Porta d’Oriente – Viaggi e Poesia” (Novembro de 1999).
Medalha de Ouro da Cidade de Águeda, sua terra natal.
Ordem de Mérito Nacional da Argélia, “DJADIR”, atribuída pelo Presidente Bouteflika em 31.05.2005
Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores em 21.05.08
Grande Oficial da Ordem da Estrela da Solidariedade Italiana, atribuída pelo Presidente de Itália em 2.06.08


Estudos e teses sobre a sua obra
A obra literária de Manuel Alegre tem sido objecto de estudos e teses de doutoramento e mestrado, designadamente nas seguintes instituições:
Université Libre de Bruxelles
Istituto Universitario Orientale, Napoli
Università di Bologna
Università Cà Foscari, Veneza
Université Charles de Gaulle, Lille
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Faculdade de Letras da Universidade Católica de Viseu
Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Faculté des Lettres, Arts et Sciences Humaines de Nice - Sophia Antipolis
Universidade Fernando Pessoa
Université de Dakar - Sénégal


A Universidade de Pádua e o Instituto Camões estabeleceram em 2009 um acordo para a criação da Cátedra Manuel Alegre na Universidade de Pádua, para o triénio 2009/2012


Prémios literários
1998 - Prémio de Literatura Infantil António Botto, pelo livro As Naus de Verde Pinho
1998 - Prémio da Crítica Literária atribuído pela Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários, pelo livro Senhora das Tempestades
1998 - Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, patrocinado pelos CTT, pelo livro Senhora das Tempestades
1999 - Prémio Pessoa, patrocinado pelo jornal Expresso e importante referência no panorama cultural português, pelo conjunto da Obra Poética, editada em 1999
1999 - Prémio Fernando Namora, patrocinado pela Sociedade Estoril-Sol, pelo livro A Terceira Rosa
2008 – Prémio D. Dinis, patrocinado pela Fundação da Casa Mateus, pelo livro Doze Naus




Com o Pai e a irmã TeresaNos tempos de estudante em CoimbraPrisão de Luanda, Arquivo da PIDE
Com o Pai e a irmã TeresaNos tempos de estudante em CoimbraPrisão de Luanda, Arquivo da PIDE
Com Adriano e António Portugal no lançamento da Trova do Vento que passaCom a mulher, Mafalda, e o primeiro filho, no exílioRegresso a Águeda, 1974
Com Adriano e António Portugal no lançamento da Trova do Vento que passaCom a mulher, Mafalda, e o primeiro filho, no exílioRegresso a Águeda, 1974
Com Miguel TorgaCom SophiaCom a mulher, Mafalda, e os filhos
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Pescador na Foz do ArelhoA.R. - 30 anos do 25 de AbrilNa campanha eleitoral para a Presidência da República
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Com a Mãe em Tipasá, Argélia
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