A revolução na arte e na sociedade

Exposição, Arte

O 25 de Abril ontem e hoje, revisto e projectado entre os artistas da época e os mais novos. Miguel Matos recomenda a exposição “Protesto” na Sociedade Nacional de Belas Artes.
No rescaldo das tímidas e desanimadas comemorações da Revolução do 25 de Abril, a Sociedade Nacional de Belas Artes resolveu reclamar para si uma atitude contestatária que, a partir de olhares de um passado recente, constrói uma crítica ao presente. Uma exposição que é antes uma instalação em várias partes, comissariada por Nuno Faria e Frederico Duarte, e que resgata obras da época dos cravos, actualizando-as com a voz da contemporaneidade.
 
Aos artistas que nos anos 70 e 80 criaram obras de arte que tentavam, à sua forma, retratar o ambiente contestatário pré e pós-revolução (José de Guimarães, Sena da Silva, Ricardo Costa, Eduardo Nery e Ana Hatherly), juntou-se uma artista de hoje, cuja voz e ritmo ecoa nas galerias da Sociedade Nacional de Belas Artes, com a sua voz e o seu ritmo. As palavras da rapper portuense Capicua (também conhecida como Ana Matos) ainda não são perceptíveis e só o som da sua voz incita o visitante a ir ao encontro delas, como que hipnotizado. Até lá chegar, há todo um caminho pautado por um caleidoscópio de imagens a preto e branco montadas por José de Guimarães que fazia o “Mapeamento das Paredes da Cidade de Lisboa” em 1975, com paredes cheias de palavras de ordem e todo o género de paisagem urbana revolucionária. Na mesma onda estão as fotografias mais poéticas de António Sena da Silva, que entre 1974 e 1982 captou cenários e personagens de uma cidade em mudança. 
 
Num registo mais documental está o vídeo “Cravos de Abril”, realizado em 1976 por Ricardo Costa, com material informativo e registos audiovisuais da época. É depois das imagens que se desce às galerias do piso inferior. E é também nesta altura que a voz de Capicua interfere mais com a exposição e obriga a um encontro num espaço onde as palavras são vistas e ouvidas. 

A canção chama-se “A Mulher do Cacilheiro” e faz um paralelo entre a classe operária de 1974 e a de hoje. A diferença – cuidado com o spoiler – é muito pouca. A última sala é uma sucessão a alta velocidade de imagens de palavras de protesto em paredes da cidade realizadas em diapositivos e vídeo de Eduardo Nery e Ana Hatherly.
 
A exposição “Protesto” é a terceira de quatro partes do projecto inaugurado na Sociedade Nacional de Belas Artes com o título "Devolver a Sociedade à Cidade". O objectivo desta série de acontecimentos não é apenas a arte. E como diz a folha de sala de “Protesto”, o que podemos ver “não é propriamente uma mostra, mas um gesto. Procura inscrever um movimento que resiste, um rumor que persiste. Em tempos sombrios e incertos recupera a vocação da arte como grito, mudo ou sonoro. Como escrita e inscrição. Como vontade de mudança. Como revolução.” A última parte desta série terminará em Outubro com a intervenção “Sociedade”, naquilo que se pretende que seja uma revitalização desta instituição centenária. Será?
 
”Protesto” A exposição está patente na Sociedade Nacional de Belas Artes (Rua Barata Salgueiro, 36) até 30 de Maio. Seg-Sex 12.00-19.00. Entrada gratuita.



 

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