Crise no Turismo ou falta de inovação?

Boom! Mais uma notícia lamentável para a indústria Brasileira de viagens, um player com décadas de atuação pede recuperação judicial. E infelizmente, esta não foi a primeira e acredito não ser a última empresa de nosso mercado a passar por esse processo. Há muitas arestas a serem aparadas.

Apesar de não ter a intenção de apontar culpados ou razões que possam explicar os porquês destes acontecimentos, quero levantar uma lebre que há tempos comento com colegas da indústria, necessidade de inovação que urge na Indústria de viagens.

Empresas tradicionais e ditas experts se mantém ancoradas em algum lugar do passado, à espera de melhores resultados num mundo fictício sem concorrentes e inovação. Seguindo modelos enferrujados, oferecem pouco ou nenhum valor aos clientes. A dinâmica agora é outra.

Clientes “empowered” pela tecnologia disponível em suas mãos, e com uma absurda quantidade de informações, demandam mais que a tríade aéreo, carro e hotel. Não se contentam com a oferta de um pacotão de viagens no formato template-serve-pra-todos, não querem só viajar, querem preço, personalização, facilidades e problemas resolvidos. Os públicos-alvo agora são outros, nichos surgiram e necessidades específicas também. Alguns poucos notaram essas mudanças e entegaram valor. Outros ainda não e vão ficando pelo caminho.

Para quem ainda não notou e continua dando murro em ponta de faca, quem dita a regra é o cliente, não os players.

Uber, por exemplo. Taxistas, em vão, recorrem ao governo dizendo que são injustiçados e pedem fim à “ilegalidade”. Só esqueceram de perguntar a opinião dos usuários. Ou pensaram que era melhor nem perguntar. Vai que.

Uber, que estima-se valer mais de US$50 bilhões, surgiu como uma pedra gigante mascerando problemas que, por falta de inovação ou comodismo, eram aceitos de forma automática. Táxis mal cuidados, motoristas mal-humorados, tarifas caras comparadas ao benefício entregue? Uber! Ou usando um termo bonito, disruption.

Disruption não pergunta, resolve. Aliás, com dois pés na porta.

Outro exemplo? AirBnb. Em uma análise rasa, de um lado entrega preço e disponibilidade aos viajantes. De outro, fonte de receita adicional aos proprietários. Problemas resolvidos para estas duas partes, preocupação para a hotelaria.

Saindo do mercado de viagens. Tesla com sua recentemente anunciada Tesla Powerwall. Se você ainda não ouviu falar, google! Em resumo, Elon Musk, CEO da companhia, quer resolver o problema de geração de energia à base de combustíveis fósseis. Vejam o tamanho do formigueiro que escolheu pisar. De um lado, milhões de beneficiados, já do outro, uma infinidade de empresários tão estáticos quanto os próprios fósseis preocupados com o futuro de seus negócios. De novo, disruption não pergunta, resolve.

Em comum, players imóveis que viram inovadores com fome de transformação entregarem propostas que solucionam o que sequer era considerado um problema, mas que concede valor e benefícios percebidos aos usuários. A constatação que pode não ser agradável a todos é que a inovação entrega valor à muitos ao mesmo tempo que pulveriza acomodados. Mas reclamar, lamentar ou inovar ainda é uma questão de escolha.

E para os leitores que chegaram até esse parágrafo esperando uma lista de 5 bullets com dicas e práticas, peço desculpas. Esse post não trata a resolução do atual cenário como uma receita de bolo de chocolate de caixinha. Precisamos nos organizar e colocar a casa em ordem antes que as notícias como a do início do post se repitam e deixem de ser novidades.

Temos potencial, tecnologia e oportunidade para inovar e resolver problemas latentes de nossa Indústria.O que não temos, é tempo.

Disruption, baby!

Colaborar é preciso. Transformar é preciso.

Dizer que o mundo está mudando seria chover no molhado. Ignorar o fato de que o mundo está realmente se reinventando e impactando nossas rotinas pessoais e profissionais, é pedir o carimbo de incompetência. Aliás, o mundo já mudou e não foi ontem.

Sendo um curioso enxerido estou sempre pesquisando essas novas “coisas” e ideias que nascem ditando novas regras, repensando hábitos antigos e transformando ambientes. E algumas vezes, essas ideias nascem e morrem com a mesma velocidade que uma startup levanta milhões de dólares em investimento. Mas comparando o volume de novas propostas e ideias que prosperam e as que falham, comprovamos que o caminho a ser seguido não é o da monotonia.

Como resultado de uma dessas buscas, tive o prazer de encontrar a Travel Massive e participar ativamente de um de seus encontros em São Paulo – em resumo, uma comunidade de profissionais do turismo que se reúne para trocar informações e experiências em um ambiente descontraído e colaborativo. Além de serem gratuitos aos profissionais da indústria de viagens, os encontros oferecem um ambiente extremamente agradável e colaborativo entre os organizadores, participantes e apoiadores do evento.

E para aqueles que não acreditavam em inovação no Turismo, principalmente em seus eventos e encontros, aí está. Um modelo transformador, eficiente, sem burocracias e que gera ótimos resultados para os organizadores, apoiadores e principalmente para os convidados desse encontro.

Indo mais adiante, o Turismo e suas práticas tem um papel vetorial de inovação. Uber, Airbnb, RelayRides e World Packers são exemplos de modelos recentes baseados em economia colaborativa ou compartilhada que quebram regras que perduravam há muito no mercado de viagens e fornecedores. Não me aprofundo no mérito do modelo de negócios e detalhes, mas julgo que já não há volta para esse caminho trilhado.

Mas não se pode confundir economia colaborativa ou compartilhada com filantropia. Lucro é basilar. O significado social é que tende a ser mais amplo, tanto para os atores quanto para os beneficiados, nas duas pontas e impactando  todos os envolvidos.

Aos que se interessam pelo tema, indico dois artigos da última edição da HSM Management que tratam sobre colaboração e contribuição: “Eles defendem grandes causas” e “Eles criam ambientes colaborativos”. Pra dar uma aguçada na curiosidade, vou pinçar uma frase do Jared Leto (investidor ativo de startups como Airbnb e Spotify e vocalista da banda 30 seconds to Mars) em uma das matérias: “Sou um criador. Faço e compartilho coisas com o mundo com o intuito de contribuir para a qualidade de vida das pessoas, até por meio de empresas”.

E no Turismo, será que é possível criar iniciativas mais colaborativas? Se você tiver alguma ideia e precisar de colaboração, me avise. Transformar é preciso. E colaborando é mais fácil.