Alepo
Alepo حلب Ḥalab' |
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Localização de Alepo ( Síria)
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Coordenadas | |
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País | Síria |
Distrito | Alepo |
Área | |
Total | 190 km² |
População | |
Cidade (2004) | 2 132 100 |
Metro | 2 181 061 |
Alepo (em árabe: حلب, transl. ˈħalab; em turco Halep) é uma cidade no norte da Síria, a segunda maior cidade do país, capital da província homônima. A província se estende em torno da cidade, cobrindo uma área de 18 482 quilômetros quadrados, e abrangendo uma população de mais de 5 315 000 habitantes (estimativa de 2008),[1] o que faz dele a maior província da Síria em termos de população. Alepo é uma das cidades mais antigas do mundo, tendo sido habitada desde o século XI a.C., o que é evidenciado pelos edifícios residenciais descobertos em Tell Qaramel.[2] Ocupa uma posição comercial estratégica entre o mar Mediterrâneo e o rio Eufrates, e foi construída inicialmente sobre um pequeno grupo de morros que cerca um monte onde o castelo da cidade foi construído.[3] O pequeno rio Quwēq (قويق) cruza a cidade.
Por séculos Alepo foi a maior cidade da Grande Síria, e a terceira do Império Otomano, depois apenas de Constantinopla e do Cairo. Embora esteja relativamente perto de Damasco em termos de distância, Alepo é diferente em sua identidade, arquitetura e cultura, todas marcadas por um contexto histórico-geográfico distinto.
A importância da cidade na história consistiu de sua localização, no fim da Rota da Seda asiática que cruzava a Ásia Central e a Mesopotâmia. Quando o canal de Suez foi inaugurado em 1869, o comércio passou a ser realizado pelo mar e Alepo começou seu declínio gradual. Com a queda do Império Otomano, após a Primeira Guerra Mundial, Alepo perdeu a área rural ao norte da cidade para a atual Turquia, bem como a importante linha férrea que a ligava a Mossul. Na década de 1940 perdeu seu principal acesso ao mar, Antioquia e Alexandreta (Iskenderun), também para a Turquia. Finalmente, o isolamento da Síria nas últimas décadas contribuiu para exacerbar a situação. Paradoxalmente, este declínio pode ter ajudado a preservar a antiga cidade de Alepo, sua arquitetura medieval e seu patrimônio tradicional. Alepo tem passado por um renascimento e vem voltando lentamente a uma posição de destaque, tendo conquistado recentemente o título de "Capital Islâmica da Cultura" em 2006 e testemunhado uma onda de restaurações bem-sucedidas de seus monumentos.
Etimologia[editar | editar código-fonte]
Alepo foi conhecida na Antiguidade como Khalpe, Khalibon, e, para os antigos gregos, como Beroea. Durante as Cruzadas, e novamente durante o mandato francês, o nome Alep foi utilizado: "Aleppo" seria a versão italianizada do nome. O antigo nome, Halab, no entanto, tem origem obscura. Já se foi proposto que significaria "ferro" ou "cobre" na língua amorita, já que a região foi uma importante fonte destes metais em tempos antigos. Halaba significa "branco" em aramaico, e poderia referir-se à cor do solo e do mármore abundante no local. Outra etimologia proposta é a de que o nome Halab significa "dar leite", e viria da antiga tradição na qual Abraão teria dado leite aos viajantes que passavam pela região.[4] A cor de suas vacas era acinzentada (em árabe shaheb), e portanto a cidade também é chamada de "Halab ash-Shahba'" ("ele tirou leite da acinzentada").
História[editar | editar código-fonte]
O fato da cidade moderna ocupar o local da antiga fez com que Alepo tenha permanecido praticamente intocada pelos arqueólogos até os dias de hoje. O sítio foi ocupado desde por volta do ano 5000 a.C., como mostram escavações em Tallet Alsauda, e cresceu como capital do reino de Yamkhad até que a dinastia amorita no poder fosse derrubada, por volta de 1600 a.C.. A cidade permaneceu então sob controle hitita até por volta de 800 a.C., quando passou para as mãos dos assírios e, em seguida, para o Império Aquemênida. Alexandre, o Grande conquistou a cidade em 333 a.C., quando Seleuco Nicator mudou o seu nome para Beroea, em homenagem à cidade homônima na Macedônia. Alepo permaneceu sob controle grego por 300 anos antes de passar a ser governada pelo Império Romano, quando os romanos conquistaram a Síria em 64 a.C..
A cidade permaneceu parte do Império Romano Oriental antes de ser conquistada pelos árabes, liderados por Khalid ibn al-Walid, em 637 d.C.. Em 944 tornou-se o centro de um emirado (o Emirado de Alepo) independente, sob a liderança do príncipe hamdanida Sayf al-Daula, e viveu um período de grande prosperidade, e foi o lar do grande poeta al-Mutanabbi e do filósofo e polímata al-Farabi. Em 962 foi saqueada por um Império Bizantino que ressurgia; forças bizantinas a ocuparam brevemente, de 974 a 987. A cidade e o emirado tornaram-se vassalos imperiais de 969 até as Guerras Bizantino-Seljúcidas. Foi sitiada duas vezes pelos cruzados - em 1098 e em 1124 - porém nunca chegou a ser conquistada.
Em 11 de outubro de 1138[5] [6] [7] um terremoto catastrófico devastou a cidade e a área ao seu redor. Embora as estimativas da época sejam pouco confiáveis, acredita-se que cerca de 230.000 pessoas tenham morrido, fazendo dele o quinto terremoto mais grave, em termos de números de vítimas, que se tem registro.
A cidade passou para o controle de Saladino e, posteriormente, da dinastia Aiúbida, a partir de 1183.
Em 24 de janeiro de 1260[8] a cidade foi conquistada pelos mongóis, comandados por Hulagu, e aliados a seus vassalos, os cavaleiros "francos" do príncipe de Antioquia, Boemundo VI e seu sogro, o soberano armênio Hetoum I.[9] A cidade foi defendida com bravura por Turanshah, porém suas muralhas cederam após seis dias de bombardeio intenso, e a cidadela foi conquistada quatro semanas mais tarde. A população islâmica foi massacrada, enquanto os cristãos foram poupados. Turanshah recebeu um tratamento respeitoso pouco comum da parte dos mongóis, e pôde continuar a viver na cidade devido à sua idade e coragem durante o combate. Alepo retornou então às mãos do antigo Emir de Homs, al-Ashraf, e um forte mongol foi erguido na cidade. Alguns dos espólios da conquista foram dados a Hetoum I, por seu auxílio no ataque; o exército mongol, no entanto, prosseguiu para Damasco, que se rendeu e foi invadida em 1 de março do mesmo ano.
Em setembro, os mamelucos egípcios negociaram um tratado com os "francos" de Acre, permitindo que passassem por território cruzado sem serem molestados, e enfrentaram os mongóis na Batalha de Ain Jalut. Os mamelucos conquistaram uma vitória decisiva, matando o general mongol Kitbuqa, um cristão nestoriano, e cinco dias mais tarde tinham reconquistado Damasco. Alepo foi recuperada pelos muçulmanos em pouco menos de um mês, e um governador mameluco passou a administrar a cidade. Hulagu enviou tropas para tentar recuperá-la em dezembro do mesmo ano; estas tropas chegaram a massacrar um grande número da população islâmica local, em retaliação à morte de Kitbuqa, porém como não haviam feito grandes progressos depois de duas semanas acabaram por recuar.[10]
Quando o governador mameluco insubordinou-se à autoridade central mameluca, no Cairo, no outono de 1261, o líder mameluco Baibars despachou tropas para reconquistar a cidade. Em outubro de 1271 os mongóis reconquistaram a cidade, após atacá-la com 10.000 cavaleiros da Anatólia, derrotando as tropas turcomanas que a defendiam. Os ocupantes dos fortes mamelucos fugiram para Hama, até que Baibars novamente veio para o norte com seu exército principal, e os mongóis recuaram mais uma vez.[11]
Governantes[editar | editar código-fonte]
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Grande Mesquita de Alepo
- Batalha de Alepo (um grande confronto militar travado no contexto da Guerra Civil Síria)
Referências
- ↑ Escritório Central de Estatísticas (2008). Damasco, Síria.
- ↑ Polish Centre of Mediterranean Archeology. Pre- and Protohistory in the Near East: Tell Qaramel (Syria). Visitado em 23-3-2008.
- ↑ In: Alexander Russell. The Natural History of Aleppo. Londres: Unknown, 1856. p. 266.
- ↑ [1] (p.53).
- ↑ Terremoto em Aleppo - 1138, Síria - Mortes: 230.000 Portal UOL - Vírgula
- ↑ 6 - Terremoto de Aleppo Portal UOL - Ciência - Como tudo funciona
- ↑ 10 – Terremoto em Aleppo, na Síria Site HypeScience
- ↑ Jackson, Peter. (Julho de 1980). "The Crisis in the Holy Land in 1260". The English Historical Review 95: 481–513.
- ↑ Grousset, René. Histoire des Croisades, p. 581, ISBN 2-262-02569-X.
- ↑ Runciman, p. 314.
- ↑ Runciman, pp. 336–337.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Runciman, Steven. A History of the Crusades: Volume 3, The Kingdom of Acre and the Later Crusades (Cambridge University Press 1954)
A Cidade de Alepo inclui o sítio Cidade Antiga de Alepo, Património Mundial da UNESCO. |
- Cidades da Síria
- Cidades ao longo da Rota da Seda
- Cidades do Califado Ortodoxo
- Cidades do Califado Omíada
- Cidades do Califado Abássida
- Cidades do Emirado de Alepo
- Cidades do Império Seljúcida
- Cidades do Império Aiúbida
- Cidades do Império Mongol
- Cidades do Ilcanato
- Cidades do Sultanato Mameluco do Cairo
- Cidades do Império Otomano