Gulag
Gulag ( ouvir ajuda · ficheiro · ouvir) (em russo: ГУЛаг de Главное управление исправительно-трудовых лагерей и колоний; translit.: Glavnoye upravleniye ispravitelno-trudovykh lagerey i kolonij; em português: Administração Geral dos Campos de Trabalho Correcional e Colônias)[1] [2] era um sistema de campos de trabalhos forçados para criminosos, presos políticos e qualquer cidadão em geral que se opusesse ao regime da União Soviética (todavia, a grande maioria era de presos políticos;[3] no campo Gulag de Kengir, em junho de 1954, existiam 650 presos comuns e 5200 presos politicos).[4] [5] Antes da Revolução, o Gulag chamava-se Katorga, e aplicava exatamente a mesma coisa: pena privativa de liberdade, pena de trabalhos forçados e pena de morte. Os bolcheviques continuaram a tradição autocrática-imperial russa em uma escala dezenas de vezes maior[6] e em condições muito piores,[7] [8] [9] onde até o canibalismo existiu.[10] [11] A criminalização da dissidência política era regra tanto na ex-URSS quanto no ex-Império Russo Czarista (que também criminalizava heresias religiosas). Além de presos políticos, havia presos condenados por vadiagem, furto, roubo, agressão, homicídio e estupro. Finalmente, a ex-URSS passou por guerras internas e externas, assim como o Império Russo, então uma parte desses presidiários eram prisioneiros de guerra.[6]
História[editar | editar código-fonte]
Este sistema funcionou de 25 de Abril de 1930 até 1960[12] . Foram aprisionadas milhões de pessoas, muitas delas vítimas das perseguições de Stalin, as consideradas "pessoas infames", para a chamada "Pátria Mãe" (a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), e que deveriam passar por "trabalhos forçados educacionais" e merecerem viver na chamada "Pátria Mãe".[13]
O Gulag tornou-se um símbolo da repressão da ditadura de Stalin. Na verdade, as condições de trabalho nos campos eram bastante penosas e incluíam fome, frio, trabalho intensivo de características próprias da escravatura (por exemplo, horário de trabalho excessivo) e guardiões desumanos.[13] Floresceram durante o regime chamados pelos historiadores de stalinista da URSS, estendendo-se a regiões como a Sibéria e a Ucrânia, por exemplo, e destinavam-se, na verdade, a silenciar e torturar opositores ao regime, incluindo entre eles anarquistas,[14] [15] trotskistas e outros marxistas.[16] [17] [13] [18]
Embora algumas vezes comparado aos campos de concentração nazistas, (ver: lista dos campos de concentração nazistas) os motivos que presidiram à construção de ambos são bastante diferentes: para os gulags, as motivações eram tanto a punição por crimes comuns e não de guerra, como ideologias contrárias ao comunismo, delitos de opinião, roubo, estupro, imoralidade, vadiagem, etc., como também aos adversários políticos do comunismo, enquanto para os campos de concentração a motivação era predominantemente racial[carece de fontes] (bastante controvertido entre os historiadores, pois o "racial" tinha conotação de ideologia).
A Coreia do Norte, considerada um dos os últimos Estados comunistas, ainda mantém disfarçados "campos de trabalhos forçados" muito semelhantes no sentido de tratamento "educacional" e "adoecimento" (pela loucura)[19] [20] [21] [22] [23] .[24] [25] [26] [27] [28] , muitas vezes chamados também de gulags.[29] Norte-coreanos como Shin Dong-hyuk, único prisioneiro nascido num campo de trabalhos forçados do país que conseguiu fugir, tem denunciado violações aos direitos humanos ali praticados.[30]
Número de prisioneiros[editar | editar código-fonte]
O número de presos cresceu gradualmente a partir de 1930 (179.000) para 1934 (510.307), quando cresceu mais rapidamente em 1938 relacionado com a expurgos (1.881.570), e, em seguida, diminuiu durante a Segunda Guerra Mundial por causa de recrutamento para o Exército Vermelho (1.179.819 em 1944). Em 1945 voltou a crescer até 1950, atingindo um valor máximo (cerca de 2.500.000), que se manteve praticamente constante até 1953.
1930 | 179.000 | 1936 | 1.296.494 | 1942 | 1.777.043 | 1948 | 2.199.535 |
1931 | 212.000 | 1937 | 1.196.369 | 1943 | 1.484.182 | 1949 | 2.356.685 |
1932 | 268.700 | 1938 | 1.881.570 | 1944 | 1.179.819 | 1950 | 2.561.351 |
1933 | 334.300 | 1939 | 1.672.438 | 1945 | 1.460.677 | 1951 | 2.525.146 |
1934 | 510.307 | 1940 | 1.659.992 | 1946 | 1.703.095 | 1952 | 2.504.514 |
1935 | 965.742 | 1941 | 1.929.729 | 1947 | 1.721.543 | 1953 | 2.468.524 |
Os fluxos de entrada e saída dos campos era muito substancial, o número total de detentos entre 1929 e 1953 é de cerca de 18 milhões. Como parte do mais amplo "trabalho duro", se deve adicionar cerca de 4 milhões de prisioneiros de guerra, e pelo menos 6 milhões de "especiais", ou seja, de camponeses que foram deportados durante a coletivização , para um total de 28.000.000[6]
O número de mortes ainda está sob investigação, um valor provisório é de 2.749.163.[6] Este número não leva em conta as execuções relacionadas com o sistema judicial (as execuções apenas por razões políticas são de 786.098).[6]
Segundo dados soviéticos morreram no gulag 1 053 829 pessoas entre 1934 e 1953, excluindo mortos em colónias de trabalho.[32]
Os campos recebiam também prisioneiros de outras nacionalidades, incluindo cidadãos americanos.[33] Em 1931, a Amtorg Trading Corporation (primeira representação comercial soviética nos Estados Unidos) recrutou milhares de trabalhadores americanos, que sofriam as consequências da Grande Depressão, atraindo-os com promessas de boas condições de trabalho.[33] Estes trabalhadores, que contribuíram para o desenvolvimento indústria da URSS, eram dispensados quando não mais necessários e poucos conseguiram retornar aos EUA.[33] Muitos, foram enviados aos Gulags, permanecendo detidos ali por anos.[33] O telefilme de 1982 Coming Out of the Ice [34] (pt. Atrás da Cortina de Gelo), baseado no livro homônimo,[35] dramatiza a vida de Victor Herman, paraquedista estadunidense que passou 18 anos detido na Sibéria por recusar-se a adotar a nacionalidade soviética após bater o recorde de salto em queda livre.[36]
Segundo Werh Nicolas, um historiador francês do Centre National de la Recherche Scientifique, em Paris, no livro "História da Rússia no século XX" nas páginas 318-9 se lê textualmente: "As estimativas do número de presos no Gulag no final dos anos trinta variam entre 3.000.000 (Timasheff, Bergson, Wheatcroft) e de 9 a 10.000.000 (Dallin, Conquest, Avtorkhanov, Rosefielde, Solzhenitsyn). Os arquivos do Gulag, confirmados pelos dados dos censos de 1937 e 1939, em documentos dos Ministérios da Justiça, do Interior e da Procuradoria Geral, dão um valor de cerca de 2.000.000 prisioneiros em 1940 (cerca de 300.000 em 1932, e de 1.200.000, no início de 1937).
O número acumulado de entradas no Gulag durante os anos 30 tendo em conta a alta rotatividade dos detentos é cerca de 6.000.000 pessoas. "No mesmo livro na página 416, lemos: "Como evidenciado pelos arquivos do Gulag, recentemente exumados, nos anos 1945-53 houve um forte aumento no número de prisioneiros nos campos de trabalho Gulag (passando de 1.200. 000 para 2.500.000 entre 1944 e 1953 ) e o número de deportados "especiais" de 1.700.000 em 1943, para 2.700.000 em 1953.
Imagens[editar | editar código-fonte]
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Aleksandr Solzhenitsyn
- Arquipélago de Gulag
- Campo de prisioneiros de Solovki
- Era Stalin
- Grande Expurgo
- Katorga
- Kolyma
- Memorial das Vítimas do Comunismo
- Robert Conquest
Referências
- ↑ The labor camps were managed by another special department of the NKVD, the Главное Управление Исправительно-Трудовых Лагерей и колоний or Main Directorat for Corrective Labour Camps and Colonies, which was created in 1929 and also well known in the west under its Russian abbreviation ГУЛАГ or Gulag.
- ↑ Definição no Babylon
- ↑ Nanci D, Adler; "The Gulag Survivor: Beyond the Soviet System"; Transaction Pub.; New York; (2001); ISBN 0-7658-0071-3
- ↑ Título não preenchido, favor adicionar.
- ↑ Formozov, Nikolai; ((2004)). Título não preenchido, favor adicionar "Kengir: 40 days and 50 years";.
- ↑ a b c d e Anne Applebaum. "Gulag – A History" (em inglês). Londres: Penguin Books Ltd, 2003. p. 16-17, 396-8. ISBN 13:978-0-14-028310-5
- ↑ Eva-Maria Stolberg. Katorga: Penal Labor and Tsarist Siberia In The Siberian Saga: A History of Russia’s Wild East. Frankfurt: Peter Lang. ISBN 0820473944
- ↑ Alexander Soljenítsin. 'Arquipélago Gulag'. [S.l.]: The Harvill Press. ISBN 13-978-1843430858
- ↑ Donald G. Boundreau. 'Resistance in the Gulag Archipelago'. [S.l.]: Amazon Digital Services Inc..
- ↑ Barysheva, A.I (18 de novembro de 1988). Memorial: The Island of Death. Visitado em 29 de setembro de 2009.
- ↑ Nicolas Werth. Cannibal Island: Death in a Siberian Gulag. [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 9780691130835
- ↑ [1]
- ↑ a b c Solzhenitsyn, Aleksandr; "The Gulag Archipelago"; Harper & Row; (1976); ISBN 0-06-080396-7
- ↑ My Disillusionment in Russia. Mariya Spiridónova de Emma Goldman - Visitado em 26/10/2009.
- ↑ "There Is No Communism in Russia" by Emma Goldman
- ↑ Peter Kenez. "A History of the Soviet Union from the Beginning to the End ". Cambridge: Cambridge University Press, 1999. Capítulo: 5. , p. 103-108. ISBN 0-521-31198-5
- ↑ Martin McCauley. "Stalin and Stalinism". England: Longman Group Limited, 1993. Capítulo: 2. , p. 34-35. ISBN 0-582-27658-6
- ↑ O livro negro do comunismo
- ↑ "On the Map: Five Major North Korean Prison Camps" interactive map in The Washington Post - 20 de julho de 2009
- ↑ "Report on political prisoners in North soon" artigo escrito por Han Yeong-ik no Korea Joongang Daily - 30 de abril de 2012
- ↑ (em espanhol)Amnistía Internacional. Corea del Norte: Motivos de preocupación sobre derechos humanos. Visitado em 31 de maio de 2009.
- ↑ Hawk, David (2003). The Hidden Gulag: Exposing North Korea’s Prison Camps - Prisoners' Testimonies and Satellite Photographs U.S. Committee for Human Rights in North Korea. Visitado em 01 de agosto de 2007.
- ↑ (em francês) Journal international de victimologie IDV 13 (Tome 5, numéro 1). Réfugiés Nord Coréens : des traumatismes oubliés.
- ↑ (em francês)La violation des Droits de l'Homme en Corée du Nord. Visitado em 26 marco 2013.
- ↑ (em francês)Corée du Nord: des images satellite révèlent l'étendue de camps pour prisonniers politiques (3 maio 2012). Visitado em 13 novembro 2012.}}
- ↑ (em inglês) The Hidden Gulag – Exposing Crimes against Humanity in North Korea’s Vast Prison System. Visitado em 13 de novembro de 2012.}}
- ↑ (em inglês) The Far Eastern Economic Review: Exposed - Kim's Slave Camps (5 dezembro 2002). Visitado em 5 dezembro 2002.
- ↑ (em francês) Portesouvertes: Portes ouvertes: WWL: Indice de persécutions.
- ↑ Os gulags escondidos na Coreia do Norte
- ↑ Fuga do Campo 14. Blaine Harden, Editora Intrínseca, 2012. ISBN 9788580571653 Adicionado em 16 de Novembro de 2014.
- ↑ A tabela, copiada de documentos da NKVD, e publicada em Gulag de Anne Applebaum, pag. 602, reportando semelhantes dados publicados em V.N. Zemskov, 1991, "Zaklyuchennyje, spetsposelentsy, ssyl'noposelentsy, ssyl'nyje i vyslannyje (statistiko-geograficheskij aspekt)", Istorija SSSR, no. 5, pp. 151-165.
- ↑ Getty, Rittersporn, Zemskov. Victims of the Soviet Penal System in the Pre-War Years: A First Approach on the Basis of Archival Evidence. The American Historical Review, Vol. 98, No. 4 (Oct., 1993), pp. 1017-1049.
- ↑ a b c d (em inglês) The Forsaken: An American Tragedy in Stalin's Russia. Tim Tzouliadis, Penguin Books, 2009. ISBN 9780143115427
- ↑ (em inglês) IMDB - Coming Out of the Ice. Página visitada em 16 de Setembro de 2013.
- ↑ (em inglês) Coming Out of the Ice: An Unexpected Life de Victor Herman, Freedom Press, 1983. ISBN 9780915031023
- ↑ (em inglês) Los Angeles Times - Author Who Was Russian Prisoner Dies : American Victor Herman Held 18 Years; Ordeal Became TV Film. Artigo de 29 de Março de 1985. Página visitada em 16 de Setembro de 2013.
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Gulag Memorial (em alemão)
- NYPL Digital Gallery (em inglês)
- Motime (em inglês) Uma história do Gulag
- Gulagmuseum - sítio do Museu virtual do Gulag, com versões russa, inglesa e alemã. (em russo)
- Museu online do Gulag