A necessidade de dificuldade para os jovens (1)

As dificuldades chegam até nós através de todos os caminhos da vida, do início ao fim. Aflição não é mais evitável do que o ar. E, felizmente, as Escrituras tem muito para nos dizer a respeito disto. Mas uma passagem que frequentemente tem me chamado a atenção, de forma redentiva, é Lamentações 3.

“Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade;  assentar-se solitário e ficar em silêncio; porquanto Deus o pôs sobre ele.  Ponha a boca no pó; talvez assim haja esperança” (Lm 3.27-29). Veja, o nível de dificuldade enfrentada durante a época deste verso excede o que muitos de nós enfrentará. Ainda assim, o versículo ilustra um princípio eterno no tema de aflição: é bom para nós, homens jovens (“jovens” pode se referir à uns 40 anos, mais ou menos) experimentar uma certa medida do fardo da dificuldade.

Mas por quê? O que há conosco, homens jovens, que tais aflições são especialmente proveitosas? Em grande parte, é simplesmente porque somos jovens. Nos falta a obra completa de santificação. Nosso desenvolvimento espiritual está longe de ser completada. A carne passou por pouca mortificação. Então, na boa soberania de Deus, o fardo da aflição na juventude é uma necessidade que pode nos guiar ao longo do caminho na escola de Cristo. Não há nada fácil nisto. Mas quando o nosso amado Deus nos prepara com dificuldades, nós rapazes, podemos lucrar grandemente. Como meu amigo e mentor, Ray Mehringer, certa vez me disse, “É o ‘ABC’ do Cristianismo: Adversidade dá Base ao Caráter.” E formação de caráter é uma necessidade neste momento para muitos de nós rapazes.

Pela graça de Deus, alguns são bem-treinados na academia da dificuldade. Para outros de nós, precisamos simplesmente entrar na escola ou voltar a tomar algumas aulas. Para aqueles que, como eu, frequentemente são reprovados na escola da aflição, aqui estão alguns lembretes sobre a necessidade de dificuldades, especialmente para nós homens jovens.

1. A dificuldade nos lembra que Deus é Deus

Como homens jovens, nós não nos inclinamos naturalmente na direção de que Deus reina a sós no trono do universo. No nosso estado nato, somos competidores de soberania.

Além disso, como rapazes, às vezes nos gloriamos em contemplar as coisas que somos capazes. Coisas como força física, energia, vigor, e coisas deste tipo; supomos que elas são coisas de valor cósmico. Porquê elas nos ajudaram a levantar mais pesos, jogar bem um tipo de esporte, experimentar um certo sucesso, pensamos que elas geram soberania. Podemos realizar coisas e realizarmos trabalhos pelas nossas próprias forças.

Aflição é boa, então, porque nos faz lembrar que a nossa juventude machona não exerce qualquer influência soberana. Deus é Deus. E no Seu amor por nós, ele pode ter nos dado dificuldades para que nós deixemos de secretamente admirarmos a nós mesmos e nos curvemos diante do nosso Deus soberano.

2. A dificuldade nos faz crescer no conceito do senhorio de Cristo

“Senhor.” Geralmente a palavra se refere àquele que legalmente possui outras pessoas como propriedade, alguém de supremacia, ou alguém que possuiu um direito de individualmente governor sobre outros. Um senhor era alguém cujos pedidos ninguém ousava diser “não”. “Senhor” é uma palavra qua há muito tempo deixou de fazer parte do estilo da cultura porque submissão está fora de moda, porque auto-adoração está na moda. Como burros empacados, nossa decadência dificilmente consegue lidar com este conceito. Somos super impressionantes e importantes; importamos demais para preocuparmos com senhorio. Mais: com a internet e uso das redes sociais, todo mundo, com suas palavras, radicalmente aumentam o seu medidor de importância. Se olharmos cuidadosamente, todo mundo pode achar um lugar onde pode funcionar como um pequeno senhor. Mas é tudo truque de espelhos espiritual.

Cristo é o Senhor. A palavra aparece cerca de 700 vezes no Novo Testamento; bem mais do que qualquer título. E o termo “Senhor” captura em grande parte o nosso relacionamento com o nosso amoroso Deus. Significa que ele possui extraordinária e inigualável supremacia: ele fará coisas à sua maneira todo o tempo em todos os lugares com todas as pessoas. O senhorio de Cristo talvez seja a coisa mais necessária para conhecer Jesus. E a dificuldade serve para este conhecimento.

Sofrimento não é um treinamento espiritual intensivo dado à nós rapazes para que possamos provar o que somos de forma narcisista. É um dom espiritual dado a nós para que possamos, de forma submissa, nos humilhar. A medida que aceitamos, Deus nos prepara no conceito de senhorio.

3. A dificuldade nos faz lembrar que somos extraordinariamente frágeis em tudo.

Uma das coisas que mais gozamos na nossa juventude é a nossa não-tão-forte força. Nós amamos aquilo que podemos fazer. Amamos aquilo que podemos fazer para sermos reconhecidos.

Tais impulsos são evidência de que, em nossa breve existência, talvez não tivemos suficiente encontros com a nossa fragilidade e com o poder de Deus. No entanto, até mesmo uma breve consideração da criação de Deus é convincente. Por exemplo, em meio de trilhões de outras coisas, Jesus fez esta tal coisa no espaço chamada de “buraco negro”. Um buraco negro é tão forte que a luz movendo-se a 300.000 km/s ainda não é rápida o suficiente ou forte o suficiente para escapar do seu alcance. Quão rápido alguma coisa deve estar se movendo para escapar o seu alcance?

Ainda assim, se você é teimoso como eu, até mesmo demonstrações diárias da nossa fraqueza e da força de Deus na criação não são suficientemente convincentes. Precisamos de algo mais. Como nosso perfeito pai, Deus fará com que cada vez menos operemos num estado delirante de potência pessoal.

Ele pode até ordenar algum tipo de fraqueza física, enfermidade ou doença. Veja, a presença de enfermidade não significa automaticamente que Deus está nos disciplinando por algum tipo de orgulho. Mas, de qualquer forma, grandes dificuldades como estas servem propósitos redentivos para nos convencer da nossa fragilidade, que por sua vez, nos leva à ele. Homens jovens precisam saber que eles são frágeis.

4. A dificuldade nos lembra que não devemos esperar circunstâncias como as do Éden nesta vida.

Quando olho para trás, vejo que tive muitos momentos constrangedores no meu ministério (e certamente outros mais virão). Muitos deles floresceram de um coração insípido, ignorante de que a vida fora do seminário não é como no Éden. Aqueles primeiros anos de acontecimentos como erros ministeriais, pessoas saindo da igreja, sofrendo calúnia e desprezo; foi um choque para a minha alma infantil.

Outras coisas como dificuldades financeiras, perda de trabalhos, circunstâncias familiares e de moradia não favoráveis, não ter a chance de estar no trabalho dos seus sonhos, ser mal-tratado no trabalho e em casa; rapazes geralmente supõem que estas são coisas bizarras entre Gênesis 2 e Apocalipse 20. No entanto, elas são algo pior: são o status quo.

Assim, uma das grandes formas em que podemos nos posicionar para uma estável e frutífera vida em Cristo é aceitar o fato de que a vida agora é o negativo da foto do céu. Muitas vezes nós desnecessariamente cultimanos nosso próprio desânimo porque fazemos exigências neste mundo que só serão realizadas no céu.

Então, uma quantidade de dificuldade nos relembra dos espinhos e abrolhos sempre presentes, os quais nós gostamos de fingir que não existem. Pela graça de Deus, podemos aceitar coisas como um ministério pouco frutífero. Isso pode muito bem ser o melhor de Deus para onde estamos, espiritualmente. Pode muito bem ser a Sua misericórdia para reter aquilo que atrairia nossos desejos corruptos por glória. Se experimentarmos muito sucesso, podemos facilmente nos tornar ladrões de glória.

5. A dificuldade nos lembra que não somos grandiosos.

J. C. Ryle certa vez escreveu, “O orgulho não reina em nenhum lugar tão poderosamente como no coração de um homem jovem”. Nós começamos a vida com excessiva síndrome de auto-presunção. E muitos de nós parecem sofrer de um caso terrível disto.

Até mesmo no ministério cristão, muitos de nós quietamente nos agarramos ao burburinho do louvor e do reconhecimento. É uma parada divertida. Alguns de nós, por exemplo, amam as redes sociais porque podemos gozar nossa pseudo-grandeza contemplando a repostagem dos tweets, elogios e lisonjas. Podemos fazer as pessoas acreditarem que somos humildes, porém ainda surfando no meio da multidão cibernética atrás de uma fachada.

Jovem, pare de pensar que você é extraordinário. Você não é. Os céus lamentam o espetáculo repugnante de um rapaz meditando na sua própria grandeza mitológica.

Mas na misericórdia do céu, a aflição elimina a síndrome da auto-presunção. A dificuldade serve para nos retirar da proverbial multidão que te idolatra. Porque ele nos ama, Deus pode puxar o louvor de debaixo dos nossos pés para cairmos de cara no chão. Nesta hora, começamos a assumir uma postura de adoração. Como Thomas Watson disse certa vez: “Quando Deus joga homens de costas no chão, então eles olham para o céu.”

Traduzido por Nayara Andrejczyk | Reforma21.org | Original aqui

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