Sempre fui apaixonada por política e devo muito aos meus pais por isso. Até hoje este é assunto certo em nossos almoços, embora sinta eu tremores ao encontrar uma Veja perdida no canto da sala.
O tema de minha monografia na faculdade foi: “É melhor sofrer no poder do que longe dele – Um estudo sobre a relação de poder entre Antônio Carlos Magalhães e a Imprensa”. Em minhas pesquisas, pude aprender muito sobre a política no Brasil e seus meandros obscuros, as famosas trocas de favores, a podridão.
Confesso que falo cada vez menos sobre política. Meus argumentos sempre acalorados estão sendo sutilmente substituídos por suspiros de desaprovação. E só fui me dar conta disso essa semana, quando um amigo me perguntou o que eu achava do Tarso Genro. Parei, pensei, pensei e tive que admitir: “não tenho opinião formada sobre ele. Sei que foi um bom prefeito em Porto Alegre, mas sei também que ele ainda se deslumbra com o poder que tem nas mãos”. Fossem outros os tempos, saberia de muito mais detalhes sobre o caso Battisti e afins.
A verdade é uma só (e sei que ela é importante só pra mim mesmo, já que o blog é ótimo para abrigar meus desabafos e devaneios): cansei e me decepcionei com a política. Até a quase unanimidade do Obama já está caindo por terra, com seu protecionismo democrático (Diogo Mainardi, unanimidade negativa entre os coleguinhas brasileiros, já avisava isso há muito tempo!).
Escrevo tudo isso pra dizer que relutei em comentar sobre a eleição de Michel Temer e José Sarney para a presidência da Câmara e do Senado, respectivamente. Mas é impossível depois do que li e ouvi hoje. Vou apenas reproduzir os comentários e saibam, caros leitores, que eles expressam exatamente a minha opinião e revolta com o fato:
- Comentário do Ricardo Boechat na Band News FM: O escolhido para corregedor da Câmara foi o deputado Edmar Moreira. Sua função é parecida com a de um policial, pois ele pode punir as arbitrariedades de seus colegas. No entanto, uma de suas primeiras declarações foi: “Sofremos do vício insanável da amizade”, deixando clara sua posição de mafioso. Michel Temer, com aquela pose de arauto da moralidade, assistiu a tudo, inerte.
Não bastasse isso, Edmar Moreira, que construiu um castelo no sul de Minas Gerais com 36 suítes, declara como bens para a Receita Federal o valor de R$ 17 mil (especula-se que o imóvel vale R$ 25 milhões). Se não for punido pelo crime acintoso, o deputado teria que pagar pela cafonice do tal castelo.
- Trecho da despedida do jornalista Mino Carta, que parou de escrever em seu blog e na Carta Capital: E quanto ao poder político? O Congresso acaba de eleger para a presidência do Senado José Sarney, senhor feudal do estado mais atrasado da Federação, estrategista da derrubada da emenda das diretas-já e mesmo assim, graças ao humor negro dos fados, presidente da República por cinco anos.
Outro que foi para o trono, no caso da Câmara, é Michel Temer, um ex-progressista capaz de optar vigorosamente pelo fisiologismo. Reconstitui-se o “centrão” velho de guerra, uma das obras-primas da conciliação tradicional. Enquanto isso, o Brasil ainda divide com Serra Leoa e Nigéria a primazia mundial da má distribuição de renda, exporta commodities, 55 mil brasileiros morrem assassinados todo ano, 5% ganham de 800 reais pra cima. E 2009 promete ser bem pior que pretendiam os economistas do governo.
- Frase de um leitor d’OGlobo, escrita na seção Opinião: “É a famosa troca do nada pelo coisa nenhuma”.