CIB – Qual a posição da Abran com relação aos transgênicos?
Durval Ribas Filho – A Associação é totalmente favorável à biotecnologia. O médico nutrólogo tem ciência da importância das modificações genéticas na prevenção e no tratamento das enfermidades nutricionais. A transgenia já há um bom tempo está presente no cotidiano do nutrólogo que prescreve hormonioterapia (GH), vacinas, insulina, e outras substâncias obtidas pela técnica do DNA recombinante. Esse avanço tecnológico trouxe e traz muitos benefícios a milhares de pacientes e certamente trará muito mais.

CIB – De que forma a biotecnologia pode contribuir para melhorar a qualidade dos alimentos e, conseqüentemente, a saúde das pessoas?
Ribas – No campo dos alimentos, os trabalhos científicos demonstram que determinados nutrientes, em determinadas concentrações, possuem atividades funcionais, ou seja, favorecem o não desenvolvimento de muitas patologias que acometem o ser humano, servindo para prevenir e mesmo tratar doenças cuja base se relaciona com a nutrição. Atualmente, sabe-se que a produção de alimentos mundial está aumentando e que a quantidade que tanto preocupava os cientistas (crescimento geométrico da população X crescimento aritmético dos alimentos) está em plano inferior ao fator qualidade nutricional dos alimentos. Nesse contexto, a biotecnologia está totalmente inserida. Os alimentos geneticamente modificados podem ser usados para aumentar as propriedades nutricionais dos alimentos proporcionando maior benefício ao consumidor, sendo um importante aliado na redução da carência nutricional do brasileiro. Alimentos nutricionalmente mais adequados melhoram a qualidade de vida do ser humano. Com isso, pode-se afirmar que a saúde da população mundial está diretamente ligada aos alimentos geneticamente modificados.

CIB – Quais as principais doenças decorrentes de deficiências nutricionais e quais os caminhos para combatê-las por meio dos alimentos transgênicos?
Ribas – Algumas enfermidades, nutricionais ou não, serão beneficiadas pela introdução de genes que codificam proteínas favorecendo o aumento ou a diminuição de determinados nutrientes. O arroz dourado, por exemplo, com maior quantidade de vitamina A, combate algumas doenças relacionadas à visão; óleos vegetais (canola e soja) com grandes quantidades de gordura monoinsaturada podem ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares; trigo com grande concentração de folatos (ácido fólico) contribuem para a prevenção de doenças materno-infantis e cardiovasculares; e vegetais podem servir de fonte de vacinais comestíveis para melhora do sistema inunológico. Esses são apenas alguns exemplos.

CIB – O consumidor pode se sentir seguro ao optar por alimentos derivados da biotecnologia?
Ribas – Os alimentos trangênicos foram aprovados por organismos científicos internacionais comprovando sua segurança alimentar e nutricional. Inúmeros estudos científicos comprovam a segurança dos produtos transgênicos hoje no mercado, atestados pela Organização Mundial da Saúde. Esses estudos revelam que os produtos são seguros para a o meio ambiente, bem como para a saúde humana e animal e apresentam características nutricionais idênticas aos convencionais. Eles são fundamentais para o desenvolvimento do País e necessários para o avanço da biotecnologia presente na história da evolução dos seres vivos.

CIB – Na sua opinião, como o Brasil se posiciona em relação ao desenvolvimento da biotecnologia?
Ribas – O Brasil perdeu alguns anos importantes em pesquisas atuais em razão da indefinição na legislação. Temos os mais importantes cientistas especializados na área de transgenia, de renome internacional, e que estão desenvolvendo estudos extraordinários no campo nutricional. Apesar do tempo perdido, a criatividade e a dedicação desses cientistas (vide EMBRAPA) certamente estarão trazendo muitos benefícios à saúde da população brasileira e mundial, corroborando a frase "quem quer que seja o pai de uma doença, a mãe foi uma dieta deficiente".