Graham Lewis, baixista e vocalista do Wire. (Foto: Daniel Setti / G1)
A quem se refere Lewis quando diz que o Wire estava "dois anos à frente do que todo mundo"? Ele fala de muitos de seus badalados colegas do tal boom punk musical da virada dos anos 1970 para o 1980. "Quem eram as grandes bandas? Você que tem que me dizer", desafia o baixista quando indagado sobre os astros da época, muitos deles mais famosos que o Wire. "Sou cético quanto a isso", continua. "A cena punk era incrivelmente competitiva e muita gente que estava dentro dela com certeza não queria que alguém de fora entrasse. E nós não queríamos entrar, então tudo bem".
Aproveitando a deixa, após pouparem parcialmente
Buzzcocks e Siouxsie and the Banshees e prestarem reverências a
outros heróis americanos surgidos antes do Wire (Modern Lovers,
Patti Smith, Television e Pere Ubu, os quais Lewis celebra por
"não terem problemas em ser 'artísticos'"),
ele e Newman soltam o verbo sobre os grupos ingleses com quem
trombavam nos bastidores.
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Sex Pistols (Lewis): "Quando falamos do
que ocorria em Londres naquela época, a pergunta era 'você
realmente quer andar com aquela gente do [empresário dos Sex
Pistols e agitador cultural] Malcolm McLaren?'. Não! Não
tínhamos nada em comum com eles. Odiávamos aquilo de ter que ser
'esperto demais para ser idiota'. Do que se tratava
aquilo? Víamos Sid Vicious entrando no pub em que costumávamos
ir, dizíamos ‘ah não...’. Ele queria só chamar atenção".
Clash (Lewis): "Eles eram uma banda de
rhythm and blues, basicamente. Eu vi Joe Strummer com [seu grupo
anterior] The 101'ers. Era um grupo de R&B. E quando
eles começaram com o Clash, ele mal poderia esperar para voltar
a fazer o que já fazia antes!".
The Jam (Newman): "Eu os vi no começo,
quando eram uma banda de covers. Acredite em mim, eles eram sem
graça. E não melhoraram (risos)".
Cure (Newman): "o Robert Smith sempre
disse que o Cure deve muito ao Wire, e eu realmente, de verdade,
odeio o Cure. Só 'A forest' [música do Cure] é muito boa".
Cure: (Lewis): "a melhor frase do Robert
Smith é 'se o Wire algum dia voltar, não haverá razão para
o Cure existir'. Hahaha!".
Gang of Four, PIL e Magazine (Newman):
"Provavelmente o Gang of Four tenha sido mais influente que
nós. Mas eles não fizeram nada desde 'Damaged goods'
[EP de 1978], e nós sim. Esta é a diferença principal entre nós
e não só eles, mas outros grupos da nossa geração musical. O
PIL, o Magazine... eles todos estão na fase
'comeback', e tocando o que tocavam na época. Nós nos
mantivemos criando novas coisas. Quando falam do Wire, não falam
'eles estão voltando'. Somos ao mesmo tempo uma banda
clássica e uma banda contemporânea. E é isso o que queremos ser.
Se você quiser matar o Wire, peça para que caiamos na estrada
tocando 'Pink flag' na íntegra".