::. Almeida Garrett (1799 - 1854)
O escritor e político João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett foi fortemente influenciado pelo escritor neoclássico Filinto Elísio. Em 1820 participou, como líder da classe estudantil, da Revolução Liberal.

Em 1821, após concluir o curso de Direito na Faculdade de Coimbra, publicou o poema "Retrato de Vênus" e depois foi processado por obscenidade. Após o golpe de 1822, no qual o liberalismo foi derrotado, Garret partiu para o exílio na Inglaterra, de onde regressou somente em 1826. Durante o exílio Garret, influenciado pelas obras de Walter Scott e Lord Byron, compôs os poemas "Camões" e "Dona Branca". Essas obras foram publicadas em 1824 e são consideradas o marco inicial do Romantismo em Portugal.
Garret voltou a Portugal em 1832 integrando o exército de D. Pedro no cerco à cidade do Porto. Entre 1833 e 1836, foi cônsul geral na Bélgica.

Após a Revolução de Setembro foi encarregado de organizar um plano de um teatro nacional, que veio a promover.

Em 1851 recebeu o título de Visconde de Almeida Garrett. Da sua vasta obra literária destacam-se a peça de teatro "Frei Luís de Sousa" (1844), o romance "Viagens da Minha Terra" (1846) e a coletânea de poemas líricos "Folhas Caídas" (1853).



Veja Também:

Abaixo seguem alguns poemas de Garret:

Este Inferno de Amar
Este Inferno de Amar
Este inferno de amar - como eu amo!-
Quem mo pôs n'alma... quem foi?
Esta cham que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói-
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonh talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão seran a dromi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! desperatar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Não te Amo
Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
     E eu n'alma - tenho a calma,
     A calma - do jazigo.
     Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
     E a vida - nem sentida
     A trago eu já comigo.
     Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
     De um querer bruto e fero
     Que o sangue me devora,
     Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
     Quem ama a aziaga estrela
     Que lhe luz na má hora
     Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
     De mau feitiço azado
     Este indigno furor.
     Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
     Que de mim tenho espanto,
     De ti medo e terror...
     Mas amar!... não te amo, não.

Destino
Quem disse ã estrela o caminho
Que ela há de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta - "Floresce!"
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.