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Domingo, 24 de Abril de 2005
 
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Arqueologia com financiamento insuficiente
património Instituto Português de Arqueologia apenas apoia o estudo do Teatro Romano descoberto na Cividade, o único existente no Noroeste Peninsular  
Museu Regional D. Diogo de Sousa


Lisa Soares Fotos

Um ilustre letrado de Bordéus e perfeito da Aquitânia, chamado Ausónio, que viveu e escreveu no século IV, incluiu "Bracara Augusta" entre as grandes urbes do Império Romano. Para que o estudo de Braga Antiga alcançasse o estatuto europeu que o seu potencial arqueológico justifica seria necessário aumentar o financiamento, mesmo em prejuízo de outros projectos. Uma ideia hoje defendida por Sande Lemos, um dos técnicos responsáveis pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, para quem, neste momento, o Instituto Português de Arqueologia apenas apoia o estudo do Teatro Romano descoberto no Alto da Cividade.

"Cumpre à Unidade de Arqueologia, em colaboração com a Câmara de Braga, solicitar ao Governo que promova um contrato-programa de forma a salvaguardar a realização de escavações arqueológicas em locais chave, publicando-se, também, as monogra- fias de trabalhos já realizados. De outro modo, face ao dinamismo das cidades de Espanha, o projecto de Bracara Augusta fica diminuído", sustentou.

Sande Lemos destaca a "riqueza" do subsolo de Braga em vestígios arqueológicos, pelo que, nesta perspectiva, "os meios financeiros que têm sido atribuídos ao estudo de Bracara são insuficientes, por motivos que não alcançamos, a não ser pela vulgar miopia que tolhe os burocratas, incluindo os da Cultura. Quando um país tem no seu território uma grande urbe da Antiguidade como Bracara deveria considerar prioritária a sua investigação. De facto, não tem sido assim".

Demonstrativo dessa realidade está o facto de vários projectos, inseridos no perímetro urbano de Braga, estarem à espera, há vários anos, dos necessários apoios financeiros do Estado. Um desses projectos, segundo o arqueólogo, é o estudo da muralha romana que "nunca teve apoio das entidades da tutela". E vai mais longe "O que se sabe sobre a muralha que defendeu a cidade de Braga, ao longo de muitos séculos, decorre de obras em que particulares investiram nos trabalhos arqueológicos".

Neste contexto, Sande Lemos a defende a necessidade de averiguar se houve uma muralha do tempo de Augusto e determinar o limite sul da fortificação da Alta Idade Média.

Por outro lado, há projectos que ficaram "a meio", como o estudo de uma ampla "domus", que fica nos terrenos do Museu D. Diogo de Sousa, mas, frisou,"nunca houve meios financeiros para o seu estudo".

Sande Lemos refere, ainda, a falta de trabalhos arqueológicos em sítios notáveis como o monte de Santa Marta das Cortiças e de S. Frutuoso. "Basta dizer que, em Santa Marta, se conservam as ruínas de um palácio suevo, cujo estudo exaustivo seria importante, não só para Braga, como também para a Europa, a fim de se conhecer bem o que foram, exactamente, as chamadas invasões dos povos bárbaros", acrescentou.

Neste momento, o único projecto de Bracara Augusta que está a ser financiado pela tutela é o estudo das ruínas do Teatro Romano, sendo, aliás, o único identificado, até ao momento, no Noroeste da Península Ibérica. Daí, em parte, Sande Lemos considerar que o Gabinete de Arqueologia da Câmara de Braga e a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho deveriam ser mais "ambiciosos" e "exigentes", face à riqueza e relevância europeia do património arqueológico da cidade dos arcebispos.

"Deveriam ir mais longe no projecto comum de valorizar todos os monumentos antigos da cidade, exigindo a célere abertura ao público do Museu D. Diogo de Sousa e da Fonte do Ídolo, e solicitando meios para musealizar a ínsula das Carvalheiras", adiantou o arqueólogo, numa referência à necessidade - ainda não concretizada - da criação do primeiro roteiro de monumentos evocativos de Bracara Augusta.

Isto porque, no entendimento de Sande Lemos, "todos os trabalhos arqueológicos que se realizam em Braga interessam aos portugueses, aos espanhóis e a todos os europeus e americanos que estudam a História do primeiro milénio depois de Cristo".

O arqueólogo estranhou que, à escala europeia, o Estado "não veja ainda como prioritário" o estudo da Braga Antiga. "Por isso, não admira que os outros países da Europa nos olhem com algum desdém, como um povo que não é capaz de definir prioridades e investir no conhecimento. Como um povo que desperdiça os seus recursos", referiu.

Apesar desta realidade, interpretou como "frutuosas" as relações entre a Unidade de Arqueologia e o Ministério da Cultura, através do Instituto Português de Arqueologia e do Instituto Português do Património Arquitectónico. "Da nossa parte, ao longo de várias décadas de trabalho, temos produzido conhecimento para o turismo cultural da cidade", concluiu.


Apoio do IPA fica-se apenas pelos 50 mil euros até ao ano 2007

O director do Instituto Português de Arqueologia (IPA), Fernando Real, desmente que o Estado tenha, ao longo dos anos, "descurado", os apoios ao projecto de investigação de Bracara Augusta. "Da parte do IPA, há um apoio efectivo, com um financiamento de 50 mil euros, atribuído no concurso do Plano Nacional de Trabalhos de Arqueologia (PNTA) que apoia projectos de investigação científica programada de Arqueologia", disse o responsável, acrescentando que a referida verba corresponde ao montante máximo atribuído no concurso, cobrindo o período de tempo de quatro anos (2004 a 2007). Ou seja, são pagamentos faseados plurianuais que estão assegurados e são efectuados de acordo com o regulamento do concurso, cujos montantes correspondem ao planeamento apresentado pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho.

Confrontado com a alegada "insuficiência" de verbas ao projecto de Bracara Augusta, Fernando Real apontou outros caminhos alternativos "A Unidade de Arqueologia da UM poderá candidatar os seus projectos a outras entidades, designadamente à Fundação para Ciência e Tecnologia que apoia a investigação universitária. Por outro lado, a própria Universidade é a entidade com maiores responsabilidades no apoio à investigação do seu corpo docente". O director do IPA não deixou de fazer referência ao contributo da Câmara Municipal de Braga como "parceiro" no apoio aos trabalhos arqueológicos, condicionando o licenciamento de obras à implementação de medidas de protecção do Património Cultural, tal como se encontra previsto na legislação em vigor, trabalhos esses "pagos por entidades particulares" e que leva ao conhecimento de Bracara Augusta.


Projecto Bracara Augusta espera abertura do Museu

Espera-se que o Museu Regional D. Diogo de Sousa abra ao público até ao próximo mês de Junho. Espera-se, igualmente, que a sua inauguração não seja adiada, sacrificada a mais um museu em qualquer outra parte do país. Isto, a bem da visibilidade que vai conferir ao projecto de Bracara Augusta. Todo o espólio resultante dos trabalhos arqueológicos na Braga Antiga estão depositado no Museu, que possui, actualmente, um acervo que está longe de estar integralmente restaurado e estudado, apesar dos esforços dos seus mais directos responsáveis - Manuela Delgado e Rui Morais -, que, desde as duas últimas décadas, se dedicam ao estudo minucioso do material de cerâmica. No Museu D.Diogo de Sousa existem milhares de moedas do Alto Império e dezenas de milhar de numismas do Baixo Império, grande parte delas por catalogar. Este espaço museológico, que servirá de "montra" de Bracara Augusta, possui já a "melhor colecção de miliários" de toda a Europa. Outro espólio depositado diz respeito ao arquivo fotográfico, dezenas de milhares de imagens, parte das quais relativas a monumentos arquitectónicos e arqueológicos desaparecidos. Todo este material encontra-se organizado e acessível graças ao profissionalismo de uma equipa multidisciplinar que se iniciou no Campo Arqueológico de Braga, nos anos de 1977/78. "A abertura do Museu D. Diogo de Sousa é essencial para revelar outras dimensões do projecto de Bracara Augusta", afirmou Sande Lemos. Mas não só. De acordo com o programa museográfico, o Museu vai, também, revelar aspectos desconhecidos do grande público sobre outros períodos da Pré-história.

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