Foto: Acervo/ Gazeta Press |
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Dino Sani: intimidade com
a bola
Marcos Guedes, especial para
a GE Net
A bola era tão bem tratada por Dino Sani que torcedores
e técnicos dos clubes pelos quais passou deviam se
sentir angustiados quando ela deixava seus pés em direção
a algum companheiro de menor intimidade com a redonda. O passe
era perfeito, mas o receptor nem sempre a tratava com o mesmo
carinho.
Exceção feita ao Palmeiras, clube no qual começou
a carreira, em 1950, Dino foi um dos jogadores de destaque
em todas as equipes por que passou. No time do Parque Antártica,
ainda muito jovem, não teve espaço em um elenco
recheado de craques, como Humberto Tozzi. "Além
dele, havia Valdemar Fiume, Aquiles, Lula, Rodrigues e Jair
da Rosa Pinto", lembra.
Com tantos bons jogadores, o Alviverde decidiu emprestar
o atleta de 18 anos ao XV de Jaú. Ele voltou no ano
seguinte e foi vendido para o saudoso Comercial da Capital,
onde passou duas temporadas. Sua classe e toque de bola não
passaram despercebidos e, em fevereiro de 1954, era contratado
pelo São Paulo.
A missão no Tricolor era difícil: substituir
José Carlos Bauer. Dino Sani, no entanto, a cumpriu
com tranqüilidade. Ainda hoje, os torcedores mais velhos
lembram do médio-volante como um dos melhores meio-campistas
a vestir a camisa do clube do Morumbi. "Em 1957, ganhamos
o Campeonato Paulista com um time fantástico",
recorda.
Mas foi no ano seguinte que o jogador conquistou o título
mais importante da carreira, o mais importante do Brasil,
pelo menos na época: a Copa do Mundo de 1958, na Suécia.
Ele começou a campanha como titular, mas acabou sendo
substituído por Zito a partir do terceiro jogo.
Mesmo assim, a recordação daquela competição
é a melhor possível. "É uma alegria
enorme relembrar a campanha daquele ano. Apenas 22 jogadores
participaram daquela conquista histórica, o primeiro
título mundial do futebol brasileiro, e eu estava entre
eles", afirma.
Depois da Copa, começaram a surgir propostas do exterior
e, em 1959, Dino foi para o Boca Juniors, da Argentina, por
US$ 1 milhão. Lá, fez parte de um timaço,
que contava também com os brasileiros Orlando, Edson,
Maurinho e Paulinho Valentim. "Era uma verdadeira seleção,
com cinco brasileiros, cinco argentinos e um peruano",
comenta.
Desde a Copa da Suécia, Dino Sani e Milan curtiam
um namoro que acabou virando casamento em 1961, quando ele
se transferiu para a Europa. Lá, caiu no gosto da metade
rubro-negra de Milão e conquistou o Campeonato Italiano
de 1962 e o Europeu de 1962/63.
O sucesso do brasileiro foi tanto que, segundo ele, chegou
a ser convidado para a disputar a Copa de 1962, no Chile,
pela Itália. "Não aceitei. Sempre joguei
sério e não conseguiria enfrentar o Brasil.
Continuei pela Europa e tenho certeza que sempre consegui
elevar o nome do futebol brasileiro em todas as partidas que
fiz", diz, em tom de dever cumprido.
De volta ao Brasil, Dino não hesitou em aceitar o
convite para defender o único integrante do Trio de
Ferro pelo qual ainda não havia jogado: o Corinthians.
Chegou ao clube em um momento difícil, de jejum de
títulos. Não conseguiu quebrar a seqüência
sem conquistas, mas fez um bom trabalho, que o credenciou
a assumir o comando da equipe, em 1969.
Estava iniciada sua carreira de técnico. Na nova função,
ele levou o Alvinegro do Parque São Jorge a pequenos
títulos, como o da Copa Costa do Sol, disputada em
Málaga, em 1969, e do Torneio de Nova York, no mesmo
ano, mas não conseguiu tirar o time da fila.
Apesar disso, o trabalho no Corinthians rendeu a Dino Sani
um convite para dirigir a seleção brasileira,
pouco antes da Copa de 1970. "O João Saldanha
era uma pessoa espetacular e muito meu amigo. Por isso, quando
ele foi afastado da seleção, achei uma injustiça
e não poderia aceitar trabalhar no lugar de um amigo",
explica.
O sucesso como treinador viria no Internacional-RS. Ele chegou
ao time em 1971 e o levou à conquista de três
Campeonatos Gaúchos seguidos. Como o Colorado já
havia levado o título em 1969 e 1970, colaborou para
o histórico pentacampeonato. "Foi a melhor experiência
pela qual passei como técnico".
Dino Sani dirigiu ainda clubes como Goiás, Palmeiras,
Coritiba, Flamengo e Ponte Preta. Também teve aventuras
no exterior com Boca Juniors, da Argentina, Peñarol,
do Uruguai, Humiuri, do Japão, e seleção
do Catar. Com o Peñarol, conquistou um dos títulos
mais importantes da carreira, o uruguaio de 1978.
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