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Sem elas, o mundo (também nas HQs) não teria a menor graça

De simples figurantes a estrelas de primeira grandeza, elas continuam ganhando cada vez mais espaço nos quadrinhos

Por Marcus Ramone (29/01/2004)

Mulher-Maravilha, arte de Adam HughesMuito antes de Betty Frieden e Gloria Steinem levantarem a bandeira do feminismo, em meados da década de 1960, e de as mulheres saírem às ruas nos Estados Unidos queimando sutiãs, num simbolismo que aludia à liberdade sexual (e, mais que isso, à igualdade de direitos), uma personagem dos quadrinhos agia no mundo dos homens quebrando as barreiras machistas: a Mulher-Maravilha.

A personagem surgiu em 1941, causando celeuma numa sociedade cheia de tabus, em que homens e mulheres tinham seus papéis definidos e diametralmente opostos em todas as áreas. O conceito de uma figura feminina que subjugava o macho, em todos os sentidos, não era bem aceito.

A heroína, então, teve que se adaptar aos preceitos da época, sob pressão de alguns segmentos da sociedade. Mas era tarde demais. As estruturas já estavam abaladas.

Gwen Stacy, esboço de Adam HughesAs histórias em quadrinhos de aventura produziam muitas mulheres como Lois Lane, a eterna namorada do Superman, que realmente não passava disso. Uma personagem secundária, frágil e sempre em apuros, o que servia de mote para as ações heróicas do Homem de Aço. Hoje, no entanto, a repórter do Planeta Diário é bem mais dinâmica, atuante e tão decidida que conseguiu até se casar com o maior ícone das HQs.

Essa imagem de fragilidade era muito comum nas companheiras dos super-heróis. Como a bela Gwen Stacy, uma barbie girl por quem o Homem-Aranha nutria todo seu amor. Anos após sua morte, houve a tentativa da Marvel de trazer à tona um modelo "recauchutado", quando Peter Parker se enamorou de Debbie Withman, outra doce e ingênua loira que até hoje se encontra no limbo dos personagens descartáveis.

Mary Jane Watson e O Homem-Aranha, arte de Adam HughesA antítese dessas "bonecas de luxo", Mary Jane Watson, liberada e auto-suficiente desde sua primeira aparição, nunca pareceu ser a mulher ideal para Peter Parker, nem mesmo quando, finalmente, casaram-se.

Em alguns pontos, a personagem assemelha-se a Lois Lane: ambas se encontram não muito satisfeitas com seus respectivos maridos, e até já tiveram seus momentos de infidelidade (em vários sentidos, não só no carnal). E infiel é algo que seus companheiros nunca foram, o que reforça um traço do machismo ainda reinante nas HQs, nas quais o mocinho vive acima de qualquer deslize e suas parceiras carregam os pecados do mundo.

Não obstante, o que se vê hoje já é bem diferente daqueles tempos. Personagens antes sem muito apelo estão acompanhando a crescente afirmação feminina no meio masculino e se tornando muito mais do que meras coadjuvantes.

Diana Palmer-WalkerOs exemplos são muitos, e um dos mais famosos é Diana Palmer-Walker, esposa do lendário Fantasma, que abandonou o estereótipo de mulher dedicada que cuida dos filhos e aguarda a chegada do companheiro à noite. Atualmente, ela é uma alta funcionária da ONU, que concilia muito bem os afazeres de mãe e trabalhadora.

Radical ChicMarlo, esposa de Rick Jones (que atualmente compõe um "dois-em-um" com o Capitão Marvel), também é uma dessas batalhadoras que não vivem à sombra de seu homem. É dona de uma gibiteria, de onde retira seu sustento. Vem gradativamente ganhando participação mais efetiva nas aventuras do herói, protagonizando passagens das mais divertidas, e se firmando como personagem.

Entretanto, o grande símbolo da mulher moderna talvez seja a esperta Radical Chic, concebida pelo brasileiro Miguel Paiva em 1982, e que durante todos esses anos ainda não encontrou o homem que conseguisse entender seu comportamento tão avançado. Ela pensa, diz e faz tudo que qualquer mulher desejaria neste mundo machista, e vive o papel que quer, não o que a sociedade determina.

Vida dura

Mas nem tudo são flores para elas. Nas tiras humorísticas de Hagar, o horrível, a sempre presente esposa Helga, a despeito de sua inteligência, sensatez e força física, é submissa às funções domésticas e ao marido (embora por solicitude, nunca por obrigação).
Dona Tetê, em tira do Recruta Zero

Dona Tetê, secretária do General Dureza, vive esquivando-se das investidas do velho devasso. O assédio sexual a que é submetida diariamente no Quartel Swampy, porém, tem rendido excelentes situações cômicas nas histórias do Recruta Zero até hoje.

Rê Bordosa, de AngeliQuanto à junkie Rê Bordosa, a mistura de drogas, sexo livre e noites mal-dormidas a tornou símbolo dos "porraloucas". Suas contradições, ânsias, conflitos internos e filosofias etílicas, mais que motivos para reflexão, eram pura picardia.

Curiosamente, sua morte não se deu por conta de uma dose a mais de suas preferidas (e devastadoras) misturas químicas. O criador da personagem, o paulistano Angeli, a "matou" no auge da fama, no especial A Morte da Rê Bordosa, um clássico do underground brasileiro.

Supermulheres

É verdade que, muitas vezes, o sucesso que essas mulheres fazem se deve aos atributos físicos que a natureza (ou, no caso, os autores) lhes proporcionou. Mas, convenhamos, elas têm muito mais a mostrar. Num universo em que pancadaria é o que vale, certas super-heroínas conseguem se destacar não só pela força bruta.

É o caso da advogada Jennifer Walters, que nas horas vagas é a Mulher-Hulk, um talento em sua profissão e tão reconhecida por isso quanto pelo fato de salvar o mundo entre uma causa e outra. SupermãeEmblemática no papel de esteio familiar, Susan Richards, a Mulher-Invisível do Quarteto Fantástico, é a mãe e esposa aguerrida que já derrotou sozinha uma equipe de supervilões, em nome da proteção de sua família. Situações como esta são muito exploradas na personagem, que já provou seu espírito de liderança quando Reed Richards, seu marido, esteve desaparecido.

E por falar em mães, a Supermãe, criação de Ziraldo, é uma dessas superprotetoras que não se conformam com o fato de que os filhos crescem e se tornam adultos. A todo instante, coloca seu rebento nas situações mais constrangedoras (e engraçadas), mas tudo na maior boa-fé e com a única finalidade de promover seu bem-estar.

MargaridaAté mesmo Margarida, namorada do Pato Donald, encarou o fardo do heroísmo como Superpata, para provar que a boa e velha intuição feminina suplanta qualquer lógica super-heroística. Foi também a primeira e única "mulher" da Disney a ganhar uma revista seriada no Brasil.

Com o visual reformulado, nunca repetindo uma roupa em cada história, a patinha levou o gibi à marca de mais de 200 edições lançadas. Sucesso incontestável para quem, antes, sempre estivera apagada pelos demais, e que passou a encarnar uma personalidade marcante como pouco se viu em uma HQ Disney.

Outro bom exemplo de mulher vencedora é Bárbara Gordon - ou Oráculo, se preferir. A ex-Batgirl se tornou mais relevante ainda como personagem após ficar paralítica, em decorrência de um atentado a bala perpetrado pelo Coringa. Atualmente, é a expert em sistemas de informação que presta serviços ao Batsquad e à Liga da Justiça.

Betty BoopU-lá-lá!

As mulheres dos quadrinhos também despertam desejos. Não só nos personagens com quem contracenam, mas também na imaginação dos leitores.

Já nos anos 30, uma pequenina musa fazia todos suspirarem. Em seus shows nos pubs nova-iorquinos, não havia mulher que não invejasse seu sex appeal, ou homens que não a cortejassem ao fim da noite. Betty Boop era assim, jeitinho ingênuo e atitudes de uma loba no cio.

Valentina também não deixa nada a dever. A italiana de cabelo chanel exala erotismo em quaisquer gêneros de aventura em que se arrisca, seja ficção científica ou detetivesca. Quando busca prazer, tanto faz que seja homem ou mulher a lhe saciar o voraz apetite.

Valentina

DruunaMas nada que Druuna não faça melhor. Os desenhos pra lá realistas da exuberante personagem têm estimulado a imaginação de milhares de fãs há anos, e traduzem a fêmea perfeita: linda, corpo escultural, insaciável e disposta a realizar toda e qualquer fantasia, seja na Terra ou em qualquer mundo em que se encontre em suas incríveis viagens pelo caminho da luxúria.

E não se pode esquecer das quase anônimas beldades que abrilhantavam os quadrinhos eróticos de Carlos Zéfiro, como Nayá, por exemplo. Gerações de rapazes tiveram sua iniciação sexual por meio dos chamados "catecismos" do papa do underground tupiniquim, vendidos nos cantinhos escuros das bancas de revistas do Brasil, nos distantes anos 40, 50 e 60.

 

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