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Última atualização: 01/02/10       

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Angeli fala de sua relação com Rê Bordosa

Fonte: Press Release, fotos: Marcos Mendes (17/05/2001)

AngeliArnaldo Angeli Filho, nasceu em 31 de agosto de 1956, na cidade de São Paulo. Já aos 14 anos publicou seu primeiro desenho na extinta revista Senhor. Em 1973 foi convidado a desenhar para o Jornal Folha de S. Paulo, onde além de charges políticas criou para a seção de quadrinhos, a tira diária Chiclete com Banana, título que lançou personagens como Rê Bordosa, Bob Cuspe, Wood & Stock e os Skrotinhos.

Em 1985, foi criada uma revista de quadrinhos independente, com o mesmo nome e editada por Toninho Mendes, que se transformou num fenômeno de vendas com inquestionável influência no mercado editorial.

Autor de vários livros, participante de alguns festivais de comics da Europa e colaborador do Jornal Diário de Notícias, de Lisboa, Angeli teve seus trabalhos publicados pelas revistas Linus, de Milão, El Víbora, de Barcelona e Humor, de Buenos Aires. Atualmente, trabalha com exclusividade para Folha de S. Paulo e para o provedor Universo Online, desenvolvendo quadrinhos animados para a internet.

Abaixo, o autor fala de sua mal-resolvida relação com a personagem Rê Bordosa.

Pergunta - Exatos 13 anos depois da morte da Rê Bordosa, a personagem ainda te incomoda?
Angeli - Bom, creio que não me incomoda mais. Até porque o que mais me angustiava era a possibilidade da existência dela se tornar um grude na minha carreira. Daí a decisão de matá-la.

AngeliPergunta - Você já comentou que começou a se sentir incomodado com a possibilidade da personagem ficar maior do que o autor. Foi isto que o levou a parar de publicar tiras da personagem?
Angeli - Sim, é verdade. Sempre me irritou muito em entrevistas de outros desenhistas aquela coisa do "mundo encantado de Mauricio de Sousa", ou "mundo encantado de Saci Pererê" (Ziraldo). Enfim, o mundo encantado de qualquer coisa. O meu projeto não tinha muita pretensão de seguir uma trajetória específica, mas a visão que eu tenho do meu trabalho é que, no todo, ele resulte em uma crítica de comportamento, no qual todos os personagens, charges e textos se juntem em uma crítica só.

Pergunta - No caso de Rê Bordosa, a personagem seguiu um caminho diferente, fugiu a seu controle?
Angeli - Quando eu percebo que alguma coisa está tomando um rumo que sai um pouco fora deste projeto, começa a me incomodar. E a Rê Bordosa, de alguma forma, estava apagando o brilho dos outros personagens.

Pergunta - Como assim?
Angeli - Ela era uma personagem muito forte e gostosa de trabalhar, mas problemática. O meu medo foi sempre de ter que carregá-la e me ver obrigado a desenhá-la até por uma questão de mercado. O leitor gosta, funciona, claro. Mas se eu fosse fazer um livro tinha que botar ela na capa, e isso começou a me incomodar. Qualquer proposta que de trabalho, era com a Rê Bordosa em primeiro lugar. E meu objetivo era fazer uma coisa mais ampla do que uma personagem.

AngeliPergunta - A Rê Bordosa foi assassinada há 14 anos. Ela era muito voltada a mulher daquela época (1984 a 1987). Você acha que atualmente existem muitas Rê Bordosas por aí?
Angeli - As leitoras da época da Rê Bordosa continuam muito fiéis a ela. As mulheres de hoje que não a leram, possuem os mesmos problemas que ela tinha na década de 80. Creio que agora a autodestruição, através do sexo, do álcool e do cigarro é menor. Esta geração ainda tem um sentimento de culpa, problemas de adequação com o sexo oposto, com uma sociedade machista e também diante do que as mulheres acham o que é certo ou errado.

Pergunta - Como você contextualizaria sua personagem naquela época?
Angeli - A Rê Bordosa era um corpo estranho no movimento feminista ou machista, seja o que isso fosse. Então, hoje em dia ainda tem esses problemas, mas a forma de atuar é diferente. Talvez a droga que se usa hoje seja diferente e o álcool não esteja tão presente. E tem também a AIDS, que mudou muito o comportamento das mulheres.

Pergunta - A Rê Bordosa nasceu em 1984 e morreu em 1987. A AIDS já estava começando a ser discutida. Hoje, você acha que, com o tempo, a AIDS poderia mudar o comportamento da personagem?
Angeli - Acho. Eu não gostaria de mudar o meu personagem por causa de uma doença que surgiu. Mas, sem dúvidas, o comportamento sexual da mulher de hoje mudou. Fazer loucuras sexuais não é mais a mesma coisa de quando a Rê Bordosa fazia. Como, por exemplo, levar um time de futebol para dentro da banheira. Acredito que isto não existe mais.

Pergunta - Em algum momento da vida você se sentiu Rê Bordosa?
Angeli - Pode falar de uma década toda (risos)

Pergunta - Conte uma história de Rê Bordosa que você tenha vivido...
Angeli - Uma vez rolou uma bebedeira muito grande, e eu e o Homero (amigo de infância) acabamos presos na 4ª delegacia. Fizemos um teatro lá dentro, estávamos tão bêbados que começou a achar engraçado tudo aquilo. Tomamos umas porradas e pontapés e mandaram a gente embora.

Tinha um poste na frente da delegacia, e a coisa que nós dois mais queríamos era fazer xixi. Então, descemos as escadas, paramos no poste e começamos a mijar, um de cada lado do poste. Acho que isso é uma atitude de Rê Bordosa.

Tem também um outro caso que aconteceu em Ouro Preto, Minas Gerais. Eu e Glauco (cartunista) ficamos bebendo uma semana inteira, e fomos atrás das menininhas da cidade. Nessa mesma viagem, arrumei uma namoradinha e fui para a casa dela. Fiquei lá um tempo, namorei e tudo. Umas 6h da manhã, eu falei: "Não vou dormir aqui, vou para minha casa". Saí de lá, mas esqueci que Ouro Preto é feita de ladeiras intermináveis, e eu não havia calculado o quanto tínhamos andado de madrugada até chegar na casa da menina. E foi um sufoco até chegar no hotel, eu me arrastava por aquelas ladeiras, com os bofes para fora. De repente abrem uma fresta de uma janela e gritam: "Aí, Angeli, tá longe de casa, hein, meu?" Eu só consegui lançar uns grunhidos, mas não tinha nem idéia de onde vinha o grito.




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