Postado em 8/11/2009 às 3:20 por Felipe dos Santos Souza
Di Stéfano: ele esteve numa Copa, mas não pôde jogar
A Copa do Mundo é um dos palcos mais apropriados para que os melhores jogadores do mundo brilhem, defendendo suas seleções. Entretanto, em algumas ocasiões, várias circunstâncias fazem com que esses jogadores sequer tenham chance de jogar, às vezes. E, cruelmente, atletas brilhantes tornam-se notas de rodapé na história das Copas.
A Trivela, então, decidiu fazer o seu Top 10 mensal com grandes jogadores que conseguiram, sim, ir a um Mundial. Entretanto, nem de longe foram decisivos para o desempenho final de suas equipes neles, restando-lhes apenas o banco de reservas - ou, no máximo, atuações discretíssimas.
Você sentiu falta de alguém na lista? Então pode deixar seu comentário, aí embaixo!
1) Di Stéfano (Espanha, Copa de 1962)
Parece até maldição. Mas o fato é que o argentino Alfredo di Stéfano, considerado por muitos o melhor jogador de seu tempo (por alguns, o melhor de todos os tempos), nunca pôde brilhar como merecia numa Copa. Quando ainda defendia a seleção da Argentina, entre 1947 e 1949, a "Flecha Loira" ficou de fora do Mundial de 1950, para o qual a Albiceleste recusou-se a ir.
Depois, para 1954, não só a Argentina também não foi, mas Di Stéfano foi proibido de jogar pela Fifa, já que tivera atuações pela Colômbia, na época em que defendeu o Millonarios, pela Liga Pirata. Paralelamente, o atacante brilhava nos clubes por onde passava. Principalmente no Real Madrid, onde foi, talvez, a maior estrela do domínio merengue, na fase inicial da história da Copa dos Campeões.
Em 1956, o jogador assume a cidadania espanhola. E, claro, é convocado para defender a Furia. Mas a história dramática que afastou Di Stéfano de Copas teve mais dois golpes duros. Em 1957, ele jogou quatro partidas pelas Eliminatórias, vestindo a camisa vermelha espanhola. Mas a equipe não conseguiu a vaga na Copa da Suécia, um ano depois.
Finalmente, tudo encaminhava-se para um final feliz. Já com 35 anos de idade, Di Stéfano teve êxito com a Espanha, nas Eliminatórias para a Copa de 1962. E foi incluído na lista dos 22 convocados por Helenio Herrera para o Mundial. Porém, já no Chile, o destino foi mais uma vez malvado: Di Stéfano sofreu uma lesão muscular, da qual não se recuperou a tempo. Ficou de fora até do banco de reservas, e não pôde evitar a eliminação da Fúria, ainda na primeira fase. Nunca mais teria uma chance de mostrar, em Copas, seu indubitável brilho que fez dele lenda.
2) Ademir da Guia (Brasil, Copa de 1974)
Não é exagero dizer: em 1974, Ademir da Guia era um dos dois melhores jogadores de futebol do Brasil. Só Rivelino podia disputar tal imagem em igualdade de condições. O Divino era o melhor jogador de um dos melhores times que o Palmeiras teve em sua história. Já na segunda fase da Academia, o meio-campista tinha um Campeonato Paulista e dois Brasileiros - isso, para nem citar os dois Paulistas, um Rio-São Paulo, uma Taça Brasil e duas Taças de Prata, vencidas na primeira época da Academia.
Não era à toa, definitivamente, que muitos brasileiros pediam que Zagallo desse uma chance mais concreta ao filho de Domingos da Guia, na equipe que estava sendo montada para tentar manter o título na Copa da Alemanha. Porém, duas circunstâncias impediram Ademir de ter um lugar que lhe era de direito na Seleção Brasileira. A primeira, o excessivo número de jogadores de qualidade no meio-campo: Rivellino, Valdomiro, Paulo César Carpeggiani e Dirceu. A outra, simplesmente a opção de Zagallo em não colocá-lo como titular.
Enfim, Ademir foi convocado para a Copa. Porém, não atuou em nenhuma das seis primeiras partidas do Brasil na Alemanha. Só ganhou uma oportunidade na decisão do terceiro lugar, contra a Polônia. Quase como se fosse um prêmio de consolação. Entretanto, nem ele foi muito desfrutado: Ademir jogou apenas os 45 minutos iniciais, e já não estava mais em campo quando Lato fez o 1 a 0 da vitória polonesa. Uma participação melancólica, em que Ademir saiu tão incógnito como sempre foi, na Seleção.
3) Roberto Dinamite (Brasil, Copa de 1982)
O atacante do Vasco já tivera bom desempenho na Copa de 1978, quando saiu do banco de reservas para terminar o Mundial da Argentina como titular absoluto da equipe de Cláudio Coutinho. Entretanto, Coutinho caiu, Dinamite teve em seu caminho a malfadada passagem pelo Barcelona, Telê Santana foi fazendo as suas escolhas, pouco a pouco... e o hoje presidente do clube de São Januário foi ficando para trás, na briga por uma vaga no elenco que iria à Copa de 1982.
Primeiramente, além do titular Serginho, Reinaldo parecia ser a outra opção preferencial para o ataque da Seleção Brasileira - mas suas contusões acabaram com as chances. Telê Santana deu, então, oportunidade a Careca, nos amistosos iniciais de 1982 - e o atacante do Guarani não decepcionou, assegurando a vaga na convocação para o Mundial da Espanha. A jovem estrela do Bugre já tinha até inscrição, com a camisa 20 do Brasil. Porém, o sonho acabou numa distensão muscular, num treino na Espanha, a apenas dois dias do início da Copa. E Careca foi cortado.
Às pressas, Telê decidiu-se pelo nome de Roberto Dinamite, que até estava numa lista de possíveis reservas. E foi exatamente assim que o novo camisa 20 do Brasil chegou à Espanha: sabendo que dificilmente iria tomar o lugar de Serginho e Éder, no ataque titular do time de Telê. E foi assim que Dinamite passou por aquela Copa de tristes lembranças aos brasileiros: quase incógnito, sem nenhum minuto jogado.
4) Romário (Brasil, Copa de 1990)
Sebastião Lazaroni teve, na decisão sobre a dupla de ataque que jogaria na Copa de 1990, apenas um dos grandes problemas que vitimaram a preparação brasileira para aquele Mundial. Parte da torcida pedia Bebeto e Romário, a dupla que tanto sucesso fez, no título da Copa América de 1989. A outra parte exigia Careca e Muller, dupla titular nas Eliminatórias. E Lazaroni ficava com uma grande dúvida. Ainda mais vendo o brilhantismo de Romário, em suas atuações pelo PSV. Mesmo que fosse reserva, o atacante prometia ser bastante útil. Poderia até, quem sabe, tornar-se titular durante a estadia na Itália.
Toda essa expectativa que Romário atraía foi pelos ares no dia 4 de março de 1990. No jogo contra o Den Haag, pelo Campeonato Holandês (goleada do PSV, por 9 a 2, com dois gols do brasileiro), Romário fraturou a fíbula. Ao invés da luta para tornar-se titular, começava a luta para simplesmente estar na Copa. Para piorar, seu companheiro, Bebeto, também sofria com lesões - já na Itália, quando parecia recuperado até para receber uma chance contra a Costa Rica, contundiu o joelho num coletivo e sequer jogou na Copa.
Romário esforçou-se, e, à custa de sessões intermináveis com o fisioterapeuta Nilton Petroni, foi convocado. E, com a classificação do Brasil às oitavas de final garantida, após vitórias sobre Suécia e Costa Rica, o atacante recebeu, contra a Escócia, a chance que tanto esperava, pedia, e até exigia, via imprensa. Porém, sem ritmo e um tanto quanto confuso no 3-5-2 de Lazaroni, não teve êxito. E foi substituído por Muller, aos 20 minutos do segundo tempo do jogo contra os escoceses. O substituto fez o gol da vitória brasileira. A Romário, restou a espera até 1994. Quando, aí sim, ele e Bebeto puderam cumprir plenamente tudo o que deles se esperava.
5) Rodolfo Rodríguez (Uruguai, Copa de 1986)
Assim como não era exagero incensar Ademir da Guia às vésperas de 1974, também era bastante razoável ter o goleiro uruguaio na conta de um dos melhores em sua posição, em 1986. Não só no Brasil, como os torcedores do Santos podiam se orgulhar, mas no mundo. E Rodolfo Rodríguez tinha motivos de sobra para justificar tal fama. Tanto pelas incríveis defesas, como pelo currículo, que contava com a Copa Libertadores e o Mundial Interclubes de 1980, pelo Nacional. Ou a Copa América de 1983 e o Mundialito de 1981, estes pela seleção charrúa.
Enfim, como capitão da Celeste Olímpica, sem ter podido jogar os Mundiais de 1978 e 1982, era como titular absoluto que Rodolfo chegava para a Copa. Mas aí, o destino tratou de mudar as coisas. O goleiro sofreu uma lesão muscular na coxa, já durante os treinamentos no México. Restou a ele ver seu reserva imediato, Fernando Alvez, ocupar o lugar que todos viam como dele, na equipe treinada por Omar Borras (até pela numeração das camisas para a Copa: Rodolfo era o número 1, Alvez, o camisa 12). Alvez voltaria a ser titular, em 1990. E o arqueiro de Montevidéu encerrou a carreira, mesmo sendo o jogador com mais partidas pelo Uruguai, com a frustração de não ter exibido o seu potencial numa Copa.
6) Paolo Rossi (Itália, Copa de 1986)
O Bambino d'Oro pode ser considerado o símbolo de como a seleção italiana acabou decaindo, no caminho entre o consagrador tricampeonato mundial, em 1982, e o Mundial do México. Rossi já havia protagonizado, na Espanha, uma das grandes histórias de reação que as Copas do Mundo já viram. De jogador marcado como envolvido no escândalo do Totonero, o atacante tornou-se o impiedoso artilheiro, que tirou do caminho Brasil, Polônia e Alemanha para fazer da Itália a vencedora da Copa da Espanha - e, de quebra, ser artilheiro e melhor jogador da Copa.
Era com esta imagem que Paolo Rossi mereceu, novamente, o voto de confiança de Enzo Bearzot para a Copa de 1986. Mas, agora, os tempos eram outros. Paolino tinha os dois joelhos vitimados por contusões e dores renitentes. A sua geração envelhecera: Altobelli, Conti e Scirea eram os únicos titulares, enquanto outro companheiro de 1982, Tardelli, estava a seu lado no banco de reservas, bastante desgastado. E Rossi não jogou nenhum minuto na melancólica participação da Azzurra no México. A tentativa de resgatar a magia de 1982 foi apenas um fecho discreto para a carreira, já que os joelhos não permitiram que Rossi jogasse além daquele 1986.
7) Pepe (Brasil, Copas de 1958 e 1962)
Para citar uma tradicionalíssima piada, feita pelo próprio José Macia: ele é o melhor jogador do Santos, na história do Alvinegro Praiano. Melhor jogador e maior goleador, além de tudo. Sim, porque Pelé não conta, "não é um ser humano, veio de outro planeta", nas palavras do Canhão da Vila. E, em excursão pela Europa, com a Seleção Brasileira, em 1956, foi um dos principais destaques da equipe. Enfim, sua presença na Copa da Suécia era quase certa - e foi confirmada por Vicente Feola.
Porém, as várias mudanças que o time do Brasil sofreu para chegar ao seu primeiro título mundial acabaram por vitimar Pepe. O atacante foi limado do 4-2-4, para que Zagallo, mais afeito à prática de voltar para a marcação no meio-campo, fizesse parte do time de Feola. E o atacante viu entre os reservas a vitória na Suécia. Assim como quatro anos depois, quando, além de dar lugar a Zagallo, era vitimado por contusões. E Pepe não foi peça-chave dos times titulares do bicampeonato mundial. Pelo que mostrou no Santos, bem que merecia.
8) Falcão (Brasil, Copa de 1986)
Como Paolo Rossi, o sexto colocado desta lista, o Rei de Roma ainda era lembrado, às vésperas da Copa de 1986, pelo desempenho brilhante no Mundial anterior. Considerado o segundo melhor jogador a ter atuado na Espanha, Falcão ainda havia sido fundamental no título italiano da Roma, na temporada 1982/83. Ou seja, se as coisas seguissem o rumo normal, não havia porque não imaginar que o meio-campista pudesse brilhar também no México, a despeito da idade avançada.
Entretanto, as coisas não seguiram o rumo normal. Uma lesão séria no joelho, sofrida em 1984, teve várias consequências posteriores para Falcão. Ele se recuperou, mas não fez parte da campanha brasileira nas Eliminatórias para 1986. No São Paulo, ora era um titular substituído durante os jogos, ora começava as partidas no banco. Acabou sendo convocado por Telê, até jogou contra Argélia, substituindo o lesionado Edson, e Irlanda do Norte, mas não conseguiu exibir a mesma classe que encantou o mundo na Espanha. E, assim como Rossi, a Copa do México serviu apenas de capítulo final na carreira de Falcão.
9) Kevin Keegan (Inglaterra, Copa de 1982)
Antes da Copa da Espanha, o atacante era uma das principais peças do English Team. Como capitão da equipe, e ausente da Copa de 1978, era lícito imaginar a vontade de Keegan em fazer um excelente Mundial. Até mesmo tendo em vista o seu ótimo desempenho pelo Hamburg, clube em que já tinha um título alemão e um vice-campeonato da Copa dos Campeões, sendo o personagem principal na equipe dos Rothosen. Porém, na hora exata em que deveria brilhar, contusões vitimaram Keegan - assim como a outra esperança inglesa em 1982, o veterano Trevor Brooking.
Ambos passaram a campanha do time de Ron Greenwood no banco. E só foram levados a campo, aos 20 minutos do 2º tempo do jogo contra a Espanha, na segunda fase da Copa. Perto do final da partida, em cruzamento vindo da esquerda, para a área, Keegan estava livre na área, com o gol vazio. E escorou para fora uma bola que podia levar a Inglaterra às semifinais da Copa. O English Team, invicto, saiu do Mundial. E Keegan não foi o protagonista que poderia ter sido.
10) Jimmy Greaves (Inglaterra, Copa de 1966)
Já com a experiência do Mundial de 1962, o ponta-de-lança iniciou o Mundial na terra natal como titular na equipe de Alf Ramsey. Nas duas últimas temporadas do Campeonato Inglês antes da Copa, havia marcado pelo Tottenham nada menos do que 44 gols. Era de Greaves, sem dúvida, o papel de principal finalizador das jogadas que Bobby Charlton certamente armaria.
E ele foi titular contra México e Uruguai. Entretanto, contra a França, sofreu uma lesão na perna. Acabou sendo tirado do time, para se recuperar. Seu substituto? Um certo Geoff Hurst. Que marcou o gol da vitória nas quartas de final, contra a Argentina. E, claro, fez três gols na decisão da Copa. Hurst passou a ser, então, considerado titular do único título mundial do English Team. E as lembranças de Greaves ficaram apenas na Inglaterra, sem o alcance que poderiam ter, caso não houvesse aquela contusão contra a França...