Idéias

Estamos a três semanas da eleição. Nem parece. A aguardada discussão sobre os projetos para o Brasil não aconteceu. E nem vai acontecer. O governo só fala em cotinuidade, mostra obras, despolitiza a campanha. A oposição fica refém a cada semana de um tema de momento, pode ser saúde, pode ser o dossiê.

No máximo vemos a apresentação de números de prováveis realizações dos candidatos. É uma espécie de malufismo moderno, mais bem acabado. Contudo, tão inconsistente como o do célebre e nefasto deputado do PP de SP.

Tudo indica que nada vai mudar até 3 de outubro.

Mais uma novidade

Cada campanha tem suas novidades. Esta é a eleição que a candidata favorita desaparece dias e dias da campanha. É substituída não por um reserva, mas pelo titular. Ela é que a reserva de Lula. Faz 4 dias que não faz campanha. Lula fala por ela. Hoje novamente apareceu no programa do PT com uma imagem no interior do Palácio da Alvorada, o que é ilegal. Claro que é uma pequena ilegalidade, frente a tantas outras. Nada vai acontecer, como já é sabido. O TSE é um tribunal de brincadeirinha, tipo café com leite, como nas brincadeiras de crianças.

Como candidata, Dilma faz bem o seu papel. Não se sente incomodada (parece). E como presidente? Tudo indica que vai ser um problema. E tendo o PMDB à espreita, esperando, avidamente, partilhar o pão, como disse Temer.

O despertar da oposição

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


A oposição acordou. Finalmente. Tinha imaginado que a eleição era na Lapônia. E que a candidatura oficial tinha a lhaneza do Papai Noel. Descobriu que vivemos em um país onde as instituições democráticas são frágeis. Onde o poder Judiciário é de mentirinha. E o Legislativo está sendo invadido – para a alegria mórbida dos inimigos da liberdade – por humoristas decadentes, ex-jogadores de futebol, celebridades instantâneas e “sambeiros” que espancam suas mulheres.

Lula rasgou a lei eleitoral. Depois de ter sido multado diversas vezes pela TSE resolveu, a seu modo, a questão: passou a ignorar solenemente o tribunal. Manteve a rotina de associar o cotidiano administrativo com o processo eleitoral. Em outras palavras: “peitou” o tribunal e ganhou. Ganhou por omissão do TSE. Para Lula, a democracia não funciona pelo respeito às leis, com uma oposição vigilante e pela crítica às ações do governo. Não. Para ele, a democracia só tem uma fala, a dele. Transformou as cerimônias públicas em espetáculos de humilhação. Aos adversários, como na Revolução Cultural chinesa, reserva o opróbrio. Basta citar dois incidentes recentes: um em São Paulo e outro em Sorocaba. Manteve-se impassível quando a claque vaiou e quase impediu de falar, o governador Goldman. No fundo, estava satisfeito. O mais triste é que o fato foi considerado absolutamente natural. No Brasil lulista a prática de impedir pelos gritos e, se necessário, pela força, um opositor de falar, está virando rotina.

A associação indevida entre governo e Estado é evidenciada a todo momento. Tanto no escândalo dos dossiês, como no comício de Guarulhos – onde nem usou o disfarce da presença da candidata – ou na decoração do gabinete presidencial, que tem na parede um adesivo com o logotipo do governo ao invés de algum símbolo nacional.

O lulismo desqualifica a política. E abre caminho para o autoritarismo. A eleição deixa de ser uma salutar disputa pelo futuro do país e vira uma guerra. Para ele, os opositores não são adversários, são inimigos. Enfatiza alguns êxitos econômicos (parte deles sem qualquer relação com o atual governo) e sonha com o poder absoluto. Despreza os defensores das liberdades e, por vontade própria, já começou a mini-constituinte: aboliu informalmente o artigo 5º da Constituição.

Age como o regime militar. Tem medo de, cara a cara, enfrentar um oposicionista. Ridiculariza a política. Neste ritmo logo veremos, como na ditadura, algum outdoor com a frase: “Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada.”

Em tempo

Amanhã tem artigo na Folha.

Esclarecendo: nas últimas postagens destaquei que a oposição mudou o discurso. Lembrei também que isto pode abrir caminho para o segundo turno, o que seria bom para o país, pois poderíamos entrar numa discussão programática. De forma alguma imagino, neste momento, uma vitória do PSDB no primeiro turno. O que tenho escrito (e falado) é que as pesquisas do processo eleitoral propriamente dito, tanto em 2006, como em 2008, erraram feio no primeiro turno.

Virada?

O episódio da violação dos sigilos de vários políticios do PSDB terá repercussão na eleição. É evidente que entre uma faixa pequena do eleitorado. Mas pode iniciar um processo de recuperação da candidatura Serra. Se isto ocorrer, vai ficar demonstrado que o caminho é o enfrentamento direto. Ou seja, oposição é oposição. Mais ainda quando da eleição.

Os programas de TV de Serra melhoraram. Não vai ser fácil tirar a diferença pró-Dilma. Contudo, caso ocorra segundo turno (o que é bem provável), os 27 dias até o dia 31 de outubro poderão, finalmente, se transformar em um plebiscito, não sobre Lula, mas sobre o futuro.

Pesquisas

As pesquisas indicam tendências. No Brasil dá a impressão que a eleição já está definida, como se a pesquisa substituísse a eleição. Em consequência, os analistas já desenham cenários para o dia seguinte, quem vai liderar a oposição, como será formado o ministério, etc (em tempo: vale a pena checar, depois da eleição, as projeções que estavam fazendo agora sobre a futura composição do Congresso).
Nas duas últimas eleições, as pesquisas erraram feio. Em 2006 indicavam que Lula venceria no primeiro turno. Em 2008 (já escrevi um post sobre isso), erraram no primeiro turno nas 3 maiores capitais brasileiras. Convenhamos que não é pouco.
As pesquisas induzem alguns eleitores a votar no candidato que vai ganhar. O eleitor não quer "perder o voto", tem satisfação de dizer que votou no vencedor.
Caso as pesquisas, novamente, errem feio, não vai dar para esconder os fatos. O problema não deverá ser simplesmente de metodologia, como sempre justificam os institutos.
Claro que sem nenhuma base científica, mas quando leio que só 4% acham que o governo é ruim ou péssimo fico desconfiado: haja unanimidade.