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Estrada das chagas e da vida

Fonte:  O POVO Online/OPOVO/Ceará

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A esperança sustenta o caminhar, de Fortaleza a Canindé. Ou pelo comprido da vida. Entre o cansaço, o recomeço e o conseguir, repórter do O POVO fez-se romeira de São Francisco

04.10.2011| 01:30

Flagrantes de uma jornada. Na sequência acima: a saída de Fortaleza; a estrada e um detalhe da romaria noturna. Na foto principal: a caminhada madrugada adentro.  (FOTOS: IGOR DE MELO) Flagrantes de uma jornada. Na sequência acima: a saída de Fortaleza; a estrada e um detalhe da romaria noturna. Na foto principal: a caminhada madrugada adentro. (FOTOS: IGOR DE MELO)

A longa estrada das chagas, de Fortaleza a Canindé (pouco mais de 132 quilômetros, via Maranguape), de altos e baixos e pedras no caminho, demonstra que a vida, por si, é uma romaria. Chega o tempo de se levar apenas o necessário (seja a lembrança de uma felicidade ou um canto insistente na alma), de carregar a si próprio com toda a força possível e de seguir em frente. Entre os dias 28 de setembro e 2 de outubro, O POVO seguiu a romaria Dom Joaquim - que, há mais de meio século, ampara e orienta os romeiros de São Francisco até a Basílica de Canindé. E vivenciou o cansaço, o recomeço e o conseguir.

 

“O estirão maior é daqui pra Maranguape. Chegou lá, chegou em Canindé”, esperança um dos romeiros, na primeira madrugada. Outro afirma que, ultrapassando a Ladeira Grande, avista-se o destino. Um terceiro amplia: tem-se que vencer a escuridão de mais duas noites, até Campos Belos. O mais descrente só bota fé quando Santo-Antônio-sem-Cabeça desponta no alto da Caridade. O certo é que cada um vai suportando uma cruz e uma fé.


Eva Maria Camilo Ribeiro, 42, de Pindoretama, agente de saúde, leva todo o peso do câncer da irmã mais nova. Mais atrás, dona Valdiva, 70, e Silvana, 38, mãe e filhas diaristas, sustentam-se uma na outra. Dona Valdiva sobreviveu ao atropelamento de 2002, Silvana ressuscitou depois de uma depressão. Por vezes, as duas passam cantando. É que a música desvia o pensamento da dor.

 

Solidariedade


Outro alívio é o da solidariedade. “Você tá cheia de dor e dá massagem nos outros... Nem lembro mais a dor que tenho”, afirma Jéssica Almeida Braga, 27. Na romaria, a estudante de Estatística se torna a “cirurgiã dos calos”. A dois dias de distância de Canindé, já havia drenado, com agulha e linha de costura e álcool com cânfora, as bolhas em uma dezena de pessoas.


Já o enorme Chicão oferece massagens e apoio há 33 romarias. Francisco Ferreira dos Santos, 58, não tem só o nome do santo; tem a disposição para a santidade. “Quando entra na romaria, sabe que vai ser irmão do outro”, determina. “Quando ajudo, fico mais fortalecido”, completa.


Na longa caminhada, tem momentos em que você se torna só dor. É nesse instante que se sente como um abraço é necessário. E é fundamental ter alguém que lhe ofereça um sorriso, um bom-dia. Você reconhece o valor de um banho, de um canto para se deitar. E, mais do que isso, deseja dar o descanso a alguém. Por isso, Rosiris Passos, 64, “psicanalista em formação”, oferece rede, gel de copaíba e boas-vindas. O par, Francisco José Ramos, segue ao lado, ora dirigindo um carro de apoio, ora de mãos dadas, com a mesma disposição do espírito: doa a paciência e madrugadas de sono. “Eu levo de volta a sensação de ter sido útil”, diz.


E qualquer um, ainda que leve nada no seu surrão, pode ser útil na história do outro. “Eles deixam aconchego, calor humano. E quem vive sem ele?”, demanda o cirurgião-dentista Delano Cidrack, que acolhe os andarilhos quando eles pousam em Maranguape. Já dona Lurdes, 69, leva os romeiros como filhos. “Venho por amor”, sorri.


Para ter a alma leve, deixa tudo para trás: o casamento desfeito quando os cinco filhos eram crianças e os 25 anos na fábrica de castanha de onde saiu com R$ 6 mil (comprou um terreno para o filho, com o apurado). Na ladeira, pede força “ao Divino Espírito Santo. Passo o tempo pedindo a sandália de São Francisco e de Santo Antônio”. Os pés chegam intactos à Basílica e caminham ainda mais rápido para levar dona Lurdes ao seu paraíso: “A primeira imagem que avisto é São Francisco, de braços abertos, lá no alto”. A romaria finda no azul do domingo, a cidade acordando para a missa das 7 horas, preenchendo as janelas de curiosidades pelo povo que não desiste, caminhando devagar. E é quando o odontólogo João Leônidas Campos Monteiro, 66, se reencontra: “Eu procurava, na romaria, entender a mim mesmo para entender os outros que chegassem a mim. Para que a caminhada fosse de fraternidade”.


Há momentos, na estrada das chagas ou da vida, em que até o silêncio pesa. Há horas em que os minutos não passam. Mas, ao fim da romaria, compreende-se que há uma sequência de amanheceres depois das madrugadas. Que os bons existem em maior quantidade. Que, por vezes, é mais importante prestar atenção no caminhar do que no caminho. E se o horizonte lhe parecer muito distante, mire a estrela mais próxima.

 

 

ENTENDA A NOTÍCIA

Homens e mulheres, jovens e idosos, patrões e empregados, católicos, espíritas e mesmo descrentes, aventureiros e pagadores de promessas. Uma romaria a pé para Canindé une as mais diversas pessoas em uma história única e universal. A história de uma travessia pelas dores do outro e pelos mistérios de si próprio. De uma humanidade que se encontra e se refaz nas diferenças, nas adversidades e, principalmente, na solidariedade e na esperança.

Ana Mary C. Cavalcante
anamary@opovo.com.br

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Espaço dos leitores

Denisia Araujo 05/10/2011 15:46

Pessoas que não tem fé, não entendem o valor do sacrifício. fazer caridade é muito bom, é verdade, mas também é preciso fazer oração, uma completa a outra. Eu tenho 28 anos de romaria, e sei o quanto vale cada dor, cada hora mal dormida, cada dificuldade que se encontra na estrada, mas por incrivel que pareça nesses anos todos de romaria, não conheço ninguém que tenha indo uma vez e que não tenha voltado no outro ano, só quando o motivo é realmente muito grave. Eu amo minha romaria e peço a Deus com a intercessão de S. Francisco, que enquanto tiver saúde essa estrada terá minhas pegadas, nem que seja por alguns quilômetros.

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Abaixo a hipocrisia 04/10/2011 19:52

Pense numa babaquice: "A fé move montanha". Porque não move a corrupção, e os padres pedófilos para bem longe? Ainda tem ignorante que cai nesse leriado.

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Beto Leal 04/10/2011 14:16

Ir a pé a Canindé..é ato de louvor....que rejuvenece e deixa cristalino a fé que é inerente a todos os seres humanos....

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Lucivaldo Alves 04/10/2011 13:03

Parabenizo a repórter Ana Mary C. Cavalcante e ao Jornal O Povo pela excelente reportagem, onde demonstra a fé do povo e sua religiosidade com momentos de muita reflexão, agradecimentos e solidariedade para com os mais carentes, pois as romarias que seguem à Canindé levam consigo também alimentos, roupas, medicamentos,...

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Angela 04/10/2011 10:24

Não vejo em que isso pode ser útil a alguem, fazer essa longa caminhada, e fazer a cobertura jornalistica. Muito melhor cada um realizar boas coisas em beneficios de outras. Tipo ajudar pessoas carentes, angariar medicamentos, alimentos, etc. Orar pode ser numa igreja católica, da capital mesmo.

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Janio Ferreira 04/10/2011 08:23

Em 2001 ou 2002, não lembro com precisão, eu Dante Acioly fizemos a mesma coisa. Foram duas páginas de matéria e uma experiencia incrível. Aliás, o Dante foi o único repórter que topou a jornada. Passei dias procurando um repórter que tivesse essa coragem.

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Ary Ancelmo 04/10/2011 07:56

Olá! meus Parabéns pela matéria, sou natural de Canindé e sei o quanto é importante para cada uma pessoa dessas caminhar e chegar a terra de São Francisco. A fé move montanhas e move também a fraternidade em cada pessoa que dedica um pouco do seu tempo para um irmão que foi nessa caminhada. Parabéns O POVO e a todos que fizeram ou participaram dessa brilhante matéria.

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