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O The Nation traz uma resenha de Rachel Aviv sobre Why This World: A Biography of Clarice Lispector, de Benjamin Moser. Tão fascinante, só nesse pequeno artigo eu descobri tanta coisa que não sabia ainda sobre ela que não resisti e comprei o livro.

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Existem duas biografias da Clarice em português: Clarice: uma vida que se conta, de Nádia Gotlib, de 1995, e Eu sou uma pergunta: uma biografia de Clarice Lispector, de Teresa Cristina Montero Ferreira, publicada em 1999. Não as li ainda, então poderei dizer o que Moser traz de novo quando o meu volume chegar (o título, certamente, é o mais instigante), mas fico muito feliz que o público de língua inglesa poderá, finalmente, saber um pouco mais (ou muito mais, considerando que são quase 500 páginas) da história e vida dessa escritora que tanto nos fascina. Segundo a descrição oficial do livro:

“That rare person who looked like Marlene Dietrich and wrote like Virginia Woolf,” Clarice Lispector is one of the most popular but least understood of Latin American writers. Now, after years of research on three continents, drawing on previously unknown manuscripts and dozens of interviews, Benjamin Moser demonstrates how Lispector’s art was directly connected to her turbulent life. Born amidst the horrors of post-World War I Ukraine, Clarice’s beauty, genius, and eccentricity intrigued Brazil virtually from her adolescence. Why This World tells how this precocious girl, through long exile abroad and difficult personal struggles, matured into a great writer, and asserts, for the first time, the deep roots in the Jewish mystical tradition that make her both the heir to Kafka and the unlikely author of “perhaps the greatest spiritual autobiography of the twentieth century.” From Ukraine to Recife, from Naples and Berne to Washington and Rio de Janeiro, Why This World shows how Clarice Lispector transformed one woman’s struggles into a universally resonant art.

Em tradução minha:

“Aquela pessoa rara que se parecia com Marlene Dietrich e escrevia como Virginia Woolf”, Clarice Lispector é uma das mais populares embora menos compreendidas dentre os escritores latino-americanos. Após anos pesquisando em três continentes e tomando como base dezenas de entrevistas e artigos previamente desconhecidos, Benjamin Moser demonstra como a arte de Lispector estava diretamente ligada à sua vida turbulenta. Nascida na Ucrânia em meio aos horrores pós-Primeira Guerra Mundial, a beleza, o gênio e a excentricidade de Clarice intrigaram o Brasil praticamente desde a sua adolescência. Why This World nos conta como essa menina precoce, através de longo exílio no exterior e complicados conflitos internos, amadureceu em uma grande escritora, e afirma, pela primeira vez, as raízes profundas da tradição mística judaica que a tornaram ao mesmo tempo herdeira de Kafka e a improvável a autora daquela que seja “talvez a maior autobiografia espiritual do século XX”. Da Ucrânia ao Recife, de Nápoles e Berna a Washington e Rio de Janeiro, Why This World revela como Clarice Lispector transformou os conflitos pessoais de uma mulher em uma arte universalmente ressonante.

É possível ler uma boa parte de Why This World com o preview do Google Reader. Aproveite e veja essa galeria fantástica de fotos da deslumbrante Clarice.

Como prometido, eis uma grande e exclusiva entrevista com Sarah Rebecca Kersley, conduzida por Telma Franco em 17 de agosto deste ano, sobre o processo de tradução de Poeminha do Contra, de Mário Quintana. Por muitos considerado intraduzível, ele ganhou a versão em inglês batizada de Wee Protest Poem em 2008, e com ela Sarah provou que sim, o pequeno poema do passarinho peralta poderia ser vertido bem para a língua de Shakespeare, conservando a leveza de Quintana e o desfecho surpreendente do final. Há algumas boas surpresas nas linhas abaixo, caros leitores – de agora em diante vocês se lembrarão sempre, e com um sorriso no rosto, do Quintana quando estiverem empacados em uma fila!

TELMA: Pode nos contar um pouco sobre seu processo tradutório e como chegou à versão final “Wee Protest Poem”, do “Poeminho do Contra”?

SARAH: O processo que eu adoto na tradução de um poema é um misto de bastante trabalho (ou seja, a bunda colada na cadeira durante horas) com alguma espécie de estalo.

No caso desta tradução, tanto o trabalho, quanto o estalo, aconteceram enquanto eu esperava numa fila do Banco do Brasil em Itacaré, Bahia.

Todos que já estiveram em Itacaré devem ter alguma história pra contar sobre a experiência de usar o Banco do Brasil de lá. Só existe um banco em Itacaré e encarar a fila que se forma é algo profundamente frustrante tanto para os clientes quanto para os funcionários. A agência instalou-se na cidade numa época em que a população era pequena e não tinha muita gente com conta bancária. Nos onze anos que transcorreram desde o asfaltamento da estrada de acesso, a população mudou drasticamente tanto no número quanto no perfil. Hoje passa dos 20 mil habitantes e uma quantidade enorme de gente usa essa agência. Uma típica ida ao banco te obriga a uma fila de 3 horas, ou mais, e a uma grande dose de paciência.

Mas para quem ama ler e escrever a experiência do Banco do Brasil em Itacaré pode até ser frutífera e estimulante. Não entrei na fila com a intenção de trabalhar na tradução, mas enquanto eu estava lá desenvolvi uma nova percepção sobre o poema do Quintana e a ideia para a tradução me ocorreu. Eu não tinha levado nenhum bloco de anotações comigo, mas eu tinha uma caneta e anotei a tradução dos três primeiros versos no verso de um comprovante do FGTS.

T: Quantas versões você fez? E que alternativas usou primeiro? Os dois últimos versos foram os primeiros que você criou ou foram os últimos?

S: Uma versão. Eu cheguei rapidamente aos três primeiros versos e acho que no dia seguinte decidi como solucionar o desfecho.

Infelizmente não tenho mais o papel em que escrevi a primeira versão – eu até procurei, mas não o encontrei. Mas acho que no começo pensei em usar o verbo/substantivo pass e também brinquei com o som de little. Mas a versão final não contém nenhuma dessas palavras, e eu não sei explicar como cheguei lá.

T: Você escolheu ‘wee’ para o título conscientemente, por causa de t-wee-ty?

S: Não. Essa escolha não foi consciente. Bem observado.

T: Me disseram que ‘wee‘ é mais natural na fala de uma escocesa, e uma inglesa usaria ‘little‘. Você concorda com isso?

S: Realmente, wee é tipicamente escocês, mas também é usado na Inglaterra e nos Estados Unidos por pessoas que não nasceram na Escócia quando elas querem dizer little de uma maneira informal.

Yon é uma palavra tipicamente escocesa, então, olhando por esse prisma, acho que combina com wee. Eu sou inglesa e essas escolhas se deram no subconsciente. Mas, pensando bem agora, talvez tenha a ver com o fato de eu sentir muita afinidade tanto com a literatura quanto com a música escocesa. Além disso, morei muitos anos na Escócia, e na faculdade tive vários professores escoceses que davam matérias relacionadas à linguagem.

Tanto o Scots [língua nativa da Escócia] quanto o inglês falado na Escócia usam yon ou yonder no sentido de over there (expresso, com frequência, por yonder ou over yonder) ou no sentido de that one (expresso, com frequência, por yon).

Parece que yonder é mais comum do que yon para se designar over there. Yon é muito usado para designar that ou those. Não lembro de ouvir a frase over yon para dizer over there como usei na tradução do poema. Mas eu a usei conscientemente, numa maneira elíptica de sugerir over yonder.

Folk também combina bem com o estilo fofinho da tradução como um todo, assim como o uso de them como determinante, seguindo a mesma linha informal, em lugar de those. Manter a coerência do estilo fofinho, a propósito, foi uma opção subconsciente que só se manifestou quando o último verso me ocorreu.

T: Algumas soluções tradutórias demoram a chegar, outras chegam de repente, como num “passe de mágica”. Você diria que ‘Tweety Pie’ veio num “passe de mágica”?

S: Difícil dizer. Mas algumas coisas podem ter me influenciado de maneira subliminar:

1. Muitos passarinhos gostam de se esconder entre as vigas de madeira do meu telhado e o canto deles é a primeira coisa que eu ouço de manhã ao acordar.
2. Three Little Birds, do Bob Marley, é uma das minhas músicas favoritas e eu a ouço direto enquanto estou trabalhando.
3. Acho que assisti a desenho animado demais quando eu era criança.

É bom lembrar que quando eu traduzi esse poema, em 2008, eu nunca tinha ouvido falar do Twitter!

T: Por fim…Você acha que o Mario Quintana aprovaria a sua versão?

S: Uma coisa interessante sobre essa tradução é que ela tem especificidades culturais. Com isso quero dizer que o leitor do original tem de ter um bom conhecimento da língua portuguesa para “sacar” o poema, mesmo que superficialmente. Da mesma maneira, o leitor da tradução tem de ter um bom conhecimento de inglês para “sacar” alguma coisa.

O poema original, porém, é universal no tempo e no espaço, e não requer do leitor nenhum conhecimento cultural específico. Ele expressa um sentimento humano universal. Em contrapartida, minha tradução está condicionada a uma referência da cultura popular norte-americana do século 20. Não é universal nem no tempo nem no espaço.

Então embora eu goste muito da minha interpretação, não tenho muita certeza se Quintana a aprovaria, e pode ser que ele considerasse o Poeminho do Contra intraduzível.

– Fim –

Originária da Inglaterra mas residente na Bahia desde 2005, Sarah Rebecca Kersley é tradutora profissional e criadora-diretora do espaço Urso de Óculos, a única livraria no pequeno município de Itacaré.

Essa entrevista, feita em 17 de agosto de 2009, teve como objetivo auxiliar Telma a entender o processo tradutório de Sarah para enriquecer a palestra que fará no Nas Trilhas de Tradução, em Ouro Preto, no dia 9 de setembro, na Sala 5, às 14:20. O Nas Trilhas da Tradução é parte do X Encontro Nacional de Tradutores/IV Encontro Internacional de Tradutores que acontecem em Minas de 7 a 10 setembro 2009.

A entrevista foi publicada aqui no Talqualmente em primeira mão – como me sinto honrada! – sintam-se a vontade para copiar, colar, divulgar! Aliás, há um press release pronto, para os colegas da imprensa: Como se diz “Eles Passarão…Eu Passarinho” em inglês? Tradução do famoso poema será apresentada em Encontro Internacional de Tradutores em Ouro Preto no dia 09/09/2009.

Há tempos que não apareço pelas bandas de cá, mas se parei minha locomotiva para escrever essas poucas traçadas linhas, tenham certeza que a notícia é boa. Aliás, maravilhosa!

Lembram que em fevereiro de 2008 (como passou rápido!) promovi neste espaço um pequeno concurso de tradução desafiando meus dois ou três leitores a apresentarem uma tradução aceitável para o Poeminha do Contra de Mário Quintana? Digo aceitável porque até então, para mim, a leveza e espírito brincalhão daquele poema eram algo impossível de traduzir para o inglês. Para surpresa geral, tivemos ótimas traduções e uma vencedora: Sarah Kersley foi coroada com uma ótima versão, que ela batizou de “Wee Protest Poem”.

Para relembrar:

“Todos estes que aí estão

Atravancando o meu caminho,

Eles passarão.

Eu passarinho!”

Mario Quintana

All them folk there over yon

My path they do defy,

They’ll tweet along.

I Tweetie Pie!

Sarah Rebecca Kersley

A grande novidade é que vira e mexe na internet, os posts sobre o concurso foram parar na academia: Telma Franco, mestranda em tradução pela UFSC, chegou ao Talqualmente e teve uma grata surpresa ao encontrar não apenas uma, mas várias versões do Poeminha do Contra, que ela também considerava impossível de ser traduzido mantendo-se fiel ao “espírito brincalhão do desfecho transgressor e inventivo do poema”.

Foi assim que o Primeiro Grande Concurso Talqualmente de Tradução serviu de inspiração para o artigo O paradoxo do passarinho peralta, recentemente publicado na Revista de Letras da Universidade Estadual Paulista. Telma o conclui assim:

“Mario Quintana (1984) se dizia um poeta insatisfeito: “Eu não sou um poeta satisfeito. Eu sempre procuro ir mais adiante. A poesia é o mais adiante.” Mas, sendo ele próprio um poeta de natureza sapeca e graciosa, e lembrando que neste poema o eu lírico é o passarinho, não é demais supor que Quintana ficaria satisfeito de se ver comparado ao peralta Piu-Piu/ Tweety Pie.” (Telma Franco)

Fico muito feliz em saber que o concurso que na verdade não passava de uma brincadeira rendeu a Sarah e a Telma uma boa parceria. Agora em setembro, as duas estarão presentes no “Nas Trilhas da Tradução“, um Encontro Internacional de Tradutores em Ouro Preto, onde Telma apresentará o trabalho. No mais, as duas estão trabalhando juntas em alguns projetos e se tudo der certo, ainda mais bons frutos virão dessa parceria. Aguardem mais boas notícias, e uma entrevista com Sarah, conduzida por Telma, sobre o processo tradutório de Poeminha do Contra, que pretendo publicar ainda essa semana.

9780747588023

O livro Cinzas do Norte, de Milton Hatoum chegou no início do mês em terras inglesas na tradução Ashes of the Amazon, por John Gledson, pela Bloomsbury. Essa é a terceira tradução de Hatoum pela editora. O The Guardian fez uma resenha essa semana, graciosa, mas quase conta o final e não menciona a tradução, :) O programa Words at Large da CBC Radio entrevistou o autor (em inglês).

Excuse my English! As I have noticed that many of my readers do not necessarily speak Portuguese but are still interested in Brazilian literature in English, from now on this blog is bilingual. Time permitting, I might translate some of the previous post. Please forgive me for minor English mistakes!

The book Cinzas do Norte, by Milton Hatoum has landed in British lands as the translation Ashes of the Amazon, by John Gledson, This is the third Hatoum translation from Bloomsbury. There is a review this week on The Guardian, quite nice and almost telling us the end, but there is no comments on the translation, :) The Words at Large CBC Radio program has a long interview with Hatoum (in English).

Elite da Tropa, livro dos policiais do BOPE Rodrigo Pimentel e André Batista, em parceria com o antropólogo e cientista político brasileiro Luiz Luiz Eduardo Soares, que ficou famoso depois da adaptação de José Padilha como obra de ficção para os cinemas com o título de Tropa de Elite, chega às livrarias internacionais em tradução de Clifford E. Landers, pela Weinstein Books. Elite Squad acaba de chegar aqui em casa, e consta agora em minha lista de futuras leituras.

Dentre os muitos desafios que o tradutor deve ter encontrado, destaco as canções-poemas cantadas pelo BOPE que são muito, mais muito difíceis de traduzir dada a carga cultural e gírias internas que elas carregam. Tanto que até a grande maioria os nativos de português precisam das notas de rodapé para saber que *cursados* (ou puros) é a gíria para os membros do BOPE (imagino por terem passado pelos “cursos de formação”), enquanto *pés-de-cão* (ou impuros) é como são chamados os policiais militares convencionais, ou ainda a “polícia má”, que seria o restante da corporação.

Agora me diz, como melhor traduzir ou adaptar isso tudo? Veja abaixo algumas das soluções encontradas por Clifford E. Landers, em um trecho retirado da introdução do livro:

“Man in black,
What is your mission?
To invade the favela
And leave bodies on the ground.”

“Do you know who I am?
I’m the cursed dog of war.
I’m trained to kill.
Even if it costs my life,
The mission will be carried out,
Wherever it may be,
Spreading violence, death, and terror.”

“Homem de preto,
qual é a sua missão?
É invadir favela
é deixar corpo no chão.”

“Você sabe quem eu sou?
Sou o maldito cão de guerra.
Sou treinado para matar,
mesmo que custe minha vida,
a missão será cumprida,
seja ela onde for
-espalhando a violência, a morte e o terror.”

“I’m the combatant
With his face behind a mask;
The black and yellow patch
That I wear on my arms
Makes me a being unlike others:
A messenger of death.
I can prove that I am strong,
If you live to tell the tale.
I am a hero of the Nation.”

“It’s joy, it’s joy
That I feel in my heart,
For a new day has dawned,
For me to carry out my mission.
I’m going to infiltrate a favela,
My rifle in my hand,
To fight against the enemy
And sow destruction.”

“If you ask from where I come
And what my mission is:
I bear death and despair
And total destruction.”

“The blood runs cold in my veins
And has frozen my heart.
We have neither feelings
Nor compassion.
We love our comrades
And hate the conventionals.”

“Commandos, commandos,
Just what are you?
We are only
Cursed dogs of war,
Only savage
Dogs of war.”

“Sou aquele combatente,
que tem o rosto mascarado,
uma tarja negra e amarela,
que ostento em meus braços
me faz ser incomum:
um mensageiro da morte.
Posso provar que sou um forte,
isso se você viver.
Eu sou… herói da nação”
“Alegria, alegria
sinto no meu coração,
pois já raiou um novo dia,
já vou cumprir minha missão.”

“Vou me infiltrar numa favela
com meu fuzul na mão,
vou combater o inimigo,
provocar destruição.”

“Se perguntas de onde venho
e qual é minha missão:
trago a morte e o desespero,
e a total destruição.”

“Sangue frio em minha veias,
congelou meu coração,
nós não temos sentimentos,
nem tampouco compaixão,
nós amamos os cursados
e odiamos pés-de-cão*”

“Comandos, comandos,
e o que mais vocês são?
Somos apenas
malditos cães de guerra,
somos apenas
selvagens cães de guerra.”

Fiquei muito decepcionada em ver que a Amazon não cita o tradutor, na minha opinião um retrocesso para a livraria online – e olhe que Landers é um dos grandes tradutores contemporâneos de nossa literatura. Pontos para o Booksamillion e Allbookstores.com, que não esqueceram de mencionar o autor da traduçao.

Landers se debruça agora na tradução de Vozes do Deserto (Voices of the Desert) de Nélida Piñon, que deve  sair no fim de 2009 pela Knopf. Espero ter mais notícias sobre ela em breve!

Como tinha previsto, Pilar del Rio assina a versão em espanhol de A Viagem do Elefante. O processo de tradução foi gravado por inteiro por Miguel Gonçalves para um documentário em longa-metragem sobre a história de amor de Saramago e Pilar, tendo os livros e as traduções como mote. Inteligentemente chamado de Iberian Union, o documentário, espero, estará em breve nos cinemas, mas que já podemos apreciar um trechinho:

E mais outro. Como mostrado nesse último, Saramago não pára em Lanzarote. No final de novembro ele dá um pulo no Brasil para, além do lançamento do novo livro, abrir no Instituto Tomie Ohtake uma exposição sobre a sua vida, A Consistência dos Sonhos, que marca seu 85º aniversário. Só de passear pelo site e ver as belas fotos e manuscritos dá vontade de ir a São Paulo só para vê-la, quem me dera. Como é itinerante, resta ter esperanças de que um dia passe por Londres, ou terei então uma boa desculpa para finalmente visitar Portugal ao retorno dela.

Em inglês:

Fiquei devendo essa informação aqui, quando escrevi sobre as últimas notícias sobre José Saramago mês passado, mas não há motivo de surpresa. Margareth Jull Costa está firme como tradutora permanente do autor português e assina também The elephant’s journey. Ela já verteu muito bem para o inglês vários romances saramaguianos: A Caverna (The Cave), Todos os Nomes (All the Names), O Homem Duplicado (The Double), Ensaio sobre a Lucidez (Seeing), As Intermitências da Morte (Death at Intervals, que acaba de chegar às livrarias) e um conto, O Conto da Ilha Desconhecida (The Tale of the Unknown Island). Ela ganhou recentemente o prêmio de tradução do PEN American Center com a tradução de Os Maias de by Eça de Queirós

Antes de Jull Costa, o tradutor oficial do Saramago era um grande amigo do escritor, Giovanni Pontiero (1932-1996), que traduziu Manual de Pintura e Caligrafia (Manual of Painting and Calligraphy), O Ano da Morte de Ricardo Reis (The Year of the Death of Ricardo Reis, tradução essa que entrou para a lista do The Times de 50 traduções literárias de grande destaque dos últimos 50 anos), Memorial do Convento (Baltasar and Blimunda), História do Cerco de Lisboa (The History of the Siege of Lisbon), A Janguada de Pedra (The Stone Raft), O Evangelho Segundo Jesus Cristo (The Gospel According to Jesus Christ) e Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness). Pontiero também traduziu romances de Clarice Lispector.

Em outros idiomas:

A Viagem do Elefante será lançado simultaneamente em português, espanhol e catalão. Inglês e outras traduções devem vir em seguida. Sabia que os livros de Saramago foram traduzidos em albanês, alemão, árabe, bengali, búlgaro, cantonês, castelhano, catalão, checo, coreano, croata (alfabeto latino), dinamarquês, eslovaco, esloveno, esperanto, euskera, farsi, finlandês (suomi), francês, grego, hebraico, híndi, holandês, húngaro, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, malabar, mandarim, polaco, noruguês, romeno, russo, sardo, sérvio (alfabeto cirílico), sueco, tailandês, turco, valenciano?

Thanks!

Muito obrigada a Javier Muñoz, da Fundação Saramago, pelas valiosas informações!

Atualização: Acabei de editar o texto acima para corrigir uma informação: ao contrário do que tinha dito, a versão em inglês de A Viagem do Elefante não será lançada junto com o original agora nesse outono europeu. Saramago vêm a Londres essa semana para entrevistas relacionadas ao filme e lançamento do novo livro em inglês, mas trata-se do  Death at Intervals (As Intermitências da Morte), também com tradução de Margareth Jull Costa.

John Gledson acabou sua última tradução de Machado de Assis, na qual o professor estava trabalhando no ano passado e que termina com um jejum de 30 anos de contos do autor traduzidos: A Chapter of Hats and Other Stories traz com 20 contos selecionados, quinze dos quais inéditos em língua inglesa.

Machado escreveu cerca de uma centena de contos, mas a maioria deles permanece inédita em tradução. Antes desse novo livro, apenas uma outra coletânea foi publicada em inglês, Devil’s Church and Other Stories, cuja primeira edição saiu em 1977, com tradução de Jack Schmitt e Lorie Ishimatsu.

Tem um artigo bem positivo sobre a vida do autor com uma pequena resenha do novo livro no Times Online, que chama o escritor de gênio brasileiro. Sobre o tradutor, eles disseram:

John Gledson’s translations are smooth and accomplished. For readers who know Machado, this extension of his English repertory is a gift; for those unfamiliar with this neglected master, A Chapter of Hats will be a thrilling introduction to his work.

Os Lusíadas em Mirandês

Se não fosse essa notícia, eu certamente dormiria mais uma noite sem saber que a língua mirandesa, falada por cerca de 15 mil pessoas na Península Ibérica, existe.

“Isto quer dizer que esta tradução é o começo de uma nova vida, já que o mirandês faz parte da bibliografia de tão importante obra como são “Os Lusíadas”. Traduzir um poema do épico para a “lhégua” também dá para demonstrar que o mirandês está à altura de tão importante obra”

O épico de Camões demorou cinco anos para ser traduzido por Amadeu Ferreira, sob o pseudónimo de Fracisco Niebro. O tradutor também assina outros trabalhos em língua mirandesa, incluindo poesia. Inusitadamente, a tradução foi publicada, se entendi bem, em capítulos (seria como voltar aos tempos de Machado de Assis!) no jornal regional “Nordeste”. Achei fantástico saber que a Editora Âncora vai colocar a edição em livro nas ruas ainda esse ano – um investimento e tanto para um público tão pequeno, mas tão precioso.

Se ficaram curiosos, vejam essa apresentação do dialeto no próprio dialeto – dá para entender um bocadinho:

La lhéngua mirandesa ye ua lhéngua romance falada an Pertual, ne ls cunceilhos de Miranda de l Douro (30 aldés) i de Bumioso (3 aldés), ne l çtrito de Bergança, nun spácio que ten pouco mais de 500 km2 i alredror de 7000 falantes. Ye ua region ancostada a la Spanha, subretodo la porbíncias de Çamora y Salamanca. L mirandés fui recoincido cumo lhéngua pula Assembleia de la República, que aprobou la lei nº 7/99, de 29 de Janeiro. Ende se reconhécen ls dreitos lhenguísticos de la quemunidade de falantes de la lhéngua mirandesa, mas cun muitas lhemitaçones. Assi i todo, essa lei marca un amportante renacer de la lhéngua al nible de l ansino, de la scrita i de l coincimiento fuora de las tierras de Miranda.

E tem até blogue sobre a língua em si: An lhéngua mirandesa.

Mas foi o papel do tradutor que dominou o diálogo e que serviu para António Lobo Antunes agradecer a Gregory Rabassa o empenho na tradução dos seus livros para inglês. Considerou também que se o trabalho do tradutor é bom “então o original e a tradução têm a mesma voz” o que no caso do português “é difícil porque é uma língua muito musical e difícil de passar a outra”. Foi tão intenso esse debate que uma leitora pediu-lhe para ler um parágrafo em inglês e para o reler em português para poder entender a diferença.

Veja mais no Diário de Notícias

Blogues de todos os cantos da lusosfera estão comentando: a versão online dos Cadernos de Lanzarote de Saramago chega à blogosfera com “O Caderno de Saramago“. O texto de estréia é uma carta de amor a Lisboa.

Mexendo nuns quantos papéis que já perderam a frescura da novidade, encontrei um artigo sobre Lisboa escrito há uns quantos anos, e, não me envergonho de confessá-lo, emocionei-me. Talvez porque não se trate realmente de um artigo, mas de uma carta de amor, de amor a Lisboa. Decidi então partilhá-la com os meus leitores e amigos tornando-a outra vez pública, agora na página infinita de internet e com ela inaugurar o meu espaço pessoal neste blog.

Dentre outras novidades, a adaptação para o cinema de Ensaio Sobre a Cegueira está arrebatando críticos e público (e eu me preparando para assistir na tela um de meus livros prediletos, mas já espero a sequência com a adaptação de Ensaio sobre a Lucidez), e a Fundação José Saramago anuncia que o escritor acabou o seu último livro. A Viagem do Elefante começou a ser escrito em um momento delicado, quando o autor lutava contra uma doença grave. No leito do hospital, ele próprio achou que talvez não viesse a terminar o livro.

Mas terminou, Saramago agora está bem e nos presenteia com um trecho em português e já as suas traduções em inglês e espanhol:

Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade. A esta hora os companheiros da caravana já deram com certeza pela falta do ausente, dois deles declararam-se voluntários para voltar atrás e salvar o desditoso náufrago, e isso seria muito de agradecer se não fosse a fama de poltrão que o iria acompanhar para o resto da vida, Imaginem, diria a voz pública, o tipo ali sentado, à espera de que aparecesse alguém a salvá-lo, há gente que não tem vergonha nenhuma. É verdade que tinha estado sentado, mas agora já se levantou e deu corajosamente o primeiro passo, a perna direita adiante, para esconjurar os malefícios do destino e dos seus poderosos aliados, a sorte e o acaso, a perna esquerda de repente duvidosa, e o caso não era para menos, pois o chão deixara de poder ver-se, como se uma nova maré de nevoeiro tivesse começado a subir. Ao terceiro passo já não consegue nem sequer ver as suas próprias mãos estendidas à frente, como para proteger o nariz do choque contra uma porta inesperada. Foi então que uma outra ideia se lhe apresentou, a de que o caminho fizesse curvas para um lado ou para o outro, e que o rumo que tomara, uma linha que não queria apenas ser recta, uma linha que queria também manter-se constante nessa direcção, acabasse por conduzi-lo a páramos onde a perdição do seu ser, tanto da alma como do corpo, estaria assegurada, neste último caso com consequências imediatas. E tudo isto, ó sorte mofina, sem um cão para lhe enxugar as lágrimas quando o grande momento chegasse. Ainda pensou em voltar para trás, pedir abrigo na aldeia até que o banco de nevoeiro se desfizesse por si mesmo, mas, perdido o sentido de orientação, confundidos os pontos cardeais como se estivesse num qualquer espaço exterior de que nada soubesse, não achou melhor resposta que sentar-se outra vez no chão e esperar que o destino, a casualidade, a sorte, qualquer deles ou todos juntos, trouxessem os abnegados voluntários ao minúsculo palmo de terra em que se encontrava, como uma ilha no mar oceano, sem comunicações. Com mais propriedade, uma agulha em palheiro. Ao cabo de três minutos, dormia. Estranho animal é este bicho homem, tão capaz de tremendas insónias por causa de uma insignificância como de dormir à perna solta na véspera da batalha. Assim sucedeu. Ferrou no sono, e é de crer que ainda hoje estaria a dormir se salomão não tivesse soltado, de repente, em qualquer parte do nevoeiro, um barrito atroador cujos ecos deveriam ter chegado às distantes margens do ganges. Aturdido pelo brusco despertar, não conseguiu discernir em que direcção poderia estar o emissor sonoro que decidira salvá-lo de um enregelamento fatal, ou pior ainda, de ser devorado pelos lobos, porque isto é terra de lobos, e um homem sozinho e desarmado não tem salvação ante uma alcateia ou um simples exemplar da espécie. A segunda chamada de salomão foi mais potente ainda que a primeira, começou por uma espécie de gorgolejo surdo nos abismos da garganta, como um rufar de tambores, a que imediatamente se sucedeu o clangor sincopado que forma o grito deste animal. O homem já vai atravessando a bruma como um cavaleiro disparado à carga, de lança em riste, enquanto mentalmente implora, Outra  vez, salomão, por favor, outra  vez. E salomão fez-lhe a vontade, soltou novo barrito, menos forte, como de simples confirmação, porque o náufrago que era já deixara de o ser, já vem chegando, aqui está o carro da intendência da cavalaria, não se lhe podem distinguir os pormenores porque as coisas e as pessoas são como borrões indistintos, outra ideia se nos ocorreu agora, bastante mais incómoda, suponhamos que este nevoeiro é dos que corroem as peles, a da gente, a dos cavalos, a do próprio elefante, apesar de grossa, que não há tigre que lhe meta o dente, os nevoeiros não são todos iguais, um dia se gritará gás, e ai de quem não levar na cabeça uma celada bem ajustada. A um soldado que passa, levando o cavalo pela reata, o náufrago pergunta-lhe se os voluntários já regressaram da missão de salvamento e resgate, e ele respondeu à interpelação com um olhar desconfiado, como se estivesse diante de um provocador, que havê-los já os havia em abundância no século dezasseis, basta consultar os arquivos da inquisição, e responde, secamente, Onde é que você foi buscar essas fantasias, aqui não houve nenhum pedido de voluntários, com um nevoeiro destes a única atitude sensata foi a que tomámos, manter-nos juntos até que ele decidisse por si mesmo levantar-se, aliás, pedir voluntários não é muito do estilo do comandante, em geral limita-se a apontar tu, tu e tu, vocês, em frente, marche, o comandante diz que, heróis, heróis, ou vamos sê-lo todos, ou ninguém. Para tornar mais clara a vontade de acabar a conversa, o soldado içou-se rapidamente para cima do cavalo, disse até logo e desapareceu no nevoeiro. Não ia satisfeito consigo mesmo. Tinha dado explicações que ninguém lhe havia pedido, feito comentários para que não estava autorizado. No entanto, tranquilizava-o o facto de que o homem, embora não parecesse ter o físico adequado, deveria pertencer, outra possibilidade não cabia, pelo menos, ao grupo daqueles que haviam sido contratados para ajudar a empurrar e puxar os carros de bois nos passos difíceis, gente de poucos falares e, em princípio, escassíssima imaginação. Em princípio, diga-se, porque ao homem perdido no nevoeiro imaginação foi o que pareceu não lhe ter faltado, haja vista a ligeireza com que tirou do nada, do não acontecido, os voluntários que deveriam ter ido salvá-lo. Felizmente para a sua credibilidade pública, o elefante é outra coisa. Grande, enorme, barrigudo, com uma voz de estarrecer os tímidos e uma tromba como não a tem nenhum outro animal da criação, o elefante nunca poderia ser produto de uma imaginação, por muito fértil e dada ao risco que fosse. O elefante, simplesmente, ou  existiria, ou não existiria. É portanto hora de ir visitá-lo, hora de lhe agradecer a energia com que usou a salvadora trombeta que deus lhe deu, se este sítio fosse o vale de josafá teriam ressuscitado os mortos, mas sendo apenas o que é, um pedaço bruto de terra portuguesa afogado pela névoa onde alguém (quem) esteve a ponto de morrer de frio e abandono, diremos, para não perder de todo a trabalhosa comparação em que nos metemos, que há ressurreições tão bem administradas que chega a ser possível executá-las antes do passamento do próprio sujeito. Foi como se o elefante tivesse pensado, Aquele pobre diabo vai morrer, vou ressuscitá-lo. E aqui temos o pobre diabo desfazendo-se em agradecimentos, em juras de gratidão para toda a vida, até que o cornaca se decidiu a perguntar, Que foi que o elefante lhe fez para que você lhe esteja tão agradecido, Se não fosse ele, eu teria morrido de frio ou teria sido comido pelos lobos, E como conseguiu ele isso, se não saiu daqui desde que acordou, Não precisou de sair daqui, bastou-lhe soprar na sua trombeta, eu estava perdido no nevoeiro e foi a sua voz que me salvou, Se alguém pode falar das obras e feitos de salomão, sou eu, que para isso sou o seu cornaca, portanto não venha para cá com essa treta de ter ouvido um barrito, Um barrito, não, os barritos que estas orelhas que a terra há-de comer ouviram foram três. O cornaca pensou, Este fulano está doido varrido, variou-se-lhe a cabeça com a febre do nevoeiro, foi o mais certo, tem-se ouvido falar de casos assim, Depois, em voz alta, Para não estarmos aqui a discutir, barrito sim, barrito não, barrito talvez, pergunte você a esses homens que aí vêm se ouviram alguma coisa. Os homens, três vultos cujos difusos contornos pareciam oscilar e tremer a cada passo, davam imediata vontade de perguntar, Onde é que vocês querem ir com semelhante tempo. Sabemos que não era esta a pergunta que o maníaco dos barritos lhes fazia neste momento e sabemos a resposta que lhe estavam a dar. Também não sabemos se algumas destas coisas estão relacionadas umas com as outras, e quais, e como. O certo é que o sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas. Os três homens já não estão aqui. O cornaca abre a boca para falar, mas torna a fechá-la. O maníaco dos barritos começou a perder consistência e volume, a encolher-se, tornou-se meio redondo, transparente como uma bola de sabão, se é que os péssimos sabões que se fabricam neste tempo são capazes de formar aquele maravilhas cristalinas que alguém teve o génio de inventar, e de repente desapareceu da vista. Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas.

O lançamento acontece nesse outono europeu, em vários idiomas simultanemamente. A seguir, o mesmo trecho em inglês de The Elephant’s Journey, cujo tradutor ainda não descobri (o The Independent já antecipou a notícia também sem citar o tradutor, mas imagino que a versão em espanhol fique a cargo da esposa e tradutora Pilar Del Rio):

There is no wind, although the mist seems to form slow whirlpools as if boreas himself were blowing it down from the far north and from the lands of eternal ice. However, to be honest, given the delicacy of the situation, this is hardly the moment for someone to be honing his prose in order to make some, frankly, not very original poetic point. By now, the people travelling with the caravan will have realised that someone is missing, indeed two of them will probably have volunteered to go and save the poor castaway, an action that would be most welcome if it weren’t for the reputation as a coward that will dog him for the rest of his days, Honestly, the public voice will say, imagine him just sitting there, waiting for somone to rescue him, some people have no shame at all. It’s true that he had been sitting down, but now he’s standing up and has courageously taken the first step, right foot first, to drive away the evil spells cast by fate and its powerful allies, chance and coincidence, however, his left foot has grown suddenly hesitant, and who can blame it, because the ground is invisible, as if a new tide of mist had just begun to roll in. With his third step, he can no longer see his own hands held out in front of him as if to keep his nose from bumping against some unexpected door. It was then that another idea occurred to him, what if the road curved this way and that, and the direction he had taken, in what he hoped would be a straight line, led him into desert places that would mean perdition for both soul and body, in the case of the latter with immediate effect. And, O unhappy fate, without even a dog to lick away his tears when the great moment arrived. He again considered turning back to ask for shelter in the village until the bank of mist lifted of its own accord, but now, completely disoriented, with as little idea of where the cardinal points might be, as if he were in some entirely unfamiliar place, he decided that his best option was to sit down on the ground again and wait for destiny, chance, fate, any or all of them together, to guide those selfless volunteers to the tiny patch of ground on which he was sitting, as on an island in the ocean sea, with no means of communication. Or, more appropriately, like a needle in a haystack. Within three minutes, he was fast asleep. What a strange creature man is, so prone to terrible insomnias over mere nothings and yet capable of sleeping like a log on the eve of a battle. And so it was. He fell into a deep sleep, and it’s quite likely that he would still be sleeping now if, somewhere in the mist, solomon had not unleashed a thunderous trumpeting whose echoes must have been heard on the distant shores of the ganges. Still groggy after his abrupt awakening, he could not make out just where it was coming from, that fog horn come to save him from an icy death or, worse, from being eaten by wolves, because this is a land of wolves, and a man, alone and unarmed, is helpless against a whole pack of them or, indeed, against one. Solomon’s second blast was even louder than the first and began with a kind of quiet gargling in the depths of his throat, like a roll on the drums, immediately followed by the syncopated clamour that typifies the creature’s call. The man is now racing through the mist like a horseman charging, lance at the ready, thinking all the while, Again, solomon, again. And solomon granted his wish and let out another trumpet blast, quieter this time, as if merely confirming that he was there, because the castaway is no longer adrift, he’s on his way, there’s the cart belonging to the cavalry quartermaster, not that he can make out details because things and people are nothing but blurs, it’s as if the mist, and this is a much more troubling idea, were of a kind that can corrode the skin, the skin of people, horses, even elephants, yes, even that vast, tiger-proof elephant, not all mists are the same, of course, one day, someone will cry Gas, and woe betide anyone not wearing a tight-fitting mask. The ex-castaway asks a soldier who happens to be passing, leading his horse by the reins, if the volunteers have returned from their rescue mission, and the soldier responds with a distrustful glance, as if he were speaking to some kind of provocateur, because, as a quick flick through the inquisition’s files will confirm, there were plenty of them around in the sixteenth century, and says coolly, Wherever did you get an idea like that, there was no call for volunteers here, the only sensible course of action in a situation like this is to do exactly as we did and sit tight until the mist lifts, besides, asking for volunteers isn’t really the commander’s style, usually, he just points, you, you and you, quick march, besides, the commander says that when it comes to heroics, either all of us are going to be heroes or none. To make clearer still that he considered the conversation to be at an end, the soldier rapidly hoisted himself up onto his horse, said goodbye and galloped off into the mist. He was displeased with himself. He had given explanations that no one had asked him for, and made statements he was not authorised to make. However, he was consoled by the fact that the man, although he didn’t really have the physique, probably belonged, what other possibility was there, to the group of men hired to help push or pull the ox-carts whenever the going got rough, men of few words and even less imagination. Generally speaking, that is, because the man lost in the mist certainly didn’t appear to lack imagination, just look at the way he had plucked out of nothing, out of nowhere, the volunteers who should have come to his rescue. Fortunately for the man’s public credibility, the elephant is a different matter altogether. Large, enormous, big-bellied, with a voice guaranteed to terrify the timid and a trunk like that of no other animal in creation, the elephant could never be the product of anyone’s imagination, however bold and fertile. The elephant either existed or it didn’t. It is, therefore, time to visit him and thank him for the energetic way in which he used his god-given trumpet to such good purpose, for if this had been the valley of jehosephat, the dead would undoubtedly have risen again, but being what it is, an ordinary scrap of Portuguese earth swathed in mist where someone very nearly died of cold and neglect, and so as not entirely to waste the rather laboured comparison with which we chose to encumber ourselves, we might say that some resurrections are so deftly handled that they can happen even before the poor victim has passed away. It was as if the elephant had thought, That poor devil is going to die, and I’m going to save him. And here’s the same poor devil heaping thanks on him and swearing eternal gratitude, until finally the mahout asks, What did the elephant do to deserve such thanks, If it wasn’t for him, I would have died of cold or been devoured by wolves, And what exactly did he do, because he hasn’t left this spot since he woke up, He didn’t need to move, he just had to blow his trumpet, because I was lost in the mist and it was his voice that saved me, If anyone is qualified to speak of the works and deeds of solomon, I’m that man, which is why I’m his mahout, so don’t come to me with some story about hearing him trumpet, He didn’t just trumpet once, but three times, and these same ears that will one day be dust heard him trumpet. The mahout thought, The fellow’s stark staring mad, the mist must have seeped into his brain, that’s probably it, yes, I’ve heard of such cases, then, out loud he added, Let’s not argue about whether it was one, two or three blasts, you ask those men over there if they heard anything. The men, whose blurred outlines seemed to vibrate and tremble with every step, immediately gave rise to the question, Where are you off to in weather like this. We know, however, that this wasn’t the question asked by the man who insisted he’d heard the elephant speak and we know the answer they were giving him. What we don’t know is whether any of these things are related, which ones, or how. The fact is that the sun, like a vast broom of light, suddenly broke through the mist and swept it away. The landscape revealed itself as it had always been, stones, trees, ravines, and mountains. The three men are no longer there. The mahout opens his mouth to speak, then closes it again. The man who insisted he’d heard the elephant speak began to lose consistency and substance, to shrink, then grow round and transparent as a soap bubble, if the poor-quality soaps of the time were capable of forming the crystalline marvels that someone had the genius to invent, then suddenly disappeared from view. He went plof and vanished. Onomatopoeia can be so very handy. Imagine if we’d had to provide a detailed description of someone disappearing. It would have taken us at least ten pages.

Novo imortal da ABL

O jornalista e crítico musical Luiz Paulo Horta é o novo imortal eleito para a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras, cujo primeiro ocupante foi Machado de Assis e recentemente vaga com o falecimento de Zélia Gattai.

Fiz ontem uma tradução para o Global Voices sobre um projeto bacana: o Global Lives, que tem parceria com o interessantíssimo Museu da Pessoa, e que pretende gravar a vida de 10 pessoas de cantos diferentes do mundo por um dia inteiro, sem roteiro ou edição – mas com legendas. É aí que a gente entra: precisamos contar em inglês a história de Rael Feliciano, músico e inspetor municipal de São Paulo.

Veja o vídeo introdutório do projeto.

Esses filmes serão exibidos em inslatações no mundo inteiro, sendo a primeira em Sapporo, Japão, no próximo dia 25 de julho. Eis o motivo da pressa: por incrível que pareça, está chovendo colaboradores para traduzir do Chichewa (língua do Malawi), mas falta gente para colocar a mão na massa traduzindo do português. Se você tem um tempinho livre, vale a pena entrar nessa. Além de participar desse projeto super interessante, quem colaborar com pelo menos 20 minutos de legenda para os vídeos ganha crédito pela tradução e um DVD do projeto.

Links úteis:

Website do projeto

Contato -  info [arroba] globallives [ponto] org

Também publicado na Liga da Tradução.

O professor Agenor Soares dos Santos e o poeta Leonardo Fróes dividiram o prêmio Prêmio ABL de Tradução 2008, concedido pela Academia Brasileira de Letras, categoria que no ano passado premiou Barbara Heliodora pela publicação da obra Shakespeariana.

Agenor Soares é autor do Guia Prático de Tradução Inglesa, que adquiri no ano passado e rapidamente se tornou meu inseparável companheiro nessa minha jornada tradutória. O Guia Prático, juntamente com o Dicionário de Anglicismos, foi o motivo da premiação.

Leonardo Fróes, ganhador do Prêmio Jabuti de Poesia de 1996, já transpôs para a língua portuguesa, entre outros, Virginia Woolf, William Faulkner, Goethe, George Eliot, Malcolm Lowry e Lawrence Ferlinghetti, Jonathan Swift e George Eliot (Middlemarch, Rio de Janeiro: Editora Record, 1998 lhe rendeu o Prêmio Paulo Rónai de Tradução, em 1998).

Os outros premiados esse ano são: Izacyl Guimarães Ferreira ganhou o Prêmio ABL de Poesia, com “Discurso urbano”. O Prêmio ABL de Ficção, Romance, Teatro e Conto foi para José Alcides Pinto, por “Tempo dos mortos”, e Daniel Munduruku ganhou a categoria Literatura Infanto-Juvenil por “O olho bom do menino”. O escritor mineiro Autran Dourado foi o grande premiado desta quinta, 20 de junho, levando o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra.

A solenidade de entrega da premiação será realizada em sessão pública, na sede da Academia no Salão Nobre do Petit Trianon, às 17 horas do dia 17 de julho, data em que a Academia comemora 111 anos de fundação. Quem aparecer por lá por favor mande um abraço meu para o professor Agenor.

Margaret Jull Costa é a vencedora do prêmio de tradução deste ano do PEN American Center com a tradução de Os Maias de by Eça de Queirós*, que em inglês foi batizada de ‘New Directions’. Falei dessa re-tradução há alguns meses, quando foi lançanda por aqui. Eis o que o júri disse, e logo abaixo minha tradução:

“Over the years Margaret Jull Costa has produced a number of notable translations of the fiction of Eça de Queirós, the great Portuguese novelist, who is widely considered to be one of the major European novelists of the 19th century, often ranked with Flaubert, Balzac, Dickens, and Tolstoy. Most recently, Margaret Jull Costa turned her hand to Os Maias, Eça de Queirós’s greatest work, and the results are stunning. The sensuous elegance of the prose vividly captures the greatness of the original, bringing the novel to life for the reader in a way only the most masterful of translations can do. Clearly a labor of love, Margaret Jull Costa’s brilliant translation of The Maias stands as a masterpiece in its own right. Eça de Queirós lives in English!”

“Ao longo dos anos, Margaret Jull Costa vem produzindo um punhado de traduções notáveis das obras de ficção de Eça de Queirós, grande romancista português considerado por muitos um dos grandes romancistas europeus do século XIX, frequentemente colocado ao lado de Flaubert, Balzac, Dickens e Tolstoy. Margaret Jull Costa colocou recentemente as mãos em Os Maias, a maior obra de Eça de Queirós, e o resultado é impressionante. A elegância sensual da prosa capta vividamente a magnitude do texto original, dando vida ao romance para o leitor da forma magistral que apenas as mais perfeitas das traduções conseguem fazer. Evidente uma obra de amor, a brilhante tradução de Os Maias por Margaret Jull Costa sustenta-se como uma obra-prima por si mesma. Eça de Queirós vive em Inglês!

*Uma curiosidade que aprendi através da Wikipedia: “Queiroz é a grafia na época em que viveu o escritor. A vigente ortografia da língua portuguesa determina que a forma correcta é Queirós“. Eu sempre usei a primeira.

A primeira e última vez que uma tradução do português ganhou esse prêmio foi em 1967, quando Harriet de Onis trouxe Sagarana de João Guimaraes Rosa para o mundo anglófono.

Devo dizer que ando tentando digitar o mínimo possível, o que já é imensamente muito mais do que eu deveria, enquanto me recupero do terror de todo tradutor: LER. Os primeiros sinais começaram em fevereiro, e eis que estou desde então numa maratona de exames, fisioterapia, exercícios físico, auto-massagem, banho de folha, etc.

No mais, há meses que não leio nada nem pesquiso sobre literatura brasileira, muito menos traduzida, por isso me falta inspiração e assunto para o Talqualmente. Tô lendo, no momento, The Island of Dr Moreau, de H. G. Wells, mas na versão original.

Ando pensando em ocupar minha mente participando de alguns dos workshops de tradução promovidos pelo British Centre for Literary Translation e em comemoração da Translators Association nesse verão. Boa dica para quem está do lado de cá do mundo.

No mais, não parei por completo. Ando falando de coisas mais factuais, no outro blogue meu, onde divago sobre os assuntos com os quais me deparo em minha outra vida como jornalista – eu insisto em manter as duas carreiras, bem que uma delas poderia ser longe dos teclados.

April Flakes

Dizem que abril, do lado de cá do oceano, é o mês de chuvas – ‘April showers’, ou as ‘águas de abril’ (em paródia nossas ‘águas de março’), marcam o início da primavera. No entanto, é a segunda vez que neva desde que a primavera chegou – e dessa vez chegou a ficar tudo branco. Essa confusão climática não é brincadeira. O verde que já chegou em algumas árvores do parque não combina com o branco da neve, é uma imagem estranha. Imagino que os bichinhos que acabaram de sair da hibernação estejam bastante confusos nesse momento.

E teve até ‘Snow Men’

Tate Mordern, Londres, sábado 30 de março. Me lembrou do Singin’ in the Rain, mas nesse caso seria Boozin’ in the Rain.

Boozin' in the Rain

I’m laughing at clouds.
So dark, up above,
The sun’s in my heart
And I’m ready for love.

(Arthur Freed & Nacio Herb Brown)

Ronda dos tablóides

Goste ou não, sempre dou uma passadinha de olhos nas manchetes dos tablóides locais – principalmente quando tem um assunto quente em questão. Há muito que se fala sobre a separação de Paul MacCartney e Heather Mills, que chegou ao ápice hoje. Não muito literário, mas vale a pena imaginar como diríamos em português algumas das tiradas insuperáveis e intraduzíveis de hoje:

O Mirror veio com Love Me Dough e Wet it be: Legal Ruling – Brincadeiras com as canções Love me do (dough é uma gíria para dinheiro) e Let it Be (Wet, nesse caso, creio que seja alguém de pouco cárater)

Já The Sun brincou com o refrão de Help: “Help! She needs somebody”

Foi uma escolha difícil e, me sentindo incapacitada de julgar traduções em minha segunda língua (aliás, será que é possível avaliar traduções at all?), contei com a ajuda daquele que me recita Jabberwocky, um ávido leitor de literatura em inglês mas que saca pouco, bem pouco, de português. A idéia era que ele detectasse aquelas versões em que as rimas tivessem sido respeitadas, e que fizessem sentido – em outras palavras, textos que ao invés de traduções se mantivessem de pé por conta própria, poemas por si independentemente do original.

E eu então fiquei com um quarto das traduções para tentar encontrar um quê de Quintana nelas. Eis que então, nessa escolha informal, talvez não tenha prevalecido a tradução tecnicamente melhor que todas, ou a tradução perfeita, mas aquela que, cumprindo os critérios mínimos de métrica e rima, me agradou mais pessoalmente. E o meu critério aqui foi escolher aquela versão que, como Poeminha do Contra, coloca um sorriso no meu rosto ao fim da leitura:

All them folk there over yon
My path they do defy,
They’ll tweet along.
I Tweetie Pie!

As rimas estão aí, nas linhas 1/3 e 3/4, embora sejam sonoras e não visuais (culpe a língua inglesa!), e a métrica é quase a mesma. A tensão está bordada nas duas primeiras linhas. A versão de Sarah também faz uma compensação para os elementos que se perderam do original.  Tweet em si é uma palavra ótima (como dizer em português o gorjeio de um pássaro fraco ou ainda jovem? Pio mesmo?). Mas é o final citando Tweetie Pie que surpreende o leitor (de língua inglesa) tanto quanto o final do Poeminha do Contra de Quintana, e dá a ele uma imagem não presente no original – àqueles que estão aí atravacando o caminho passam a ser o desesperado Frajola que persegue e nunca alcança o Piu-piu! E ainda fica nas entrelinhas que Tweetie Pie, como foi inteligentemente batizado o personagem de Warner Bros., é uma brincadeira com o carinhoso Sweetie Pie. Cute demais!

Com isso, bem como o Quintana gosta, Sarah criaria um problema para aquele que desejar traduzir o poema de volta para o português, :). Moça que vive no meio de livros, que livro devo escolher?

Muito obrigada a todos que participaram!

Em Poeminha do Contra, Mário Quintana nos mostra algumas das características marcantes que garantem a ele um lugar na minha lista de poetas brasileiros geniais e indefectíveis – a simplicidade, a concisão e a leveza presentes nas quatro linhas do poema, e arranjadas de uma forma deveras eficaz com uma pitada inimitável de senso de humor quintanesco, fazem com que o poema beire o intraduzível.

Tradução mera e simples para o inglês de todas as nuances que ele apresenta não funciona aqui, especialmente por causa de uma pequena limitação da língua de Shakespeare quando comparada com a de Quintana – a ausência quase total do elemento que dá toda a graça às palavras do brasileiro: sufixos que sejam correspondentes diretos dos nossos aumentativo ‘ão’ e diminutivo ‘inho’. Acrescentados à palavra passar (que por si só significa tanta coisa), eles a tatuam com uma marca totalmente diferente, transformando-a num verbo em forte tom de futuro do presente na terceira linha e num delicado substantivo na linha de desfecho. Nas entrelinhas, passarão, da etimologia pássaro + -ão, também significa pássaro grande, e é um regionalismo para ‘espertalhão’ muito usado em Portugal.

Uma brincadeira de inocência quase infantil com partículas e significados da nossa língua; uma aliteração que, caros leitores, infelizmente se perde na tradução, pelo menos na versão em língua inglesa, e imagino que outras línguas romanas não alcançariam a façanha tão facilmente. Acrescente-se a isso tudo as rimas muito naturais, e que são ao mesmo visuais e fonéticas, e o intraduzível, ou pelo menos no formato de cópia fiél de uma obra em outra língua que normalmente se espera que a tradução seja, se confirma. Considero intraduzíveis essas quatro linhas, uma quadra que faz o leitor chegar ao meio do poema com uma dose de ansiedade, e acabar a leitura com um sorriso nos lábios.

Essa leveza derivada do contraste entre a tensão da primeira metade e a candura da segunda, no entanto, pode sim ser traduzida e a língua inglesa tem a concisão ideal para isso, mas muitos bílingues hão de concordar comigo, dificilmente com a mesma beleza e inocência do original. A boa notícia é que traduções possam vir a ter uma outra luz, uma outra certa lindeza própria. Ou, em outras palavras, o poema de Quintana pode inspirar versões, adaptações, traduções criativas que venham a cumprir o papel de levar ao leitor mediano de língua inglesa o gostinho de um poema que, se não fosse através de um tradutor, não seria saboreado; um texto absolutamente fora do alcance dele na língua original. E isso nós conseguimos.

Antes de anunciar a(s) traduções (versões, pseudo traduções, novos poemas) escolhida(s), queria lembrar que Quintana, tradutor versado que era, deve ter tido plena consciência dos desafios que seus poemas apresentariam a quem se metesse a traduzí-los, e imagino que ele esperaria uma boa dose de criatividade por parte do autor/tradutor para criar versões fora do lugar comum para sua obra em outras línguas. Versões que acrescentassem algo, como o sabor luso que ele deu às duas linhas mais famosas de Shakespeare. Hamletiana faz com que uma tradução de volta ao inglês seja praticamente impossível – nesse poema Quintana presenteou os leitores lusófonos com um aforismo intraduzível sem que haja uma nota de rodapé explicando que ‘ser’ e ‘estar’, em português, são meramente ‘to be’. Logo ele, que conseguia dizer tudo nas entrelinhas, deixa o tradutor sem saída:

Ser ou estar,
Eis a questão.

O que me deixa com um outro dilema: será que é mesmo preciso ser poeta para traduzir poesia?

A segunda parte dessa análise deliciosa que o concurso de tradução me trouxe vem mais tarde – agora preciso repousar minhas mãos.

So I am left, as the cliché goes, to be both judge and jury. Here my ambivalent and ambiguous nature makes a decision difficult, approaching the impossible, just as translation, in reverse, can only approach the possible and never get there.

(Gregory Rabassa, If This Be Treason/Translation And Its Dyscontents: A Memoir, New Directions, New York, 2005)

“Fico eu portanto destinado, como diz o clichê, a ser ambos, juiz e jurado. Aqui minha natureza ambivalente e ambígua torna decisão algo difícil, chegando perto do impossível, do mesmo modo que tradução, ao revés, pode apenas chegar perto do possível e nunca alcançá-lo”

(O trecho acima, em tradução minha, pedindo perdão ao mestre por ninguém mais qualificado ter traduzido o livro ainda)

E para dizer que o suspense está chegando ao fim – o tão esperado resultado do nosso concurso informal de tradução sai amanhã, :)

Na verdade, todos os bravos que mandaram suas versões são finalistas. Publicarei todos a seguir e … suspense!

Assim que tiver conseguido escolher um, entre as dores de digitação que tomaram meu cotidiano, faço um outro post (quem quiser dar opinião, deixar sugestão para os tradutores ou fazer críticas construtivas, seja bem-vindo na caixa de comentários). A seguir, por ordem de chegada:

1) Tradução: Catatau

for all whom are here
blocking my way, staying near
they will pass
i sandpipear

2) Tradução: Rafael Trindade

For those who’re blocking
my way, ’bout to gird:
they´re mocking
I’m bird!

3) Tradução: Rafael Trindade (de novo!)

Those who impede my
way, all that fixed herd
They bore
Me bird!

4) Tradução: Rafael Trindade (again!)

For all those who tie
up my way, I whirred
for they’ll go by
I’ll go bird!

5) Tradução: Giseleg

For all those who are there
like blocks along my way
While they all shall pass
I shall fly my way

6) Tradução: Sarah

All them folk there over yon
My path they do defy,
They’ll tweet along.
I Tweetie Pie!

7) Tradução: Johannes Goes (não é parente, *risos)

“All those who are set upon
blocking my way so sturdy
They will stop none.
Me, a tiny little birdy”

8) Tradução: Saulo

“Those who are bypass
blocking along my way
While they all shall pass
I shall fly away”

9) Tradução: Johannes Goes (mais uma)

All those who are set upon
blocking my way so sturdy
A burden too heavy to carry on.
To stop me, a tiny little birdy

10) Tradução: Gilson Azevedo

All those out there bent
on hampering my bearing,
they shall soon be spent.
And I, a birdling daring.

11) Tradução: Gilson Azevedo (segunda versão)

All those out there who cast
themselves on my way amassing,
they shall just walk past.
And I, a birdie passing.

11) Tradução: Gibba

All of those standing there
Hindering my clean path
Like circling vultures they’ll stare
The little bird that’ll sing and laugh

11) Tradução: Jeny

For those who are
on my road cluttering,
they are just passerby,
Me passerine!

12) Tradução: Sibele (via orkut)

“All those who are foe
And want to stick me an arrow
They are but fowl
And I a sparrow”

12) Tradução: Thiago Humberto (via orkut)

“Those Joe Blows lined up
blocking the alleyway
Shall they pass
I shall fly way”

13) Tradução: Heloisa (via orkut)

All those out there bent
on hampering my bearing,
they shall soon be spent.
And I, a birdling daring.

14) Tradução: Pricila (via orkut)

“All these very fellows yonder,
stumbling stones upon my way
I’ll pass them over
they’ll pass away”

15) Tradução: Guilherme Braga (pouco depois do deadline, :)

Those now cluttering up my way
Will all eventually sway away:
They, a burden heavy;
I, a bird in heaven!

16) Tradução: Adriana (mais um pouco depois do deadline, :)

For all those out there
hampering my path,
they shall fly somewhere
I shall fly to the death

17) Tradução: Mayra

“All of those that
are blocking my way,
They will pass.
I will ‘passé’ !”

18) Tradução: Johannes Goes

All those that are around
and my path deny
will be swallowed into the ground.
Me, a swallow in the sky

19) Tradução: Marcos Gorenstein

“All these there are,
Blocking my way,
They’ll pass,
I´ll bird!”

20) Tradução: Diego

Little poem of against

All of those who are there
lumbering my way
They will pass
I little bird!

Desafio um: analisar todos e escolher um. Desafio dois: traduzir o título!

Gostaria de agradecer a todos os que participaram e devo informar que esse concurso é de caráter puramente amistosos e não tem finalidade de publicação em outro local que não seja esse blogue, infelizmente – mas vale um livro!

Poeminha do Contra

“Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!”

Mario Quintana

Dou um livro da wishlist de quem me apresentar uma boa tradução para esse poeminha singelo do colega tradutor e jornalista, e grande poeta, Quintana, que mantenha as rimas e a piadinha, :)

Ou pelo menos recomendou um artigo meu dentre as cinco leituras da blogosfera recomendadas para o dia de ontem. Trata-se do artigo sobre a crise no Timor Leste, que fiz durante meu horário de almoço e publiquei no Global Voices.

Criei um mapinha no google para indexar os blogues em português no mundo inteiro de acordo com a localização do autor. Essa indexação, espero, me ajudará na cobertura da lusofera que faço para o Global Voices Online (que por um lado é o motivo da minha quase ausência).

Mapa da Lusosfera

Clique aqui para ampliar

Se você, visitante, tem blogue em português, por favor ajude a populá-lo (e se calhar a divulgar o projeto no seu blog!). É super fácil se colocar no mapa, só é preciso ter uma conta no Google. Veja aqui os passos:

- Entre na sua conta no Google,
- Vá ao mapa da Lusosfera
- Faça uma busca no topo pelo seu código postal, endereço, cidade ou país, a depender do quão especifíco você queira ser, :)
- Clique em ‘Save to my maps’ na caixa que vai aparecer, escolha Blogs em Português no menu dessa caixa e clique em ‘Save’.
- Edite essa entrada, colocando seu nome/pseudônimo, e se quiser, país, acrescentando os detalhes que quiser sobre o seu blogue e, claro, o link dele. Por incrível que pareça, tem gente que esquece desse detalhe básico!
-Depois é só clicar em OK de novo.

Para não ficar tão off-topic, aproveite para conhecer o projeto Língua, que traduz o Global Voices Online, e o novo design do Global Voices em Português – cada vez mais vistoso!

Jabberwocky

Sempre recitam para mim, aqui em casa, esse poema de Lewis Carroll. Acho que seja uma maneira sutil de me mostrar que ando trabalhando demais, conectada demais, ocupada demais para as outras coisas da vida. Jabberwocky é um clássico do verso sem sentido (nonsense verse), categoria literária que, penso eu, no fundo no fundo, deve ter tido uma grande participação na construção do senso humor britânico

Jabberwocky

Lewis Carrol

‘Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

“Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!”

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.

And, as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!

One, two! One, two! And through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.

“And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!”
He chortled in his joy.

‘Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

Não se afobe. Para ajudar, a Wikipedia em inglês tem um glossário. Ou se delicie com a incrível tradução de Augusto de Campos (quem mais?):

Jaguardarte

Augusto de Campos

Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

“Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Felfel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassurra!”

Êle arrancou sua espada vorpal
E foi atrás do inimigo do Homundo.
Na árvora Tamtam êle afinal
Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, ôlho de fogo,
Sorrelfiflando através da floresta,
E borbulia um riso louco!

Um, dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para trás, para diante!
Cabeça fere, corta, e, fera morta,
Ei-lo que volta galunfante.

“Pois então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!”
Êle se ria jubileu.

Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

Capitu traiu ou não Bentinho? Será que Machado saberia dizer? E será que isso importa?

Mais interessante do que tentar adivinhar o que se passava na cabeça do autor é estudar como essas duas leituras tão óbvias e tão distintas refletem diferentes momentos da cultura brasileira. O livro continua o mesmo há 108 anos: quem mudou fomos nós. Uma história das leituras de Dom Casmurro é a própria história cultural do Brasil.

Leia o artigo completo de Alex Castro no Liberal Libertário Libertino.

Hope

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente” (Carlos Drummond de Andrade)

“Whoever had the idea of cutting the time in slices, to which was given the name of year, was a brilliant individual. This industrialized hope, making it work within the limits of exhaustion. Twelve months are enough for any human being to get tired and throw in the towel. At this point, comes the miracle of renewal and everything starts again, with another number and another will to believe that from there on it will be different” (em tradução minha)

Outra discussão imperdível e de grande importância no momento gira em torno dos casos de plágio de traduções literárias, que têm sido noticiados em abudância no Brasil, sem que atitudes concretas sejam tomadas para punir os culpados ou evitar novos casos.  Os profissionais se uniram e elaboraram um blogue manifesto e abaixo-assinado, que tem ganhado novas adesões a cada dia.

Mais informações:

Lei dos Direitos Autorais

O whatever de Aquiles

Esse artigo de Simone Campos está gerando um debate interessante entre tradutores de plantão nesse fim de ano. Não deixe de ler a seção de comentários.

Dois livros muito interessantes:

Meu primeiro livro em galego, o dialeto a língua da Galícia, é o segundo livro de poesia de Rosália de Castro, Follas Novas, em rara edição com tradução em casteliano. Rosália, que faleceu em 1885, também era tradutora.

O segundo, Lost in Translation: A Life in a New Language, da escritora polonesa Eva Hoffman, originalmente publicado em 1989, e portanto tendo nada a ver com o mais recente filme homônimo de Scarlett Johansson. Esse já comecei a ler, e na segunda página descubro que a tradução de saudade em polonês parece ser tęsknota, que a autora define como “a word that adds to nostalgia the tonalities of sadness and longing”.

O que confirma minha tese de que essa coisa de não existir tradução para saudade é só uma idéia lusa romântica. O fato de que uma palavra não tenha correspondente direto em inglês não quer dizer que ela seja intraduzível.

Bom, pessoalmente, eu prefiro banzo – acho que é isso que sinto agora.

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Moacyr Scliar II

Uma pequena brecha para a minha vida pessoal: sempre que o Moacyr Scliar anda na área, marido tropeça na pronúncia e nunca consegue acertar o nome que tem quase nada de brasileiro. Eu explico, leia-se: “Moacir is clear”, e só agora que ele acerta o fim do nome é que eu percebo que é a parte moacyr a causa do problema. Any suggestions?

Atualização: domingo, 16 de dezembro.

Funcionou, seguindo a seguinte fórmula: *Me sir is clear* – mas traduzindo o *me* para o francês: Moi sir is clear, :)

Leitura da semana

Atualizando a coluna do lado, estou lendo “The Strange Nation of Rafael Mendes” (Estranha nação de Rafael Mendes), de Moacyr Scliar em tradução de Eloah F. Giacomelli. Da dupla, li também Max and The Cats, nesse ano de 2007.

Moacyr Scliar

Ademir Pascale: Você escreveu mais de 80 obras, algumas foram adaptadas para mais de 20 línguas. Qual destas obras marcou a sua vida e por quê?

Moacyr Scliar: O Centauro no Jardim, uma obra em que uso a metáfora do centauro como símbolo da dupla identidade dos filhos de imigrantes (meu caso) me deu grande prazer e emoção.

Veja a entrevista completa no Cranik.

Li recentemente O Centauro no Jardim em inglês, ou melhor, The Centaur in the Garden, e gostei bastante da tradução de Margaret A. Neves.

“Had Guedali the centaur boy been happy? Happier than the biped Guedali, or less happy? … And what might be the secret of centaurs’ happiness, if indeed they were happy? To make me understand, my father would have to go far back in time. He would have to go back to his roots. He would have to tell of his life in Russia, or the black horses of the Cossacks, of his coming to Brazil, of his first days in the Jewish colony, of the night I was born.”

O que me faz lembrar que preciso atualizar a coluna aí da direita. Li boa parte de If This Be Treason, acho que tudo sobre todos os autores brasileiros. Tales of a Certain Orient acabei há muito tempo, e depois ainda li aquele livro chato citado há alguns posts e outros mais bacanas. Acabado o pesadelo, escolherei a próxima leitura – começando amanhã mesmo – acho que ainda tenho uma tradução do Scliar guardada na manga.

O clássico épico russo acaba de ganhar duas novas traduções em inglês, uma sem setembro, a outra no mês seguinte. Não é interessante? Na verdade, considero que sejam traduções de textos diferentes, de momentos diferentes do Tolstói e do livro, e que deram em perspectivas diferentes de uma obra-prima.

A primeira a chegar às bancas foi a edição da Ecco, lançada em 4 de setembro, com tradução de Andrew Bromfield, e se define (e grita isso bem na capa) como a “edição original”. São 912 páginas para um romance de peso, com tradução baseada em uma das muitas versões que deram origem ao texto final – e tem até final feliz, ao contrário do que Tolstói decidiu no final do livro que publicou. Andrew é também tradutor de Victor Pelevin, Boris Akunin, Mikhail Bulgakov, Vladimir Shinkarev e outros nomes russos.

Sobre essa tradução, dois comentários com opiniões completamente contrárias estão nesse momento em destaque na Amazon:

I bought this book after seeing it at a bookstore, at less than double the price.
It is the best by far edition of “War and Peace:, mostly because of the superior translation. As someone who reads Russian, I had not found anything that comes even close.
Beautifull edition too (Dessislava Boneva)

****

This is one of the worst abominations in the history of publishing. As multiple Tolstoy scholars and translators have already pointed out, this is NOT a translation of a “version” of WAR AND PEACE, let alone the “original” version. It is a translation of a draft and very definitely not anything that was intended as a final draft. Tolstoy definitely never intended it to be published.

The only thing I can figure is that the publisher Ecco is cynically milking a public that suffers from mass attention deficit disorder. This is pandering of the worst possible kind. If they were marketing it as a translation of a draft this would be a different matter, but they are marketing it as the “original” version, which it most assured is not. It is simply an unfinished draft.

An anecdote seems apt here. For many years Henry James sent his older and more talented brother William copies of his novels. Henry suffered from an inferiority complex and was always anxious to hear what William’s reaction would be. When William didn’t respond to one such novel, Henry wrote him asking what he thought. “It’s not WAR AND PEACE,” re replied. Who knew that the same could be said of a “translation” of WAR AND PEACE itself?

My recommendation: read WAR AND PEACE. I read this original in the famous Maude translation and later in the Rosemary Edmonds translation. I plan on reading this again. This time I will turn to the new translation by Richard Pevear and Larissa Volokhonsky. They have produced many great translations of Tolstoy, Gogol, Chekhov, and Dostoevsky. Turn to any of these translations instead. I think this particular edition should be of concern ONLY for those who are interested in the history of the production of the text. And no one else. (por Robert Moore)

Esse último puxa para a segunda nova tradução, lançado pela Knopf em outubro, trabalho de dois tradutores, Richard Pevear e Larissa Volokhonsky, com a curiosidade que essa versão ganha muito mais páginas em relação a traduções mais antigas (são 1.296 no total). Além disso, trechos escritos originalmente em francês , como o da abertura, foram mantidos (com a tradução em nota de rodapé), o que por si só é um bom sinal. Cerca de 2% do romance é falado em francês, e não deve ter sido assim, à toa. Também diz-se que eles se mantiveram fiel ao estilo de Tolstói, ora mantendo suas muitas repetições, ora deixando que algumas estranhezas do russo do autor permanecessem estranhas na versão em inglês. A dupla de tradutores tem feito nome assinando traduções célebres de outros livros de Tolstoy, Gogol, Chekhov e Dostoevsky.

A Amazon tem vinte resenhas sobre essa tradução. O Reading Room do Sunday Book Review também está com um debate interessante.

Eis abaixo dois trechos de cenas de Natasha Rostov, que peguei nesse texto de Bob Blaisdell, que coteja os dois textos de forma brilhante:

“Natasha leapt out of bed in her bare feet, picked up her slippers and ran off into her room, where it was a long time before she could fall asleep, still thinking about the fact that no one could possibly understand everything that she understood and knew inside her.” (Andrew Bromfield)

“Natasha jumped up barefoot and, snatching her slippers, ran to her room. She could not fall asleep for a long time. She kept thinking that no one could understand all that she understood and all that was in her.” (Pevear and Volokhonsky)

Outras traduções do mesmo livro em inglês foram feitas por Anthony Briggs (lançada no ano passado), Constance Garnett (coincidentemente comentada pela Susana Klassen hoje), Rosemary Edmonds, Ann Dunnigan, Clara Bell, N.H. Dole, Leo Wiener e Louise e Aylmer Maude, essa última aprovada pelo próprio Tolstói. Em português, entre o Brasil e Portugal, temos Nina Guerra e Filipe Guerra, Boris Schnaiderman no Brasil, todos traduzindo diretamente do russo, Gustavo Nonnenberg (via versão francesa), Oscar Mendes e João Gaspar Simões (que não sei quais versões usaram). Ficarei feliz em amendar essa post e conhecer outros nomes e versões que me fogem à memória e escapam ao Google.

Se não falas russo, em qual delas acreditar? Prato cheio para quem gosta de comparar traduções. A Amazon está até com uma promoção, compre os dois War and Peace juntos por US$ 45,27.

Andrew BromfieldRichard Pevear & Larissa Volokhonsky

E, de uma forma ou de outra, espero que justiça a Léon Tolstói tenha finalmente sido feita, pelo menos para Война и мир em língua inglesa.

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