Filmes do Chico

Morrer como um Homem
Morrer como um Homem, João Pedro Rodrigues, 2009

O longa de João Pedro Rodrigues poderia facilmente se acomodar ao formato de filme sobre o ocaso de uma estrela. No caso, o ocaso de um travesti-estrela. Ele adota essa fórmula por algum tempo e funciona razoavelmente com ela, mas o roteiro tem uma virada arriscadíssima que assume um tom de artificialidade que entra em conflito com o tom mais realista que vinha sendo apresentado. Essa mudança acontece de forma tão abrupta que nem sempre funciona completamente, mas cria uma cena maravilhosa em vermelho. A artificilidade pode, de certa forma, ser uma alegoria da condição do protagonista, de sua falta de encaixe, de sua natureza nunca regular. Não sei a leitura proposta é essa, mas a questão é que esse filme completamente particular ficou.

Séraphine
Séraphine, Martin Provost, 2008

Os sete Césars que Séraphine ganhou provam como esse prêmio é careta. O filme de Martin Provost é nada mais do que uma cinebiografia clássica, com todos os altos e baixos que o "gênero" provoca, que nunca se arrisca na narrativa ou na plástica. O comodismo garante uma história bem contada, apoiada na produção e na performance de Yolande Moreau, que se não está brilhante, tem uma interpretação sem afetações, bastante equilibrada.

A Fita Branca
Das weiße Band, Michael Haneke, 2009

Eu ainda preciso refletir muito sobre o novo filme de Michael Haneke - e quero revê-lo o mais rapidamente possível, mas A Fita Branca me provocou sentimentos que me levam a acreditar que ele estará na minha lista de melhores filmes do ano. O longa mostra um Haneke num molde mais clássico, mas sem abandonar o universo que lhe é mais caro, o da capacidade do homem de ser cruel. Muitas vezes, suas aventuras por este terreno me pareceram gratuitas, forçadas, pouco naturais, mas neste novo filme os fatos parecem ser extensões do comportamento dos personagens.

Haneke adota um modelo retrô: fez um filme num preto-e-branco belíssimo (o branco é quase glacial) e assume um narrador - num voice over que se justificava como há muito tempo não acontecia num filme. Titubeante, o narrador alerta no começo do filme sobre sua falta de ceretezas sobre o que é ou não verdade no que vai contar para o espectador. A Fita Branca começa assim, duvidando de si mesma. Haneke usa sua habilidade para gerenciar climas e tensões, construindo o filme como um thriller de terror psicológico, que tanto reflete o clima do pré-guerra quanto serve como um olhar sobre o comportamento humano.

O diretor foi felicíssimo na escolha do elenco, sobretudo as crianças, quase todas excelentes. Há uma cena de violência psicológica magistral, quando o pai pastor confronta o filho, os dois soberbos. Mas vamos parando por aqui. Preciso rever este filme logo.

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Outros filmes do festival: 35 Doses de Rum, (500) Dias com Ela, Abraços Partidos, Aconteceu em Woodstock, Amália, O Amor Segundo B. Schianberg, Amreeka, Antes que o Mundo Acabe, The Bad Liutenant: Port of Call, New Orleans, Barba Azul, Uma Barragem contra o Pacífico, Boogie, Brilho de uma Paixão, A Casa Nucingen, Coco Chanel & Igor Stravinsky, Cornucópia, A Criada, O Dia da Transa, Distante Nós Vamos, Distrito 9, Doce Perfume, An Englishman in New York, Erótica Aventura, Eu Matei a Minha Mãe, Eu, Ela e Minha Alma, A Física da Água, Hotel Atlântico, Insolação, Julie & Julia, Lake Tahoe, London River, Luisa, Maradona, Marching Band, Mommo, Mother, Nova York, Eu Te Amo, Pequeno Soldado, Politist, Adjectiv, Porco Cego Quer Voar, As Praias de Agnes, O Rei da Fuga, Ricky, Singularidades de uma Rapariga Loura, Tokyo!, Viagem aos Pirineus, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, Vincere, White Material.