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Archive for 2008/12/07

O concurso “Supergirls” e as portas que abre para a democracia na China


(http://www.smh.com.au)

Na China, apesar de todas as tentativas e da imensa energia e recursos colocados pelo governo do partido comunista chinês, na censura, na repressão e na manutenção da sua forma não-democrática de governação, o impulso para a democracia começa lentamente a permear toda a sociedade, mas especialmente os seus segmentos mais jovens e introduzindo-se pelas formas mais inesperadas e talvez por isso mesmo… as mais eficazes e difíceis de travar pelo regime. O fenómeno é conhecido localmente como o concurso das “Super Girls” da televisão por satélite “Hunan Satellite Television“. O concurso foi emitido entre 2004 e 2006 e portanto, já não está no ar. Tendo sido severamente criticado (naturalmente…) pelo governo como sendo “um veneno para a juventude”. Não propriamente porque era uma peça de telelixo como aqueles que por cá também temos em profusão (e por acaso, também era), mas porque as vencedoras eram selecionadas por votações conduzidas por mensagens SMS. Ora este mecanismo de votação deixou muito cidadão chinês a pensar e… muito governante a fazer contas… Se podemos votar num concurso porque não podemos também escolher os nossos governantes?

Se calhar isso explica as reticências do governo chinês em relação a este concurso, muito mais do que as apregoadas “dúvidas moralistas” alegadas…

O “muro autoritário” chinês começa a mostrar brechas… o arrefecimento da economia mundial e das importações do Ocidente já levou ao fecho de mais de 50 mil fábricas na China, nos últimos meses… Muitos empresários mantêm regimes de trabalho de meia-laboração, outros reduzem nos ordenados dos seus funcionários e pela primeira vez nos últimos vinte anos começa a registar-se um certo refluxo demográfico das cidades do sul para os campos… se a ditadura do PCC se manteve devido ao aumento generalizado do nível de vida das suas populações, agora que este começa a retroceder, que a Internet e se pequenas brechas e “exemplos de democracia” como os Supergirls ameaçam o monolito… será que este vai quebrar? E que será a China “quebrada”, um caos? uma divisão em Estados menores e caóticos ou… um gigante democrático, como a Índia?

Fontes:

As dificuldades do rover marciano europeu ExoMars

(O robot marciano ExoMars in http://www.esa.int)

O rover europeu ExoMars, especialmente concebido para encontrar vida em Marte sofreu um novo atraso. Depois de um anterior que o deslocou de 2011 para 2013,  agora, só deverá ser lançado em 2016… Este novo atraso, encontra no crónico subfinanciamento do projeto as suas motivações. O custo total do projeto é de 1,2 biliões de euros e este patamar – raro na história da exploração espacial europeia – está a causar algumas hesitações nos governos que fazem parte da ESA, especialmente agora quando se confirmam os receios de que em 2009 a maioria dos países desta agência espacial estarão em recessão.

Uma opção de recurso para salvar o ExoMars seria apelar à entrada no programa de russos ou norte-americanos. Só assim, o essencial das suas capacidades seriam preservadas e não sacrificadas para reduzir custos…

Dada a dimensão do robot, o ExoMars terá que ser colocado no Espaço por um lançador pesado, como o Ariane 5 europeu ou o Proton russo. A sua missão primária será a de encontrar sinais de vida em Marte. Como os anteriores rovers norte-americanos, o ExoMars, devido às suas grandes dimensões e peso terá que aterrar em Marte através de sacos insufláveis para amortecer a queda e recorrendo bem menos aos foguetes de aterragem, método que levou ao fiasco do Mars Polar Lander, mas que conseguiu colocar suavemente no pólo norte marciano, a agora defunta Phoenix.

O ExoMars vai transportar o conjunto instrumental “Pasteur”, assim como uma estação geofísica de 30 kg para monitorizar o clima marciano e a ocorrência de abalos sísmicos. O rover foi aprovado pelos ministros da tecnologia dos países que formam a agência espacial europeia, ESA, em 2005. Na época o âmbito do projeto era o de produzir um rover bem menos sofisticado, mas gradualmente o projeto foi ganhando em ambição e dimensões, tornando-o efetivamente superior aos dois rovers que a NASA continua a operar com tanto sucesso no Planeta Vermelho. Infelizmente, a este aumento de ambição, correspondeu também um aumento de custos o que levou à estimativa que o principal participante no projeto, a Thales Alenia Space, faz do ExoMars: os 1,2 biliões de euros que mencionámos mais acima… Daí as dificuldades presentes deste projeto. A Itália – a maior participante – já deixou claro que iria injetar mais recursos na missão, e mais ninguém se fez avançar disposto a compensar este aumento de custos. Enquanto este dinheiro não aparece, o prazo inicial de Novembro de 2013 torna-se irrealizável, já que os lançamentos para Marte ocorrem sempre nos momentos em que Terra e Marte se encontram em órbitas mais próximas e a seguir a Novembro de 2013, temos apenas a data de Janeiro/Fevereiro de 2016. Razão pela qual se fala agora de 2016… Não porque esteja assegurado o financiamento para esta data de lançamento, apenas porque se sabe já que não haverá dinheiro para um lançamento em 2013.

Esta não será a primeira vez que os europeus tentam colocar uma missão no solo marciano… Em 2003, a muito bem sucedida sonda orbital “Mars Express” largou a sonda britânica “Beagle 2″, sem sucesso, já que este deixou de comunicar com a nave-mãe ainda durante a descida. Na época, culpou-se do falhanço uma série de cortes orçamentais, falta de testes e de sistemas redundantes. A falta de ambição seria assim exposta como a principal causadora do falhanço do “Beagle 2″. Agora, o ExoMars, o ponto principal do programa europeu “Aurora” de exploração do Sistema Solar está também ameaçado e provavelmente será alvo de violentos cortes orçamentais, já que nesta conjuntura não é provável que os EUA, a Rússia ou outros potenciais parceiros (como a Índia e o Brasil) queira colaborar num projeto onde não estiveram desde o início (os EUA já têm dois instrumentos no ExoMars) e onde retirariam escassos benefícios mediáticos… Mas enfim, será melhor termos um mini-ExoMars, do que nenhum ExoMars, presumo…

Fonte:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/7677349.stm
http://www.esa.int/esaMI/Aurora/SEM1NVZKQAD_0.html