31/12/2006

2006: um ano histórico para os quadrinhos no Brasil

Uma frase me marcou neste ano. "Estou sentindo que as coisas estão mudando". Ouvi de uma pessoa ligada à área de quadrinhos durante uma entrevista que fiz em setembro. Fiquei com a idéia martelando na cabeça. (Re)vendo o ano em perspectiva, parece mesmo que 2006 teve um papel de divisor de águas no tocante às histórias em quadrinhos. Há várias informações (que tivemos a oportunidade de noticiar neste blog ao longo do ano) que, reunidas, mostram avanços quanto à aceitação e difusão da linguagem em vários setores. Aos fatos:

  • Houve uma consolidação nas grandes livrarias (que pautam as vendas das menores) de um espaço exclusivo para a venda de histórias em quadrinhos. Algumas promoveram curso para os vendedores entenderem melhor esse tipo de obra, de modo a facilitar o serviço aos clientes.
  • As vendas nas livrarias exerceram um duplo comportamento nas editoras: algumas se pautam prioritariamente nesse tipo de loja; outras começaram um movimento para mesclar os lançamentos em bancas com os de livrarias (caso da Panini, que deve ampliar esse filão em 2007).
  • O filão das livrarias (que não exclui as lojas especializadas em quadrinhos) é disputado também pelas novas editoras de quadrinhos que surgiram em 2006, entre elas a Pixel (que quase ficou com a DC neste ano), a HQM (que trouxe de volta "Estranhos no Paraíso") e a Zarabatana.
  • Há quem diga –e tendo a concordar, apesar de não existir ainda uma estatística sobre o assunto- que nunca se publicou tanta história em quadrinhos no país. E de tudo um pouco.
  • O circuito independente também foi bem (há espaço para mais produções). E apostou num outro tipo de venda, a feita pela internet. Tivemos vários exemplos, desde as boas revistas independentes "Garagem Hermética" e "Quadrinhópole" até produções autorais, como "Mulheres Finas", de Orlando, e "Onde foi que eu errei?", de Rico. O autor paga a edição e faz a venda pela internet. É um recurso que pode ser mais explorado por outros autores.
  • A internet consolidou seu papel de difusão de histórias em quadrinhos, como notícia, como assunto de fóruns de discussão ou como espaço para hospedar trabalhos de desenhistas. Aumentaram os blogs e fotoblogs dedicados ao tema. Difundem o trabalho à margem das editoras.
  • De olho no exterior, tiristas nacionais (Orlandeli, Ruy Jobim, Mauricio de Sousa) colocaram seus personagens em syndicates, empresas que distribuem as histórias para jornais do mundo todo.
  • No ensino, nunca foi tão alto o número de produções científicas sobre quadrinhos nos cursos de pós-graduação brasileiros. A USP (Universidade de São Paulo) bateu recorde neste ano, sete ao todo.
  • A produção científica estimulou a formação do 1º Seminário de Pesquisa em Histórias em Quadrinhos, realizado em São Caetano do Sul. É um marco no tema.
  • No sul, houve um curso de especialização na PUC. No Rio, foi criada a primeira graduação em quadrinhos, que deve ter a turma inicial em 2007.
  • Ainda na educação, o governo federal assumiu a política de colocar quadrinhos na sala de aula. O Programa Biblioteca na Escola vai distribuir 7,5 milhões de exemplares em escolas públicas do ensino fundamental.
  • A compra de quadrinhos pelo governo já estimula as editoras a lançarem títulos com cunho educacional. São basicamente biografias, obras históricas e adaptações literárias (o que mais teve em 2006). Inserir uma delas no programa federal significa altas vendas, dificilmente atingidas apenas com livrarias e bancas.
  • A mídia em geral (jornais, revistas e TV) dedicou mais espaço aos quadrinhos em 2006. Isso vale também para o UOL, que hospeda este blog e que o incluiu na prestigiada área dos blogs oficiais da redação. Caso semelhante ocorre com o Gibizada, do colega Telio Navega, no site do "Globo". Quadrinhos estão incluídos oficialmente entre as notícias de dois megaportais de informação, algo que não vinha ocorrendo até então e que dá uma automática projeção ao tema.

Uma análise mais segura de qualquer fato exige um necessário distanciamento histórico. Mas as impressões que ficam neste último dia de 2006 sugerem, sim, que o ano tem um papel histórico na área de quadrinhos. Houve crescimento de espaços na mídia, na internet, no mercado editorial, nas universidades e no governo (que influencia todos os demais). Os sinais que 2007 emite indicam uma tendência de consolidação e aprofundamento desse processo. Também tenho a impressão de que as coisas estão mudando.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h32
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30/12/2006

Obras da literatura estrangeira ganham versão em quadrinhos

Há um movimento editorial de adaptar em quadrinhos contos e romances literários. É algo que sempre existiu no Brasil, desde os tempos da extinta Editora Brasil-América. A novidade é que a tendência parece ganhar corpo. E não apenas com obras nacionais. Nestes meses finais do ano, o flerte é com a literatura estrangeira. Três obras já estão à venda. Pelo menos mais uma está prevista para 2007.

"Domínio Público - Literatura em Quadrinhos" (Ragú Livro, R$ 10) adapta pequenos contos de autores estrangeiros. Nesta edição, que começou a ser vendida no começo de dezembro, há trabalhos de Bram Stocker (que não tem só Drácula no currículo), Richard Middleton, Isaac Babel, Guy de Maupassant, Heirich von Kleist e Esopo.

As adaptações ficaram a cargo dos brasileiros Gabriel Góes, Samuel Casal, Fernando Lopes, Eloar Guazzelli, João Lin e Christiano Mascaro. Os dois últimos organizaram a obra ao lado de Mário Hélio. É a segunda edição de "Domínio Público". A primeira, também deste ano, mostrava apenas autores brasileiros.

"Os Lusíadas em Quadrinhos" (Peirópolis, R$ 33) é o segundo título da série "Clássicos em HQ". O primeiro foi "Dom Quixote". Trata-se de uma adaptação da obra de Camões, feita por Fido Nesti. O interesse parece ser atingir um público mais jovem, que vê nas imagens um atrativo a mais para entrar em contato com a saga do povo português.

É a segunda adaptação do clássico camoniano realizada em 2006. A outra foi "Lusíadas 2500", de Laílson de Holanda Cavalcanti. Lançada em maio, a obra levou a obra muito adiante do além-mar. Colocou a idéia da navegação do povo português quinhentos anos no futuro. Segundo o autor, o deslocamento temporal é para dar destaque à tecnologia envolvida nas navegações, algo que fica diluído em meio aos poemas.

"Kafka de Crumb" (Relume Dumará, R$ 34,90) não é uma adaptação literária. É a biografia de um literato. Conta a trajetória de Franz Kafka (1883-1924), autor de clássicos como "O Processo" e "A Metamorfose". A curiosidade são os desenhos de Robert Crumb, autor norte-americano avesso aos Estados Unidos e tido como o pai do quadrinhos underground (é dele "Fritz, The Cat", entre outros, que vêm sendo publicados no Brasil pela Conrad).

A editora Relume Dumará soube explorar a presença de Crumb e o estampou em letras generosas no título, lançado neste mês. É, na verdade, uma meia verdade. A obra tem apenas os desenhos dele. É escrita por David Zane Mairowitz, nome que aparece quase escondido no canto inferior da capa.

Para 2007, já há uma adaptação programada: "A Relíquia", de Eça de Queirós, feita por Marcatti. Deve sair no primeiro semestre de 2007. Há uma prévia na postagem de 25 de outubro.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 10h37
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29/12/2006

Lançado último número de Incal

Incal é um clássico do quadrinho moderno. A ficção científica de Alexandro Jodorowsky e Moebius se tornou um marco, influenciando a estética de outras produções em quadrinhos e cinematográficas. Mesmo assim, custou a ganhar uma edição nacional. Os brasileiros só tiveram acesso à série neste ano. E, agora, finalmente podem ler o desfecho da saga, lançado nesta semana ("Incal - Volume Três", Devir, R$ 42).
 
A ficção científica é difícil de ser lida, até mesmo para quem acompanhou os dois volumes anteriores. Há muitos detalhes, informações, filosofia, termos intencionalmente futuristas. Em linhas bem gerais, mostra a luta de um grupo de rebeldes contra um império das sombras, que pode destruir o universo. O grande aliado dos rebeldes é um artefato superpoderoso chamado Incal.
 
A importância e a qualidade da obra francesa são inegáveis. Na pior das hipóteses, é um dos melhores desenhos de Moebius (detalhista e figurinista nato). Mas, após a leitura dos três volumes, fica a impressão de que o ar inovador talvez não seja tão inovador assim. A série influenciou muitas outros trabalhos, mas também foi influenciada.
 
É possível perceber alguns toques do filme "Guerra nas Estrelas", de George Lucas, lançado no fim dos anos 70 ("Incal" estreou no número 58 da revista "Metal Hurlant", em 1980). Vejamos. Na série francesa, o bem é representado pela luz; o mal, pela escuridão (assim como o lado negro da força, imaginado por Lucas). Em ambas as séries, há um grupo de rebeldes que luta contra um Império galáctico do mal. Há uma "estrela bélica", espécie de meganave, a exemplo da "Estrela da Morte" de Star Wars, que deve ser destruída.
 
Pode-se fazer mais analogias, até com outras obras de ficção científica. Rende até um promissor estudo de intertextualidade. Mas nada disso desmerece a obra, é bom que fique claro. Nem os autores. O diretor de cinema Jodorowsky teve publicada no Brasil entre o fim de 2005 e o começo deste ano a série "Bórgia", feita em parceria com Milo Manara.
 
Moebius também continua na ativa. Por mais que o autor admita na introdução de Incal que teve influência do desenho norte-americano neste capítulo final, foi ele que teve um papel um importante no quadrinho dos Estados Unidos. Ele era o ilustrador de maior destaque da "Metal Hurlant", que foi a base da versão americana da revista, a "Heavy Metal".
 
"Incal" merece leitura, nem que seja para ter contato com um dos clássicos dos quadrinhos. Mas fica a dica: leia antes os dois primeiros números, lançados pela Devir neste ano. Do contrário, você dificilmente vai entender esta terceira edição, principalmente a referência da página final.

Categoria: RESENHAS

Escrito por PAULO RAMOS às 13h51
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28/12/2006

DC no Brasil: o que está certo e o que falta definir

A renovação do contrato da DC Comics com a Panini trouxe uma série de dúvidas. A pouquíssimos dias de 2007, o destino de alguns títulos da DC publicados por outras editoras ainda é incerto.
 
O Blog dos Quadrinhos atualizou o que já foi definido e o que ainda falta ser acertado sobre o assunto.
 
A situação até este momento é:
 
 
- Os super-heróis da DC serão publicados pela Panini em 2007. O contrato foi renovado neste mês (leia mais aqui). Segundo o presidente da editora, José Eduardo Severo Martins, a Panini pretende aumentar o número de títulos, tanto especiais como mensais.
 
- "Crise Infinita", principal publicação do ano da DC, vai sair numa minissérie em sete edições, do mesmo jeito como foi lançada nos Estados Unidos. Mas só deve sair em janeiro. A informação foi veiculada no site Herói. Se a DC não continuasse na Panini, a série seria lançada num volume único.
 
- Sandman continua na Conrad. A editora confirmou que o contrato firmado com a DC prevê a publicação de toda a série, num total de dez volumes. O próximo, "Vidas Breves", está programado para março.
 
- A Opera Graphica informou em nota divulgada à imprensa que encerrou a parceria com a DC. Com isso, deixa de editar especiais (como "Jonah Hex" e "Sargento Rock") e títulos da linha Vertigo (selo adulto da DC). A editora anunciou as quatro últimas publicações para este fim de ano. Duas delas começaram a ser vendidas nesta quarta-feira: "Y - O Último Homem: Ciclos (R$ 69) e "Mundo Bizarro" (R$ 79).
 
- A editora Devir não sabe dizer se continua com títulos como "Preacher", "Fábulas" (ambos da Vertigo), "Astro City", "Tom Strong" (do selo ABC, ligado a Alan Moore) e outros. O último lançamento, o terceiro encadernado de Preacher, começou a ser vendido na virada da semana (leia aqui).
 
- A Mythos anunciou a publicação de "Superman: O Homem de Aço", de John Byrne, material de 1986. A história reformulava o personagem. Segundo o site da editora, o álbum sai ainda neste mês. Não há informação sobre outros títulos da DC.
 
- A Pixel informou que mantém conversas com a DC Comics. A editora negociou neste semestre os direitos de publicação de todos os títulos da DC, transação que não se concretizou. "A Pixel tem interesse, mas não há nada certo", diz o editor-chefe Odair Braz Junior.
 
A frase de Braz Junior define bem a situação. Não há nada certo. Nem se sabe se a DC vai negociar um pacote de títulos ou contratos individuais, como faz hoje. Um cenário mais confiável só deve ser definido mesmo no ano que vem.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 14h12
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27/12/2006

Exposição comemora centenário do criador de Tintim

Uma exposição em Paris, na França, marca os cem anos de nascimento de Georges Rémi (1907-1983), o criador de Tintim. A mostra reúne cerca de 300 documentos ligados ao personagem, criado em 10 de janeiro de 1929 para o suplemento infantil do jornal "Le Petit Vingtième Siècle". Entre as raridades, há pranchas originais feitas pelo desenhista.
 
O jornal "Folha de S.Paulo" publicou nesta quarta-feira uma boa reportagem sobre a mostra. Assinada por Ana Davi, traz curiosidades como um encontro de Rémi com um estudante chinês de belas artes, que o estimulou a não representar de maneira estereotipada os países visitados pelo jovem repórter. Isso teria mudado a forma como as histórias de Tintim eram produzidas, dando a elas maior pesquisa e detalhes. 
 
Também conhecido como Hergé (uma inversão das primeiras sílabas de seu nome), o trabalho do desenhista belga influenciou gerações e gerações de ilustradores europeus. O personagem se tornou uma espécie de referência, o que justifica a mostra, que deve ir para outros países europeus.
 
No Brasil, os álbuns de Tintim são reeditados pela Companhia das Letras. Os últimos saíram em novembro. A editora pretende relançar todas as histórias.
 
Para ler a reportagem, clique aqui.

Categoria: NA MÍDIA

Escrito por PAULO RAMOS às 20h01
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E o humor carioca, como vai?

O surgimento do humor gráfico nacional coincide com a história do Rio de Janeiro. Foi nos jornais de lá que as primeiras charges começaram a ser feitas no país, muitas por desenhistas vindos da Europa.
 
De lá pra cá, a quantas anda o humor carioca? Na opinião do cartunista Léo Valença, tem muito a melhorar. Por isso, criou um blog para divulgar os trabalhos e eventos feitos no estado.
 
"A função do blog é se constituir num espaço para divulgação exclusiva dos trabalhos dos artistas cariocas do humor gráfico, promovendo principalmente os novos talentos daqui que carecem de divulgação", diz Valença, que é o autor da charge ao lado.
 
O blog, chamado "Humor Carioca", seria um primeiro passo para articular os autores do Rio. O passo seguinte seria a criação de uma associação própria. Seria o que Valença chama de "grande projeto de revitalização". "O Rio, em relaçao aos outros estados, considero pouco ativo em termos de grandes festivais e eventos de cartum. É preciso mudar isso e troná-lo a capital do humor do país".
 
O Rio de Janeiro realmente não possui muitos eventos de humor. O principal é o Salão Carioca de Humor, que faz a décima oitava edição no ano que vem. O lançamento foi no dia 11 deste mês.
 
Para conhecer o blog Humor Carioca, clique aqui.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 12h03
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26/12/2006

Preacher antecede discussão de Código da Vinci

O livro "Código Da Vinci" causou polêmica ao discutir uma ficcional linhagem hereditária de Cristo. Vendeu milhões, virou best-seller. Antes de Dan Brown lançar o livro, o assunto era abordado nos quadrinhos por outro escritor, Garth Ennis. Mas com uma diferença: é intencionalmente profano. Essas histórias são relançadas no Brasil no encadernado "Preacher: Orgulho Americano" (Devir, R$ 46).
 
A saga foi publicada nos Estados Unidos entre novembro de 1996 e abril de 1997 na revista Preacher (a edição nacional reproduz a versão encadernada, de 1997). Ennis procurou impor um tom provocativo, declaradamente anticristão. Nada escapa. Desde a forma como os personagens se referem às figuras sacras (com palavrões e provocações verbais) até a caracterização dos integrantes do Graal, entidade secular que mantém a linhagem de Cristo.
 
O Graal é o alvo do pastor renegado Jesse Custer (o protagonista da série) neste terceiro volume da série. A organização seqüestrou e mantém sob tortura (quem ler a história vai entender que "tortura", na verdade é um grande eufemismo) um amigo dele, o vampiro Cassidy. Custer, sozinho encara a entidade para libertar o companheiro.
 
Claro que, no percurso, os personagens secundários roubam a cena, uma característica da série. Estão lá figuras conhecidas, como Herr Starr (hilário ao  descobrir outras preferências sexuais) e os próprios integrantes do Graal.
 
Se superada a afronta ao cristianismo, um tema comum a outras obras de Ennis, a história se revela um dos melhores arcos de Preacher. Parece que o escritor imaginou as primeiras histórias apenas para chegar a esse arco da série.
 
O encadernado traz ainda outras histórias soltas, que antecedem e sucedem o arco principal. No Brasil, essas aventuras já tinham sido publicadas na revista "Preacher" entre os números 14 (maio de 1999) e 18 (outubro de 1999). 

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 12h20
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25/12/2006

Um cartum de Natal

Um feliz e santo Natal.

A cortesia do cartum é de Daniel Ponciano.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h53
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24/12/2006

Conrad vai editar dois livros de Calvin por ano

A editora Conrad deu mais detalhes sobre o primeiro álbum de Calvin e Haroldo, que vai ser lançado no começo de 2007. Vai se chamar "O Mundo é Mágico – As Aventuras de Calvin & Haroldo" (capa ao lado) e começa com a primeira tira, feita por Bill Waterson em 18 de novembro de 1985 (ver correção abaixo). A edição terá 168 páginas e vai custar R$ 44,90. A editora vai reeditar todas as tiras da dupla, que deixaram de ser publicadas no fim de 1995. A Conrad programou dois livros por ano.

Post postagem: a Conrad corrige uma informação. O novo álbum trará tiras inéditas de Calvin e Haroldo, e não as primeiras histórias, publicadas em 1985. Vale esta informação, e não a escrita no texto acima.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 13h45
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23/12/2006

Recruta Zero e Hagar voltam às bancas. Fantasma é o próximo

De quando em quando, os personagens clássicos da empresa King Features Syndicate ganham uma nova chance no Brasil. Neste fim de ano, a cena se repete. Chegaram às bancas nesta semana as revistas de "Recruta Zero" e "Hagar o Horrível" (Mythos Editora, R$ 2,99 cada uma).

São revistas pequenas, tanto no formato como no número de páginas, 36 ao todo. Isso indica que os títulos buscam não apenas o leitor adulto, que cresceu lendo essas histórias. Há um olhar no público mais jovem também.

A estratégia editorial assume um risco: é difícil agradar aos dois públicos. O leitor de primeira viagem vai achar interessante a mescla de histórias com tiras cômicas, que ainda hoje são publicadas nos jornais brasileiros (Hagar na "Folha de S.Paulo, Recruta Zero no "Estado de S. Paulo").

O leitor da antiga, em tese mais exigente, vai questionar a impressão, um pouco borrada em algumas páginas, e a falta de informação sobre o material que lê. Em que ano foram produzidas as histórias? Não consta nada nas revistas.

Pelo traço, as histórias de Hagar são de Dik Browne, que criou o viking em 1973. Morto em 1989, foi substituído pelo filho, Chris Browne, que produz a tira até hoje.

A última publicação dos dois personagens no Brasil foi pela Opera Graphica. No caso de Recruta Zero, a editora lançou a melhor edição dele no país. Um álbum de luxo, em capa dura e tamanho gigante. Reunia as primeiras tiras criadas por Mort Walker, entre 1950 e 1951. A obra começou a ser vendida no começo de outubro deste ano e ainda pode ser encontrada nas lojas especializadas em quadrinhos.

Hagar está longe das bancas há mais tempo. Houve diversas iniciativas de publicá-lo. Nenhuma teve sobrevida. Ao contrário de Recruta Zero, publicado por décadas pela extinta Rio Gráfica Editora.

A Mythos anunciou também a volta do Fantasma em duas revistas com histórias inéditas: "O Fantasma" e "O Fantasma Especial". Os dois títulos ainda não foram lançados.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h42
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22/12/2006

Gil fica no Ministério da Cultura. Isso é bom para os quadrinhos?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que Gilberto Gil permanece como Ministro da Cultura em 2007. O cantor-ministro tinha intenção de sair. Aceitou ficar no segundo mandato após reunião com Lula nesta quinta-feira.

A permanência de Gil é boa para a área de quadrinhos? Foi essa a pergunta que o Blog dos Quadrinhos fez para duas pessoas ligadas a entidades que representam as artes gráficas. Leia as respostas:

Orlando Pedroso, integrante da Sociedade dos Ilustradores do Brasil - Se continuar como está, não faz diferença. As artes gráficas, em geral, nunca tiveram apoio algum seja lá qual fosse o governo ou seu ministro. No caso do Gil, filho declarado da cultura dos quadrinhos, a coisa piora um pouco haja vista a dificuldade de se autorizar a criação de uma câmara setorial de artes em comunicação separada da de artes plásticas. É evidente que a origem e o fim de cada um desses setores é completamente distinta, mas, mesmo assim, a resistência é grande. A permanência do Gil é boa mesmo para o cirque di soleil e seus ingressos absurdos para um espetáculo subsidiado.

José Alberto Lovetro (ou JAL), presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil – Eu não sei ainda se é bom ou ruim porque o Gil ainda não respondeu a carta enviada a ele pelas entidades ligadas a quadrinhos. Quando ele responder, vamos saber se é bom ou não. (A carta a que ele se refere foi entregue no mês passado e questionava o porquê do adiamento do seminário que criaria uma câmara setorial para as artes gráficas, órgão que teria autonomia na discussão e implementação de políticas ligadas ao setor).

Crédito: a caricatura acima é de autoria de Baptistão e consta no blog dele (clique aqui).

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 15h30
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Mesa para Dois e charge interativa no Metrópolis

O programa Metrópolis, da TV Cultura, exibiu nesta semana mais duas reportagens sobre quadrinhos. A primeira é sobre as charges interativas criadas pelo cartunista JAL. É como mostra o desenho ao lado. Ele deixa o internauta definir o desfecho da história. A melhor idéia vai ao ar no dia seguinte (o resultado dessa charge já está no ar no fotoblog dele).

A outra matéria mostra como foi o lançamento de "10 Pãezinhos – Mesa para Dois", de Gabriel Bá e Fábio Moon. Eles comentam os bastidores da obra e como enxergam o mercado atual de quadrinhos.

Para ver as reportagens com JAL e com Bá e Moon, clique aqui e aqui (assinante UOL).

Categoria: NA MÍDIA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h28
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21/12/2006

Definidos os premiados do Festival de Humor de Iguaçu

Os jurados do 4º Festival Internacional do Humor das Cataratas do Iguaçu definiram no começo da madrugada desta quinta-feira os vencedores deste ano do salão. O primeiro lugar foi para Ioan Szilveszter, da Romênia. Ele vai levar um prêmio de 10 mil dólares. Do segundo ao quarto lugares, são 5 mil, 3 mil, 1,5 mil e 500 dólares, respectivamente.

Havia apenas uma categoria, cartum. O tema era avião. Foram mais de 5400 trabalhos inscritos, vindos de 96 países. 300 foram selecionados (podem ser vistos no site do salão). O festival, que tem um dos maiores prêmios já pagos a cartunistas, foi criado para ajudar na divulgação internacional da cidade de Foz do Iguaçu.

Confira os primeiros colocados (a última imagem tomo emprestada do site Universo HQ).

 

 

1º lugar

Ioan Szilveszter

Romênia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2º lugar

Cau Gomez

Brasil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3º lugar

Dálcio Machado

Brasil

 

 

 

 

4º lugar

Vladimir Stankovski

Sérvia

 

 

 

 

5º lugar

Santiago

Brasil

 

 

 

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 08h27
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20/12/2006

Overdose de títulos da DC até o fim do ano

Começou a ser vendido no último fim de semana "Sargento Rock - Primeiras Histórias" (capa ao lado). As 19 aventuras do título, em formato de luxo, mostram a estréia do personagem, em histórias desenhadas por Joe Kubert. O lançamento é o início de uma maratona de especiais da DC Comics. Até o fim do ano, três editoras lançam outros nove encadernados da empresa norte-americana.

Não é a época de fim de ano que motivou tantas obras especiais de uma só vez. O motivo está relacionado ao fim dos contratos que a DC mantinha com diferentes editoras nacionais. A Opera Graphica, que lançou "Sargento Rock", confirmou na sexta-feira o fim da parceria, iniciada há seis anos. A editora divulgou o lançamento de mais quatro títulos até o fim deste mês: o segundo volume de "Y - O Último Homem", mais um arco de "100 Balas", "Os Perdedores" e "Mundo Bizarro".

A Devir, outra editora que publica material da DC, faz um contrato para cada obra. O último acordo prevê a edição do terceiro encadernado com as aventuras de Preacher, do polêmico escritor Garth Ennis (a causa do personagem é perseguir Deus). A previsão é que saia nos próximos dias (o título é "Preacher - Orgulho Americano"). Esse material já havia sido publicado no Brasil por outras editoras.

A multinacional Panini, que edita a maior parte dos títulos da DC no Brasil, mescla material inédito com relançamentos em formato de luxo. "Superman/Batman - Inimigos Públicos" e "Batman: O Cavaleiro das Trevas - Edição Definitiva" (de Frank Miller) já tiveram versões nacionais. Entre os inéditos, estão "Batman - Ano Cem" e "Crise Infinita", principal obra de super-heróis da DC publicada no ano passado nos Estados Unidos.

O formato de publicação de "Crise Infinita" ainda é um mistério. A princípio, a obra sairia num volume só. Como a Panini renovou o contrato com a DC (leia aqui), a decisão pode ser revista. Nos Estados Unidos, a minissérie saiu em sete edições e se interligava com as demais revistas da editora. 

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 13h54
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Revista é distribuída de graça em bares de SP

A terceira edição de "Tulípio" começa a ser distribuída hoje à noite em bares paulistanos. Distribuída? É. A revista é de graça. A iniciativa é dos autores Eduardo Rodrigues e Paulo Stocker, que firmaram uma parceria com o dono de uma rede de bares de São Paulo.

A "revista de boteco", como os autores gostam de chamar, mostra cartuns de Tulípio, um boêmio que gosta de filosofar nos bares da cidade. A idéia do personagem partiu de Rodrigues, também adepto dessa filosofia. Começou a imaginar algumas possíveis histórias nos próprios botecos. Escrevia num guardanapo e guardava. Tem mais de 800.

Coube ao cartunista Paulo Stocker, outro adepto da filosofia, a criação do traço de Tulípio, que já teve os dois primeiros números noticiados neste blog. As edições anteriores esgotaram. Os autores acreditam que o mesmo deva se repetir com esta nova edição. O projeto dos dois -ou dos três, já que incluem Tulípio no grupo- é aumentar gradativamente o número de exemplares e de pontos de distribuição. Querem chegar, futuramente, a 30 bares e cem mil revistas.

Rodrigues e Stocker mantêm um site com histórias e curiosidades de Tulípio. Lá, também há a lista de bares que distribuem a revista, que conta com as participações dos desenhistas Gepp e Maia e do escritor Mário Prata (cada edição tem um convidado especial). Para acessar, clique aqui.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 06h13
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19/12/2006

Morre Conceição Cahú

Não foi só Joseph Barbera, o criador dos Flintstones e de tantos outros personagens, que morreu ontem. A segunda-feira marcou também a passagem de Conceição Cahú, vítima de câncer. Ela foi enterrada nesta terça-feira em Recife, Pernambuco.

Conceição Cahú atuou por 45 anos na imprensa, numa área profissional dominada por homens. Fez charges e cartuns para as revistas "Placar", "Claudia", "Visão" e para jornais como "Folha de S.Paulo" e "Gazeta Mercantil", onde atuou por mais de 20 anos. Em 1992, venceu o Salão de Humor de Piracicaba na categoria quadrinhos.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 21h52
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Panini renova com DC, diz presidente da editora

A editora Panini renovou contrato com a DC Comics. A informação é do diretor-presidente da Panini, José Eduardo Severo Martins, e é noticiada com exclusividade pelo Blog dos Quadrinhos. O acordo foi firmado na semana passada.

O contrato é parecido com o atual. Prevê a publicação dos super-heróis da DC. Materiais da Wildstorm e Vertigo (linha adulta da DC, que era publicada por outras editoras no Brasil) ficaram de fora da transação.

Martins diz que o novo contrato é longo, mas não revelou até quando vai vigorar.

Segundo ele, o objetivo da Panini é ampliar o volume de publicações. "Nós vamos aumentar o número de títulos mensais e também de publicações de luxo, voltadas para as livrarias", diz. Neste mês, a editora publica seis revistas mensais, quatro especiais (um deles de luxo, "Batman: O Cavaleiro das Trevas – Edição Definitiva") e duas minisséries.

Martins diz que ainda não foi definido o formato de publicação de "Crise Infinita", principal publicação da DC em 2006 e anunciada este mês. Inicialmente, estava prevista para sair num volume só. Nos Estados Unidos, foi publicada numa minissérie em sete edições.

A definição da nova casa da DC foi tumultuada. A editora Pixel chegou a negociar neste semestre a publicação de todos os títulos da editora norte-americana. A transação durou semanas, mas o acordo não foi efetivado (leia aqui).

Nas revistas mensais, a Panini já faz chamadas para as edições de janeiro. Isso pode ser visto em "Superman", "Novos Titãs" e " Liga da Justiça", todas deste mês.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h17
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18/12/2006

Livro conta o surgimento das revistas em quadrinhos

Para contar a história dos quadrinhos sem repetir a fórmula de outras obras, há a necessidade de encontrar um novo foco para ligar um acontecimento a outro. O jornalista Gonçalo Junior, em "Guerra dos Gibis", optou pela briga editorial entre Adolfo Aizen e Roberto Marinho. A novidade de "Almanaque dos Quadrinhos - 100 anos de uma mídia popular" (Ediouro, preço sugerido de R$ 31) é mostrar como as HQs saíram do limite físico imposto pelos jornais e migraram para o formato das revistas.
 
O marco da transição, segundo a obra, foi a revista norte-americana "Famous Funnies", a primeira a reutilizar material publicado em jornais. O formato agradou e passou a ser usado desde então. É o modelo que predomina hoje no mercado e que é usado na maior parte dos títulos à venda nas bancas e livrarias.
 
A diversidade de revistas publicadas hoje no Brasil -chamadas de "almanaques" na obra- foi um dos motivos que levaram Carlos Patati a escrever o livro, que tem lançamento nesta segunda-feira no Rio de Janeiro. "Tem muita gente fazendo quadrinhos hoje sem saber de onde surgiram", diz ele, que assina o texto com Flávio Braga.
 
"[O livro] Começa com o início dos quadrinhos nos anos 10, na imprensa diária, e vai até o ´vazamento´ para outros países", diz. O passeio histórico fala das produções norte-americanas, italianas, francesas e brasileiras. O fim da trajetória é nas produções atuais.
 
Um dos diferenciais do livro, segundo ele, é ter incluído artistas brasileiros contemporâneos, nomes que ainda não foram registrados em outros títulos históricos. "Autores como Adão Iturrusgarai e Alan Sieber aparecem [na obra], e não em outros livros".
  
Patati assume nos dez capítulos do livro um ponto de vista não oriental na trajetória dos quadrinhos. "Embora eu fale de mangá, o foco é assumidamente ocidental". Ele indica um bom motivo para essa opção. Foi a produção feita na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos, que influenciou gerações e gerações de brasileiros, entre os quais ele se inclui.
 
Hoje com 46 anos, aposentado por causa de uma pancreatite contraída em 2001, ele ainda se lembra dos primeiros quadrinhos que leu. O ex-professor da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, conta que viu surgirem os heróis Marvel no Brasil, publicados em revistas dadas nos postos de gasolina da rede Shell. Ganhou dois títulos, "Capitão América e Homem de Ferro" e "Namor e Hulk".
 
As memórias ajudaram, e muito, no trabalho de pesquisa das 224 páginas do "Almanaque dos Quadrinhos". O acervo dele "enche uma parede de fora a fora", como diz. Mesmo assim, não foi suficiente. Precisou consultar outras coleções, mantidas por colegas. O processo de escrita levou um ano e meio.
 
Carlos Patati conta que a experiência como roteirista também ajudou a compor o livro, que teve um visível cuidado no acabamento e na parte gráfica. O primeiro trabalho é de 1978, feito para a revista "Pesadelo", da editora Vecchi. "Os desenhos foram do Julio Shimamoto", diz entusiasmado. Teve outros trabalhos, aqui e no exterior. No Brasil, publicou nas revistas "Porrada", "Mil Perigos" e "Heavy Metal Brasil".
 
"Almanaque dos Quadrinhos - 100 anos de uma mídia popular" vai ser lançado hoje à noite no Rio. Será na livraria Arteplex Botafogo, na praia do Botafogo, 316. Começa às 19h.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h07
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17/12/2006

Joacy Jamys: a luta chega ao fim

Joacy Jamys morreu neste sábado. O cartunista teve uma parada cárdio-respitatória por volta do meio-dia. O óbito foi registrado à uma da tarde (horário divulgado pelo hospital onde ele estava internado). Segundo a esposa, Audilene Costa Penha, o enterro foi na manhã deste domingo no cemitério Parque da Saudade, em São Luís do Maranhão.

O desenhista de 35 anos teve um AVC (acidente vascular cerebral) há 15 dias. Estava internado desde então, em coma, na UTI do hospital Prodarcio, em São Luís. Respirava com a ajuda de aparelhos.

Na última sexta-feira, os médicos haviam relatado pequenos sinais de melhora (leia aqui). Segundo a equipe que o atendia, Joacy movimentou um dos braços, deu uma espécie de puxão. Isso indicaria um sinal mínimo de atividade cerebral. De acordo com a família, a equipe médica cogitava rever o diagnóstico de morte cerebral, hipótese trabalhada até então.

Joacy chegou a ser dado como morto pelo primeiro médico que o atendeu. Segundo a esposa, ele atestou a morte e viajou em seguida para São Paulo. A família já começava a falar em doação de órgãos. A informação chegou à imprensa. Este blog noticiou o assunto no dia 05.12, às 20h03. Outros sites fizeram o mesmo nos dias seguintes.

A nova equipe médica que assumiu o caso na noite do dia 5 colocou em dúvida o diagnóstico e manteve o cartunista internado na UTI, no 2º andar do hospital. A hipótese era morte cerebral, porque o desenhista não respondia a nenhum estímulo ou reflexo. Para ter uma avaliação mais precisa, Joacy teria de passar por uma angiografia (exame que permite visualizar os vasos circulatórios). O procedimento era adiado por ser de risco. Esse novo quadro clínico e a confusão de diagnósticos foi reportada neste blog no dia 8.

Alguns ilustradores chegaram a fazer uma "corrente" de desenhos sobre Joacy, de modo a estimular os votos de recuperação. As imagens circularam por blogs e fotoblogs de pessoas ligadas à área de quadrinhos.

Joacy Jamys era carioca, mas atuava no Maranhão. Desenhava de tudo um pouco, sempre num volume acima da média (ele organizava um livro com suas obras). O trabalho rendeu a ele duas indicações para o HQMix deste ano: desenhista revelação e melhor site de quadrinhos.

Na quinta-feira, Joacy Jamys venceu o Prêmio Universidade FM, de São Luís, na categoria designer gráfico. Ele ganhou pelo projeto visual do CD da banda Negro K´atoor. A banda recebeu a homenagem em nome dele.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 10h28
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16/12/2006

Personagens criados há 110 anos ganham álbum de luxo

Os irmãos Hans e Fritz têm quase 110 anos de idade. As travessuras deles começaram a ser publicadas em 1897 nos Estados Unidos. Nesse tempo todo, a dupla criada por Rudolph Dirks nunca teve no Brasil uma edição tão luxuosa como a que começa a ser vendida nesta virada de semana. "Os Sobrinhos do Capitão – Piores, Impossível – 1936 a 1938" (Opera Graphica, R$ 74) é um álbum de capa dura, com quase cem páginas, que reedita histórias da década de 30 no formato como foram veiculadas originalmente (na horizontal).

A edição lembra, muito, a dedicada a Recruta Zero, lançada no começo de outubro (leia na postagem de 05.10). São obras pensadas para colecionador, o verdadeiro público-alvo desse tipo de material mais histórico. E história, diga-se, é o que não falta a Hans e Fritz, garotos especializados em criar travessuras da pior qualidade. Os bastidores da produção começam nos primórdios dos quadrinhos e passam por uma acirrada disputa editorial.

Hans e Fritz foram inspirados em Max und Moritz, história alemã produzida na segunda metade do século 19 (teve uma versão nacional, traduzida por Olavo Bilac, leia na postagem abaixo). O nome alemão não foi por acaso (a tira se chamava "Katzenjammer Kids"). As histórias começaram a ser publicadas no jornal "New York Journal", do magnata Willian Randolph Hearst (a fonte inspiradora de de Orson Welles para o filme "Cidadão Kane").

Para a história da história em quadrinhos, esse material teve a importância de consolidar a nova linguagem que surgia, com a narrativa em seqüência, o aprimoramento dos balões, linhas cinéticas e metáforas visuais.

Em 1913, Dirks iniciou uma disputa judicial pelos direitos de publicação dos personagens. Em 1914, conseguiu o direito de editá-los no jornal concorrente "New York World". A decisão judicial criou o editor que Otacílio d`Assunção definiu muito bem como "universos paralelos". A série sairia nos dois jornais, mas Hearst ficaria com o nome. Dirks trocou o título para "Hans e Fritz" e, depois, para "The Captain nad the Kids", cuja tradução é o rótulo mais conhecido aqui no Brasil

O leitor, então, vive algo que hoje seria inimaginável: ele lê os mesmos personagens, produzidos por desenhistas diferentes, em jornais concorrentes.

No "New York Journal", a série passou a ser produzida por Harold Knerr, que a desenhou até sua morte, em 1949. Teve vários sucessores e até hoje é publicada. É o material mais conhecido no Brasil por estar vinculado à companhia King Features Syndicate, com quem a Opera Graphica mantém contrato. É de uma das fases de Knerr o material lançado neste fim de semana.

O leitor mais antigo vai estranhar a tradução. Tentanto ser fiel ao original, que dá aos personagens um sotaque germânico, as falas dos garotos e do Capitão (a principal vítima das travessuras das duas pestes) foram representadas com caracteres que lembram um português germanizado. Algo como "seis fezes seis son sessenta e seis". O recurso já foi feito em outras edições brasileiras, diz a introdução do álbum, mas teria sido abandonado. A última edição de "Os Sobrinhos do Capitão", de 200, da mesma Opera Graphica, não se vale dessa caracterização.

Apesar da estranheza na fala dos personagens, este álbum recupera histórias de personagens cuja trajetória está umbilicalmente associada ao surgimento dos quadrinhos. Só por isso, já valeria o tratamento de luxo. Ler Hans e Fritz é compreender a história da história em quadrinhos.

Leia mais na postagem abaixo.

Categoria: RESENHAS

Escrito por PAULO RAMOS às 12h36
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Juca e Chico na tradução de Olavo Bilac

Hans e Fritz, os protagonistas de "Os Sobrinhos do Capitão", foram inspirados em Max und Moritz, do alemão Wilhelm Busch (1832-1908), um dos pioneiros da linguagem dos quadrinhos. A obra era algo parecido com o que hoje entendemos por livro infantil. Havia uma narrativa, ilustrada por imagens dos garotos travessos.

No Brasil, a história foi traduzida pelo poeta Olavo Bilac, que batizou a dupla de Juca e Chico. O livro se chamou "Juca e Chico – História de Dois Meninos em Sete Travessuras" (capa ao lado). Na derradeira traquinagem, os garotos fazem buracos em sacos de trigo. São descobertos e colocados moinho, que os tritura vivos. Ambos, evidentemente, morrem e viram comida para dois gansos esfomeados. É a lição de moral para as crianças nunca aprontarem, mas levada às últimas conseqüências.

A cena final foi traduzida assim por Olavo Bilac (o texto é da 11ª edição, editada pela Livraria Francisco Alves; mantenho a grafia original):

"Ai de ti, ó súcia arteira! / Vai ser esta a derradeira! / Também, por que é que nos sacos / Foram abrir dois buracos?... / Aí vem o dono do trigo, / E leva os sacos consigo. / Porém, mal começa a andar, / Começa o trigo a escapar... / E êle: "Oh, diabo! Êste saco / Deve ter algum buraco! / E violta-se: e num instante / Apanha os dois em flagrante. / Olá! Que boa colheita! / Não me escapais desta feita! / Lá vão êles, a caminho / Da morte... isto é: do moinho. / - Mestre moleiro, bom-dia! Tragolhe a mercadoria / Mais cara que há no mercado! / Quero isto já bem passado! / Quero já isto bem moído! / - Pois não! Já vai ser servido! / Raque... raque... a trabalhar, / Põe-se o moinho a rodar... / E aí tendes os dois meninos, / Em grãos tão finos, tão finos, / Que são logo deovrados... / - E os dois gansos esfaimados / Nunca em tôda a sua vida / Viram tão boa comida!"

Categoria: RESENHAS

Escrito por PAULO RAMOS às 12h30
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15/12/2006

Joacy Jamys tem pequena melhora

O cartunista Joacy Jamys teve um pequeno sinal de melhora nesta semana. Os médicos que cuidam dele disseram que Joacy movimentou um dos braços. Foi uma espécie de puxão durante um teste estimulado.
 
Para que esse tipo de reação ocorra, há a necessidade de atividade cerebral, mesmo que mínima. Até então, o nível de reação do cartunista era zero. A família diz que pode ser revisto o quadro clínico de morte cerebral, hipótese com a qual os médicos vinham trabalhando desde a semana passada.
 
O cartunista de 35 anos teve um AVC (acidente vascular cerebral) há quase 15 dias. Está internado desde então na UTI do hospital Procardio, em São Luís do Maranhão. Ele permanece em coma.
 
As informações foram passadas ao Blog dos Quadrinhos pela esposa de Joacy Jamys,  Audilene Costa Penha. A conversa foi há vinte minutos, enquanto ela aguardava para visitar o marido no 2º andar do hospital.
 
Audilene diz que Joacy teve uma pneumonia nesta semana, mas já foi curada. Ela mantém as esperanças. E renova o pedido de orações.
 
Nota: Joacy Jamys venceu ontem o Prêmio Universidade FM, promovido pela rádio homônima, que tem sede em São Luís. Ganhou na categoria designer gráfico. O prêmio foi pelo projeto visual do CD da banda Negro K´atoor. A banda recebeu a homenagem em nome dele.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 16h15
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Debret, a nova biografia em quadrinhos de Spacca

Falar de Spacca inevitavelmente traz à tona o premiado "Santô e os Pais da Aviação", que remonta em detalhes a trajetória de Santos Dumont. A sombra do álbum esconde um pouco do brilho de "Debret em Viagem Histórica e Quadrinhesca ao Brasil", que começou a ser vendido nesta semana (Companhia das Letras, R$ 29). A nova biografia do cartunista é bem mais modesta, tanto na abordagem como no número da páginas (é narrada em 18 páginas).
 
Ser modesta não é sinônimo de trabalho ruim. Muito pelo contrário. A passagem do pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) pelo Brasil no século 19 demandou muita pesquisa, tanto de títulos históricos quanto de ilustrações. O resultado é uma biografia correta, que não frustra o leitor.
 
Spacca tomou o cuidado de basear os desenhos em elementos visuais pinçados principalmente de obras de arte, algumas feitas pelo próprio personagem narrado.
 
Debret veio ao Brasil com um grupo de artistas em 1815. A viagem tinha dois propósitos: fugir do governo que substituiu Napoleão (tão bajulado pelo grupo) e criar nos trópicos uma academia de arte. A passagem do pintor por aqui não foi como esperava. Mas colheu frutos.
 
Debret e os demais artistas conseguiram formar, com muito custo, uma nova geração de ilustradores. A representação do ser humano era uma fixação. Muito do que ele desenhou à época está hoje em museus e constitui parte importante da memória do país. Talvez o maior mérito disso seja sentido hoje. Foi o início das artes gráficas no Brasil.
 
O pintor voltou à França em 1830 (lá publicou, em três volumes, "A Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", nome que inspira o álbum). A biografia de Spacca mostra esse período, da chegada até a partida. Além da história em si, apresenta dois bônus, por assim dizer, um no início, outro no fim. Nas páginas finais, há uma série de pinturas de Debret, a maior parte reproduzida a partir dos originais dos Museus Castro Maya. E no início, há um rico texto da historiadora Elaine Dias sobre ele.
 
Debret é pouco conhecido. A biografia de Spacca faz um serviço em fazer um tributo à memória do personagem histórico. Ser narrada pelo cartunista (que prepara uma biografia de Monteiro Lobato) só aumenta a importância do álbum.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 08h06
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14/12/2006

A Alemanha pelo traço de um brasileiro

Os antropólogos dizem que o melhor olhar é o de quem observa de fora. É verdade. Tanto que a premissa fundamenta toda a série "Cidades Ilustradas", da editora Casa 21, que mostra capitais brasileiras pelo traço de diferentes desenhistas. José Aguiar fez algo assim, mas inverteu o eixo. Foi ele quem foi ao exterior conhecer outra realidade. O resultado está na exposição "Reisetagenbuch - Uma viagem ilustrada pela Alemanha".
 
A palavra que dá nome à exposição significa, em português, "caderno de viagem". Mas nao é um caderno tradicional. A diferença é que as anotações foram todas desenhadas. Aguiar aproveitou a bolsa de estudos da esposa em Leipzig, na Alemanha, para dar sua visão dos moradores de lá.
 
"Em sua maioria, os desenhos são bem soltos, feitos sem que as pessoas percebessem", diz Aguiar, que atualmente mora em Curitiba, no Paraná. "Foi minha primeira experiência ´de campo´, pois sempre fui um profissional de prancheta, de estúdio."
 
José Aguiar vê a Alemanha como um sério, que ainda sente os ecos da participação na 2ª Guerra Mundial. "Fora esse clima pesado da herança histórica recente, há muita alegria neles", diz. "O alemão é mais tímido e tem dificuldade para extravasar publicamente o que nós brasileiros faríamos mais facilmente. Eles são formais a ponto de não atravessar a rua com o sinal vermelho, mesmo se não houver nenhum carro vindo e informais suficiente para nadar nus no lago com a maior naturalidade do mundo."
 
A exposição mostra 50 trabalhos de Aguiar. Há mais. O desenhista, que está com 31 anos, faz planos de reunir o que coletou num livro. Também quer levar a mostra para a Alemanha. Está em busca de patrocínio.
 
"Reisetagebuch - Uma viagem ilustrada pela Alemanha" pode ser vista até o dia 28 de fevereiro de 2007. A exposição está no Goethe Institut, em Curitiba (rua Reinaldino S. de Quadros, 33).

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 19h40
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Projeto universitário cria um dos melhores álbuns do ano

Um dos melhores e mais inovadores quadrinhos nacionais de 2006 não foi publicado. "O Circo de Lucca" foi produzido como projeto de conclusão de curso na Universidade Mackenzie, em São Paulo. A defesa foi ontem à noite. Nota dez. Um duplo sucesso. Conferiu a Jorge Otávio Zugliani, o autor, o diploma em Desenho Industrial e confirmou a qualidade do álbum, forte candidato a ser editado no ano que vem.
 
A história brinca com a linguagem dos quadrinhos. Lucca, um estudante de Desenho Industrial apaixonado por HQs (qualquer semelhança com o autor não é mera coincidência), precisa criar uma narrativa em quadrinhos. No processo de criação, a mente dele começa a divagar. O que ele imagina é contado com desenhos coloridos (o resto do álbum é em preto-e-branco).
 
É nesse imaginário real que Lucca conhece O Palhaço, um personagem colorido que ele tinha rejeitado. Os dois mundos, o realista de Lucca e o circense surreal do Palhaço, começam a se fundir. Os encontros dos dois são marcados sempre por metalinguagem. E o protagonista tem de usar um dos vários recursos da linguagem dos quadrinhos para sair da situação em que se encontra.
 
"Escrevi o roteiro ao mesmo tempo em que fazia a pesquisa, e toda vez que eu achava um elemento novo das histórias em quadrinhos que eu pudesse colocar no trabalho era como se eu tivesse ´solucionado um problema´ do personagem", diz Jorge Otávio, que assina como Jozz. "Acredito que se encaixou bem com o fato de eu estar me graduando. Neste momento, discutir a estrutura dos quadrinhos de maneira diferente faz mais sentido do que simplesmente contar uma história."
 
O projeto teve orientação de Luís Gê, professor do Mackenzie e autor de quadrinhos (participou de revistas como "Balão" e "Circo", nos anos 70 e 80). "No começo, custou pra ele a idéia (risos). Mas, com o tempo, assim que as páginas foram saindo, ficou evidente o apoio dele", conta Jozz. "[Gê] Dá um toque e fica vendo onde você é capaz de chegar e, a partir daí, dá outros toques."
 
Foi de Luís Gê a idéia de brincar com os recursos da cor. Foi depois de o professor ver um erro de impressão  numa das páginas. "Eu passei mais de uma semana rabiscando o papel, reescrevendo até que eu achasse um meio de falar sobre processos de impressão, lógico, graficamente", diz o autor de 23 anos, nascido em Jaú, no interior paulista. "Fiz impressões em mimeógrafo, gravura em metal e gravura em linóeo, como cordel. Aí, coloquei tudo na narrativa. É a parte de que mais gosto na história."
 
O leitor mais atento já deve ter se perguntado: Scott McCloud já não usou e abusou da metalinguagem em "Desvendando os Quadrinhos" (editora M.Books)? "Não, não é coincidência", responde Jozz, que usou McCloud como fonte de pesquisa. "O trabalho de McCloud, ao meu ver, é um livro ´sobre´quadrinhos, como os de Will Eisner. A minha intenção era fazer um livro ´de´ quadrinhos. Conversando com as pessoas, percebo que apenas quem tem uma experiência anterior vai a fundo no material de Scott. Eu queria criar algo que até os não-iniciados pudessem se envolver. Imagino que isso o torna viável para ser distribuído em escolas."
 
Jozz tem planos de publicar o álbum. Tem a recomendação do orientador, Luís Gê, e da banca que avaliou. "Desde o começo o próprio Gê fala para eu mostrar para editores. E as coisas que tenho ouvido das outras pessoas do meio tem me animado bastante."
 
Veja mais imagens de "O Circo de Lucca" na postagem abaixo.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 07h54
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Prévia - O Circo de Lucca

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 07h46
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13/12/2006

Livro-reportagem conta história do quadrinho paraibano

Joe Sacco popularizou no mundo um novo gênero de quadrinhos. É um livro-reportagem feito na linguagem das HQs. Esse jornalismo gráfico -nome que temos adotado neste blog- ganhou um adepto no Brasil. Audaci Junior usou o recurso para narrar a trajetória dos quadrinhos paraibano.
 
O resultado foi compilado no livro "Riscos no Tempo - 40 Anos de história em quadrinhos na Paraíba", lançado este mês (Marca de Fantasia, R$ 12).
 
"Optei pela abordagem de livro-reportagem ensaio, já que poderia emitir certas análises e ´dissecar' certas obras e personagens que ninguém fez ao longo de quatro décadas", diz Audaci Junior, um jornalista e quadrinista de 28 anos. "Mas, diferente de Sacco, não apareço na HQ."
 
Joe Sacco, que teve várias obras publicadas no Brasil nos últimos anos, não foi a única influência de Audaci. Ele diz que também se baseou em "Páginas Ampliadas - O Livro-Reportagem como Extensão do Jornalismo e da Literatura" (Editora Manole), de Edvaldo Pereira Lima.
 
Audaci Junior já trabalha no próximo projeto, outra incursão pelo jornalismo gráfico. Vai contar a historia do ator Sávio Rolim Junior, que atuou em 1965 no filme "Menino do Engenho", de Walter Lima Jr. O ator estaria, agora, mendigando pelas ruas de João Pessoa, cidade onde o jornalista mora. 
 
Na entrevista a seguir, feita por e-mail, ele conta detalhes da obra e fala das relações do jornalismo com as histórias em quadrinhos.
 
- Quanto tempo você levou para concluir a pesquisa e a elaboração da obra?

- A pesquisa levou cerca de um ano, já que livros sobre o tema só existiam dois: um de 1983 (de Henrique Magalhães, quando as HQs na Paraíba completaram 20 anos) e outro -muitíssimo mal elaborado, por sinal - editado pelo jornal "A União", em 1993. Fora isso, apenas fanzines, os próprios quadrinhos para analisar e reportagens em jornais e entrevistas que tive que fazer com alguns autores. A confecção dos desenhos junto com a finalização (digitalização, balonamento, revisão, etc.) levou mais um ano. Tudo entre 2003 e 2004.

 

- Você acha que é possível desenhar uma notícia, mantendo os mesmo princípios de distanciamento necessário com o assunto reportado?

- Sobre desenhar uma notícia acho impossível, já que a divulgação de um acontecimento recente demanda pouco tempo para se escrever e publicar. O que pode chegar perto de uma "notícia" é a charge, por ser um só desenho sobre um determinado acontecimento importante. O jornalismo em quadrinhos se enquadra mais nas grandes reportagens, perfis e matérias mais atemporais. Ou seja, jornalismo em quadrinhos não dá certo com redação de jornal. Sobre a tal imparcialidade, é sempre uma discussão complicada, que pode, sim, ter um distanciamento de princípios do repórter até determinado ponto, já que a pessoa é o que vive, lê ou sente, tendo opiniões próprias sobre determinadas situações e momentos.

 

- Você menciona uma espécie de marco-zero para o quadrinho na Paraíba, "As aventuras do Flama" (imagem abaixo). Do que se trata?

- "As aventuras do Flama" foi a primeira revista de histórias em quadrinhos publicada na Paraíba que se tem conhecimento. Criada por Deodato Taumaturgo Borges (o pai de "Mike" Deodato) em 1963, o personagem Flama foi concebido originalmente em 1960 pelas ondas de rádio, "combatendo" o Jerônimo (personagem do sul do país) na audiência. A novela de aventuras era escrita e narrada pelo próprio Deodato, como a produção da revista, escrita e desenhada por ele. O Flama é baseado em personagens como "The Spirit" e "Flash Gordon", sucessos na época, e durou apenas cinco edições no mesmo ano.

 

- O quadrinho paraibano tem uma "cara" própria?

- Sou um tanto pessimista com relação a isso. O quadrinho paraibano existiu e existe, mas nunca teve uma "cara", uma identidade. Os autores são muitos dispersos em relação a um avanço nesse campo tão marginalizado no Brasil, imagine a Paraíba! Com exceção de Henrique Magalhães, que sempre coloca uma obra de sua editora independente na berlinda da notícia sobre quadrinhos, acho que se você desenhar para os EUA ou mantiver um estúdio calcado nos super-hérois, ou ainda mantiver uma personagem que não "amadurece", é muito pouco para que seja uma "cara". Se for, precisa de uma plástica urgente.

Categoria: ENTREVISTA

Escrito por PAULO RAMOS às 14h03
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Até sábado, um lançamento por dia em São Paulo

De quinta-feira a sábado, vai haver um lançamento de quadrinhos por dia em São Paulo. Todos já tinham sido noticiados aqui no Blog dos Quadrinhos em postagens anteriores.

Amanhã, os gêmeos Paulo e Chico Caruso autografam "Lula Lá – A (O)missão" (feito por Chico) e "Avenida Brasil – Se Meu Rolls-Royce Falasse" (de Paulo; leia aqui). Os dois álbuns reúnem charges sobre o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Vai ser às 19h na Livraria da Vila (rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena).

Na sexta-feira, outro lançamento feito por gêmeos. Gabriel Bá e Fábio Moon autografam "10 Pãezinhos - Mesa para Dois" (leia aqui), lançado na virada da semana. Será no Bar Exquisito (rua Bela Cintra, 532, Consolação). Começa às 20h.

No sábado, os autores de "Tiras de Letra Todo Dia" autografam o quinto número da série, feita em sistema de cooperativa (capa ao lado). A obra é organizada por Mário Mastrotti e contém 27 tiras de 26 desenhistas. Às 14h, na Livraria Emporium (rua Vergueiro, 1877, Paraíso).

Categoria: DICA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h12
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12/12/2006

Exposição com originais de Gringo no interior de São Paulo

Dica rápida sobre o gringo ao lado. Ilustrações originais do personagem estão expostas em Sorocaba, cidade a 87 km de São Paulo. São 24 pranchas feitas por Aloísio de Castro, desenhista de "Gringo - O Escolhido", álbum lançado no finzinho de julho (com texto de Wilson Vieira).
 
As pranchas mostram momentos da história de faroeste, ambientada no período seguinte à Guerra Civil norte-americana (1861-1865).
 
Quem já leu o álbum sabe: Castro é dono de um estilo europeu difícil de ver por aqui. Acentua a expressão dos personagens de uma maneira bem realista numa diagramação revolucionárias em cada página. Como na imagem ao lado.
 
A exposição vai até o próximo dia 21, na Biblioteca Central da Uniso, Universidade de Sorocaba (rodovia Raposo Tavares, km 92,5). Abre de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h. No sábado, das 9h às 13h. A entrada é franca.

Categoria: DICA

Escrito por PAULO RAMOS às 18h23
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Entrevista com Gonçalo Junior no Metrópolis

O jornalista e pesquisador Gonçalo Junior contou os bastidores do livro "Biblioteca dos Quadrinhos" em reportagem do programa Metrópolis, da TV Cultura. A obra, lançada no começo de novembro (noticiada aqui nos dias 17.06 e 03.11), reúne mais de 700 referências sobre histórias em quadrinhos. Tem de tudo: títulos teóricos, ensaios, artigos, revistas especializadas, sites. A referência mais antiga é de 1944.
 
Gonçalo Junior prepara mais três livros para o ano que vem: um livro-reportagem sobre as pequenas editoras de quadrinho erótico nacional durante o período militar, uma biografia sobre o desenhista Rodolfo Zalla e um livro de memórias do pesquisador e professor Álvaro de Moya, feito em co-autoria (leia mais aqui).
 
Para ver a reportagem, clique aqui (assinante UOL).

Categoria: NA MÍDIA

Escrito por PAULO RAMOS às 13h51
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Número de teses sobre HQ bate recorde na USP em 2006

A Universidade de São Paulo nunca produziu tanta pesquisa sobre histórias em quadrinhos como neste ano. Foram sete estudos nos cursos de pós-graduação. O número é recorde se comparado a anos anteriores.
 
A maior parte das pesquisas foi feita na área de comunicação. Quatro estudos tiveram esse enfoque, como o último, de Gazy Andraus, defendido na sexta-feira passada (leia aqui). Os outros abordaram aspectos dos quadrinhos ligados a geografia, história e educação.
 
Waldomiro Vergueiro, professor da USP e coordenador do Núcleo de Histórias em Quadrinhos da universidade, credita esse crescimento a dois fatores: 1) um maior destaque dos quadrinhos na imprensa e em outras mídias (especialmente a televisão); 2) uma menor resistência acadêmica ao tema.
 
"Entendo que a resistência dos professores, nos diversos cursos de pós-graduação, à orientação de pesquisas relacionadas com histórias em quadrinhos vem caindo gradativamente, possibilitando que mais alunos sejam recebidos pela Universidade de São Paulo", diz.
 
Vergueiro não sabe se o mesmo comportamento vai se repetir em 2007. "Sei que existem várias pesquisas em desenvolvimento em áreas como letras modernas (alemão) e ciências da comunicação. Talvez 2006 seja atípico quanto ao número de conclusões, mas certamente não o é em relação a uma tendência em relação ao estudo de histórias em quadrinhos que vem se consolidando na Universidade de São Paulo."
 
A tendência a que ele se refere foi noticiada pelo Blog dos Quadrinhos no dia 4 de maio. Pesquisa feita pelo próprio Vergueiro e por Roberto Elísio dos Santos, professor da Universidade Imes, releva que houve 13 pesquisas sobre quadrinhos defendidas nos cursos de pós-graduação da USP entre 2000 e 2005. É quase a metade de tudo o que foi produzido na universidade desde sua fundação.
 
Com os trabalhos concluídos neste ano, o total de dissertações de mestrado e teses de doutorado de 2000 para cá salta para 20. É mais do que foi produzido durante todo o século passado. Da criação da USP até 1999, houve 17 estudos.
 
Embora não haja ainda levantamentos a respeito, a tendência de crescimento de pesquisas sobre quadrinhos não seria uma tendência apenas da USP. "Eu nunca participei de tantas bancas sobre histórias em quadrinhos como em 2006 e sei que algo similar ocorreu com outros colegas que se dedicam ao estudo de quadrinhos", diz Waldomiro Vergueiro. "No meu caso específico, posso testemunhar a ocorrência de pesquisas sobre histórias em quadrinhos na UFMG, UNIRIO, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, UNESP, entre outras."

O Blog dos Quadrinhos noticiou todas as pesquisas defendidas neste ano na USP. Para ler, basta acessar a pasta "entrevistas" no canto esquerdo desta página.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 08h09
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11/12/2006

Mesa para dois: história simples, mas bem contada

Neste ano, houve algumas discussões sobre a criação de leis para fomentar a produção nacional de quadrinhos. Embora nenhuma tenha vingado, teve seu lado bom: instigou o debate, algo que inexistia até então. Uma das idéias defendidas é que, antes de qualquer lei, o quadrinho brasileiro deveria se firmar por si, primando pela qualidade das obras, a exemplo do que ocorreu com o cinema.
 
A discussão é pertinente e não se encerrou. Mas os defensores da relação quadrinho-qualidade encontram bons argumentos nos gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon. Os dois têm se mostrado ótimos contadores de histórias. Como em "10 pãezinhos: Mesa para dois", que começou a chegar às livrarias e lojas especializadas em quadrinhos nesta virada de semana (Devir, R$ 15).
 
O álbum é uma história de amor, construída aos poucos, nos detalhes. Uma jovem garçonete, Júlia, faz um trabalho extra para um escritor, Sr. Milo. O serviço: conversar com ele e servir de inspiração para os diálogos da obra que escreve. Dessa relação e da vida no bar a trama vai sendo moldada e descoberta.
 
Duas referências merecem menção. Os autores usaram figuras reais para compor as figuras fictícias. O dono do bar onde a protagonista trabalha é a cara do escritor Monteiro Lobato, criador do "Sítio do Picapau Amarelo". Não é por acaso que também se chama Monteiro na obra dos gêmeos. Milo, o romancista que contrata a garçonete, é uma homenagem declarada a Lourenço Mutarelli, autor de livros e de quadrinhos ("O dobro de cinco", "O rei do ponto", "A soma de tudo").
 
Mutarelli -tão elogiado pelo meio editorial e pela crítica, sempre generosa com ele- anunciou neste semestre que vai largar os quadrinhos. Um raro caso de autor que se deu bem nesse difícil mercado abandona o barco. Embora a decisão deva ser respeitada, não deixa de ser uma ducha de água fria no tocante à discussão sobre o fomento da produção nacional. E aumenta a responsabilidade de quem continua produzindo, caso dos gêmeos.
 
Gabriel Bá e Fábio Moon têm muito a somar para a consolidação de um mercado nacional. Aliam qualidade (de texto e de arte) sem deixar de lado a vontade de produzir e de distribuir as histórias que criam. Se uma editora não se interessa pela obra, voltam às origens: publicam o material em forma de revista independente e vão vendendo uma a uma. Como já fizeram neste ano, diga-se de passagem.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 18h53
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Revolta da Chibata vai ser contada em quadrinhos

A Revolta da Chibata vai ser narrada numa história em quadrinhos. O álbum será lançado pela editora Conrad e está programado para o ano que vem. A obra está na fase final de produção e deve ter por volta de 140 páginas. Os  desenhos são de Hemeterio e o texto de Olinto Gadelha, ambos de Fortaleza, no Ceará.
 
A idéia do álbum partiu da editora. A obra vai mesclar história e ficção, mostrando os bastidores da Revolta da Chibata. O ponto de vista da história estará em João Cândido. Negro, filho de escravos, ele foi o líder do movimento.
 
Segundo os autores, a Revolta da Chibata (1910) tem muito mais do que um protesto de marinheiros contra a maneira como eram punidos nos navios (eram açoitados pelos brancos, de patente maior). Foi também o resultado de tensões raciais e de classe, herdadas do período do Império.
 
O trabalho exigiu muito pesquisa, inclusive na composição visual. "Costumo dizer que esse livro não seria possível sem as facilidades da internet", diz Hemeterio, um arquiteto de 35 anos. "Se precisávamos de uma visão panorâmica da Guanabara, era só procurar no Google. O mesmo vale para fardamentos, detalhes de quartéis, móveis e -muito importante- fotos de referência para os rostos dos personagens."
 
Falta só um "detalhe": definir o nome do álbum. "Isso ainda vai ser discutido conosco e com a editora. Inclusive, ainda não temos o desenho da capa definido. Acho que é interessante deixar pro final, pois é uma forma de trabalharmos mais próximos, nós e a editora. No entanto, nos bastidores, nos referimos ao projeto como ´A Revolta da Chibata´, claro".
 
Essa não é a primeira parceria entre Hemeterio e Olinto Gadelha (analista de sistemas de 34 anos). Os dois se conhecem desde 1992. Fizeram em conjunto vários trabalhos para o mercado publicitário. Quadrinhos também. Um deles, "Garatujas", de 2004, foi a porta de entrada na Conrad. Um dos 500 exemplares, feitos por conta própria, foi levado à editora. Daí surgiu o convite para a Revolta da Chibata.
 
Leia na postagem abaixo, em primeira mão, uma prévia do álbum.
 
Nota: o álbum confirma a tendência de produção de obras históricas e de adaptações literárias, que, tudo indica, aumentará no ano que vem. É um duplo negócio. Para as editoras, a aposta é que os títulos sejam incluídos em programas educacionais bancados pelo governo, o que garante a venda de muitos exemplares. Para os autores, é uma forma de fomentar a produção nacional. 

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 07h27
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Prévia - Revolta da Chibata

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 07h19
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10/12/2006

Uma charge para pensar

A charge abaixo é de 7 de novembro deste ano. Foi publicada no site Carta Maior quando começaram os problemas nos aeroportos brasileiros. Mais de um mês depois, não perdeu a atualidade. E dá um outro ponto de vista sobre o tema. O traço é de Maringoni.

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Carta Maior

Categoria: NA MÍDIA

Escrito por PAULO RAMOS às 19h11
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Desenhos são o ponto alto de "Wild Bill está morto"

Do pouco que se leu até agora do belga Hermann, pode-se perceber uma tendência. Ele tem uma predileção por temas não-belgas. É dele o álbum "Caatinga", situado no Brasil, lançado pela editora Globo anos atrás. O escritor e desenhista agora se enfronha no gênero faroeste. O resultado é "Wild Bill está morto", que chegou esta semana às bancas (Mythos, R$ 12,90).

O Wild Bill do título é só o pano de fundo da trama. O assassinato dele -que realmente ocorreu em Deadwood, em 1876- é o ponto de partida para contar a história do garoto Melvin. Enquanto o famoso caubói era baleado pelas costas durante uma partida de cartas, Melvin testemunhava a morte de uma família inteira de mineiros. Uma jovem, seu amor de infância, estava entre entre os mortos.

O evento dá uma reviravolta na vida do garoto e o faz rumar pelo oeste americano, conhecendo novas pessoas e situações. Com cada um, amadurece um pouco mais. Até que, já adulto, reencontra os assassinos da família de mineiros (fique de olho nas botas durante a leitura). O que Melvin irá fazer?

Hermann tem nos desenhos o ponto alto do álbum. Faz cenas inovadoras. Quando o protagonista fica bêbado, há uma mescla de diferentes ações dentro de um mesmo quadrinhos. Não se sabe exatamente quando começa uma e termina a outra. É apenas um exemplo da arte, que claramente se sobrepõe ao texto. A começar pelo rumo da história. É sobre vingança ou aborda a necessidade de um jovem se tornar adulto da noite para o dia? Ganharia se desse um foco na narrativa, de modo a preparar o leitor para onde a história caminha.

"Wild Bill está morto" é o segundo álbum da editora SAF (Strip Art Features) publicado pela Mythos. O primeiro foi "Caim", dos argentinos Eduardo Risso e Ricardo Barreiro, lançado em agosto deste ano. A desconhecida SAF foi criada em 1972 e tem sede na Eslovênia.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 13h25
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09/12/2006

Tese mostra papel dos quadrinhos na atividade cerebral

Há um ponto que une o Gazy Andraus desenhista com o Gazy Andraus pesquisador: a abordagem filosófica e mental dada aos quadrinhos. É papo cabeça, como se diz na gíria. Mas muito pertinente. Tão pertinente que virou tese na USP (Universidade de São Paulo), defendida nesta sexta-feira.
 
O agora doutor Gazy Andraus mostrou que o ensino acadêmico principalmente o universitário, coloca as imagens num segundo plano, toma como base um modelo estritamente racional.
 
Isso traria mudanças no comportamento cerebral. Desenvolveria mais o lado esquerdo do cérebro (mais lógico e racional) e menos o hemisfério direito (voltado à criação).
 
Segundo o pesquisador, os quadrinhos seriam o meio ideal para trazer um equilíbrio maior à atividade cerebral no meio científico, como sintetiza a ilustração ao lado.
 
"É por isso que as histórias em quadrinhos são o carro-chefe da minha tese", diz Gazy. "Se eu defendo que o ensino caduco tem que ser substituído por outro que abranja todas as funções das lateralidades cerebrais, os quadrinhos são, no mínimo, os ideais. Em cada história em quadrinhos há em geral uma junção entre os desenhos (ativando o hemisfério direito) e os textos contidos nos balões e nos recordatórios (que atiam o esquerdo). Há uma riqueza nessa fusão."
 
Gazy transita bem nos dois campos. Ou nos dois hemisférios. Desenha desde a infância. Enquanto a maioria das crianças rabiscava pessoas ou objetos conhecidos, ele fazia dinossauros. Com os anos, partiu para os fanzines. É onde desenvolveu o que chama de HQ "fantástico-filosófica", construída pelo "impulso de inconformismo filosófico e existencial da vida", segundo ele.
 
"Na verdade, não sei lhe dizer se  que me levou à academia foi só a dificuldade de se publicar histórias em quadrinhos no Brasil. Creio que meu destino responde a uma questão interior mais forte: ao elaborar meus quadrinhos, diretamente a nanquim e sem esboço prévio, meu cérebro age muito pelo canal direito. Como que para se equilibrar, decerto minha mente pede que eu tente explicar racionalmente esses fluxos e influxos. É como se minha mente quisesse restabelecer o equilíbrio."
 
Gazy atualmente mora em São Vicente, no litoral de São Paulo, cidade propícia para quem procura equilíbrio. Daqui para frente, seus planos profissionais devem alimentar seus dois lados do cérebro. Faz planos de galgar uma carreira universitária, mas sem deixar de lado a atividade artística.
 
A penúltima pesquisa sobre quadrinhos defendida na USP estudou a geografia de Gotham City. Leia mais aqui.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 10h02
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08/12/2006

O que realmente ocorreu com Joacy Jamys?

Os jornalistas paulistas receberam na última terça-feira à tarde a informação de que o cartunista Joacy Jamys havia morrido. O médido que o atendeu atestou morte cerebral. A família começou a falar sobre doação dos órgãos. Este blog noticiou a informação no próprio dia, às 20h03min. Outros veículos de imprensa também relataram o assunto na quarta-feira.
 
No mesmo horário, a decisão do médico (que viajou para São Paulo) foi posta em dúvida pela equipe da UTI do hospital Procardio, de São Luís do Maranhão. Jamys permanece internado lá desde então. Está no segundo andar do prédio, em coma profundo, respirando por meio de aparelhos.
 
A notícia tomou a blogosfera ligada a quadrinhos. A página do desenhista Bira Dantas foi uma das primeiras a alertar que Jamys continuava internado. Mas ainda havia muitas dúvidas sobre o quadro de saúde dele. A maior parte das informações vinha de repasse de listas de discussão.
 
O Blog dos Quadrinhos conversou há 15 minutos com a esposa de Joacy Jamys, Audilene Costa Penha. Ela se preparava para visitar o marido na UTI. Ela confirma que os médicos trabalham com o quadro de morte cerebral. Segundo ela, Jamys não responde a estímulos e a reflexos. Para ter um cenário mais preciso, haveria a necessidade de uma angiografia (exame que permite visualizar os vasos circulatórios). O exame é de risco e vem sendo adiado pela equipe médica.
 
Audilene diz que a família presenciou uma lágrima no olho de Joacy. Ontem, estava com febre. Hoje, não.
 
O coração continua batendo. A esposa pede orações.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 15h24
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07/12/2006

Um olhar coreano sobre a vida de Che Guevara

A pergunta é inevitável: como é que a história de Che Guevara foi parar na Coréia do Sul? O início do álbum em quadrinhos dá uma pista na forma de outra pergunta, feita pelos coreanos: quem é esse cara de barba e boina estampado em nossas camisetas e pôsteres? O encontro das duas questões tem como resposta "Che - Uma Biografia" (Conrad, R$ 23,50), que começa a ser vendida neste fim de semana (chega às grandes bancas na semana que vem).
 
Há uma preocupação didática no manhwa, nome como é conhecido o quadrinho coreano. Há até resumos dos principais momentos na virada de cada um dos capítulos. A proposta é explicar para a nova geração coreana quem foi Guevara, visto mais como um mito do que como um líder revolucionário. É a luta vivida por ele -e pela qual deu a vida- que o álbum quer mostrar.
 
Che, sabe-se, é uma figura polêmica. Há quem veja nele um assassino, há quem o tome como um mártir visionário. Narrar a trajetória dele é, acima de tudo, tomar um posicionamento político. O escritor e desenhista Kim Yong-Hwe, autor da obra, assume o ponto de vista de Che: Cuba e a luta armada são a salvação para os países latino-americanos; os Estados Unidos simbolizam o império capitalista que só visa o lucro.
 
É nesse ponto que as quase 250 páginas da edição vão agradar uns, desagradar outros. Yong-Hwe o representa como uma pessoa humana e excessivamente preocupada com a miséria. É algo bem parecido com o que o diretor brasileiro Walter Salles fez em 2004 no filme "Diários de Motocicleta", que narra a viagem que Che e o amigo Alberto Granado fizeram pela América Latina. Há uma curta seqüência dos dois -e da moto- no álbum, que vai muito além dos diários e da motocicleta.
 
As cartas de Che também estão presentes na obra. Algumas foram reproduzidas por Yong-Hwe. É visível o esforço de pesquisa feito por ele, por mais que tenha romanceado grande parte da trajetória de Guevara. A vida do militante está toda lá: o nascimento, na Argentina, as crises de asma, o diploma de médico, a passagem por Cuba e pela revolução que levou Fidel Castro ao poder (Fidel também foi humanizado), a execução na Bolívia, em 1967 (a mando do governo norte-americano).
 
"Che - Uma Biografia" cumpre exatamente aquilo a que se propõe: contar a história do líder revolucionário do ponto de vista dele. Há um verniz de manhwa, com rostos e bocas caricatos em vários momentos. Nada que comprometa. Coréia do Sul e Che conseguiram combinar.
 
Para registro: a indústria de quadrinhos coreana está num crescimento vertiginoso, fruto de investimentos do governo no setor. O Blog dos Quadrinhos noticiou o assunto quando antecipou o lançamento deste álbum sobre Che Guevara. A matéria está na postagem do dia 30 de outubro.
 
Leia mais sobre quadrinhos de Che na postagem abaixo.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 23h13
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Autores argentinos fizeram primeira HQ sobre Che

O manhwa sobre a vida de Che Guevara não é a primeira história em quadrinhos com o líder revolucionário. Houve outra, produzida na Argentina nos anos 70. Foi desenhada por Alberto Breccia e escrita por Hector German Oesterheld, que foi morto pela ditadura militar em 1977. Oesterheld é tido como um dos maiores escritores do país. É dele "El Eternauta", um clássico do quadrinho argentino. Abaixo, a capa e uma das páginas da obra, extraídas do site BDtéque.
 
 

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 23h05
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Álbum traz uma das melhores histórias de Astro City

Há um outro ponto de vista neste novo passeio por Astro City. O enfoque está num ex-criminoso, e não nos super-heróis que circulam pela fictícia cidade criada pelo escritor Kurt Busiek. Essa mudança na escolha do personagem central é o grande acerto de "Astro City - O Anjo Caído", álbum que começou a ser vendido nesta semana (Devir, R$ 46). Tornou a história bem mais intimista. A trama reflete na pele de metal do protagonista uma sociedade que não é preparada para recuperar quem passou pela prisão.

 

O álbum reúne sete histórias inéditas de Astro City. A edição é quase igual ao encadernado norte-americano, lançado em 2000. "Quase" porque o formato é um pouco menor. É uma das melhores -senão a melhor- seqüência da premiada série de Busiek, uma declarada homenagem às revistas de super-heróis. E um ótimo do ponto de partida para quem nunca visitou a cidade.

 

A história toda é uma grande metáfora, presente em cada detalhe da trajetória do personagem central. A metáfora mor remonta aos princípios cristãos. O Homem-Blindado de Aço -codinome do protagonista- é o anjo caído do título. Ele enfrenta a difícil tarefa de se regenerar. Cumpriu pena, largou os crimes, não consegue se recolocar no mercado. Vive à margem da sociedade. Seu passado e sua pele depõem contra ele.

 

Os demais anjos continuam nas alturas, sobrevoando Astro City, e são chamados de super-heróis. O ex-presidiário quer ser como eles, alcançar a redenção. Mas permanece no solo, junto com todos os outros, trilhando o árduo caminho em busca da salvação (que nem ele sabe exatamente qual é).

  

A pele de metal, aliás, é um achado narrativo. Ela é a síntese de todos os fracassos vividos por Carl Donewicz, nome “real” do personagem. Reflete o rosto de medo das pessoas quando o vêem. Não permite a ele nem lavar pratos em bares e lanchonetes de quinta categoria. O sabão faz a louça escorregar pelas mãos metalizadas. Há um início de ferrugem na região da barriga (detalhe sutil, mas casa perfeitamente com o perfil representado).

 

O rosto e, principalmente, o olhar triste e distante, terminam por confirmar visualmente o estado de submissão em que se encontra. Os traços faciais foram baseados no falecido ator Robert Mitchum (a semelhança é gritante, como mostra a imagem ao lado). Há um agradecimento de Alex Ross a ele, escondido na página sete. Ross é o autor das capas e da elaboração visual dos super-habitantes de Astro City. É com base em Ross que o desenhista Brent Anderson faz a arte da série, publicada originalmente nos Estados Unidos.

 

Resta ao Homem-Blindado de Aço (uma mistura de Luke Cage com Colossus, dos X-Men, ambos da editora Marvel) investigar outros vilões, que são misteriosamente assassinados. É por meio desse "trabalho" que ele encontra sua redenção. Falar mais estragaria a história. Mas, no fim, o leitor vai se questionar quem é herói e quem é vilão. E vai ficar com ódio dos heróis.

 

Nota: Frank Miller faz um mea-culpa na introdução do álbum. Ele diz que estava errado quando afirmou que o gênero super-heróis havia morrido. A afirmação foi feita com base em "Cavaleiro das Trevas" e "Watchmen", que teriam "enterrado" esse tipo de história.

 

Veja mais imagens do álbum aqui.

Categoria: RESENHAS

Escrito por PAULO RAMOS às 07h03
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06/12/2006

Panini cancela revista Demolidor

A revista "Demolidor" vai ser cancelada na edição 35, que deve chegar às bancas este mês. O motivo, segundo a editora Panini, são as baixas vendagens. "Creio que Demolidor seja a menos vendida da Marvel atualmente", disse ontem o editor Fernando Lopes, em entrevista ao site Gibizada. "Os títulos mutantes têm, sim, uma boa performance de vendas. Não é que qualquer coisa com um X na capa venda, mas não se pode negar que são produtos com um apelo bem forte."
 
Lopes diz que a Panini continuará publicando o herói em 2007. Mas não revelou como nem onde. O último número de "Demolidor" terá cem páginas, com quatro histórias do herói cego. A revista encerra a fase escrita por Brian Bendis, considerada uma das melhores do personagem. As próximas histórias terão roteiro de Ed Brubaker, que trabalha atualmente com o Capitão América.
 
O número 34 de "Demolidor" chegou às bancas nesta quarta-feira. É a edição de novembro. Os atrasos da Panini ainda não foram resolvidos, ao contrário do que a editora informou no início do semestre.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 19h26
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Salão de humor dá prêmio de US$ 10 mil

Dica rápida. Termina na próxima sexta-feira o prazo para inscrição de trabalhos no 4º Festival Internacional de Humor de Iguaçu. O atrativo são os prêmios. Ou o valor deles. O primeiro lugar leva 10 mil dólares. Do segundo ao quarto, são 5 mil, 3 mil, 1,5 mil e 500 dólares, respectivamente.
 
O salão tem só uma categoria, cartum. O tema é avião. As inscrições podem ser feitas por e-mail (humor@humorfalls.com.br). Os trabalhos têm de ser inéditos e no tamanho 21 cm por 29,7 cm. Cada autor pode inscrever três cartuns, mas com apenas uma imagem por e-mail. Mais informações pelo site do evento: www.humorfalls.com.br. O festival ocorre em Foz do Iguaçu e foi criado para valorizar a cidade internacionalmente.

Categoria: DICA

Escrito por PAULO RAMOS às 19h21
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05/12/2006

História da revista Balão vai virar livro-reportagem

A história da revista independente "Balão" vai ser contada num livro-reportagem, programado para sair no ano que vem. A obra -chamada "Geração Balão"- será escrita pelo cartunista Gualberto Costa e pela publicitária Daniela Baptista. Eles estão há dois anos no projeto e entrevistaram a maioria dos artistas que passaram pelo título, que revelou nomes como Angeli, Luís Gê, Laerte, Xalberto, Paulo e Chico Caruso.
 
"A gente vai contar a história da ´Balão´, que fim levaram essas pessoas e, paralelamente, mostramos quais foram os eventos históricos dos anos 70", diz Gualberto, ou somente Gual, como é conhecido. "Quase todos estouraram em alguma área ou têm alguma experiência legal para contar".
 
Ele conta que foi difícil encontrar todos. Ou reencontrar todos. "A maior parte são conhecidos meus. Outros tive de procurar pelo Google, lista telefônica. Tem uns que não têm pista até hoje." Dos 48 artistas que passaram pela revista, faltaram apenas quatro (os "sem pista"): Maurício Moura, Massa, Zé Teixeira e José Júlio. Os demais foram todos entrevistados, um a um. Também foram fotografados pelo cartunista Orlando Pedroso.
 
Os relatos somam 300 horas de gravação, material que vem sendo reunido oficialmente nos dois últimos anos. Oficialmente porque Gual coleta informações sobre o tema há décadas. Ele tem até uma conversa com os autores, gravada em 1980. Vai ser usada no livro.
 
Gual conta que ouviu  histórias curiosíssimas. Um dos autores, depois da passagem pela revista, foi morar numa fazenda em que todos andavam nus. Outro ficou preso ao lado de Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura morto pela ditadura militar nos anos 70.
 
A "Balão" é tida como a primeira revista independente do país após os catecismos de Carlos Zéfiro (revistas pequenas que mostravam histórias de mulheres nuas). O obra surgiu num encontro de alunos da USP (Universidade de São Paulo), que reuniu estudantes da ECA (Escola de Comunicações e Artes) e da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Encabeçados por Laerte e Luís Gê, resolveram criar a revista independente.
 
A revista durou de 1972 a 1975. Teve nove números e uma edição especial. A "Balão" repercutiu até em outros estados. Muito por causa do espírito aberto do grupo. Havia anúncio na revista dizendo o dia e a hora em que os criadores se encontravam. Portas abertas. Comparecia quem quisesse.
 
O grupo tentou colocar o último número da revista nas bancas. Foi o início do fim. "Não deu certo porque matou o espírito coletivo. A ida para a banca trouxe a preocupação com o dinheiro. Além disso, a moçada começou a se profissionalizar, começou a ser assimilada no mercado", diz Gual, que é um dos criadores do Troféu HQMix, principal prêmio de quadrinhos do país.
 
Gual e Daniela -marido e mulher, pais de quatro filhos- têm o prazo de um ano para publicar o "Geração Balão", que será editado pela Devir. A obra é custeada pela Secretaria de Cultura de São Paulo dentro de um programa de apoio à cultura (a bolsa é de R$ 20 mil). De 68 projetos, apenas cinco foram selecionados na categoria livro-reportagem. Entre eles, o da revista "Balão".
 
O livro é a segunda obra sobre quadrinhos nacionais dos anos 70 programada para 2007. A outra, de autoria de Gonçalo Junior, vai mostrar a trajetória do quadrinho erótico brasileiro durante a ditadura militar. Leia mais aqui.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 23h06
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Morre o cartunista Joacy Jamys

Morreu o cartunista Joacy Jamys, vítima de um acidente vascular cerebral. Ele faleceu ontem. A informação só foi divulgada hoje.

Joacy desenhava de tudo um pouco, sempre num volume impressionante (já organizava um livro com seus trabalhos). O esforço foi reconhecido ainda em vida. Teve duas indicações para o HQMix deste ano: desenhista revelação e melhor site de quadrinhos. É de lá o cartum ao lado.

Joacy Jamys era carioca, mas atuava no Maranhão. Estava com 35 anos.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 19h03
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Pesquisa da USP analisa geografia de Gotham City

Por que ninguém estudou isso antes? É a pergunta que fica depois de ter contato com o estudo feito pela professora e pesquisadora Angela Rama. Ela analisou um aspecto dos quadrinhos praticamente ignorado pela literatura científica dos quadrinhos: o espaço em que as histórias são narradas.
 
A pesquisa conferiu a Angela um mestrado em Geografia, defendido há pouco mais de um mês na USP (Universidade de São Paulo). Ela fez uma leitura do ambiente vivido pelos super-heróis, principalmente a Gotham City de Batman. Uma das conclusões é que o espaço geográfico é usado para reforçar as características dos personagens. Por isso que a cidade do homem-morcego é fria e sombria, tal qual Batman.
 
Rama é também uma das autoras do livro "Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula", lançado em 2004. O capítulo dela mostra algumas práticas pedagógicas para o ensino de geografia.
 
Na entrevista a seguir, feita por e-mail, Angela Rama comenta alguns dos resultados da pesquisa, que levou três anos para ficar pronta. Ela chamou o estudo de "A representação do espaço nas histórias em quadrinhos do gênero super-heróis: a metrópole nas aventuras de Batman".
 
- Quais foram suas hipóteses?

- As duas principais hipóteses do trabalho foram: 1 - o espaço é utilizado para reforçar as características dos personagens, sendo enfatizados os supostos aspectos “negativos” da cidade, especialmente o crime, sem o qual um super-herói não se justificaria; 2 - a representação do espaço nos quadrinhos de super-heróis ratifica/legitima o espaço social produzido pela sociedade americana/capitalista, que o concebe como modelo de mundo.

 

Por que Batman como escolha de análise?

- Principalmente por Gotham City ser uma das cidades mais (senão a mais) representativa do mundo dos quadrinhos, ganhando ao longo dos anos inúmeros simbolismos e conotações, o que acaba contribuindo para enriquecer as análises sobre ela. Ao longo do trabalho, no entanto, há referências a outros super-heróis. Faço, por exemplo, algumas análises comparativas entre imagens de Metrópolis e de Gotham, que procuram demonstrar suas características diametralmente opostas e a total correspondência entre cada uma das cidades e seus personagens principais.

 

- Sendo Gotham City uma cidade ficcional, isso não ofusca a noção de "realidade" impressa no cenário dos quadrinhos?

- Ofusca, sim, se você pretender explicar a realidade pelos olhos da ficção. Minha intenção, no entanto, não foi esta. Porém, mesmo se tratando de uma cidade ficcional, criada para acomodar seu herói principal, sua relação com os personagens e a paisagem representada têm correspondência com a "cidade real". Assim, por mais fictício que seja o espaço representado ele nunca está isento de intenções e visões de mundo que caracterizam uma determinada sociedade (real).

 

- Há planos de aprofundar o tema no doutorado ou de publicar a dissertação?

Planos há, mas nada de concreto ainda.

Categoria: ENTREVISTA

Escrito por PAULO RAMOS às 10h01
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Assassinato de jornalistas vira tema de cartuns no Canadá

O assassinato de jornalistas é o tema de um salão gráfico no Canadá. Os organizadores -o National Press Club- quer alertar o mundo para o problema. Segundo a entidade, mais de 80 jornalistas perderam a vida neste ano.
Esse número é maior que o registrado pela associação "Repórteres sem Fronteiras" em 2005, considerado até então o pior ano desde 1995: 63 mortes e o assassinato de cinco colaboradores de meios de comunicação.
 
O 7º Internacional Editorial Cartoon recebe trabalhos do mundo todo. O primeiro colocado recebe um prêmio de 1,5 mil dólares. O segundo, 750 dólares, e o terceiro, 500 dólares. Os resultados saem no dia 3 de maio, data que, segundo os organizadores, simboliza o dia da liberdade de imprensa. Para mais detalhes sobre o prêmio, leia aqui.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 07h44
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04/12/2006

Revista publica HQ de Laílson sobre família real portuguesa

O pesquisador e cartunista Laílson Cavalcanti faz uma história em quadrinhos na última página da revista "Nossa História". "O Império do Ocidente" mostra a vinda da família real portuguesa ao Brasil. Começou no mês passado e vai até novembro de 2007, data de comemoração dos 200 anos do evento histórico. A imagem ao lado é da edição de dezembro. 

Categoria: NA MÍDIA

Escrito por PAULO RAMOS às 19h27
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Gonçalo Junior prepara três livros sobre quadrinhos

Ele tem um volume impressionante de livros colocados no mercado num curto espaço de tempo. Todos de destaque, todos de alguma forma ligados ao mundo dos quadrinhos. Para 2007, o jornalista e pesquisador Gonçalo Junior prepara mais três lançamentos: a esperada continuação de "Guerra dos gibis", uma biografia de Rodolfo Zalla e um livro de memórias de Álvaro de Moya.

O premiado "Guerra dos Gibis" –venceu o Troféu HQMix na categoria livro- é um divisor de águas na análise histórica dos quadrinhos no Brasil. A obra muda o enfoque sobre a evolução editorial no país. Seria fruto de uma acirrada disputa, que vem desde o fim da década de 30. A curiosidade é que essa guerra seria apenas a introdução de um outro livro, este sobre os quadrinhos eróticos brasileiros publicados durante o regime militar (1964-1985). Só que o assunto cresceu e virou uma obra à parte.

É essa continuação da história, ou a primeira história, que o pesquisador prepara para o ano que vem. O livro-reportagem narra a evolução de duas editoras de material erótico: a Edrel, de São Paulo (de 1967 a 1975), e Grafipar, de Curitiba (1975 a 1985). "Eu conto a história desses pequenos editores que produziam erotismo durante a censura", diz o jornalista baiano, que adotou São Paulo como morada.

Um dos pontos abordados é a forma como as duas editoras driblavam a mão forte da censura. Uma estratégia era enviar as obras por reembolso postal. "Outra coisa era enganar a polícia. Eles tinham muitos pontos de venda em São Paulo. Tinham pontos clandestinos na Boca do Lixo, no centro. Eles mantinham pequena quantidade [de quadrinhos eróticos para a venda]. A polícia fazia batidas, levava o material e eles logo repunham."

O livro terá 15 capítulos. A primeira metade, sobre a Edrel, está pronta. Falta revisar a segunda, sobre a grafipar. A reescrita deve estar concluída até fevereiro, quando o jornalista apresenta a obra para a editora. Se tudo der certo, a obra sai no ano que vem.

Outro livro programado para 2007 é a biografia do desenhista argentino Rodolfo Zalla, que atua a maior parte da vida no Brasil. Segundo Gonçalo Junior, a obra está pronta desde 2003. Foi resultado de 14 entrevistas gravadas com Zalla.

Os encontros eram sempre aos sábados, criteriosamente das 14h às 17h. Faziam uma troca a cada novo contato: Gonçalo levava a transcrição da conversa anterior e o desenhista entregava a ele a versão escrita do bate-papo que tinha recebido uma semana antes, devidamente revisado. A obra sai pela Opera Graphica.

Também é da editora paulista o terceiro livro de Gonçalo, informação divulgada pelo Blog dos Quadrinhos há três semanas (leia aqui). É assinado em parceria com Álvaro de Moya, o destaque da obra. "O mundo é quadrado – Conversas com Gonçalo Junior" é o fruto de 14 horas de gravação entre o jornalista e o pesquisador Moya, cuja trajetória se confunde com a história dos quadrinhos no país.

Os depoimentos narram a trajetória de Moya tanto nos quadrinhos como na TV, que deve tomar a maior parte do livro. A previsão é que tenha mais de 400 páginas. Álvaro de Moya é autor de "História da história em quadrinhos" e de "Shazam", um dos primeiros livros teóricos brasileiros sobre o assunto.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h41
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03/12/2006

Leitor brasileiro nunca viu tanto Manara como em 2006

Este é o "ano Manara". O leitor brasileiro nunca teve a oportunidade de acompanhar tantas obras do desenhista italiano como em 2006. Os álbuns se alternaram entre as editoras Conrad e Pixel. "Bórgia", "Gullivera", "El Gaucho", "Clic", "A Metamorfose de Lucius", "Pentiti!". Antes de o ano encerrar, outro lançamento: o erótico "Clic 2" (Conrad, R$ 24,90), que começa a ser vendido nesta semana.

A exemplo de tudo o que saiu em 2006, o novo álbum traz todos os elementos que tornaram Manara mundialmente conhecido: belas mulheres com roupa, sem roupa, sensuais, em posições ousadas. A provocante beleza feminina é seu ponto forte. É o fio que une sua produção, independentemente da época.

Esta seqüência de "Clic" faz parte de um primeiro momento de Milo Manara. É uma fase situada nos anos 80, com histórias propositalmente ousadas, voltadas ao voyerismo. No álbum, a protagonista Claudia Christiani, apresentadora de TV, se vê novamente vítima (se é que é esse o termo) do aparelho que, quando acionado, leva as mulheres à loucura. Sexualmente falando, claro. É o pretexto perfeito para que tire a roupa e se sujeite aos caprichos masculinos. Tudo com um clique:

Quem leu o primeiro número, também lançado neste ano, vai perceber que é mais do mesmo. Há a mesma ousadia narrativa nas cenas eróticas, a mesma protagonista, o mesmo aparelho, as mesmas situações, só que em formato diferente. O mesmo predomina. O ar de novidade da história anterior, feita em 1983, perde-se completamente. Mas vai agradar quem gosta do gênero. E traz uma outra leitura da expressão "proteção ao meio ambiente" (fica no ar para não estragar a leitura, mas dá para ter uma idéia do que seja) .

A série teve quatro volumes. É um clássico do gênero. A Conrad informou que pretende lançar os outros dois números dentro da Coleção Eros, voltada aos quadrinhos eróticos. Há um trecho de "Clic 2" no site da editora. São as páginas iniciais da obra. Para ler (com desculpas pelo trocadilho), clique aqui.

Na penúltima obra de Manara lançada no Brasil, "Péntiti!", o desenhista de 61 anos fez ilustrações de três óperas de Mozart. O livro saiu há duas semanas. Leia mais aqui.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 09h24
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02/12/2006

Franquia Toninho do Diabo migra para os quadrinhos

O Enquadrando, evento que ocorre neste fim de semana em São Paulo, traz uma série de lançamentos, a maioria nacionais. Um deles resgata um gênero que já foi muito popular no Brasil, o do terror. "O Diário Negro do Toninho do Diabo" (Vardi, R$ 4,90) traz três histórias de horror com o personagem-título, criado por Antônio Aparecido Firmino. Ele assina uma das aventuras.

Falar que Toninho do Diabo foi criado por Firmino não é força de expressão. Ele já encarnava o personagem bem antes dessa adaptação para os quadrinhos. É uma figura ao estilo de Zé Caixão, com quem tem várias semelhanças: o figurino (o chapéu é indispensável), o diálogo com o terror, as produções filmadas, assumidamente fiéis ao trash movie (uma delas se chama "O Ataque dos Pneus Assassinos", lançado apenas em DVD).

Os filmes são apenas um dos produtos midiáticos do Toninho do Diabo. No site dedicado ao personagem, há o início de uma franquia, da qual a história em quadrinhos é apenas um dos itens. Sobre a revista, Daniel Vardi, autor de uma das três histórias, conta uma curiosidade. Diz que o projeto demorou oito anos para se concretizar. Segundo ele, por causa do preconceito das editoras em lançar um título com o nome diabo estampado na capa.

O lançamento é neste domingo, às 18h, no salão de eventos da loja Devir. Fica na rua Teodoreto Souto, 624, no Cambuci, em São Paulo. Haverá outros lançamentos, como o do novo número da "Front". Leia mais aqui.

Categoria: NOTÍCIA

Escrito por PAULO RAMOS às 16h15
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01/12/2006

Paulo Caruso lança coletânea de Avenida Brasil

Os irmãos Chico e Paulo Caruso são parecidos em tudo. A começar pela aparência. Gêmeos, é difícil saber quem é um, quem é outro. Os dois tocam música, nem todos sabem. O lado mais conhecido deles é o artístico. Mais semelhanças. Chico faz charges para "O Globo". Paulo, para o "Jornal do Brasil". Um cria desenhos de humor para a TV Globo. Outro, para a TV Cultura. Chico Caruso lançou no começo do mês uma coletânea de trabalhos sobre o primeiro mandato do governo Lula. Saiu pela Devir. E não que é o irmão também lança uma reunião de histórias de humor sobre Lula? E pela mesma editora? E no mesmo mês?

"Avenida Brasil – Se meu rolls-royce falasse" (R$ 46) começou a ser vendido nesta semana. Mostra a leitura crítica e bem-humorada de Paulo Caruso sobre os quatro anos de Luiz Inácio Lula da Silva na presidência. É ele o personagem central das histórias da Avenida Brasil, que ele publica há 25 anos no país. No álbum, há material feito para as revistas "IstoÉ" e para o fluminense "Jornal do Brasil", por onde sua avenida atualmente.

O paulistano Caruso explica que a avenida (inicialmente era um bar, o Bar Brasil) é uma metáfora do país. Foi uma estratégia criada para driblar a censura, ainda na época da ditadura. É uma forma de colocar os personagens do mundo político num cenário que não chame tanta atenção. Funcionou. Mesmo com a abertura política, continuou com o mesmo processo de criação.

A grande metáfora deste álbum tem muito de real. Tivemos –e temos- um presidente, ex-operário, que chegou ao Planalto conduzido num rolls-royce. A coletânea começa com essa idéia e, depois, migra para outros fatos políticos que marcaram a primeira gestão do governo Lula. Vai desde a posse e a expulsão de Heloísa Helena e Babá do PT até a eleição e a nova composição da Câmara dos Deputados (com Clodovil). Há também os coadjuvantes. Anthony Garotinho está impagável.

Difícil rotular Avenida Brasil. É charge sem ser charge, é quadrinhos, é caricatura. Não importa. É, acima de tudo, um retrato visual da história contemporânea do país.

Categoria: RESENHAS

Escrito por PAULO RAMOS às 16h18
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Dois megaeventos de quadrinhos no fim de semana em SP

Uma história rara de se noticiar. Dois grandes eventos sobre quadrinhos vão ocorrer no mesmo local, a loja da Devir, em São Paulo. O Enquadrando e a Maratona HQ terão palestras de muitos nomes da área, tanto ilustradores como do meio editorial.

É a segunda vez que a Maratona HQ é realizada. Começa às 10h da manhã deste sábado e termina às 17h do domingo. Com um detalhe: sem parar, madrugada inclusive. O objetivo é vender quadrinhos nacionais e importados da loja da Devir. O desconto mínimo é de 20%. As palestras são uma forma de atrair mais gente. O principal destaque é uma mesa redonda sobre adaptações literárias, com os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon, Fernando Gonsales e Lourenço Mutarelli. Está marcada para as 19h, do sábado.

O Enquandrando está na terceira edição e é promovido pelo jornalista Marko Ajdaric, do site Neorama. Pela primeira vez, vai ocupar dois dias. Vai contar com as presenças de Gualberto Costa, Odair Braz Junior (editor-chefe da Pixel), Worney de Souza (organizador do Prêmio Angelo Agostini), Spacca (autor de "Santô e os pais da aviação"), entre outros. Haverá também sessões coletivas de autógrafos e os lançamentos das revistas "Raio Negro", do álbum inaugural da editora Zarabatana e do último número da "Front".

Para conferir a programação completa da Maratona HQ, clique aqui. Do Enquadrando, aqui.

O salão de eventos da Devir fica na rua Teodoreto Souto, 624, no Cambuci, em São Paulo.

Categoria: DICA

Escrito por PAULO RAMOS às 13h36
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