Schelotto e Schelotto, gémeos no banco do clube do momento na Argentina

Uma dupla de treinadores singular no Lanús, que venceu a Sul-Americana e ainda pode ser campeão

Por Berta Rodrigues       14 de Dezembro às 09:37
Schelotto e Schelotto, gémeos no banco do clube do momento na Argentina
O Lanús ganhou a Taça Sul-Americana e no domingo luta pelo título argentino. Por trás do sucesso do clube que conquistou apenas o terceiro grande troféu da sua história está um nome e dois rostos, iguais. Os gémeos Schelotto, que chegaram ao Lanús há apenas ano e meio e já o levaram longe.

São Guillermo Barros Schelotto e Gustavo Barros Schelotto. Quando chegaram, no verão de 2012, foram apresentados como uma dupla técnica. Mas o primeiro sobressaiu e nesta altura é ele o treinador principal. De qualquer modo tem sempre ao seu lado Gustavo.

É uma singularidade no futebol internacional. Mas funciona bem. Guillermo é o líder. É também, dos dois, aquele que tem maior passado como jogador. É aliás um ídolo dos adeptos do Boca Juniors, com direito desde julho deste ano a estátua na Bombonera, no museu do clube. Ao lado de Maradona, Riquelme e Martin Palermo.

Guillermo, antigo avançado, jogou no Boca Juniors entre 1997 e 2007 e ganhou 16 títulos, 10 dos quais internacionais: quatro Taças Libertadores, duas Taças Intercontinentais, duas Taças sul-americanas e duas Supertaças sul-americanas. Foi no Gimnasio La Plata que começou e acabou. Pelo meio, depois do Boca Juniors, ainda foi para os Estados Unidos. Jogou três anos no Columbus Crew e foi eleito MVP do campeonato norte-americano em 2008.

Gustavo, que era médio, teve uma carreira mais discreta e muito mais movimentada. Também seguiu o irmão para o Boca Juniors, em 1998, e jogou lá até 2000, tendo participado nas equipas que ganharam quatro títulos na Argentina e a Libertadores em 2000. Saiu para jogar em Espanha, no Villarreal. Voltou à Argentina, para representar o Racing, depois o Rosário Central, a seguir o Gimnasio la Plata onde, tal como Guillermo, tinha começado a carreira. Ainda foi para o Peru e para os Estados Unidos, antes de terminar a carreira.

Foi o primeiro dos irmãos a enveredar pela carreira de treinador, como adjunto no Olímpia, do Paraguai, em 2009. Mas o Lanús foi a primeira experiência de ambos como treinadores. Na altura, muitos torceram o nariz à opção do presidente do clube em colocar no banco os dois irmãos, na altura com 39 anos, sem tarimba de banco.

Mas os gémeos deram-se bem. Encontraram no Lanús um clube que lhes deu espaço e tempo para trabalhar. «Receberam-nos muito bem. Recordo-me que perdemos os dois primeiros jogos e na terceira jornada fomos a Vélez e nenhum dirigente nos veio dizer nada. Nessa tarde ganhámos e sentimos esse apoio», dizia ainda agora Guillermo na ressaca da festa da conquista da Taça Sul-Americana, na passada quarta-feira, frente aos brasileiros do Ponte Preta.

O Lanús é um clube quase centenário, que tinha conquistado até hoje dois troféus relevantes: a Taça Conmebol, antecessora da Sul-Americana, em 1996, e o torneio Abertura da Argentina em 2007. É sobretudo, nesta altura, um clube estável. Com contas equilibradas, uma exceção no conturbado futebol argentino, e com uma equipa, mérito dos irmãos Schelotto, que faz um bom trabalho na promoção dos jovens da formação, juntando-os a alguns jogadores experientes.

Esta época reforçou-se com três jogadores que deixaram o Boca Juniors, onde não jogavam, e se tornaram peças fundamentais da equipa dos irmãos Schelotto: o médio Leandro Somoza e os avançados Tanque Silva e Lautaro Acosta.

Os «Gémeos», como lhe chamam na Argentina, levaram ao Lanús um futebol positivo, com personalidade. «Apostámos num futebol com risco, os jogadores assumiram-no e levaram o Lanús ao êxito», diz Guillermo.

Chegaram ao terceiro e quarto lugares no campeonato argentino no primeiro ano, depois conquistaram a Taça Sul-Americana no primeiro título internacional que disputaram e agora chegam à última jornada com hipóteses de lutar pelo título de abertura da Argentina. O líder é o San Lorenzo, que defronta o Velez, também na corrida. O Lanús, a dois pontos, joga com o Newells, a última equipa a lutar pelo título. O máximo a que pode aspirar é garantir um jogo de desempate pelo título.

O trabalho de Guillermo e Gustavo no clube é profundo. «O trabalho dos Gémeos não se limita à primeira equipa, de modo algum. O Gustavo aparece praticamente todos os sábados nos jogos da formação para conversar, para tomar mate. São dois fenómenos», diz um dirigente do clube ao La Nacion: «Se antes os víamos com alguma desconfiança, agora não queremos que se vão, nunca mais.»



A dupla funciona bem. Guillermo assume o primeiro plano, Gustavo trabalha mais na sombra. E compensa alguns excessos do irmão. Guillermo foi suspenso em novembro pela Conmebol por quatro jogos, por protestar um penálti não assinalado. Foi Gustavo quem esteve no banco, embora seja provável que quem não os conheça bem não tenha notado a diferença.

Gustavo está confortável com a situação. «Não me incomoda que o Guillermo ocupe um lugar mais importante que eu perante os jogadores, o resto do corpo técnico ou os jornalistas. A mim o que me interessa é sentir-me bem onde estou e, sobretudo, trabalhar com liberdade. Sempre planeámos trabalhar juntos, é cómodo. Um dia se verá se continuamos a trabalhar juntos ou não», disse Gustavo ao El Gráfico.

Na Argentina todos veem Guillermo no banco do Boca Juniors num futuro mais ou menos próximo. Quando lhe perguntam, o treinador diz que gostaria muito de vir um dia a treinar o seu clube de sempre, mas por agora está ligado ao Lanús. Gustavo vai mais longe. «Vamos dirigir o Boca um dia e seguramente nunca vamos treinar o Estudiantes ou o River. Sei que o Estudiantes não me viria buscar, pelo meu passado no Gimnasia. Com o River passa-se o mesmo: não me vão procurar, estamos muito identificados com o Boca.»

Veja o vídeo de motivação do Lanús para a Taça Sul-Americana




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