PRONUNCIAMENTO DO DIRETOR DO MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL, SR. GAUDÊNCIO FIDELIS, POR OCASIÃO DA CERIMÔNIA DE POSSE DO CARGO (06 DE JANEIRO DE 2010).

Sabemos que o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) é uma das mais tradicionais e prestigiadas instituições museológicas do estado, em virtude de seus mais de 50 anos de existência e do grande número de obras em seu acervo. Por ser fundamental para a constituição do lastro histórico sobre a produção de artes plásticas, propiciando o substrato historiográfico que fundamentará a reflexão sobre a produção contemporânea, é preciso que o MARGS desenvolva um papel estratégico no panorama dos equipamentos museológicos do estado, sendo uma instituição que necessita, por isso mesmo, ter suas atividades realizadas conforme as melhores condições e de maneira extremamente qualificada.

 

Hoje iniciamos uma nova etapa na história do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, por meio da implementação de um projeto administrativo para o museu, com o intuito de colocá-lo em um patamar de relevância técnica e cultural, capaz de fortalecer os programas da instituição e inseri-la em um contexto competitivo pela excelência de suas ações. Em uma época em que novas instituições surgiram no Rio Grande do Sul e outras cresceram ou se profissionalizaram, o papel do MARGS torna-se ainda mais significativo, pois a produção histórica na área de artes visuais precisa receber atenção e visibilidade para que possa subsidiar futuras investidas no universo contemporâneo da produção artística a partir de um lastro histórico qualitativo.

 

Com o objetivo de introduzir e consolidar o Museu de Arte do Rio Grande do Sul no panorama de ponta dos museus do país e colocá-lo, em um futuro próximo, em um padrão de funcionamento em consonância com museus internacionais, vamos introduzir um novo modelo de administração capaz de renovar, a partir de sua base, a constituição de seus programas de exposição e produção de conhecimento. A filosofia de trabalho desta administração estará assentada na qualificação profissional do quadro funcional do museu, dos profissionais da comunidade artística e na implementação de mecanismos que propiciem a experiência qualitativa de seu público.

 

Esta direção instituirá programas de excelência na área de competência do museu, incentivando sempre o envolvimento de seu corpo administrativo e o crescimento contínuo de sua qualificação profissional, ao mesmo tempo em que promoverá instâncias de geração de conhecimento de ponta sobre a história da arte e a cultura visual.

Fundamentada em princípios de uma democracia pluricultural, esta administração primará pela difusão democrática do conhecimento gerado através da visualidade e promoverá o acesso amplo e não discriminatório a todos os membros da comunidade.

Na participação profissional da comunidade artística nas atividades do museu, iremos priorizar a competência técnica e a formação profissional, desvinculada de relações excludentes que habituaram o meio a articular-se, muitas vezes, em grupos de influência.

 

Vamos trabalhar para que o MARGS torne-se um local de referência para a produção artística do Rio Grande do Sul e para que a represente adequadamente diante do panorama artístico nacional através de programas de exposições altamente qualificados.

 

Iremos instituir programas de exposições e geração de pesquisa que sejam representativos da produção brasileira como um todo.

 

Vamos nos voltar igualmente para a América Latina, já que lamentavelmente conhecemos pouco sobre a produção artística de nosso continente. Enquanto até mesmo os museus americanos e europeus têm investido em exposições revisionistas nos últimos anos, que estão reavaliando os precedentes históricos que fizeram da arte euro-americana, aquela tida como a mais original e de vanguarda, os museus brasileiros ainda investem muito pouco na visibilidade da produção de seus vizinhos do continente. Acreditamos, portanto, que o MARGS deva tornar-se uma referência nesse campo ao dar um decisivo passo nessa direção, promovendo exposições que proporcionem conhecimento inovador sobre a arte latino-americana histórica e atual.

 

Iremos inovar em nosso projeto de formação de público, introduzindo novos procedimentos na área de projetos educativos para instituições museológicas que estejam em consonância com a contemporaneidade e os mais modernos meios de orientação didática para programas de museus.

 

A meu ver, a direção do Museu de Arte do Rio Grande do Sul deve demonstrar sobretudo a capacidade de liderança para conduzir o quadro funcional da instituição de forma harmônica e eficiente na execução de programas que venham a suprir as necessidades e expectativas de uma audiência contemporânea. Uma administração conduzida de forma eficiente é aquela capaz de implementar uma programação que propicie aos profissionais da área e ao público em geral a melhor e mais qualificada experiência no espaço do museu.

 

Para tanto, o que se espera é uma direção não só com qualificação profissional e experiência no universo administrativo e curatorial, como também com um amplo trânsito através dos mais diversos segmentos da classe artística profissional e a comunidade que a representa. Acredito que seja fundamental também representar a instituição em um contexto nacional e internacional de diálogo no âmbito museológico de maneira qualificada e profissional.

 

Vamos trabalhar arduamente para motivar o público, os colegas e os apoiadores do MARGS através da excelência de nossos programas e de uma política ampla e democrática para a instituição.

 

Iremos promover, no cotidiano administrativo e na arena pública, a história e a trajetória museológica da instituição, bem como construir um futuro administrativo a partir dela, com vistas em seu passado, mas sinalizando sempre para um futuro eficiente e promissor.

 

Ao longo desta nova administração, vamos trabalhar colaborativamente com um qualificado grupo de profissionais representativos da comunidade artística, com o objetivo de inspirá-los à produção de pesquisa e ao conhecimento qualificado e original.

 

Queremos que esta gestão esteja atualizada com os modelos de administração em artes visuais praticados na contemporaneidade para que a instituição esteja sempre informada sobre a produção artística local, nacional e internacional.

 

Sabemos que é preciso estabelecer uma visão realista e factível do processo administrativo, sem nunca perder de vista os mais altos padrões de gerenciamento museológico.

 

Esta gestão trabalhará para que o MARGS venha a contribuir para a qualificação dos profissionais do meio através do incentivo e financiamento de pesquisa sobre seu acervo por meio de programas de exposições de sua coleção acompanhadas de detalhado trabalho de elaboração teórica produzido por curadores, pesquisadores, historiadores de arte, museólogos e conservadores.

 

Iremos promover de forma qualificada a veiculação desse acervo com grande concentração na produção de conhecimento (uma ênfase que nunca é demais repetir), através da pesquisa, exibição e realização de publicações de alta relevância sobre o acervo da instituição.

 

Iremos empreender a veiculação do acervo da instituição através de exposições temporárias de grande atualidade técnica e conceitual considerando os padrões museológicos vigentes e promover exposições temporárias de relevância, relacionadas à produção histórica e contemporânea também de fora de seu acervo, que venham a estar em consonância com o perfil museológico da instituição.

 

Queremos ainda dirigir o museu tendo em vista tanto as questões de igualdade e diversidade cultural quanto o objetivo de empreender programas que não percam de vista a amplitude que a audiência desta casa deve cultivar como instituição pública ao promover o acesso a suas atividades e a seus programas para a comunidade gaúcha como um todo, contribuindo para a democratização do acesso à produção artística de maneira ampla e irrestrita, considerando sempre os últimos avanços obtidos pela sociedade no que se refere aos mecanismos de inclusão e acessibilidade. Não podemos esquecer que a diversidade é fundamental em uma instituição como esta, já que o olhar é, por natureza, essencialmente diverso.

 

Acredito sobretudo que, para alcançar tais objetivos, seja preciso liderar o corpo administrativo do museu de forma igualitária e justa, levando em consideração o potencial criativo de trabalho de cada um de seus membros em direção ao bem comum da instituição.

 

Faço aqui uma pausa para um agradecimento: obrigado, Sr. Secretário, por esta extraordinária oportunidade e a chance de trabalhar ao lado de Vossa Excelência na direção deste museu.

 

Por fim, gostaria de saudar os funcionários do MARGS nesta gestão que se inicia. Nossa convivência nestes dois dias de transição já demonstra que terei nesta casa um grupo de profissionais com os quais não terei dificuldade de trabalhar.

 

Não posso deixar de lembrar que esta instituição deve muito à generosa atuação e contribuição da Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Para que este museu se consolidasse como instituição forte e atingisse o prestígio que tem junto à sua comunidade, a AAMARGs mostrou ser não só indispensável, mas também parte integrante da própria vida do museu.

 

Quero agradecer aos parceiros do museu e a seu público, mas principalmente à classe artística que aqui comparece. Se hoje estou aqui, é graças ao apoio que tenho recebido dessa classe ao longo dos anos. É para ela que tenho dedicado meu trabalho e, desta vez, não será diferente. Esta casa, nesta gestão, estará aberta ao diálogo com a comunidade artística. É para ela que o museu deve trabalhar, pois não existiriam museus sem artistas, assim como não existiriam diretores, curadores, produtores e toda a gama de profissionais que trabalham com a arte. Tenho plena consciência da responsabilidade pública que carrega o exercício do cargo de diretor desta instituição e pretendo exercê-la com dedicação, entusiasmo e princípios éticos em prol desta extraordinária comunidade.

 

Muito obrigado!

 

Gaudencio Fidelis - Diretor do MARGS