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CASO

David Capistrano da Costa

Dados Pessoais
Nome: David Capistrano da Costa
Data de nascimento: 16 de novembro de  1913
Local de nascimento: Jacampari, distrito do município de Boa Viagem - CE – Brasil
Era casado com Maria Augusta de Oliveira

Organização Política: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Dados biográficos
 
Foi para o Rio de Janeiro com 13 anos de idade e até entrar no Exército, em 1931, trabalhou em bares, botequins. Nesse ano, como cabo e aluno na escola de aviação, conheceu o tenente Ivan Ribeiro que intermediou seu ingresso no Partido Comunista. Participou da ANL (Aliança Nacional Libertadora) e da revolta de 1931, sendo preso, processado e condenado. Em 1936, fugiu da Ilha Grande  (RJ) onde cumpria pena e foi para a Espanha, integrando à Brigada Internacional, na luta contra o fascismo. O republicanismo espanhol, ao dispensar as Brigadas Internacionais, em 1938, acabou por  levar David para a França onde lutou junto a resistência à ocupação nazista .

Em 1946, David Capistrano se elegeu deputado estadual em Pernambuco e passou a ser um dos dirigentes do PCB.
 
Casou-se com Maria Augusta de Oliveira, comunista do estado da Paraíba. Vieram para São Paulo, clandestinos, pois em 1947, o registro do PCB é cassado. Mais tarde foi para o Rio e foi estudar na antiga União Soviética.
 
De volta ao Brasil, em 1957, esteve em diversas regiões do país, até que em 1964, com o golpe militar, David passou a ser perseguido tendo sido cassados seus direitos políticos,  em junho daquele ano. Passou a atuar na clandestinidade. Em 1972, foi para a  então Checoslováquia, como representante do PCB. Em 1974, foi substituído por ter problemas de saúde. Queria voltar ao Brasil.

Dados sobre sua prisão e desaparecimento
 
David voltou clandestinamente ao Brasil, em março de 1974, desaparecendo ao longo do percurso entre a cidade de Uruguaiana e São Paulo, quando viajava de carro, dirigido por outro militante comunista, José Roman.
 
A companheira da David Capistrano, Maria Augusta, foi avisada que ele havia saído de Uruguaiana, em 15 de março, em companhia de José Roman, que foi até lá em um carro Volkswagen com o objetivo de transportá-lo até São Paulo, onde encontraria sua família.
 
Em 19 de março, Lidia, esposa de José Roman, recebeu um telegrama de seu esposo, dizendo que a operação tinha sido bem sucedida e que estava voltando. Em 21 de março, seu filho, Luiz (filho de José Roman), recebeu um telefonema dizendo que seu pai se encontrava preso.
 
Após esta data, nem David, nem José Roman foram vistos ou entraram em contato com seus familiares.

Providências tomadas por seus familiares
 
Lidia Roman, companheira de José Roman, registrou queixa sobre o desaparecimento na delegacia de policia de Itaim Bibi, bairro de São Paulo, capital. Procurou em diversos órgãos de segurança,  mas não obteve nenhuma informação.
 
Maria Augusta de Oliveira,assim como a Lidia, entraram com pedido de habeas corpus, em 25 de março de 1974, por meio do advogado Aldo Lins e Silva, mas os órgãos de repressão negaram sua prisão.
 
Em 9 de julho de 1974, o presidente da França, Giscard D´Estaing, enviou carta ao governo brasileiro pedindo sua intervenção para preservar a vida de David Capistrano, por ser ele herói de guerra, por ter combatido o nazismo naquele país. A embaixada brasileira negou a prisão de David  e informou desconhecer seu paradeiro.
 
O papa Paulo VI  enviou ao Rio de Janeiro missionários para tratar diretamente com o presidente da República, general Ernesto Geisel, esse e outros casos de desaparecimentos por motivação política.
 
Em 7 de agosto de 1974, os familiares fizeram uma reunião com o general Golbery do Couto e Silva, encontro esse que foi intermediado pelo então arcebispo de São Paulo, D. Paulo Arns. Naquela ocasião, o general se comprometeu a dar uma resposta até o final do mês, o que nunca aconteceu.

Informações dadas por agentes policiais publicadas na imprensa
 
Em entrevista à revista Isto É, de 1º. de abril de 1987, o ex-médico e torturador, Amilcar Lobo, que servia no quartel da Policia do Exército, no Rio de Janeiro, onde funcionou o DOI-CODI, declarou que assistiu a diversos presos, nas dependências de uma casa, à Rua Arthur Barbosa, em Petrópolis (RJ) – Casa da Morte -. Procurado pela filha de David Capistrano, Maria Carolina, Amilcar Lobo, contou que o seu pai foi torturado nas dependências daquela Casa, vindo a falecer em conseqüência das torturas.
 
Marival Dias Chaves do Canto, ex-sargento e integrante do DOI-CODI/SP (revista Veja, 18/11/1992) declarou que David Capistrano esteve preso no DOI-CODI/RJ e de lá foi levado para a Casa da Morte , junto com José Roman, onde foi executado e esquartejado, tendo seus restos mortais ensacados e jogados em um rio.   
 
No dia 26/09/1992, foi encontrado um  documento nos arquivos da Secretaria de Justiça do Rio de Janeiro, no prontuário no.3.579 no qual constata-se que David Capistrano esteve preso, pelo menos (alguns) meses depois de seu desaparecimento (ou prisão)  e estava preso no dia 16 de setembro de 1974.
 
No Relatório do Ministério da Marinha, encaminhado ao então Ministro da Justiça, Mauricio Correa, em 1993, consta que
 
[...] desapareceu em São Paulo, no dia 16 de março de 1974. Pertencia ao Comitê Central do PC, tendo sido preso na unidade de atendimento do Rocha, em São Paulo/SP.
 
A revista Isto É, de 31 de março de 2004, os desaparecimentos dos dirigentes do PCB faziam parte de uma investida contra o partido, cujo comando da operação ficou a cargo do chefe do DOI, coronel Audir dos Santos Maciel, codinome Dr. Silva:
 
[...] prender e executar os membros do Comitê Central do PCB, sem deixar pistas. Os assassinatos ocorreram em chácaras clandestinas para facilitar a ocultação de cadáveres.
[...] Apelidada de “Operação Radar”, resultou na morte de 11 membros do Comitê Central. Além de destruir as gráficas clandestinas do partido, a repressão desmantelou seus diretórios nos estados, em operações que prenderam 679 pessoas.

 
Segundo declarações de Marival Dias Chaves do Canto (ex-agente do DOI-CODI/SP), na revista Isto É , de 24 de março de 2004, em reportagem intitulada Os Matadores:
 
Em 1974, quando trabalhava em São Paulo, ele (Marival) diz ter visto o coronel Brant (José Brant Texeira) chegar ao DOI-CODI com os dirigentes comunistas José Roman e David Capistrano, presos quando tentavam regressar ao Brasil pela fronteira do Uruguai.Segundo ele, ambos foram transferidos para a “Casa da Morte”, em Petrópolis, onde foram9 assassinados.

Seu nome consta no anexo da Lei 9.140/95, como reconhecimento  de sua prisão e morte sob responsabilidade do estado. 
 
Informações tiradas do Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil 1964-1985. (IEVE- Instituto de Estudos Sobre Violência do Estado e Imprensa Oficial, São Paulo, 2009)
 
 

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