ATROCIDADES
VEJA, Abril de 1915
Alemanha usa gás de cloro em ataque fulminante
- Cinco
mil
soldados morrem em apenas dez minutos - Germânicos reagem
à
indignação
internacional dizendo que franceses fazem o mesmo
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A nuvem fatal: soldado alemão escapa em meio ao cloro - só os soldados germânicos tinham máscaras para se proteger |
pequena e charmosa cidade de Ypres, na Bélgica, já
havia entrado no mapa da guerra no final do ano passado, por causa
de uma das mais ferozes contendas entre britânicos e alemães
nesta Grande Guerra. Naquela ocasião, os homens da Força
Expedicionária Britânica, na maioria veteranos da Guerra
dos Boeres, atropelaram os jovens estudantes voluntários
que compunham as oito unidades germânicas em uma carnificina
que ficou conhecida na Alemanha como "O Massacre dos Inocentes
de Ypres". Em busca da vingança, os alemães lançaram
no último dia 22 de abril uma avançada mortífera
que não apenas surpreendeu os aliados como também
causou ultraje na opinião pública internacional. Cinco
mil mortos em dez minutos, sem derramamento de sangue: é
o resultado assombroso do ataque com gás de cloro às
frentes aliadas em Ypres. É a primeira ofensiva do gênero
a ser registrada em larga escala na história militar do planeta.
De acordo com o relato de sobreviventes, "apocalipse"
é uma palavra que descreve com exatidão a batalha.
Os alemães dispuseram 22.000 cilindros contendo 160 toneladas
de gás no front de Langemarck, ao norte de Ypres, cujas fronteiras
eram defendidas por franceses e canadenses - a primeira divisão
imperial britânica a chegar ao front europeu. Na ensolarada
tarde de 22 de abril, depois de um bombardeio voraz, uma nuvem cinza-esverdeada
começou a viajar das trincheiras alemãs em direção
aos oponentes. Em questão de poucos minutos, o pânico
se instaurou entre os aliados, que, desesperados, com as mãos
na garganta, cambaleantes, tossiam em retirada. Dos 10.000 homens
que defendiam a cidade belga, a metade morreu em consequência
do efeito asfixiante do gás, que mata ao forçar os
pulmões a produzir fluidos suficientes para afogar a vítima.
Outros 2.000 aliados, inertes, foram capturados pelos alemães.
Munidos de modernas máscaras respiratórias, avançaram
com tranquilidade pelos três quilômetros de linhas de
frente abandonados pelos defensores.
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Um novo adereço bélico: soldados agora têm de marchar com rostos cobertos |
Quid pro quo - Na verdade, as forças tedescas já
haviam usado projéteis com brometo xílico (conhecido
como gás lacrimejante) no início do ano, contra tropas
russas no rio Rawka, a oeste de Varsóvia. Porém, as
temperaturas baixas neutralizaram o efeito do agente químico
- e ele congelou em vez de se vaporizar. A revolta generalizada
diante da matança em Ypres se dá porque a Alemanha
é uma das signatárias da Convenção de
Haia, que proíbe terminantemente o uso de armas químicas
ou venenosas. Das grandes forças mundiais, apenas os italianos,
os americanos e os turcos não assinam o pacto. Desde o final
do século passado, cientistas alertam para o potencial apocalíptico
desta qualidade de armamento de destruição em massa.
Todos sabiam, porém, que era questão de tempo até
que ela fosse usada num front de guerra.
Cientes da péssima repercussão do assalto em Ypres,
os alemães preparam um dossiê para justificar seus
atos, alegando que foram os franceses os primeiros a rasgar a Convenção
de Haia ao lançar granadas com gás ainda no início
da guerra. Circula ainda nas câmaras militares alemãs
um documento interceptado do Ministério da Guerra francês,
datado de 21 de fevereiro, detalhando as aplicações
e as medidas de proteção a serem tomadas pelas tropas
quando do uso de granadas e cartuchos com gases que estariam sendo
fabricadas pelas fábricas francesas. "Para todos que
mantiverem um julgamento imparcial, os documentos oficiais a serem
apresentados pela administração militar alemã
serão suficientes para provar o uso anterior de gases asfixiantes
por nossos oponentes", garante um oficial alemão, que
pediu anonimato até a divulgação do material.
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