ISSN 1807-1783                atualizado em 05 de junho de 2012   


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"Êta festança boa": representações jornalísticas dos festejos juninos em Belém nos anos de 1950

por Elielton Benedito Castro Gomes

Sobre o artigo[1]

Sobre o autor[2]

O presente artigo propõe-se a analisar os discursos dos cronistas paraenses, presentes nos periódicos da cidade de Belém, Pará, principalmente em revistas e jornais que circulavam no estado, no que se referem às representações dos festejos juninos na cidade nos anos de 1950, mais precisamente, as discussões sobre o "tradicional" e o "moderno" presentes nas referências periódicas de uma "festa ruralizada" em um ambiente urbano. Esses cronistas nos apresentam um forte saudosismo em relação aos festejos juninos de suas "meninices" e adolescências, sobre os quais desde pelo menos meados do século XX é possível encontrar relatos, em jornais e revistas da cidade, marcados pela nostalgia relativa às então chamadas "festas joaninas de antigamente". Neste trabalho, darei destaque às crônicas de intelectuais paraenses disponíveis na "Amazônia: Revista da Planície para o Brasil", assim como aos recortes de noticias presentes nos jornais "O Liberal", "A Província do Pará" e "Folha do Norte" dos anos de 1950.

Introdução

Em junho... Noites de São João... Luares

de opalescência delicada e morta!

Fogueiras ardem pela nossa porta,

fugitivos balões passam nos ares.[3]

As notícias sobre os festejos juninos começam a surgir nos periódicos da cidade de Belém de 1950[4] a partir de maio, aproximadamente os dez dias que antecedem o inicio do mês da fogueira, das adivinhações, dos balões coloridos que embelezavam o céu da cidade; mês em que mesmo "sem um tostão no bolso chegamos em casa com o estomago cheio"[5]; mês dos sortilégios; mês em que "lindas roceiras com seus vestidos de chitas, desfilarão em torno da fogueira arriscando a 'sorte' num próximo enlance"[6]. Nessas páginas, encontramos anúncios de casas de fogos de artifícios, lojas de tecidos, bebidas e artefatos presentes na quadra junina. É no mês de maio que começavam as divulgações e preparações para a festa que envolve todos a comemorar o ciclo festivo junino, seja esse de uma forma "tradicional" ou "moderna".
Os anúncios em destaque nas páginas dos jornais e revistas que circulavam em Belém estavam relacionados, em sua maioria, com vendas de fogos de artifício, de tecidos e bebidas legalizadas, como refrigerantes, cervejas e whisky. O título do artigo em questão, "Êta festança boa", presente nas páginas do jornal "A Província do Pará" do dia 24 de junho de 1959, faz parte de um grupo de propaganda colhida durante o levantamento das fontes necessárias para a pesquisa realizada nos periódicos de Belém. O anúncio adota a seguinte forma:

Êta festança boa!

No seu "arraial" não pode faltar Coca-Cola... Coca-Cola "vai bem" com a festa... com o casamento... com os fogos!

Peça, hoje mesmo, seu suprimento de Coca-Cola... e garanta o sucesso de sua festa junina!

SÍMBOLO DE BOM-GÔSTO

O destaque dado à frase "SÍMBOLO DE BOM-GÔSTO" é também representado na charge que busca descrever as relações sociais dentro da festa. Na figura em questão, está presente uma moça, provavelmente da classe alta belenense, vestida de nova caipira, rodeada por rapazes, vestidos com "trajes matutos", que seguram em suas mãos, cada um, uma garrafa de Coca-Cola. A intenção da propaganda é mostrar que o moço que bebe Coca-Cola tem mais chance de conquistar a mulher desejada, e que a mulher que escolhe o rapaz que toma Coca-Cola tem bom gosto.
Outros anúncios de destaques nas páginas dos periódicos da cidade estão relacionados com os as vendas de fogos de artifícios e tecidos usados na "quadra junina".

Entre os festejos populares organizados na cidade nos anos de 1950, o festejo junino destacava-se por ser o momento em que a alegria popular invadia os clubes de sociabilidade[7], terreiros de rua e escolas, animadas sempre por grupos de jazzes orquestras[8], pau e cordas ou pick-up sonoros[9] que tocavam os mais variados ritmos musicais (polca, mazurca, xaxado, valsa, ritmos latinos; etc.), buscando alcançar, ao máximo, a satisfação dos brincantes. Esse festejo, de origem europeia, "recuperou no Brasil a sua expressão de festa laica e popular, mesmo com a influência da igreja católica desde a sua colonização no século XVI."[10]. Esse ciclo festivo, que se iniciava, segundo as referências jornalísticas, a partir do dia 12 de junho e se prolongava até o dia 31 desse mesmo mês, desde pelo menos o século XIX, tem como característica marcante ser uma festa ligada aos lares, famílias, vizinhos, buscando, de alguma forma, "suportar o trabalho, o perigo e a exploração" e reafirmar "laços de solidariedade ou permit(ir) aos indivíduos marcar suas especificidades e diferenças"[11].

Percebe-se que os festejos juninos realizados em Belém nos anos de 1950, apresentados pelas folhas dos periódicos da cidade, não estão diretamente ligados às questões religiosas, ou seja, não busca necessariamente comemorar o sagrado, o santo (neste caso: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal), mas sim, fazem usos dos dias dessas entidades sacras como ponto estratégico para a realização dessas festas, procurando atrair um número significativo de brincantes para os espaços festivos. Em relação a isso, alguns intelectuais paraenses vão se manifestar contra a então "substituição" ou transformação desse ciclo festivo, como foi explanado pelo jornalista e poeta José Rodrigues Pinagé, em sua crônica "Bilhete ao outro São João":

Não me empolga o João de pés descalços, passeiando displicentemente por sôbre as brasas da fogueira que os devotos acendem para que Êle não durma e possa assistir na terra o dilúvio de fogo. Não conheço o João do copo dagua, da clara do ovo formando barcos de velas brancas e pandas, a premeditarem e prometerem uma próxima viagem ao incauto penintente. Não me impressiona o Batista da moeda de cobre atirada no brazido para que, ao dia seguinte, se transforme em moeda de prata com a efigide do mancebo sonhado. Não me convence o João que escreve, à meia-noite, iniciais dos nomes das futuras noivas ou noivos gravadas na lâmina aguçada que se entranha no ventre da bananeira virgem. (...) Não me alegra o João dos banhos de cheiro cuja combinação de aromas vegetais deixa o corpo trescalando à felicidade. (...) Meu João Batista, meu verdadeiro Yokanã, é aquele que as mãos intangíveis de Jesus, molharam, dos pés à cabeça, nas águas do Jordão, emprestando ao batismo o sentido da alta purificação espiritual. E' aquele que, abraçando o cordeiro do seu rebanho, simboliza a mansidão, o respeito e a igualdade entre todos os sêres vivos. Meu João Batista é o grande sacrificado, cuja cabeça humilde, em holocausto, na impossibilidade do amor correspondido, ensanguentara a vaidade do trono de Herodíades, quando Salomé, sem lágrimas e sem crenças, santificara os dedos no sangue do resignado apóstolo.[12]

O título da crônica de Rodrigues Pinagé, assim como a análise do texto, nos direciona ao juízo de que há dois sentidos dados á festa realizada no mês de junho. O primeiro está relacionado com a ideia de profano, do popular, sendo esse, aos olhos do cronista, o que mais se destaca na cidade; e o segundo remete a concepção de que a festa busca comemorar o sagrado, o religioso, que, para Pinagé, é o sentido profundo do festejo, o qual vem perdendo espaço no meio urbano.

O estudo das crônicas presentes nos periódicos paraenses é de suma importância, pois elas trazem em seus discursos as transformações que ocorreram nos âmbitos sociais belenenses, bem como as diversas formas das relações sociais que se davam na cidade. No presente trabalho, é dado destaque a grandes escritores que se preocuparam em escrever sobre conteúdos diversos, que discorriam sobre assuntos femininos a questões políticas, onde as festas, fossem elas "joaninas" ou não, tiveram também destaque entre os temas propostos.

Os discursos dos cronistas paraenses, presentes desde, pelo menos, meados do século XX nas folhas dos periódicos de Belém, expressam um forte saudosismo referindo-se aos festejos juninos de antigamente. Alguns letrados da época chegaram a escrever sobre a festa junina, enfatizando a ideia de que tal festejo estava perdendo sua "essência", ou seja, suas raízes.

Intelectuais como Rodrigues Pinagé[13], acima citado, Lindanor Celina[14], Georgenor Franco[15], Bruno de Menezes[16] e Cândido Marinho Rocha[17] tiveram um papel fundamental na construção da história paraense, principalmente às questões que giravam em torno da cultura[18].

No presente artigo, são enfatizadas as crônicas desses intelectuais paraenses que se preocuparam em deixar nas folhas dos periódicos um pouco de sua memória festiva, dando, também, ênfase aos anúncios jornalísticos, nos quais os festejos populares ocupavam uma parcela significativa nos anos de 1950.

"Era Junho o mês" [19]

As choupanas se transformam em palácios coloridos e iluminados e os palacios se trasmunham em choupanas enormes, ruidosas e garridas. Todos se tornam roceiros amáveis, de face e fala simplória e simpática. Os letrados "viram" pescadores, os ricos são apenas remadores satisfeitos; as mocinhas em vestidos de chita, as damas de sandalia cheirosas; os moços contentes nas calças curtas com remendos de tecido novinho; os pobres dançam nos "cordões", cantando felicidade; os velhos, sorridentes, recordam. E todos são compadres e amigos.[20] (ROCHA, 1955, s.n).

Os discursos dos escritores e redatores da imprensa paraense nos mostram que, na segunda metade do século XX, os festejos juninos em Belém possibilitavam aos brincantes uma construção simbólica da festa do interior, não somente na organização dos ambientes de sociabilidade, mas nas características do homem interiorano, ou seja, nos seus trajes, costumes e fala. Além disso, os anúncios das festas juninas nas folhas de jornais em Belém também em muito idealizavam o rural como pano de fundo das festas.

No trecho tirado da crônica de Cândido Marinho Rocha, nota-se uma espécie de jogo com os opostos. O intelectual, como nos apresenta Roger Chartier, mesmo que inconscientemente, nos expõe a ideia de que "a celebração de uma cultura popular em sua majestade se inverte em uma descrição "em negativo"; o reconhecimento da igual dignidade de todos os universos simbólicos dá lugar à lembrança das implacáveis hierarquias do mundo social"[21].

O folclorista brasileiro Edison Carneiro, que esteve presente em Belém no início dos anos 50, nos mostra que essa construção simbólica das características interioranas nas áreas urbanas, não era exclusividades das regiões Norte e Nordeste do país, pois poderiam ser encontradas nas festas e bailes organizados nas demais regiões do Brasil. Assim como as fontes consultadas nos periódicos paraenses da década de 1950[22], o folclorista mostra-nos ainda que estereótipo do indivíduo do campo é algo corriqueiro no período de festa, sendo abandonado logo após a quadra festiva, onde tudo voltava à "normalidade"[23].

Para Luciana Chianca:

A figura do homem interiorano, com seus traços, suas roupas e seus trejeitos, assumem lugar central na festa de São João, mas estereotipada pelo olhar urbano, seguindo uma tradição que vem desde o Jeca Tatu de Monteiro Lobato, esboçada no livro Urupês (1918) e consolidada na propaganda do Biotônico Fontoura. Outros personagens reforçariam essa imagem, como o Jeca Tatu dos filmes de Mazzaropi e o Chico Bento, criado em 1961 e publicado em histórias em quadrinho de Maurício de Souza[24].

Para essa autora, o estereótipo do homem interiorano passou a ganhar destaque nas festas realizadas nas cidades pelo fato de ele ser "considerado 'mais puro' que o [homem] da capital", pois representa "a nostalgia e a idealização do passado dos imigrantes que hoje vivem nas cidades". Isto coincidiu também com o período de expansão urbana no Brasil, onde uma grande parte de famílias que vivia no meio rural passa a migrar para os centros em desenvolvimento. Em Belém, esse processo de expansão da cidade, principalmente para as áreas periféricas, como nos diz Leila Mourão[25], deu-se sobretudo, a partir dos anos 50 e acelerou-se após os anos 60.

Os anúncios de festas que idealizavam a construção simbólica do rural como pano de fundo, e que buscavam se igualar ao máximo às festas de antigamente ou ás festas realizadas nos sertões nordestinos, eram muito presentes nas páginas dos periódicos paraenses. Chega-se a tal conclusão por meio dos destaques dados a esses anúncios: sobressaem os anúncios de festas "onde predominava as expressões como "São João na Roça", "São João no Sertão" e "Uma Noite no Sertão", como título da festa, sugerem uma intenção de promover uma versão estilizada de um mundo caipira na cidade"[26].

As fontes evidenciam que aos poucos as características do homem interiorano iam ganhando destaque nos festejos juninos realizados no meio urbano, porém, esse matuto, representado nas festas juninas na Belém desse período, quase em nada se assemelhava com o homem do interior da Amazônia, como pode verificar nos anúncios das festas, os quais evidenciam que nos bailes realizados nos clubes de "sociais" e de "subúrbio", além dos brincantes, "os conjuntos de buate também tentam imitar se transformando em 'bandinhas do sertão', tocando falsos baiões e falsas quadrilhas"[27].

Segundo o Antropólogo e Folclorista paraense Vicente Salles, que escreveu a apresentação do cordel "A Festa de São João no Pará e Inimigos do Corpo", de autoria de Apolinário de Souza, essas características do homem interiorano nas festas juninas paraenses, estão mais próximas da realidade do homem do sertão nordestino do que do amazônico. Talvez isso se explique pelo contato dos intelectuais paraenses com as obras de escritores nordestinos, reconhecidas pela produção em grande quantidade de livretos de cordéis que passaram a circular nas cidades do Pará, assim como do contato com os próprios migrantes nordestinos, os quais, em virtude da seca que assolava o sertão nordestino, vieram para a região Norte, em busca de melhoria de vida[28]. Esse, quem sabe, seja um dos motivos para haver uma forte presença dos símbolos rurais nos festejos juninos belenenses, encontrados em grande parte nas festas juninas nordestinas[29].

O escritor paraense Georgenor Franco, cronista de grande destaque nas páginas das revistas e jornais da cidade nos anos 50, nos apresenta em sua crônica "Cai, cai, balão! Acenda a fogueira em meu coração!" uma espécie de história dos festejos juninos e seus símbolos. O autor se preocupa em explicar a origem desse ciclo festivo, assim como esclarecer quais os motivos de serem usados alguns símbolos que compõe, até hoje, o festejo em questão.

Segundo Georgenor Franco, "os etnólogos assinalam que a origem da fogueira, que se acende na noite de São João, hoje usada nas noites de Santo Antônio e São Pedro, se prende à tradição de ter sido por meio de uma fogueira que Izabel anunciou a sua prima Maria o nascimento do Bastista.". Para esse autor, a presença da fogueira em tais festejos se dá justamente pelo fato de que ela "simboliza consequentemente a comunicação do acontecimento"[30]. Luciana Chianca nos apresenta uma ideia bem próxima da descrita por Georgenor Franco. Segundo a autora, logo após o nascimento de João Batista, Izabel ordenou às pessoas mais próximas da casa: "ACENDE A FOGUEIRA, JOÃO NASCEU!", talvez fosse essa a melhor forma, no período, de se comunicar com sua prima Maria, que também estava grávida, e dar a notícia de que seu filho João acabara de nascer[31].

Com o decorrer do tempo, as discussões em relação à utilização desse elemento simbólico nas festas juninas vão se modificando, sendo readaptada e conectada ao contexto do qual está fazendo parte. No contexto da colonização do Brasil, Georgenor Franco nos diz que "os indígenas se deixavam atrair pelas festas sempre que havia alguma cerimônia, 'como dia de São João Batista, por causa das fogueiras e capelas'"[32], já para Chianca "a fogueira e os fogos de artifício despertavam a simpatia dos nativos, ajudando na aproximação entre índios e religiosos"[33]. Com isso, percebe-se que a utilização das fogueiras nas celebrações festivas era uma espécie de estratégias de aproximação e vínculo de confiança para com os nativos das terras recém-descobertas.

No contexto dos anos de 1950, a presença dessas fogueiras estava, de alguma forma, conectada com as crendices e superstições que de ano em ano, no mês de junho, rodeavam o imaginário do povo paraense, quiçá dos brasileiros. Segundo Renato Almeida, as superstições/crendices têm a capacidade de aprisionar a maioria das pessoas "através de seus temores, de coisas ou seres que lhe podem dar sorte ou azar, que fazem o bem ou o mal..."[34]. Para Luciana Chianca, essas crendices eram uma espécie de "herança" pagã, que muito influenciou nos costumes portugueses e, que junto desses migraram para o Brasil, sendo motivo de "tensões políticas e sociais", pois as "adivinhações, os batismos e casamento de fogueira desagradavam às autoridades"[35].

Eram variadas as crendices e simpatias que faziam parte da festa junina do século XX. Iam desde a utilização de cabelos até de elementos que compunham a mesa do cidadão brasileiro. A crônica de Georgenor Franco, citada anteriormente, nos apresenta algumas dessas crendices. Vejamos:

Para achar casamento espontâneo: As moças cortam as pontas de seus cabelos, se o forem cumpridos, e os atira no buraco onde vai ser erguido o mastro da bandeira junina.

Moeda na fogueira: Coloca-se uma moeda na fogueira de São João, e pela manhã retira-se do braseiro e dá-se de esmola ao primeiro pedinte, perguntando-se-lhe o nome. Será este o do futuro esposo. Se for rapaz, a moeda deve ser dada à primeira esmoler.

Sombra na água: A pessoa curva-se sobre um rio, um açude, ou mesmo uma vasilha com água, procurando divisar as afeições retratadas. Se não aparecer, não chegará a outro São João. Morre no duro.

Mesa Posta: A jovem deve guardar um bocado de tudo alimento que tomar nas diversas refeições, arranjando assim um pratinho que é posto sobre uma mesa. Indo deitar-se a moça sonhará com o homem com quem deverá unir-se, mas tarde, pelo matrimonio. E verá muito bem o rosto do rapaz, de maneira a reconhecê-lo no seu prometido[36].

Com isso, percebe-se que os costumes considerados pela Igreja e pelo Estado como pagãos, utilizados nas festas juninas realizadas na colônia portuguesa, faziam, ainda nos anos de 1950, parte desse ciclo festivo, porém, de uma forma readaptada ao contexto da segunda metade do século XX, e isso vai mais além, pois a crença no sobrenatural como "instrumento de cobiça" permanece até os dias atuais, tempos no quais tal prática não possui mais o caráter de pecado, sendo, agora, parte de uma "tradição" popular religiosa.

É interessante notar que essas referências de simpatias presentes nos textos jornalísticos e nas crônicas de revistas dos anos 50 estavam direcionadas a um público feminino, considerado pelos diretores das revistas como alvo de destaque nas compras de revistas de variedades.

Outra autora de grande importância neste trabalho é a escritora paraense Lindanor Celina, que nos mostra, já no título de sua crônica, "Cadê meu São João?", um discurso em relação ao "desaparecimento" ou substituição da "tradição" pela então "ultra-civilização", pela urbanização, ou seja, pela modernização da época:

É inútil, somos civilizados, da geladeira, do gás butano, da televisão, não mais somos da roça. E por mais que queiramos uma quadra joanina parecida com a de outrora, cadê côr local, cadê ambiente? Nas grandes cidades, São João é apenas barulheiras, foguetório, quem sabe lá o que é um aluá? É São João de pick-up, de fogos perigosos, os "cabeça - de - negro" matando menino e até mesmo gente grande, tão diferentes dos antigos e inofensivos "busca-pés", que faziam correr, soltando gritinhos nervosos as sinhazinhas de antanho[37].

O sentimento nostálgico, presente na crônica de Lindanor Celina era algo corriqueiro nos periódicos de Belém. Desde pelo menos os meados do século XX é possível encontrar relatos marcados por saudosismo relativo às então chamadas "festas joaninas de antigamente".

A escritora constrói um discurso onde se percebe que, mesmo com as críticas dos jornalistas tradicionalistas a favor de uma organização e comemoração de um festejo junino mais ruralizado ou familiar, o mesmo vai perdendo força dentro de Belém e, com isso, passam a se intensificar as características do meio urbano, onde o que predomina é uma versão mais estilizada da modernização da cidade. Sobre isto, Néstor Canclini nos direciona à concepção de que a tendência à modernização não provoca o desaparecimento das culturas tradicionais, mas nos proporciona saber de que forma o dito tradicional se transforma e como esse interage com as forças da modernidade[38].

Por meio das análises das fontes, percebe-se que os cronistas da imprensa paraense almejavam influenciar com seus discursos os organizadores dos festejos juninos na cidade de Belém na década de 1950, através de uma lógica totalmente "tradicional", lógica essa que, aos olhos de muitos, deveria ser estática, sem nenhuma influência do novo que surgia, ou seja, do que se vivia no momento.

A crônica "Cadê meu São João?" nos apresenta bem o que diz Canclini sobre o papel do "moderno" e do "tradicional". Para esse autor, os tradicionalistas e os modernistas buscavam construir objetos puros acreditando que suas culturas não estavam sujeitas a influências externas. Os primeiros "imaginaram culturas nacionais e populares autênticas", buscando se "preservar" do novo que surgia, da industrialização, da massificação, já os últimos imaginavam que não havia "fronteiras territoriais", pois procuravam inovar suas "fantasias de progresso". Entretanto, percebe-se que aquilo que é visto como tradicional "não é apagado pela industrialização", pelo novo que está surgindo, pois o novo pode em alguns casos "diminuir o papel do culto e do popular tradicional", mas não os fazem entrar em extinção[39]. O processo de modernização que tanto incomoda Lindanor Celina e os outros intelectuais paraenses, no caso dos meios de comunicação, como o rádio e a TV, são responsáveis por difundirem maneiras de se comportar, propor estilos de vida, além dos modos de vestir e falar[40] (SANTOS, 1987, p. 69).

Esse processo de transformação da cultura é visto por José dos Santos como algo criativo. Para esse autor, a cultura sobrevive de acordo com as transformações que acontecem com o decorrer dos tempos, pois esta tem por sua própria condição um aspecto dinâmico, estando preparada para se adaptar às mudanças sociais que ocorrerem. Ele nos diz ainda que "nada do que é cultural pode ser estanque, porque a cultura faz parte de uma realidade onde a mudança é um aspecto fundamental"[41]. Portanto, pode-se concluir que sendo o homem resultado do meio social em que vive, como nos diz Roque de Barros Laraia, de alguma forma passará a interagir positivamente com as transformações ocorridas em seu ambiente de sociabilidade, permitindo, mesmo que de início resista, as inovações e invenções[42].

Lindanor Celina, assim como Georgenor Franco, nos apresenta em seu texto, a partir de uma visão elitista do popular, os costumes do povo paraense em relação às crendices e superstições realizadas durante os festejos juninos. Segundo essa autora:

As adivinhações da clara do ôvo no copo dágua, os vintens (quem ainda conhece vitem?) que a gente jogava na fogueira crepitante, para manhãzinha, ao alvorecer, ir apanhá-los, catando-os por entre as cinzas ainda quentes, para dá-los ao primeiro pobre que passassem cujo nome seria, infalivelmente, o do nosso prometido. Ainda me lembro de um beberrão a quem perguntei, ansiosa, o nome e ele respondeu, entre tombos, a voz pastosa: "Colondino, menina". Esfriei. Sabe lá o que é casar com um homem chamado Colondino? E o banho de igarapé, à meia - noite, água geladíssima, os garrafões de cheiro, para dar sorte?[43].

Ao fazer os levantamentos e análises das fontes, percebi que são poucos os discursos sobre tal assunto nos jornais e revistas do Pará de 1950, mas quando esses surgem nas páginas dos periódicos, é dado um grande destaque, principalmente, aos banhos de cheiro tomados na virada do dia 23 para o dia 24 de junho. Segundo a tradição, esse banho proporciona felicidade, sorte e muita saúde até o próximo São João, data em que se renovava tais pedidos com outro banho. Bruno de Menezes, em seu livro "Batuque", nos apresenta, ainda nos anos de 1930, um pouco de sua memória em relação a tal costume:

São das capelinhas, dos banhos felizes, recendendo a raízes raladas e trevos e pripioca dos cheiros cheirosos que se grudam na pele da gente e vão passando pra dentro. São João dos terreiros suburbanos, com mufuás nos currais enfeitados de palhas de açaí. São João do tempo do "Pé-de-bola", do maranhense Golemada, do meu padrinho Miguel Arcanjo. [...] Por que não é mais o mesmo meu São João do passado?![44].

Percebe-se que com um tom bem nostálgico o autor nos apresenta os festejos juninos do período de sua juventude, bem como nos apresentou a escritora Lindanor Celina em relação aos festejos juninos de sua infância e adolescência. Além disso, percebe-se também que esses autores, principalmente Bruno de Menezes, nos apresentam as festas realizadas no subúrbio belenense como as mais próximas da realidade do campo.

Considerações Finais

É importante deixar claro que a festa, seja ela junina ou não, "mantém vínculos importantes com o tempo em nossa sociedade"[45], pois é também a partir dela que podemos perceber quais foram os fatores que contribuíram para as relações e transformações de uma determinada sociedade.

A imprensa da cidade, ao divulgar os festejos juninos em Belém, nos mostra que tais celebrações passaram a ser reinventadas sempre em função das expectativas dos brincantes, expectativas essas que se pautavam na necessidade de se viver dentro do modelo "tradicional", ou seja, uma festa mais ruralizada, ou em um modelo "moderno", onde o que predominavam eram os elementos da urbanização. Vale lembrar que, em relação a isso, Néstor Canclini nos mostra que a tendência à modernização não provoca o desaparecimento das culturas tradicionais, mas nos proporciona saber de que forma o dito tradicional se transforma e como esse interage com as forças da modernidade.

Compreende-se também que, para a maioria dos intelectuais paraenses o mês de junho é o período responsável por uma espécie de "encanto e lirismo" que "aproxima as pessoas e reduz um pouco, pela simplicidade de seus motivos, a vaidade humana"[46].

Como podemos ver, essas festas serviam para construir e ao mesmo tempo solidificar os laços sociais entre os indivíduos das camadas sociais da cidade, tornando uma manifestação da vida de cada sujeito, onde as pessoas celebravam suas festas e, ao mesmo tempo, suas identidades culturais em uma só festividade, sendo essas "tradicionais" ou "modernas", satisfazendo as vontades dos brincantes. Com isso, percebe-se que as práticas culturais estão em constante movimento, expostas sempre a uma reinvenção festiva.

Com esse artigo, propôs-se fazer uma discussão a cerca da presença das festas, nesse caso, os festejos juninos, em Belém nos anos de 1950, por meio de um discurso nostálgico.

Referências

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[1]Este artigo é resultado da pesquisa "Ecos do São João que passou: representações dos cronistas da imprensa paraense sobre os festejos juninos de Belém nos anos de 1950" desenvolvida durante os anos de 2011/2012 e orientada pelo professor Dr. Antonio Maurício Dias da Costa. A execução da pesquisa conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (FAPESPA). Agradeço a todos os integrantes do grupo de pesquisa "História, Cultura e Meios de Comunicação", que colaboraram direta ou indiretamente com esse trabalho.

[2] Graduando em Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal do Pará. Bolsista de Iniciação Cientifica financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (FAPESPA). Email: elieltonbcgomes@bol.com.br

[3] MORAIS, Orlando de. JUNHO. Amazônia: Revista da Planície para o Brasil, Ano 1, jun. 1955.

[4] Os periódicos consultados durante a pesquisa foram "O Liberal" (maio/junho de 1951, 1952, 1953, 1954, 1958 e 1959), "A Província do Pará" (junho de 1950-1959), "Folha do Norte" (junho de 1950-1959) e a "Revista Amazônia" (junho de 1955, 1956 e 1957), todos alocados na Biblioteca pública Artur Viana, Centro Cultural Tancredo Neves (CENTUR), em Belém.

[5] Mês da Fogueira. A Província do Pará, Belém 02 jun. 1951.

[6] Santo Antônio na Roça. O Liberal, Belém 13 jun. 1952.

[7] A imprensa paraense classifica os clubes de sociabilidade, locados no meio urbano, considerando sempre as diferenças entre os localizados no subúrbio belenense, denominados de "clubes de subúrbio", e aqueles localizados nos bairros nobres da cidade, classificados como "clubes sociais", "aristocráticos", "elegantes" ou "chics". Vale enfatizar que a imprensa paraense, ao anunciar as festas, fossem elas "joaninas" ou não, buscava fazer uma alusão de destaque dos festejos realizados nos "clubes sociais" de Belém.

[8] Os principais grupos de "jazzes orquestras" que ganhavam destaques nas folhas dos periódicos da cidade eram: "Batutas dos ritmos", liderado por Sarito; "Jazz Internacional", liderado pelo Professor Candoca, mais conhecido como o "Mago da Viola"; "Jazz Orquestra Martelo de Ouro", liderado por Vinícios; "Jazz Vitória", liderado por Raul Silva; e "Jazz Marajoara", liderado por Oliveira da Paz.

[9] Espécie de aparelhagens que animava as festas, principalmente aquelas realizadas nos clubes suburbanos da cidade de Belém. Sobre isto, ver COSTA, Antonio Maurício; GOMES, Elielton. A "quadra joanina" na imprensa, nos clubes e nos terreiros da Belém dos anos 1950: "tradição interiorana" e espaço urbano. Cadernos de Pesquisa do CDHIS, Uberlândia, v. 24, n. 1, p. 195-214, jan.-jun. 2011.

[10]CHIANCA, Luciana. Devoção e diversão: Expressões contemporâneas de festas e santos católicos. Revista Anthropológicas, ano 11, v. 18, n. 2, p. 49-74, 2007. p. 49.

[11] DEL PRIORE, Mary. Festas e utopias no Brasil Colonial. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 10.

[12]PINAGÉ, Rodrigues. Bilhete ao outro São João. Amazônia: Revista da Planície para o Brasil, ano 1, jun. 1955.

[13] [13] José Rodrigues Pinagé nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, em outubro de 1895, e chegou a Belém aos 15 anos, onde iniciou a carreira de jornalista e trabalhou nos periódicos "A Província do Pará", "O Estado do Pará" e a "Revista Paraense" ao lado de grandes jornalistas e intelectuais. A partir dos anos de 1929, Rodrigues Pinagé passou a ocupar vários cargos públicos em Belém. Foi assessor da Secretaria de Educação e Cultura e ingressou na Academia Paraense de Letras em 1950, ocupando a cadeira de número 36, que anteriormente foi ocupada por Terêncio Porto. Esse jornalista e intelectual "poetou, rimando e metrificando, a vida inteira e nisso mostrou, sem dúvida, mestria. (...) Dele fala Jurandir Bezerra (citado por Georgenor): "... pertence a uma geração de boêmios, que não sabem criar poesias nos gabinetes (o que, no momento, não interessa saber se é erro, se é virtude)". Por isso, sua poesia traz a marca do seu temperamento e da sua formação intelectual, marca que dá ao poeta uma personalidade digna de admiração". Ver CASTRO, Acyr; ILDONE, José; MEIRA, Clóvis. Introdução à Literatura no Pará. Belém: CEJUP, 1990. v. 3, p. 246-251.

[14] Lindanor Celina foi uma escritora paraense nascida em Castanhal. Aos 11 anos de idade, passou a morar em Belém, no internato do Colégio Santo Antônio, onde permaneceu até os 16 anos, quando foi diplomada professora. Desde os anos 50, passou a se inclinar para os assuntos das letras, com prêmios de menções honrosas, prêmio da Academia Paraense de Letras (APL), entre outros. Foi escritora dos romances "A Volta de Irene", "Menina que veio de Itaiara" e "Estrada do tempo-foi". Essa escritora, apesar de ter morado por um longo tempo na Europa, nunca se esqueceu de Belém, "cidade onde plasmou a sua cultura literária, fazendo incursões periódicas e tomando contacto com os intelectuais paraense". Ver CASTRO et al., op. cit., p. 65-70.

[15]Georgenor de Sousa Franco foi jornalista e escritor, conhecido como Príncipe dos Poetas. Foi presidente por aproximadamente 14 anos da Academia Paraense de Letras, onde ocupava a cadeira de número 38. Era membro do Conselho Estadual de Cultura, Instituto Histórico e Geográfico do Pará, Federação das Academias de Letras do Brasil, Instituto Brasileiro de Educação, Ciências e Cultura - Sepo Bruno de Menezes foi um importante antropólogo e folclorista belenense, além de ser um personagem de paraense, "um homem liberto dos cânones e dos preconceitos do passado, no momento em que viveu". Foi um boêmio que se reunia nas noites com os poetas e cancioneiros em verdadeira ebulição. Era um "escritor por vocação, com alma de poeta". Com a publicação de "Batuque", em 1931, livro que teve grande destaque no Brasil, conseguiu firmar a sua posição no meio das letras no Pará e ganhar um conceito nos meios culturais de todo o país. Esse intelectual publicou diversos trabalhos na "Revista Belém Nova", "Terra Imatura", além de diversos jornais do estado e, inclusive, fora dele. Ver CASTRO et al., op. cit., p. 229-301.

[17] Cândido Marinho Rocha nasceu em 1907 na cidade de Belém, Pará, foi Contador Oficial da Reserva do Exército (CPOR), Técnico em Conferências, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Metodologia) e detém o título de Honra ao Mérito, concedido pela Câmara Municipal da sua cidade natal. Esse intelectual iniciou suas publicações de contos e crônicas a partir dos anos de 1926, quando tinha 19 anos. Foi também colaborador da revista "A Phênix", da Academia Livre de Comércio da Phênix Caixeiral Paraense, dirigida por Ramiro Castro. Nos anos de 1958, foi eleito Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. Seu discurso de posse da cadeira de número 01 da Academia Paraense de Letras, no ano de 1961, defendia a ideia de uma literatura por ele sugerida de "O Paraensismo". Além disso, era colaborador da revista "Amazônia". Ver ROCHA, Cândido Marinho. Vila Podrona - Sobre o Autor. Belém: Luzes-Gráfica Editora, 1964.

[18] É importante deixar claro que todos os intelectuais, presentes nesse artigo, tinham uma ligação direta com a Academia Paraense de Letras (APL), sendo essa a instituição que estava por trás das revisões e publicações de textos e artigos presentes na revista "Amazônia". Além disso, a Academia Paraense de Letras, a partir dos anos de 1952, "instituiu concursos anuais de literatura, com prêmios de quatro mil cruzeiros, cada um, aos autores das melhores obras, publicadas ou inéditas, de poesias, conto, romance, ensaio, crítica e teatro". Apresentação da Revista Amazônia. In: Amazônia: Revista da Planície para o Brasil, ano 1, jun. 1955.

[19] Fragmento tirado da crônica "Prece a São João" de Maria Brigito, disponível em "Amazônia: Revista da Planície para o Brasil", ano 1, jun. 1956.

[20] ROCHA, Cândido Marinho. Junho Feliz. Amazônia: Revista da Planície para o Brasil, ano 1, jun. 1955, s.n.

[21] CHARTIER, Roger. "Cultura Popular": revisitando um conceito historiográfico. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 16, p. 179-192, 1995. p. 180.

[22]No jornal "O Liberal" de 23/06/1959, foi publicada uma reportagem intitulada "Continuam vivas as tradições de São João", com a intenção era de nos apresentar a ideia de que, mesmo com toda transformação que se vivia no âmbito urbano, os festejos juninos organizados na cidade ainda buscavam se aproximar daqueles realizados no campo, tendo como principal referência os do sertão nordestino, no esforço de manter vivas características, que aos olhos dos jornalistas, faziam parte da raiz desse ciclo festivo. Segundo o registro, nas festas realizadas nos salões, sejam eles "chic's" ou de subúrbios, "as grantas deixam o nylon, o contonsil, o crillon etc., para vestir chitinhas e florões coloridos, numa tentativa de se tornarem 'matutas' e 'caipiras'; enquanto os cavernas arranjam uma calça 'meio pau' com remendos cuidadosamente burilados ou umas 'farwest' e colocam na cabeça onde o topete desafia (devido a goma) o vento até de Salinas, um resto de chapéu de palha que o jardineiro jogou fora".

[23] CARNEIRO, Edison. Folguedos Tradicionais. Rio de Janeiro: FUNARTE/INF, 1982, p. 22.

[24] CHIANCA, Luciana. Chama que não se apaga. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 4, n. 45, p. 18-23, 2009, p. 23.

[25] MOURÃO, Leila. O conflito fundiário urbano em Belém (1960-1980): a luta pela terra de morar ou de especular. 1987. 148 f. Dissertação (Mestrado em Planejamento do Desnvolvimento) - Universidade Federal do Pará, Belém, 1987. p. 3.

[26] COSTA; GOMES, 2011, p. 203.

[27] Continuam vivas as tradições de São João. O Liberal de 23 jun. 1959.

[28] Quanto à migração de nordestinos para a região amazônica a partir da segunda metade do século XIX, Samuel Benchimol nos apresenta como se deu esse processo de movimento migratório dos "cearenses-nordestinos" para a região amazônica, principalmente em 1892, considerado 1º ciclo da borracha, ano em que "as entradas registraram uma imigração de 13.593 nordestinos". Em relação ao 2º ciclo da borracha, que, segundo o autor, se inicia em 1941 e vai até 1945, "foram encaminhados oficialmente à região amazônica, durante o período de 1943 a 1945 - 16.235 trabalhadores e 8.065 dependentes, totalizando 24.300 pessoas". Sobre isto, ver BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: formação social e cultural. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1999.

[29] SOUZA, Apolinário. Festa de São João e Inimigos do Corpo. Belém: UFPA, 1997.

[30] FRANCO, Georgenor. Cai, cai, balão! Acenda a fogueira em meu coração. Amazônia: Revista da Planície para o Brasil, ano 3, jun. 1957.

[31]CHIANCA, 2009, p. 18.

[32]FRANCO, op. cit., s.n.

[33] CHIANCA, op. cit., p. 21.

[34] ALMEIDA, Renato. Manual de Coleta Folclórica (1965). In. GRINBERG, Isaac. (Ed.) Folclore de Mogi das Cruzes. São Paulo: Ed. LIS, 1981, p. 65.

[35] CHIANCA, 2009, p. 22.

[36] FRANCO, 1957, s.n.

[37] CELINA, Lindanor. Cadê meu São João?. Amazônia: Revista da Planície para o Brasil, ano 1, jun. 1955.

[38]CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. p. 218.

[39] Ibid., p. 21.

[40] SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 69.

[41] Ibid., p. 47.

[42] LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 19. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007, p. 46.

[43] CELINA, 1955, s.n.

[44] MENEZES, Bruno de. Batuque. 7. ed. Belém: Ed. Sagrada Família, 2005. p. 44-45.

[45] COSTA, Antonio Maurício Dias da; MACEDO, Cátia Oliveira. "Festa de antigamente é que era festa": memória, espaço e cultura numa comunidade camponesa do nordeste paraense. Revista Estudos Amazônicos, v. 5, n. 2, p. 105-124, 2010.p. 106.

[46] FRANCO, 1957, s.n.