SEGUNDA-FEIRA, 22-06-2015, ANO 16, N.º 5623
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destaques

Remadoras nuas e campeão olímpico de Lisboa. Pode não parecer uma coisa tem a ver com a outra. E com muitas outras mais...
A correr no Tempo Mulheres remando nuas, em Portugal nunca houve. Em Inglaterra sim, mas por boa causa. A razão explicamo-la aqui, 140 anos depois de se ter feito em Portugal a primeira regata de remo só para portugueses. Não chegou ao fim porque um dos escaleres se virou – e os seus tripulantes tiveram de ser resgatados à morte pelos adversários. Menos de um ano depois voltaram à águas e de lá saiu um clube, o Fluvial Portuense. Mas há mais, muito mais para contar – e para se surpreender e sem ser só através do remo... José Pontes em Quasi Um Século de Desporto revelou que em 1849 houve no Tejo uma furtiva «regata a remos» - e que no ano seguinte Abel Power Dagge, Edward Shirley, Alex Hudson e Alex Hangcock aproveitaram a estadia da nau britânica Vixen para fazerem no Tejo também a primeira «Carreira de Barcos à Vela». Nela entraram cinco veleiros, todos ingleses. Há, porém, quem ache que não – quem defende que tudo começara muito antes, algures por 1828 através da fundação do Arrow Clube – o primeiro clube de Abel Power Dagge em Lisboa... Quando ainda era Infante, D. Luís deu ideia para o nome da Associação Naval... A partir de 1852, a pretexto das Festas Anuais de Paço de Arcos, o Conde de Alcáçovas passou a lançar regatas do lá – mas eram, sobretudo, corridas em barcos à vela e não raro, com a presença de D. Luís. Nessa altura ainda não herdara a coroa do irmão D. Pedro V – seria aclamado apenas em 1861 – servia na Marinha, comandava o brigue Pedro Nunes e a corveta Bartolomeu Dias. Pintava, compunha, tocava violoncelo e piano e traduzia obras de Shakespeare - e foi ainda como Duque do Porto que presidiu à reunião que serviu para a fundação da Real Associação Naval de Lisboa em 1856. Aliás, a ideia do nome que estava em marcha era Real Yacht Club – e alteraram-no por sugestão sua. Dois anos antes, no programa das regatas de Paço de Arcos havia referência a uma «corrida de duas guigas de 4 remos» tripuladas por... «curiosos». (Sim, era mesmo assim que lá estava – e nunca se soube quem eles eram, quem ganhou a quem...) Bêbado, quis metade do barco... A primeira competição organizada da Real Associação Naval de Lisboa venceu-a Frederico Burnay – que se tornara já famoso como construtor naval e armador, recebendo um troféu de prata de D. Pedro V. Ganhou-a com o Etoile du Nord – aliás com... O Mesmo. Estranho? Não. A. I. G. Netto, seu sócio na Parceria dos Vapores Lisbonenses, após uma noite bem bebida quis acabar com a sociedade – sugerindo que se serrasse a embarcação ao meio. Foi o que Frederico de Burnay fez – e quando lhe perguntou que parte queria então, Netto espantou-se. Não se lembrava de nada – pediu desculpa, encarregou-se da reparação do barco e determinou: - Depois de pronto, chama-se O Mesmo... Continuaram com cada vez mais frenesim as provas da Real Associação Naval – e em 1858, D. Luís participou nelas com o seu novo iate - o Veloz. Mandara construí-lo com base no modelo do Prenda, que recebera de oferta de J. Garland, Abel Power Dagge e Simão Aranha, cópia reduzida do iate América que aportara em Lisboa. Não mais deixou de patrocinar e entrar em regatas de vela – e remo. Fluvial Portuense depois da corrida acabada para evitar a tragédia... No remo, a primeira regata de competição para tal organizada (fora do âmbito do Oporto Boat Club, o clube que era exclusivos dos britânicos das indústrias dos vinhos e dos têxteis...) fez-se no Porto, a 20 de julho de 1875 – e organizada para que portugueses, portugueses apenas, pudesse fazer o que os britânicos que por lá viviam já faziam entre si: corridas a remos entre o areal de Avintes e a Quinta das Pedras Salgadas, um pouco acima do Areinho. Em despique entraram nove escaleres – mas um imprevisto levou a que os cinco tripulantes do Diana caíssem às águas. Foram salvos pelos adversários – e já «ninguém ousou pensar mais na corrida»... Nessa tarde, percebera-se que o Tamisa de David José de Pinho «era bem mais veloz que os demais», mas tal só se provou quase um ano depois, a 25 de maio de 1876, quando nova regata se fez. No final, os concorrentes todos juntaram-se no Café Santo Amaro, na Rua Cimo do Muro da Ribeira – e por sugestão de Pinho ecidiram fundar clube para remo e vela. Chamaram-lhe Fluvial Portuense. Não convidaram os remadores do Fluvial, o Rei, aborrecido, deu-lhes o título de Real A uma competição da Real Associação Naval no Tejo – foi o Fluvial em 1882, o Tamisa e... ganhou-a, ganhou-a aos ingleses do Carcavelos Club. D. Luís, que estivera lá, à borda da água, a ver, ficara encantado com o «furor dos seus remadores». À noite, havia festa num palácio – e o rei também foi. Apercebeu-se de que os rapazes do Porto não estavam, perguntou por eles, alguém, comprometido, lhe disse que fora esquecimento. D. Luís, aborrecido, mandou buscá-los ao hotel, que se indignara com a desconsideração, murmurara. Quando David de Pinho chegou ao banquete, o rei correu para ele, perguntou-lhe: - Ficaria satisfeito se ao vosso clube fosse dado o título de Real sem pagamento dos direitos de mercê ao Estado? Claro que o oferecimento foi aceite. O primeiro clube com disciplina militar para que os remadores não «fizessem asneiras»... Marcos Guedes tornou-se, entretanto, o grande dinamizador do Fluvial. O clube era de grande elite – e de grande disciplina militar. Dois dias antes das competições, todos os remadores eram obrigados a enclausurarem-se nas suas casas – «para não fazerem asneiras», estava no regulamento. Se não cumprissem – eram «fortemente castigados, expulsos até». Uma vez Marcos Guedes foi suspenso só porque se recusou a escrever antes de Fluvial a palavra Real com que embirrava, nunca o disfarçou. Fora ele que levara para lá Cândido dos Reis, o almirante Reis da avenida que antes de ter o seu nome tivera o nome de D. Amélia, a mulher do rei D. Carlos. (A razão da troca se perceberá adiante...) Em 1901, houve mulheres a remarem, numa regata em Cascais - e que mulheres... Quer D. Carlos, quer D. Amélia eram «apaixonados pelo sport náutico» - e em 1896 ambos se passearam num escaler de 8 remos durante a Regata de Cascais organizada pela Real Associação Naval – e para comemorar os seus aniversários (sim, faziam anos no nos dia...) o Real Clube Naval de Lisboa realizou as Regatas de Cascais a 29 de Setembro de 1901 e nelas houve «provas remadas» por «senhoras de sociedade» - foi o que se escreveu no Livro de Actas da Comissão: «Na segunda prova de ¼ milha remaram na guiga Mondego, timonada por Sua Alteza o Senhor Infante D. Afonso, as Sras. D.ª Anna de Souza Coutinho, D.ª Quitéria Gil, D.ª Maria Freitas Branco e a D.ª Maria Roquette, na guiga Branca timonada por D. Manuel de Menezes remaram as Sras. D.ª Maria de Jesus Salema, D.ª Marianna Lencastre, D.ª Maria de Jesus Gil e a D.ª Thereza Calheiros, e na sétima corrida na prova de Escaleres de Yachts no do yacht Surpreza do Exmo. Sr. Marquês do Fayal remaram a D.ª Mariana Lencastre e a D.ª Thereza Calheiros timonadas por D. Manuel de Menezes, no do yacht Idalia do Sr Conde de Castro Gimarães timonado por D. Francisco de Herédia remaram as Sras. D.ª Maria Freitas Branco e D.ª Anna Souza Coutinho, tendo saído vencedoras a Branca e o escaler Surpreza.» Não podiam ir sozinhas para os barcos, o timoneiro tinha de ser um homem... Era, era como se revelava em ata: «senhoras de sociedade remavam», mas para remarem tinham de ter como timoneiro nas suas embarcações um... homem. Numa das equipas o homem não era um homem apenas, era um infante: D. Afonso, o irmão do Rei. Numa outra, era um rebelde já a agitar-se: anos depois D. Francisco de Herédia, o Visconde da Ribeira Brava daria o dinheiro com que se compraram as armas com que no Terreiro do Paço se mataram D. Carlos e D. Luís Filipe. D. Carlos era velejador e remador - e D. Luís Filipe foram o comodoro do Real Clube Naval... ...
Grande História Aos 17 anos é já um exemplo de coragem e determinação. Tinha apenas 11 quando perdeu por completo a visão. Começara logo aos quatro meses de vida com problemas - tinha cataratas. Tem nome de princesa, não tem reino, mas para a família Charlotte é uma heroína. Nunca se considerou diferente e as provas falam por si – herdou dos irmãos mais velhos a apetência para o desporto. Experimentou o voleibol, o basquetebol, até que se apaixonou pelo atletismo. Fiel ao companheiro Vador, conquistou pela primeira vez a medalha que há muito ansiava: o bronze no salto com vara num torneio escolar nos Estados Unidos. Charlotte Brown estava nervosa. Fazia três anos que a atleta tentava um pódio. «O importante é conseguires chegar longe, não importa se ganhas ou não a medalha», disse-lhe Stori, a mãe, na véspera da competição. «Não», retorquiu Charlotte. «Preciso desse pódio». Aqui não contamos só mais uma história, contamos a história de Charlotte, uma atleta de 17 anos, um espírito irreverente que não se deixou amedrontar pelo destino. Cedo perdeu a visão, mas aprendeu a lidar com o que tinha – força, coragem, vontade de viver e paixão pelo perigo. Sem medos e sozinha, aprendeu a voar. Não só conquistou a medalha como serviu de exemplo. «Não sei se posso inspirar toda uma nação ou qualquer coisa assim, mas se puder inspirar uma pessoa, então tudo vale a pena». A proeza da atleta cega no salto com vara A especificidade das provas de salto com vara não permite que sejam sequer incluídas em jogos paralímpicos, mas Charlotte Brown desenvolveu uma série de técnicas auxiliadas por uma grande determinação e coragem. Há três anos que perseguia o sonho – agora tornou-se realidade. Charlotte limpou salto de 3,50 metros e conquistou pela primeira vez, a medalha de bronze no salto sobre vara no Campeonato de Escolas do Texas. O detalhe (histórico) desta conquista é, já o percebeu, que Charlotte é cega - e subiu ao pódio com o fiel companheiro Vador, o seu cão guia. «Finalmente consegui. Se pudesse enviar uma mensagem para alguém, não seria sobre salto com vara ou atletismo. Mas sim sobre encontrar algo que nos faça feliz, não importa os obstáculos que estão no caminho. Esta história não é sobre mim. É sobre todo o mundo que luta por alguma coisa». A vencedora da prova, Sydney King, com um salto de 3,75 metros, não ficou indiferente a Charlotte. «Não conheço muita gente capaz de fazer o que ela fez. A sua história motiva-me quando as coisas não estão a correr bem». Charlotte perdeu a visão aos 11 anos Tinha apenas quatro meses de vida quando lhe foram diagnosticadas cataratas. De imediato os médicos lhe implementaram lentes artificias, ajudou mas não melhorou. Aos 11 anos viveu o pior dos cenários – perdeu a visão, deixou de conseguir distinguir formas e sombras, mas nunca deixou de ser quem era. E mesmo cega, a coragem e vontade de vencer superaram todas as barreiras. Charlote Brown cresceu numa cidade rural perto de Dallas. A paixão pelo desporto surgiu desde cedo em casa, através dos irmãos mais velhos. Lachlan pratica atletismo na Universidade de Purdue e Gannon divide o tempo entre maratonas e o futebol, onde se destaca na Rains HS. Mesmo com a deficiência visual que a tem acompanhado ao longo dos anos, Charlotte nunca se sentiu diferente. Os pais admiram-me o forte espírito de independência. Correr sem ver com uma vara e saltar cerca de 3,50 metros não é problema Antes de se apaixonar pelo atletismo, Charlotte experimentou o voleibol e depois o basquetebol. O treinador dava-lhe um diagrama do campo com todas as dimensões e Charlotte fazia o resto – primeiro memorizada e depois passava horas a praticar, movimentava-se contanto os passos de uma linha para outra, de um espaço para outro. «Podia sentir as linhas pintadas através dos meus ténis. Sabia que, quando corria para fora da linha de três pontos ou fora dos limites». Mas o que Charlotte procurava era algo mais´perigoso e excitante´. Quando se decidiu pelo salto com vara confrontou os pais. «Vais fazer o quê? Vamos deixar, mas já pensaste em como o vais fazer?». Charlotte tinha tudo planeado. «Sim, vou contar os passos». E disse mais. «Não vou sair e conduzir um carro só porque é divertido. Mas quando pisei a pista eu disse – ´Isto é algo que posso fazer. Posso descobrir isto´». Compete com uma combinação de abandono destemido e atenção meticulosa. Conta sete passos da zona de chamada ao ponto onde deve iniciar a corrida - e depois lança-se ao salto, finca a vara, voa. «Ela veio ao mundo para vencer. Como pais estamos alucinados por ter chegado já ao pódio com que sempre sonhou, é emocionante, é espantoso o que Charlotte faz, o que Charlotte conseguiu já. E acreditamos que ainda irá conseguir mais, muito mais...», confessou Ian, o pai. O sonho comanda a vida Concilia o desporto com as aulas na ´ Rains High School´ em Emory. Quer continuar a saltar, conquistou o primeiro sonho, diz que tem mais, muitos mais. O futuro ainda tem duas linhas em aberto: ainda não decidiu se se vai tornar médica pediatra ou professora de educação especial – para trabalhar com crianças autistas. Certo dia, Charlotte questionou o pai: «Se pudesses ter um desejo qual seria?» - «Dava-te os meus olhos...», respondeu-lhe ele......