11-10-2006

Entrevista com Bunnyranch: O bordel rock


Ao segundo longa duração de originais, a certeza total: os Bunnyranch são mesmo uma das mais poderosas máquinas rock'n'roll made in Portugal. Largo pedaço da maior História da música com guitarras cruza-se com alguns dos mais deliciosos teclados ouvidos em tempos recentes. O resultado é «Luna Dance», um dos registos maiores da produção nacional de 2006 e o pretexto base para uma descomprometida conversa com o vocalista e baterista Kaló.

Em 2002, surgiu o primeiro lançamento, em formato de EP, intitulado «Too Flop To Boogie». Dois anos mais tarde e «Trying To Lose», álbum de estreia, viu a luz do dia. Outros dois anos em cima, e o regresso com a novidade «Luna Dance». Uma evolução e maturação não necessariamente reflectidas, resultantes, antes, de uma saudável distância ideológica no que ao percurso dos Bunnyranch diz respeito.
«A nossa evolução enquanto banda foi o mais natural possível. Não reflectimos directamente sobre de que forma evoluir, crescer, etc. As coisas foram surgindo, os discos, concertos, a natural evolução de um projecto. No «Luna Dance» contámos com o João Cardoso nas teclas, que veio tomar o lugar do Filipe Costa, e o contributo do João foi muito importante para consolidar o som e a identidade Bunnyranch».

«Luna Dance», e o caricato do seu nome: o encerramento de um espaço mítico em Coimbra e a respectiva importância do mesmo em toda a ambiência Bunnyranch.
«Bunnyranch é o nome de um bordel no Nevada, e «Luna Dance» segue um bocado a mesma ideia de decadência. Fechou há pouco tempo em Coimbra uma casa de alterne chamada “Luna”. Essa casa foi muito importante para nós pois anteriormente funcionava aí o Le Son, onde demos o nosso primeiro concerto. Era um espaço muito rock'n'roll e bastante importante na zona de Coimbra. Mas na verdade uma casa de alterne também tem o seu quê de espírito rock (risos).»

A importância das novas ferramentas promocionais (MySpace à cabeça) de uma banda enquanto veículo de transmissão essencial dos primeiros anos do séc. XXI.
«Não quero soar demasiadamente radical ou o que quer que seja, mas parece-me claro que uma banda dificilmente poderá sobreviver nos dias de hoje sem uma boa página no MySpace, com fotografias, agenda de concertos, temas para escuta e muito mais. Em termos pessoais é uma ferramenta cheia de interesse, mas falando enquanto membro de uma banda esse interesse multiplica-se várias vezes».

O «mainstream» musical, século XXI. Depois de, em anos recentes, termos assistido a um certo revivalismo rock para as massas, a pop parece ganhar novamente pontos. A pop com vistas largas e de global interesse (produções Timbaland ou The Neptunes) mas também um segmento mais descartável e de menor qualidade.
«Sinceramente não me aflige nada que o rock não seja algo muito visto no mainstream actual. Acho até saudável. Para mim seria muito estranho ver um teledisco de uma banda que eu gosto depois de um da Shakira, por exemplo. Esse lado marginal do rock é muito importante para a sobrevivência. Há que ter em conta também que, por exemplo, nos anos 90 muita gente ouvia os Oasis e alguma «britpop», e por vezes as melhores coisas surgem quando essas pessoas vão às raízes dessas bandas procurar pelos projectos que as influenciaram. De qualquer forma há algum bom rock actualmente que chega de forma massificada a muitas pessoas, como os White Stripes, por exemplo».

O futuro mais imediato dos Bunnyranch passa, naturalmente, por mostrar «Luna Dance» ao maior número de pessoas possível. Cá dentro e lá fora, como já sucedeu no passado.
«Tocar ao vivo é mesmo um dos maiores prazeres de todo o processo de estar numa banda. Apresentámos o «Luna Dance» no Clube Mercado, em Lisboa, e estamos numa fase de agendar datas e preparar terreno futuro para novas apresentações. No final deste ano e começos de 2007 andaremos pela estrada fora».



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