Na véspera da ansiada estreia, - marcada para amanhã à noite na abertura do Cinanima, o mais antigo festival de cinema de animação da Península Ibérica, que se realiza em Espinho há 30 anos - não há sinais de contentamento excessivo nem euforias. No Cine-Clube de Avanca (CCA), o local onde foi concebida a primeira longa-metragem de animação com assinatura portuguesa, a satisfação por ver finalmente concluído "João Sete Sete" coabita com um indisfarçável desalento provocado pelas limitações de última hora impostas ao projecto. Como se não bastasse a atribuição a conta-gotas dos subsídios estatais, o CCA deparou-se com a inesperada desistência de ultima hora do financiador espanhol - a produtora galega Ibisa TV -, o que obrigou a um reajustamento criativo de todo o filme.
Caso nos tribunais
Em vez do desenho integral inicialmente previsto, optou-se, por razões económicas, pelo recurso mais exaustivo ao computador. "O espectador nem se aperceberá da diferença, mas, na minha opinião, perdeu-se muito em termos criativos", salienta o co-realizador Vítor Lopes, que se confessa "aliviado e frustrado" pela conclusão do filme.
A ruptura com a produtora galega não é pacífica - já existiam contratos assinados -, pelo que o CCA está disposto "a ir até às últimas consequências" (leia-se recurso aos tribunais) para defender os seus interesses.
Em resultado da desistência 'in extremis' da Ibisa TV, o orçamento previsto baixou um terço - de um milhão e 200 mil euros para 800 mil -, verba elevada para a pequena indústria de animação lusitana, mas, ainda assim, uma parcela insignificante do que habitualmente custa um filme desta dimensão em qualquer país europeu.
"Os anos passam, mas as dificuldades em fazer cinema de animação no nosso país mantêm-se. Aliás, têm-se mesmo agravado nos últimos anos. E não é por falta de mão de obra capaz", garante Vítor Lopes, realizador de filmes como "Histórias desencantadas" e "Timor Loro Sae".