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16jan/102

Lost In Time

Atari ST, 8 MHz, 512 KB RAM (1985).

Cybernet ZPC-GX31, Intel® Core™ 2 Quad, 4 GB RAM (2008).

Ontem achei essas duas imagens mofando no meu HD... Queria publicá-las lado a lado há um tempão, mas sempre acabava ficando meio que fora do contexto, até que as mesmas foram esquecidas e jogadas de lado. Pois chegou a hora :)

Essa é justamente a parte da história da computação com a qual tenho uma forte ligação emocional, por assim dizer. Acontece que o Atari ST foi o primeiro computador com o qual tive contato. Lá no final da década de 80 do século passado o meu pai trouxe um da Alemanha, para usá-lo nos seus complexos cálculos científicos. E eu ficava brincando com alguns joguinhos, muitos dos quais existiam também em consoles de 16 bits, além de ficar me frustrando repetidamente no equivalente do Paint da época, pois achava que o computador iria fazer tudo ficar lindo e maravilhoso, e, bem, não era essa a verdade, ráááá!

Devo dizer que o computador em si era muuuuuuuuuito à frente do seu tempo. O seu sistema operacional, TOS (The Operating System), com a interface GEM (Graphical Environment Manager) faziam jus ao nome (super-criativo :P), funcionando satisfatoriamente e apresentando recursos que só apareceram no Windows anos mais tarde. Já no plano do hardware, foi o primeiro computador pessoal a apresentar o MIDI. É através das portas MIDI que até 16 Ataris podiam ser juntados numa "rede" para jogar o MIDI Maze em deathmatch, eheheh!

Eu sei que parece TOSco, mas era impressionante numa TV de 20"!

Multiplayer de até 16 jogadores através das portas MIDI!

Se isso não parecer revolucionário o suficiente, é só lembrar que os pacotes mais fodásticos de geração de áudio e de imagens 3D da atualidade, Cubase e 3ds Max, tiveram as suas raízes no Atari ST. Até hoje o Fatboy Slim usa um Atari ST para compor, e existe uma legião de entusiastas mantendo o legado, reimplementando e mantendo o hardware e o software do Atari ST por conta própria.

Mas estou perdendo o foco. Lá em meados da década de 90, conheci um amigo do meu pai que tinha exatamente o mesmo modelo do computador, e trabalhava profissionalmente com a computação gráfica. Inclusive, fazia vinhetas 3D para a TV. Se não me falha a memória, o programa que ele usava era o fabuloso CAD-3D. Não, eu não sabia nem o que era um programa direito; mas a minha memória visual permitiu que eu reconhecesse o tal programa nos screenshots que a Internet preservou 😉

CAD-3D, o ascendente direto do 3ds Max.

Não teve outra: fiquei fissurado com a computação gráfica, achando que era fácil. Pedi para o meu pai me ensinar a fazer algo com o computador que fosse além de jogar joguinhos e brincar no Paint. Ele me ensinou as funções gráficas do BASIC, daí fiquei semanas tentando fazer o que hoje chamam de um desenho vetorial paramétrico de uma cara com um chapéu, huahauahua! Droga, como eu queria achar isso em algum disquete perdido por aí, para dar umas boas risadas. Acho que se eu fosse usar o LOGO, sairia melhor.

Mas o estrago já tinha sido feito. Depois, viajei para o Brasil e fiquei anos sem chegar perto de um computador. Quando vi o 486-DX, 50 MHz, 8 MB RAM, novamente do trabalho do meu pai, e me cansei de Doom, Duke Nukem 3D e R.O.T.T., fiquei novamente brincando com o QBasic, JavaScript, Assembly, Perl e C (sim, mais ou menos nessa ordem). Somente uma década depois aprendi a usar (porcamente) o SolidWorks, depois de inúmeros fiascos com os programas de cunho mais artístico. Porém jamais desistirei do meu ideal: fazer o computador se esforçar bem mais do que eu para produzir uma imagem 😀 😀 😀

OK, OK, e o que o ZPC-GX31 da Cybernet tem a ver com essa digressão toda?! Absolutamente nada; apenas me fez lembrar do velho e bom Atari ST, que, apesar de 23 anos mais velho, ainda me surpreende tanto 😉

25set/090

Interfaces Homem-Computador: as alternativas

Equivalência

Sendo o estado tecnológico atual o produto da evolução da nossa cultura, não existe virtualmente nada que nos prenda a adotarmos um dado padrão como sendo o melhor. Apesar dos debates sobre a superioridade do teclado com layout Dvorak, que já citei, ao menos uma coisa é certa: ele não é pior do que layout QWERTY. É apenas uma questão de habito. E, quanto maiores as divergências do padrão estabelecido, maior a dificuldade de quebrar o hábito. Afinal, acaba não compensando: trocar o conhecido pelo desconhecido, e ainda sem ter a certeza de que isso vai mudar alguma coisa.

Um exemplo mais concreto, tirado do meu artigo "Comparação de menus hierárquicos lineares e radiais segundo a lei de Fitts". E como são esses menus? O linear todo mundo já viu, milhares de vezes ao dia. O radial é mais raro, relativamente complicado de se encontrar na prática. Mas o Prezi, TheBrain e o recente WonderWheel do Google usam exatamente esse tipo. Sem entrar em debates qual é o melhor, tentei estabelecer um parâmetro para comparar o linear e o radial quantitativamente. Isso foi possível através da Lei de Fitts, que modela (com grande precisão) o ato de apontar. Usando a formulação de Fitts "ao contrário", foi possível projetar um menu radial e um linear, ambos com o mesmo Índice de Dificuldade:

  1. Menu hierárquico radial
  2. Menu hierárquico linear

Daí em diante, foi conduzido um experimento com várias pessoas interagindo com ambos os menus, com os registros da sua performance guardados para uma posterior análise. Detalhe importante: o menu não poderia apresentar algo familiar, tal como opções de arquivos, por exemplo, pois a familiaridade dos usuários com esse tipo de menu aumentaria significativamente a sua performance. Já para algo raro de se ver num menu... Não houve diferença estatisticamente significativa na performance! Ou seja: para alguma tarefa inédita, tanto faz usar menus hierárquicos radiais ou lineares. Aí sim: em alguns casos, o radial com a mesma quantidade de itens contemplados terá Índice de Dificuldade menor do que o linear equivalente.

Esquecimento

Os computadores nem sempre foram digitais. Os primeiros faziam cálculos por analogia, e nem necessariamente eram elétricos. O MONIAC (Monetary National Income Analogue Computer) utilizava água para simular os fluxos monetários do Reino Unido com precisão de ±2%. Por outro lado, computadores digitais eram mais estáveis, precisos e velozes, portanto, rapidamente substituíram os analógicos.

Por outro lado... A capacidade gráfica dos sistemas digitais demorou, e muito, para chegar no nível da dos analógicos. Quem é familiarizado a associar a qualidade da imagem à quantidade de megapixels, nem imagina como era operar na ordem de "kilopixels" e algumas dezenas de cores.

Kenneth Knowlton & Leon Harmon, Studies in Perception I, 1966

Vale lembrar que na época das primeiras imagens eletrônicas digitais, a televisão (por exemplo, uma Teleavia P111) já contava com uma resolução de 819 linhas e uma gama razoável de cores. E o curioso é que ainda hoje a maioria dos nossos monitores (especificamente os com interface VGA, introduzida em 1987) continuam sendo analógicos.

Em suma: a evolução tomou um rumo um tanto quanto esquisito, nesse aspecto. Eis algumas das imagens da metade do século passado que deram o início à arte eletrônica, todas elas produzidas analogicamente, e bastante a par com as tecnologias da imagem digital de meio-século depois:

Herbert Franke, Electronic Graphics, 1961Herbert Franke, Oszillogram, 1956John Whitney, Lapis, 1963-66John Whitney, Lapis, 1963-66John Whitney, Lapis, 1963-66John Whitney, Lapis, 1963-66Charles Csuri, After Mondrian, 1963Charles Csuri, After Duerer, 1963

E se?...

  • ...o facsimile tivesse deixado de ser inventado?
  • ...a máquina de escrever não fosse baseada em um instrumento musical de teclas?

Existiriam pixels? Monitores? Teclados? Mouses? Qual rumo inusitado o progresso da tecnologia da informação tomaria? Um exercício para a imaginação e para o próximo post 😀