Salão de Beleza

Conto Carioca, DESTAQUES, Leo Nunes agosto, 2015

Não há lugar na face da Terra onde rola mais fofoca do que em um salão de beleza. Todos os assuntos possíveis são discutidos nesse ambiente: fulano que tem nome sujo no SPC, beltrano que está fazendo teste de DNA para saber se o filho da vizinha é seu, briga de marido e mulher – nesses casos, todos do salão metem a colher! –, sicrano que deve há três meses a conta da padaria etc. Sabe-se de tudo. E é nesse local, onde piso todas as sextas-feiras para fazer minhas unhas, pés, mãos e, algumas vezes, as sobrancelhas, que ninguém merece ficar com uma taturana sobre os olhos.

Na última vez, o ambiente estava pesado, o clima não era muito bom. Entrei, cumprimentei todos os presentes e me sentei para aguardar a minha vez, que não demorou. Em dez minutos, estava sendo atendida.

Em pouco tempo no recinto, pelos burburinhos, percebi o que ocorria: uma das clientes parecia ser amante do namorado da Claudete, minha manicure preferida, que estava retirando as cutículas das unhas das minhas mãos. Dentro dos três anos que frequento esse salão, foi a primeira vez que ela ficou calada durante cinco minutos, fato nunca antes ocorrido. Em compensação, o pescoço nunca se moveu tanto. Ela não parava de olhar a tal mulher, sempre de rabo de olho. A atenção da “Clau†era total nas palavras que a suposta concubina dizia, enquanto era feita uma escova progressiva em seu cabelo.

Eu tentava puxar conversa, mas era quase em vão. As respostas eram “monossilabicamente†as mesmas:

– Clau, ainda tem aquele esmalte rosa que usou da última vez?

– Sim.

– Pode pintar novamente com ele? Gostei bastante e recebi muitos elogios do meu marido!

– Ok.

Foi o máximo que consegui arrancar dela. De certa forma, estava sendo ótimo, pois quanto mais ela fala, menos produz. Só estava preocupada com a qualidade do trabalho, já que o pescoço dela não parava de olhar para o lado, e um bife poderia ser arrancado a qualquer momento. E pelo que comecei a perceber, a mulher estava começando a falar um pouco mais alto, querendo chamar a atenção de alguém.

– Lindo! Ficou ótimo! Mais tarde, ganharei muito elogios do meu namorado! Ele vai amar! Estou ansiosa para encontrá-lo! – diz a ladra de homens alheios, em tom de deboche, olhando para Claudete, após levantar da cadeira.

Tinha certeza que isso não iria prestar. Clau largou a minha mão, trocou o esmalte que segurava por uma tesoura e partiu pra cima da pistoleira, que, mais que depressa, ficou atrás da cabeleireira, para se defender. Foi um Deus nos acuda! Começaram a voar esmaltes, frascos de xampus e condicionadores para um lado, potes de cremes coloridos para o outro! Uma gritaria sem tamanho! Quem passava na rua olhava assustado pela transparência do vidro da porta, como se estivesse apostando qual das duas sairia vencedora da batalha.

De repente, uma grudou no cabelo da outra, que rasgou a blusa da primeira, que esbofeteava a segunda, que acabou saindo com os cabelos, que estavam tão lindos, todo picotado. Claudete conseguiu ficar sobre a rival imobilizada no chão, cortando seus cabelos, que minutos antes estavam escovados, deixando-a com a cabeça de um jeito que parecia um recruta entrando nas forças armadas, de tão curto que ficou.

Só sei que consegui sair, assim como mais duas clientes, de fininho, sem que nada sobrasse para mim. De um lado, foi trágico, mas por outro, foi bem engraçada a cena. O chato é que com o prejuízo que a Clau deixou no salão, terei que arrumar outra manicure, pois a dona certamente irá demiti-la. Bom, as unhas das mãos ficaram prontas e recebi mais uma vez elogios em casa. Quanto às unhas dos pés, tive que usar sapatos fechados, pois não deu tempo de serem feitas.