Emily Bear, a nova garota-prodígio do jazz
No planeta jazz, Joey Alexander, hoje com 13 anos, é o garoto-prodígio do momento. Sob a proteção de Wynton Marsalis, o pianista nascido na Indonésia radicou-se com a família nos Estados Unidos portando um visto “0-1” (para estrangeiros de “extraordinária habilidade”). E já lançou pelo selo Motéma dois CDs (My Favorite Things, 2015;Countdown, 2016) que tiveram indicações para o Grammy, e chegaram a ocupar os primeiros lugares nas listas daBillboard dos discos de jazz mais vendidos.
Com menos repercussão – mas merecendo muita atenção dos jazzmen e da crítica especializada – uma garota apenas dois anos mais “velha” do que Joey já engrenou uma carreira bem além de promissora. Trata-se da também pianista/compositora Emily Bear, natural de uma cidade do Illinois onde ainda tem endereço, embora esteja quase sempre fora de casa, tocando música clássica e jazz mundo afora.
Na biografia de Emily, publicada pelo Departamento de Música da New York University, lê-se que ela tinha sete anos quando fez o seu debut orquestral, interpretando o Concerto nº 23 de Mozart. E que, com nove anos, no Carnegie Hall, foi a solista de Peace: We Are the Future, uma composição de sua autoria, para orquestra e coro de 220 vozes.
O eminente Quincy Jones, mentor e produtor da garota-prodígio, assim a qualificou: “Com a habilidade de mover-se, sem nenhum problema, do clássico para o jazz, ela mostra ter tanta destreza quanto pianistas/compositores que têm o dobro de sua idade (…). Ela é incrível… E não há limites para as alturas musicais que pode atingir”.
O primeiro álbum de Emily Bear de ampla distribuição foi Diversity (Concord Jazz, 2013), em trio, com uma seleção de 13 composições de sua autoria. E ela volta às lojas virtuais, neste início de ano, num pequeno CD/EP (Edston Records),Into the Blue, que contém cinco novas peças de sua lavra, além de uma brilhante interpretação de My favorite things. No novo trio estão o baixista Peter Slavov (do atual quarteto de Joe Lovano) e o baterista Mark McLean.
As cinco composições da pianista teenager são as seguintes: Old office (3m40), impulsionada por acordes rímicos que remetem a A night in Tunisia, de Dizzy Gillespie; Je ne sais pas (5m05), de melodia e batida em clima de “bossa nova”; Indigo (4m30), tema também meio “bossa”, mas de melancolia mais acentuada; Araingnée (2m45) – “aranha”, em francês – uma adaptação feita por Emily da trilha sonora que fez para um filme animado sobre duas aranhas em disputa para criar teias inspiradas em obras de arte famosas; Tiger Lily (3m40), tema que lembra It's over now, de Thelonious Monk, desenvolvido pela pianista num toma-lá-dá-cá com o baterista McLean.
No ano passado, Emily Bear foi a vencedora do prêmio da ASCAP (American Society of Composers, Authors and Publishers) na categoria “jovens compositores de jazz”. No júri, entre outros, dois celebrados músicos de jazz: o violinista Mark Feldman e o baixista Rufus Reid.
(O CD/EP Into the Blue está disponível no Spotify. A faixa Old Office pode ser ouvida em: soundcloud.com/search?q=old%20office)