Francisco Carvalho, poeta e escritor

Francisco Carvalho

Último adeus ao poeta Francisco Carvalho

Morreu na noite da última segunda-feira, dia 4/3/2013, por volta das 23h30, o poeta Francisco Carvalho. Integrante da Academia Cearense de Letras, o autor russano escreveu diversos livros, entre eles “Quadrante Solar”, com o qual venceu o Prêmio Nestlé de Literatura, em 1982. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.

Natural de Russas, o poeta Francisco Carvalho era membro da Academia Cearense de Letras. Estreou na literatura em 1955 e, desde então, lançou cerca de 30 livros

Segundo o especialista em literatura cearense, Sânzio de Azevedo, mesmo tendo se arriscado em outros gêneros, o melhor da obra de Francisco Carvalho está na poesia. “Ele era muito exigente com o que escrevia e não gostava dos primeiros livros. Estava sempre se aprimorando”, afirma o pesquisador.

Trajetória

Cearense de Russas (município do Baixo Jaguaribe, a 165km de Fortaleza), nascido em 1927, o escritor foi um daqueles talentos literários que florescem em silêncio. Embora tenha publicado quase 30 livros de poesia (estreou em 1955, com “Cristal da Memória”), poucos conhecem a sua obra.

Além do Prêmio Nestlé, conquistou também o Prêmio da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com o livro “Girassóis de Barro”, em 1997.

Em 2004, o cantor e compositor Raimundo Fagner, conterrâneo de Francisco Carvalho, musicou cinco poemas dele (“O Bicho Homem”, “Esse Touro Vale Ouro”, “Cesta Básica”, “Reino” e “Minueto da Porta”) e incluiu as canções no álbum “Donos do Brasil”.

Sobre isso, discorreu, certa vez, em entrevista ao Diário do Nordeste: “Achei uma experiência interessante. Sou leitor de poesia de livro. É inegável que nas letras há poesia, mas é diferente. Fico feliz que o compositor que mais cantou músicas com poetas tenha me descoberto. A música só faz acrescentar, numa dimensão nova à poesia. De certo modo, foi uma surpresa. Sempre escrevi textos com rimas e bastante ritmados, que pudessem ser utilizados no canto também. Não sou tão fechado como os poetas eruditos, embora tenha versos polimétricos e livres. Mas não esperava que ele incluísse tantos poemas”, revelou o autor.

No mesmo ano, lançava-se pela Imprensa Universitária “Memórias do Espantalho – Poemas Escolhidos”, antologia da obra do poeta.

Para Sânzio, que chegou a prefaciar uma das obras de Carvalho, o poeta era um dos grandes nomes da literatura cearense, ao lado de outros escritores como José Alcides Pinto e Artur Eduardo Benevides. “Francisco tinha uma maneira tão própria de dizer as coisas que nós sabíamos que o texto era de sua autoria mesmo sem a identificação”, afirma. O pesquisador destaca que, mesmo com o passar dos tempos, Francisco Carvalho nunca abandonou o soneto e a arte de rimar. “Ele era um modernista no discurso, não na forma”, ressalta.

O corpo do poeta deve ser cremado hoje, no Cemitério Jardim Metropolitano, no Eusébio, município da Região Metropolitana de Fortaleza.

Fonte: Diário do Nordeste – 06/03/2013

PERFIL

Francisco de Oliveira Carvalho nasceu na cidade de Russas, interior do Ceará, em 11 de junho de 1927.

Filho de Clicério Leite de Carvalho e de Maria Helena de Carvalho.

Estudou no Ateneu São Bernardo de sua cidade natal, onde fez o curso ginasial.

Em 1946, transferiu-se definitivamente para Fortaleza, passando a trabalhar no comércio.

Mais tarde ingressou como funcionário na Universidade Federal do Ceará para ser assessor da Reitoria e hoje é Secretário do Conselho Universitário da UFC.

Durante muito tempo foi colaborador do Suplemento Literário do jornal O Estado de Minas.

Francisco Carvalho é membro da União Brasileira de Escritores e ocupa, desde 26 de abril de 1996, como membro efetivo, a cadeira de n 31, da Academia Cearense de Letras, que teve como antecessor o escritor Cláudio Martins e cujo patrono é o escritor e filósofo Farias Brito.

Dentre outros prêmios literários que conquistou em sua carreira, vale ressaltar que em 1983 Francisco Carvalho recebeu o Prêmio Nestlé de Literatura, na categoria de poesia, com seu livro Quadrante Solar.

TRAJETÓRIA LITERÁRIA

“Aos quinze anos, escrevi um folheto de cordel sobre a seca no Ceará, publicado numa tipografia de Russas. Felizmente ou infelizmente, essa primeira manifestação de poeta bisonho perdeu-se no tempo e no espaço. Em 1946, aos dezenove anos, transferi-me definitivamente para Fortaleza, onde publiquei os meus primeiros poemas por volta de 1950. Paguei pesado tributo à imaturidade. Não escapei à tentação dos desastrados sonetos da juventude, que ainda me fazem corar de vergonha quando eventualmente os encontro em algum lugar do passado”.

Apesar da modéstia flagrante, contida neste depoimento, o simples fato de enumerarmos sua produção literária já é o suficiente para aniquilar com sua humildade, pois o poeta se constitui, hoje, numa das vozes mais expressivas de nossa literatura.

Francisco Carvalho é donatário de vasta obra, a principiar por Cristal da Memória, sua primeira experiência modernista, datada de 1955, rescenseando-se a seguir pela ordem Canção Atrás de Esfinge (1956), Do Girassol e da Nuvem (1960), O Tempo e os Amantes (1966), Dimensão das Coisas (1967), Memorial de Orfeu (1969), Os Mortos Azuis (1971), Pastoral dos Dias Maduros (1977), As Verdes Léguas (1979), Rosa dos Ventos (1982), Quadrante Solar (1983), As Visões do Corpo (1984), Barca dos Sentidos (1989), Rosa Geométrica (1990), Exercícios de Literatura (1990), O Tecedor e sua Trama (1992), Crônica das Raízes (1992), Flauta de Barro (1992), Galope de Pégaso (1994), Sonata dos Punhais (1994), Artefatos de Areia (1995), Textos e Contextos (1995), Rosa dos Minutos (1996), Raízes da Voz (1996), Os Exílios do Homem (1997) e Girassóis de Barro, publicado também em 1997 em comemoração aos setenta anos do poeta.

Por Ana Vládia Mourão – Professora de Literatura Brasileira da Universidade Estadual do Ceará. Graduada em Direito (UNIFOR) e em Letras (UFC). Mestra em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará. É a autora de “Três Dimensões da Poética de Francisco Carvalho”.

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