Johanna Dobereiner ganha Prêmio Ambiental

03/11/2000

Folha do Meio fez a indicação oficial da cientista ao CREA-RJ e prêmio resgata

Zilda Ferreira

 


Johanna Dobereiner recebe homenagem pós-morte do CREA-RJ 
que estuda a criação de um outro Prêmio Nacional na área
  de Agronomia com seu nome

 

Quem via Johanna Dobereiner, de voz suave, gestos delicados e de enormes olhos claros, com imagem de avó, jamais poderia imaginar o sofrimento dela durante a Segunda Guerra e nem que era uma das mais conceituadas cientista do mundo. Suas descobertas revolucionaram a agricultura. Seus discípulos, alunos e membros de sua equipe a reverenciavam pela sua capacidade de trabalho.

E graças a essa tcheca de nascimento e brasileira por opção, falecida no mês passado, aos 75 anos, o Brasil economiza milhões de dólares em divisas com e não importação de adubos químicos nitrogenados. Além de brilhante cientista, batalhava de forma incansável pelo meio ambiente, pesquisando e advogando sempre o uso de fertilizantes naturais.

 

Gratidão ao Brasil

Porém, para os cidadãos comuns que a conheceram, o que mais impressionava era seu civismo. Pois, dificilmente, algum cientista amou tanto essa terra como ela. 

Imaginem que, nos anos 80, rejeitou ganhar cinco vezes o seu salário na Embrapa, proposto por um centro de pesquisa canadense, com uma frase: “Sou extremamente grata ao país que me acolheu quando eu precisei. Por amor ao Brasil, continuo na Embrapa”. Sonhava em ver o Brasil transformado num celeiro de um mundo sem fome, pois durante a guerra sentiu o horror da fome na própria carne.

Em 1975, quando ela foi indicada como brasileira para concorrer ao Prêmio Nobel por suas pesquisas e descobertas no campo agrícola (descobriu que a bactéria Azotobact er paspali, em simbiose com gramíneas e cereais, fixava nitrogênio no solo) uma repórter perguntou:

- Mas a senhora não é brasileira.

- Ela respondeu: minha filha, talvez, mais do que você. Porque sou brasileira por opção, e não porque nasci aqui.

No final dos anos 90, já com saúde debilitada, apesar da crise brasileira, ela continuava tendo fé no futuro do país. Mas, fazia uma ressalva. "É preciso cuidar mais da educação e trabalhar muito seriamente". Lembrava que sua mãe foi morta num campo de concentração e seu pai não obteve visto, em 1945, para os EUA, porque era cientista tcheco que falava alemão.

Consagração

Johanna Kubelka, depois de casada, Dobereiner, nasceu na antiga Tchecoslováquia, foi para Alemanha no final da Segunda Guerra, num período muito duro, quando teve que trabalhar pesado em uma fazenda para sobreviver e sustentar seus avós.

O curso de Agronomia foi concluído em 1950, na Universidade de Munique, onde se casou com o veterinário alemão Jürgem Dobereiner. Logo depois de formada, com passagens enviadas pelo pai, Paul Kubelka, um químico que já residia no Brasil, veio com o marido para iniciar sua carreira.

Aqui, no Rio de Janeiro, no antigo Serviço Nacional de Pesquisas Agropecuária, com incentivo de Álvaro Barcelos Fagundes - precursor da biologia de solo no país, ela começou suas pesquisas. No ano seguinte, em 1951, publica seu primeiro trabalho. Dez anos depois, embarca para os EUA com uma bolsa da Universidade de Wisconsin, onde fez mestrado. De volta ao Brasil, formou uma equipe especial, iniciando as pesquisas sobre fixação de nitrogênio atmosférico em gramíneas (milho, sorgo e cana-de-açúcar). Em 1970, ainda com uma bolsa especial foi para a Inglaterra, onde pôde comprovar com métodos mais sofisticados, a experiência realizada no laboratório da Embrapa.

Em 1974, consegue, no Brasil, isolar e identificar a bactéria fixadora de nitrogênio nas gramíneas. No mesmo ano, recebeu o título de Doctor of Science pela Universidade da Florida. Em 1975, um grupo de cientista tenta indicá-la ao Nobel de ciências no campo da agricultura. Não conseguem. Mas em seguida, ela é convidada para fazer parte da Academia de Ciências do Vaticano, que tem como finalidade aconselhar o papa em assuntos científicos. O presidente do CREA-RJ José Chacon, prometeu estudar a criação de um prêmio de agronomia nacional com o nome de Johanna Dobereiner.