BGS 2019: Hidetaka Miyazaki diz o que mudaria em Bloodborne, elege jogo favorito, conta o que faz no tempo livre e muito mais
Criador de Dark Souls ainda disse qual chefão mais o marcou e deu dicas para jovens desenvolvedores de games.
por Pedro Scapin | @PedroScapin17 em 9 de outubro, 2019
Quando soube que Hidetaka Miyazaki estava confirmado na BGS 2019, meu coração disparou, as mãos suaram e minha cabeça acelerou com as centenas de perguntas que gostaria de fazer ao homem que desenvolveu meu jogo favorito de todos os tempos: Bloodborne.
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Eis que a BGS 2019 começou, e pouco depois de Miyazaki desembarcar no Brasil, fui o primeiro jornalista a falar com ele – uma honra indescritível, e com certeza o momento mais feliz de minha carreira.
Foram cerca de 30 minutos de uma conversa descontraída e divertida, em que Miyazaki falou sobre o que mudaria em Bloodborne, a possibilidade de fazer Bloodborne 2, elegeu jogo e chefão favoritos, deu dicas para jovens desenvolvedores e revelou o que a mente por trás de várias obras-primas faz quando não está trabalhando.
Confira abaixo a entrevista completa com Hidetaka Miyazaki:
Eu considero Bloodborne um jogo quase perfeito. Existe algo que você mudaria nele?
Muito obrigado! Eu tento não pensar muito em quais pontos eu melhoraria depois de ter lançado um jogo. Mas eu teria melhorado a parte das Chalice Dungeons e as Blood Gems, que gostaria de as ter detalhado mais, trabalhado de forma mais minuciosa. Eu vejo a possibilidade de ter acrescentado mais coisas.
Quem sabe em um Bloodborne 2?
(Risadas) Bloodborne 2… Infelizmente não sou eu que decido.
Quais foram suas inspirações quando você pensou pela primeira vez em Bloodborne?
Eu me inspirei no livro O Chamado do Cthulhu, do Lovecraft. Provavelmente quem jogou Bloodborne vai saber que eu fui bastante influenciado por Lovecraft e essa obra.
Outras coisas que me influenciaram bastante foram o horror lógico, e o filme O Pacto dos Lobos.
De todos os jogos que você desenvolveu, qual é o seu favorito?
Essa é uma pergunta muito difícil, e comparando, é como se você tivesse três ou quatro filhos e alguém perguntasse ‘qual é o mais bonito?’. Eu vou responder que são todos (risadas).
Mas se eu fosse dizer qual mais ficou no meu coração, é o Bloodborne. É o que mais me marcou. Acredito que o fiz do meu jeito, do jeito que eu quis.
Qual foi o momento mais difícil que você enfrentou durante o desenvolvimento de um de seus jogos?
Acredito que eu não tenha passado por tantos momentos muito difíceis, até porque mesmo que eu esteja com muito trabalho, com o tempo muito corrido, eu gosto de desenvolver jogos.
Então, é o momento em que eu estou feliz, no geral. E quando eu termino de desenvolver um jogo, eu me pergunto ‘nossa, será que eu sofri mesmo? Já acabou? (Risadas).
Mas o momento que é mais pesado psicologicamente é depois que o jogo começa a ser vendido, quando existem alguns erros, e acaba atrapalhando os usuários. E nesse intervalo entre erro e correção, é quando fico mais magoado.
Qual é o seu chefão favorito?
Falando dos chefões, provavelmente o Old Monk, de Demon’s Souls. Esse chefão tem um sistema diferenciado, onde o jogador vai enfrentar outros jogadores. E naquela época, esse não era um sistema comum, então recebi algumas críticas e advertências. Mas no final das contas, o usuário gostou bastante, era algo bem diferente. Então dentro de mim é o que mais me marcou.
Quando você cria um chefão, no que você pensa primeiro: design ou habilidades?
Normalmente o que acontece é: primeiro vem o design. Mas, quando eu já tenho mais ou menos a ideia organizada de como o chefão vai ser, eu faço o pedido para o designer fazer a arte. Aí eu já falo o que ele precisa, e que tipo de chefão ele vai ser.
Eu já deixo descrito quais são os requisitos mínimos que esse chefão precisa, e o resto eu deixo com o designer. Porque acredito que isso acrescente ainda mais na originalidade. Até porque se eu me intrometer muito, vamos acabar pensando muito na lógica de desenvolvimento do jogo. Deixo o designer imaginar o que vier na cabeça dele, acho que assim sai algo mais diferenciado.
Que dicas você daria para alguém que pretende ser um desenvolvedor de jogos?
Essa também é uma pergunta muito difícil. Mas eu tenho duas dicas. Primeiro, eu acredito que o jogo em si é um tipo de conteúdo de mídia que gera bastante possibilidades.
E isso acontece por dois motivos. Primeiramente, o jogo reflete as tecnologias de ponta, então quanto mais a tecnologia progride, isso vai sendo refletido nos jogos.
Em segundo lugar é o tempo. Eu acredito que as pessoas cada vez mais têm tempo ocioso, e como elas usam esse tempo para fazer alguma coisa, acho que os games dão um valor a mais nessa forma de usar o tempo, e enriquece mais a vida com diversão.
Uma outra dica é que eu também joguei muito videogame antes de começar a desenvolver jogos. E o que eu tenho para falar é que desenvolver jogos é como se fosse um jogo, e isso é muito legal. Então acredito que as pessoas que gostem muito de jogar, e quiserem investir nisso, não se arrependerão ou ficarão tristes, porque vão estar sempre jogando.
Resumindo essas duas dicas, o desenvolvimento de jogos é uma área com muitas possibilidades, e é algo muito divertido. Então, boa sorte, e se esforcem bastante.
O que você gosta de fazer no seu tempo livre?
(Risadas) Eu não tenho muito tempo em que não esteja trabalhando, mas quando não estou, eu consumo vários tipos de conteúdo, seja um filme, pode ser um jogo ou um livro. Gosto bastante de jogos analógicos.
E recentemente meu filho nasceu, então tem sido uma boa forma de consumir meu tempo, passando um tempo com a família.
Mas o que eu mais gosto é de ficar desenvolvendo jogos, então pra mim é mais intenso. Eu peço desculpas pra minha família (muitas risadas), mas gostaria de estar envolvido nisso sempre.