Blog da Sandra Cohen

Por Sandra Cohen

Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'


Harvey Weinstein chega ao tribunal de Nova York para julgamento; ele está preso e foi transferido depois da notificação de casos de coronavírus na cadeia onde estava — Foto: AP Photo/Seth Wenig Harvey Weinstein chega ao tribunal de Nova York para julgamento; ele está preso e foi transferido depois da notificação de casos de coronavírus na cadeia onde estava — Foto: AP Photo/Seth Wenig

Harvey Weinstein chega ao tribunal de Nova York para julgamento; ele está preso e foi transferido depois da notificação de casos de coronavírus na cadeia onde estava — Foto: AP Photo/Seth Wenig

O distanciamento social como fórmula eficaz de combate à pandemia do novo coronavírus é inviável na população carcerária, impondo desafios semelhantes a governos politicamente antagônicos. O confinamento em celas superlotadas, abafadas e sem higiene faz das prisões terreno fértil para a disseminação do vírus e leva países a adotarem drásticas medidas.

A mais radical veio de um regime autocrático, a teocracia iraniana, alquebrada em seus alicerces pela pandemia: cerca de 85 mil presos, inclusive os políticos -- que equivalem à terça parte da população carcerária -- foram libertados para evitar que a doença se espalhasse.

Os EUA encaram o mesmo dilema. Como conter a doença entre seus 2,3 milhões de presos distribuídos em sete mil estabelecimentos? Não basta proibir visitas ou saídas temporárias -- decisões que deflagraram rebeliões em 22 presídios na Itália e fuga em massa no Brasil. Guardas penitenciários e funcionários também são agentes de transmissão aos detentos.

A pressão pela libertação de presos surte efeito. Em Los Angeles, o xerife Alex Villanueva pediu às delegacias que limitassem as detenções a suspeitos perigosos. Presos com sentenças menores e que se encontravam a 30 dias da soltura tiveram a libertação antecipada, assim como os que tinham fiança estipulada a um valor inferior a US$ 50 mil.

Com isso, Villaneuva conseguiu rapidamente reduzir a população carcerária em 600 pessoas. Iniciativas semelhantes ocorreram em Cleveland e Michigan. Em Nova York, o diretor médico de Serviços Correcionais pediu a promotores e juízes que agilizem a libertação de presos considerados vulneráveis.

Depois que o Covid-19 foi detectado em um guarda e um prisioneiro na prisão de Rikers Island, o ex-produtor de Hollywood Harvey Weinstein, de 68, condenado por estupro, foi transferido para uma prisão estadual. Outros presos, como Michael Cohen, ex-advogado do presidente Donald Trump, e o fraudador Bernard Madoff, alegam temores do coronavírus para reivindicar prisão domiciliar e, até mesmo, libertação antecipada.

Celas apertadas, com alta rotatividade de presos, em que desinfetantes são proibidos e é preciso permissão para lavar as mãos com água e sabão, impossibilitam o distanciamento social e propagam o contágio em velocidade maior.

O professor de saúde pública Richard Coker, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, recomenda, em relatório, testes para todos os presos e a libertação do que estão no grupo de risco -- 15% dos detentos britânicos sofrem de problemas respiratórios.

Ele alerta que qualquer atraso na implementação dessas medidas trará consequências catastróficas nos centros de detenção. Em tempos de pandemia as penitenciárias equivalem a bombas epidemiológicas.

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