Esqueça a trama mafiosa que sustenta a trilogia “O poderoso chefão” e lembre-se apenas da cumplicidade e lealdade que norteiam a relação familiar dos Corleone (com alguns tropeços no caminho, é verdade). Transfira, então, esse ambiente para o futebol e compare com o estilo de trabalho de Luiz Felipe Scolari e Cesare Prandelli, técnicos de Brasil e Itália, adversários neste sábado, às 16h, na Arena Fonte Nova, em Salvador, pela terceira rodada da Copa das Confederações.
O bigode de Felipão até lembra um pouco o usado por Marlon Brando na interpretação do personagem Don Vito Corleone, patriarca da família. E o estilo de Prandelli pode ser comparado ao de Al Pacino, ator que fez Michael Corleone, filho mais novo e que assume o comando familiar depois da morte de Don Vito. Ambos comandam seus times na base da confiança. São agregadores e ao mesmo tempo cobram veementemente quando há algo fora do trilho.
Em 2002, com a Família Scolari, campeã da Copa do Mundo de 2002, na Coreia do Sul e no Japão, Felipão mostrou ao planeta seu estilo de trabalho. Uniu a equipe com o que considerava ter de melhor, convocou Ronaldo, até então uma dúvida por conta das seguidas lesões, e deixou fora Romário, que contava com o apoio popular. Deu certo. O título foi conquistado com sete vitórias em sete jogos.
Ao longo desses 11 anos, Felipão teve várias experiências: seleção de Portugal, Chelsea, Palmeiras e uma passagem pelo Uzbequistão. Mas manteve o estilo “paizão”. Nos bons e maus momentos. Severo com quem foge dos seus padrões e defensor daqueles que lhe mostram lealdade, ele deixou fora da Copa das Confederações dois jogadores por indisciplina: Ronaldinho Gaúcho e Ramires.
Durante os cinco jogos que o treinador teve antes da convocação para o torneio, os dois foram os únicos que deram problema. Ramires se atrasou em uma apresentação em Londres, cidade onde mora. E Ronaldinho perdeu o horário de chegada em Belo Horizonte, também onde vive. Nesse último caso, a postura fora de campo, passada por informantes de Felipão, também pesou na ausência.
Mas quando Felipão quer defender os seus, ele sabe bem como faz. Um exemplo recente é Neymar. Enquanto o jogador era apedrejado por conta do seu mau rendimento na seleção brasileira, o técnico adotou discurso contrário ao da maioria e elogiou a postura do atacante. Até mesmo quando ele foi vaiado por atuar mal no Mineirão. Passada essa fase e com gol nos primeiros dois jogos da Copa das Confederações, o garoto viu as vaias virarem aplausos. E o comandante vibrou.
conter excessos do atacante (Foto: Getty Images)
Mão de ferro italiana
Como todo bom italiano, Prandelli adora falar gesticulando, ainda mais se as coisas no gramado não saem como imagina. Nada, porém, que se compare a Felipão. Sempre trajado de ternos bem alinhados e cabelos engomados para trás, evita grandes escândalos à beira do campo, mas tem a fama de possuir “mãos de ferro” para controlar o elenco.
Não é raro vê-lo dando respostas duras após alguma confusão criada por seu principal atacante, Mario Balotelli. Até assim, não perde a classe. Nas entrevistas que concedeu desde a chegada ao Brasil, nunca se exaltou, nem mesmo com as perguntas mais ásperas. Além disso, é bem visto e tem bom relacionamento com os jornalistas italianos.
Prandelli troca as pesadas broncas pelo aumento da responsabilidade dos jogadores, como aconteceu antes da Copa das Confederações. Após o empate por 2 a 2 contra o Haiti, em São Januário, reconheceu que o time precisava evoluir tecnicamente e disse que faria um trabalho para mexer com o orgulho do grupo para enfrentar o México – venceu por 2 a 1.
A confiança do elenco, aliás, foi crescendo gradativamente. Sem títulos de expressão, dirigiu apenas o Roma entre os grandes e chegou à Azzurra após um bom trabalho feito no Fiorentina. O maior crédito veio depois de uma importante mudança: na Eurocopa de 2012, permitiu que as famílias dos atletas viajassem com a delegação, assim como ocorre agora no Brasil.
Aos 55 anos, o ex-meio-campista do Juventus tem também seus momentos de garotão e celebridade. Diariamente, sai para caminhar pelas ruas usando o uniforme italiano, sempre receptivo aos pedidos para fotos e autógrafos. Ao lado dele, a namorada Novella Benini e o filho dela. Na Itália, aliás, é flagrado constantemente aos beijos com a amada.