Lideranças políticas prestam homenagem à memória de João Amazonas na Assembléia


28/05/2002 19:05

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DA REDAÇÃO

"Quando eu morrer meu corpo deve ser cremado e as cinzas devem ser lançadas no rio Araguaia." Este foi o último desejo, escrito de próprio punho, do comunista histórico João Amazonas, um dos organizadores da guerrilha do Araguaia, que, segundo dizia, ajudou a apressar o fim do regime militar no Brasil.

Este desejo será atendido pela família, que encaminha o corpo para o crematório da Vila Alpina, às 17 horas, desta terça-feira, 28/5. Centenas de pessoas compareceram ao velório de Amazonas, realizado no Hall Monumental da Assembléia Legislativa. Dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) de vários Estados, amigos, simpatizantes e aliados na luta política prestaram a última homenagem ao presidente de honra do partido, que morreu aos 90 anos, vítima de infecção pulmonar.

Segundo Walter Sorrentino, secretário de organização do PCdoB, mesmo depois de afastar-se do cargo de chefe máximo do partido, no ano passado, alegando não ter mais condições físicas para trabalhar, Amazonas conservou aquele que foi um de seus principais traços: a disciplina. "Sofria de osteoporose, de problemas de visão e audição, mas conservava uma lucidez invejável, mantinha-se informado e opinava sobre os textos que alguém lia para ele, regularmente, todas as tardes."

Um dos maiores líderes no país no século XX

Para o deputado Jamil Murad, líder do PCdoB na Assembléia Legislativa, João Amazonas foi o líder com mais longa trajetória na direção do movimento comunista no Brasil. "Ajudou a organizar a Frente Brasil Popular em 1989 e, até morrer, estava empenhado em formar, numa frente de esquerda, um amplo movimento cívico em defesa do Brasil, da democracia e dos direitos do povo", afirmou o deputado. Para as gerações mais jovens, Jamil lembra que Amazonas foi um símbolo de dedicação, coerência, convicção na causa socialista. Participou das "diretas já", foi precursor da luta "fora Collor", além de ter atuação decisiva na elaboração da Constituição de 1988.

O deputado federal José Dirceu, presidente nacional do PT, ressaltou a coerência política com que sempre se conduziu João Amazonas, sua integridade e dedicação à causa pública. "Agora, ele é parte da nossa história", afirmou. Para o líder petista, é necessário destacar que João Amazonas "participou de todas as lutas democráticas, nos momentos mais importantes das causas nacionais."

A deputada federal pelo Amazonas Vanessa Grazziotin (PCdoB) afirmou que João Amazonas representa, para toda uma geração, mais do que um exemplo de dedicação à luta pelas liberdades, uma demonstração de "competência e dedicação que o colocam numa posição de destaque na história de nosso país, devido a suas idéias e seu exemplo".

João Antônio Felício, presidente nacional da CUT, lembra que João Amazonas era militante no movimento sindical e ajudou a criar a Corrente Sindical Classista na CUT, detentora de uma expressão política muito forte dentro da central sindical. "Ele era um comunista de primeira linha, vão fazer falta os princípios que defendia. Era um exemplo a ser seguido pelos trabalhadores e pela juventude, por ser um referencial muito importante para os que querem um Brasil mais justo", considerou.

Nivaldo Santana, presidente estadual do PCdoB, qualificou Amazonas de a maior liderança comunista do Brasil e disse que "durante toda a sua vida se dedicou de forma plena à luta em defesa dos ideais socialistas e da construção de um Brasil democrático, soberano e com justiça social".

Presente ao velório, na manhã desta terça-feira, o senador petista Eduardo Suplicy recordou a convivência histórica entre PCdoB e PT, principalmente nas campanhas por lutas democráticas e nas numerosas coligações que os dois partidos fizeram nos últimos anos. Ele declarou que João Amazonas foi um dos principais coordenadores da luta pela anistia e pelas "diretas já", um trabalho de destaque nas últimas décadas. "Todos o admiram por sua atuação. Ele sempre lutou para transformar o Brasil em uma nação para todos os trabalhadores, para o povo brasileiro. Seu legado é que devemos acreditar sempre, por maiores que sejam os percalços, na busca da verdade, da ética, da justiça para todos", disse Suplicy.

alesp