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Em Minas, um ninho de dinossauros

Descoberta de fósseis transforma localidade mineira em paraíso paleontológico

FRANCISCO LUIZ NOEL


Museu dos Dinossauros / Foto: divulgação

Peirópolis era apenas um povoado como tantos outros da zona rural de Uberaba, no Triângulo Mineiro. Em 1945, 50 quilômetros ao norte do lugarejo, na localidade de Mangabeira, operários que cortavam um morro para dar passagem aos trilhos da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro foram surpreendidos por ossos esquisitos, que se misturavam à terra e às pedras. A notícia acabou chegando aos ouvidos do pesquisador gaúcho Llewellyn Ivor Price, que correu à região, guiado pelo faro paleontológico recém-apurado nos Estados Unidos. Estava no caminho certo: descobriu fósseis com mais de 70 milhões de anos, fez novos achados em Peirópolis e pôs Uberaba no mapa da paleontologia brasileira.

Foco de uma sucessão de descobertas que projetaram o município como a capital brasileira dos dinossauros, Uberaba tem prestígio entre pesquisadores do país e do exterior não só por causa desses grandalhões pré-históricos. A região também é pródiga em fósseis de ancestrais de vertebrados menores, invertebrados e plantas. "Peirópolis e os outros sítios paleontológicos de Uberaba têm diversidade ímpar e grau de conservação excepcional", afiança o diretor do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, Luiz Carlos Borges Ribeiro. Com o centro, da Fundação Municipal de Ensino Superior de Uberaba, funciona o Museu dos Dinossauros, que atrai mais de 100 mil visitantes por ano ao povoado, que não chega a ter 300 moradores.

Nada menos de 2,5 mil exemplares de fósseis compõem o acervo do museu, instalado na antiga estação de trem do lugar, erguida em 1889 no estilo inglês. São restos de dinossauros carnívoros e herbívoros, animais crocodilomorfos, tartarugas, rãs, peixes, moluscos, crustáceos, plantas e algas. No calendário de Peirópolis, o ponto alto é a Semana dos Dinossauros, que chega este ano à 15ª edição. O maior evento nacional de paleontologia para o público infanto-juvenil é realizado no mês de setembro e inclui visitas guiadas ao museu e a escavações, noções de preparação de fósseis em laboratório e oficinas de confecção de réplicas de dinossauros com argila e papel.

O museu é a face mais visível do Centro Llewellyn Ivor Price. Única instituição brasileira do gênero com equipe para escavações permanentes, o centro tem preparadores de fósseis que mantêm o laboratório em atividade contínua. Desenvolve, também, projetos educacionais para crianças e jovens, incluindo o treinamento de universitários em técnicas paleontológicas e geológicas. A instituição mantém parceria de pesquisa com várias universidades brasileiras e organismos internacionais, como o Museu de História Natural de Paris e o Museu Argentino de Ciências Naturais.

Um mestre com seguidores

Antes de os primeiros fósseis serem desenterrados a golpes de enxada e picareta, era em torno da produção de cal que girava a vida em Peirópolis. Seu nome rende homenagem ao espanhol Frederico Peiró, que, em 1911, deu início à extração de calcário e ao fabrico da cal virgem no lugar, antes chamado de Paineiras. Como o produto seguia para o mercado de São Paulo nos trens da Mogiana, o povoado afundou na decadência depois que a linha férrea foi desativada, nos anos 1960. Distante 21 quilômetros do centro de Uberaba, só foi redescoberto no início da década de 1990, quando a prefeitura criou o museu, em meio à mobilização local para a retomada das pesquisas iniciadas por Price.

Filho de americanos, formado na Universidade de Oklahoma e professor em Harvard, o cientista encontrou em Peirópolis grande sortimento de fósseis de animais que ali viveram entre 80 milhões e 70 milhões de anos atrás. Em excelente estado de conservação, eles resistiram à ação do tempo porque, explica a ciência, acabaram se depositando no fundo de lagos e impregnaram-se de carbonato de cálcio, abundante nas águas que corriam na região. Exemplo disso é a tartaruga Cambaremys langertoni, descoberta com 90% da carapaça e apresentada em 2005 pelos pesquisadores Marco Aurélio Gallo de França e Max Cardoso Langer, da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto.

O batismo do centro de pesquisas com o nome de Price, morto em 1980, é homenagem mais do que merecida. Por quase 30 anos, o cientista pesquisou em terras do Triângulo Mineiro e de municípios paulistas, relatando suas descobertas e estudos em artigos escritos para a nascente comunidade científica do país. Considerado o pai da paleontologia brasileira, ele permaneceu na região até 1974. Todo o acervo de fósseis coletado por ele e seus auxiliares, ao longo de três décadas, integra a coleção do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), no Rio de Janeiro.

Mestre respeitado e com muitos seguidores, Llewellyn Ivor Price também dá nome a uma das últimas espécies de dinossauros descritas a partir de ossos de Peirópolis – o Trigonosaurus pricei. "Trigono é referência ao Triângulo Mineiro, saurus significa lagarto e pricei é uma homenagem a ele, que coletou o fóssil", explica no DNPM o paleontólogo Rodrigo Santucci, um dos que estudaram o animal. A descrição, publicada na revista "Arquivos do Museu Nacional", foi partilhada pelos pesquisadores Diógenes Almeida Campos, aluno de Price e também do DNPM, Alexander Kellner e Marcelo Trotta, do próprio Museu Nacional, e Reinaldo Bertini, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O Trigonosaurus pricei foi apresentado em abril de 2006, junto com o Baurutitan britoi. Os dois dinossauros, descrevem os pesquisadores, tinham corpo avantajado, cauda e pescoço compridos e cabeça pequena. O tamanho do rabo marcava a diferença – o do Trigonosaurus era longo, num corpanzil de 8 toneladas e mais de 9 metros de comprimento, enquanto o Baurutitan possuía cauda curta e fina num corpo maior, com 10 toneladas e 12 metros de comprimento. Em sua dissertação de mestrado, em 2002, Santucci já tinha identificado quatro espécies de titanossauros, valendo-se de vértebras dorsais e caudais. Eles viveram no fim do Cretáceo Superior, há 70 milhões de anos.

"Os quatro são muito semelhantes a outros dinossauros saurópodes, que eram quadrúpedes, com membros parecidos com os de um elefante, o pescoço e a cauda longos", explica Santucci. "Três não ultrapassavam 10 a 12 metros de comprimento, mas pelo menos uma das espécies parece ter atingido 20 metros. Apesar de pertencerem a espécies novas, não receberam nomes formais, pois são representados apenas por poucas vértebras. Nada impede que isso aconteça, se novos fósseis mais completos forem encontrados." O paleontólogo aprofunda, atualmente, o estudo de duas vértebras desenterradas em Peirópolis.

Os dinossauros dividem as atenções com duas outras estrelas do povoado uberabense – o crocodilo Uberabasuchus terrificus e um Maniraptora. Predador com 2,5 metros e dentes afiados, o "crocodilo terrível de Uberaba", na tradução portuguesa, foi apresentado em 2004 por Borges Ribeiro e os pesquisadores Ismar de Souza Carvalho e Leonardo Avilla, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "É um dos fósseis mais completos já descobertos na região", salienta Souza Carvalho. De espécie até então desconhecida, descrita pelos três na revista científica "Gondwana Research", do Japão, o animal é parente de um crocodilo encontrado em Madagascar, reforçando a idéia de que a África e a América do Sul foram ligadas um dia.

O Maniraptora de Peirópolis, da família dos dinossauros terópodes, precursores dos pássaros, embora não voassem, assemelha-se às dinoaves com plumas que vêm sendo descobertas na China. A presença desses carnívoros na região de Uberaba é comprovada pelo achado de uma de suas garras, com 5,5 centímetros de comprimento e avaria apenas na extremidade. O animal tinha em torno de 2 metros de comprimento e pesava cerca de 80 quilos, de acordo com o estudo científico publicado em 2005 por Borges Ribeiro, Souza Carvalho e o pesquisador Fernando Novas, do Museu Argentino de Ciências Naturais, na revista da instituição.

Pelo menos uma dúzia de espécies de animais pré-históricos já foi descrita com base em fósseis de Peirópolis e sítios próximos. Entre eles, outros três dinossauros carnívoros, das famílias Abelisauridea, Carcharodontosauridae e Velociraptoridae. Além do Uberabasuchus terrificus, os pesquisadores chegaram a mais dois ancestrais de crocodilos – o Peirosaurus tormini e o Itasuchus jesuinoi. Outras preciosidades de Peirópolis são os fósseis do lagarto Pristiguana brasiliensis e da rã Baurubatrachus pricei – outro nome de batismo que reverencia o cientista que revelou a importância da região para a paleontologia. Como as pesquisas locais não param, outras descobertas estão a caminho.

A mais nova frente de exploração do Centro Llewellyn Ivor Price é o sítio localizado em 2004 na serra da Galga, à altura do quilômetro 15 da BR-050, que liga Uberaba a Uberlândia. Como em 1945, a descoberta ocorreu por acaso, durante as obras de duplicação da rodovia, graças à curiosidade científica de Borges Ribeiro. "Passei por lá, vi uma vértebra e notei que havia muitos outros elementos ósseos", conta o diretor do centro. Iniciadas as escavações, várias relíquias pré-históricas foram encontradas, como um fêmur e duas falanges do abelissauro, assim como dentes de titanossauros e fragmentos ósseos de peixes.

Senhores do Cretáceo

Os sítios de Peirópolis e de outros pontos da região estão em solos sedimentares da formação Marília, na bacia Bauru – área geológica espalhada por Minais Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Seus sedimentos, com 80 milhões de anos, datam da época do Cretáceo Superior, marcada pelo apogeu e pela extinção dos dinossauros no planeta. Os continentes haviam ganhado forma 40 milhões de anos antes, no Cretáceo Inferior. De acordo com a teoria da deriva continental, eles se desprenderam de duas grandes massas – o Gonduana, ao sul, e a Laurásia, ao norte. No princípio, de acordo com a ciência, havia apenas a Pangéia – o gigantesco bloco único de superfície terrestre que começou a se dividir há 200 milhões de anos, no período Jurássico.

Na área da bacia Bauru, os dinossauros do Cretáceo Superior pertenciam a três grandes grupos. Os titanossauros, herbívoros quadrúpedes com até 20 metros de comprimento, 6 de altura e mais de 12 toneladas, eram os maiores dentre todos os que viveram no Brasil. Esses gigantes conviviam com os carnossauros, bípedes de até 6 metros, dentes afiados, membros inferiores bem desenvolvidos e superiores reduzidos, e com dinossauros do grupo dos celurossauros, carnívoros de 2 metros, com garras resistentes e muita agilidade no ataque.

Peirópolis destaca-se na bacia Bauru não só por concentrar o maior número de achados de dinossauros, mas também pela constância da atividade paleontológica, na esteira das descobertas pioneiras de Llewellyn Igor Price. "Estamos na bacia sedimentar mais rica e mais prospectada do Cretáceo Superior do Brasil. Há fósseis tanto no território do Triângulo Mineiro quanto no oeste de São Paulo. A diferença é que lá não existe um trabalho sistemático como o nosso em Uberaba. Não só fazemos pesquisa como desenvolvemos iniciativas educacionais e museológicas", explica Borges Ribeiro.

O movimento no museu comprova a dianteira de Peirópolis sobre instituições do gênero em municípios paulistas como Marília e Monte Alto. "Geramos informação no centro e traduzimos para os visitantes", diz o diretor. Escoltado por um titanossauro de concreto em tamanho real, instalado no jardim, o museu tem não só réplicas em poliéster de dinossauros e outros seres que povoaram a região, mas também simulações de seu habitat. "O público quer ver o bicho vivo", brinca Borges Ribeiro. "Se expomos uma garra, mostramos ao lado a pata reconstruída." O trabalho vai além da exibição de ossos, a exemplo de museus de história natural como os de Nova York e Londres, que contam com cenários até com dinossauros em movimento.

A combinação de pesquisa e difusão científica que vem dando fama a Peirópolis tem a chancela da Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP), que congrega 360 pesquisadores. "É um sítio singular, uma das regiões mais ricas em fósseis de dinossauros do país, de grande importância para o avanço do conhecimento desse grupo de répteis que tanto chama a atenção do público", afirma o presidente da entidade, João Carlos Coimbra, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele completa: "A paleontologia de vertebrados é uma das áreas da ciência com maior apelo popular. Ela nos permite despertar o interesse de todos pelo conhecimento científico."

Apesar da riqueza dos sítios de Uberaba, a região não desbanca o primado científico da chapada do Araripe, no Ceará, divisa com Pernambuco e Paraíba. Também do Cretáceo Superior, esta é considerada o sítio paleontológico mais importante do país e um dos mais notáveis do mundo – não pelos fósseis de dinossauros, que são poucos, mas pela profusão de restos de peixes, insetos e pterossauros (antigos répteis voadores). "A preservação é excepcional, incluindo tecidos moles, e não só esqueletos", diz o presidente da SBP. "Mas o valor de Peirópolis está nos ossos, dentes e outras partes de dinossauros, o que permite entender melhor a biologia e a evolução desses répteis."

Ovos raros

Os ovos de dinossauros são um capítulo à parte na história dos fósseis de Uberaba. O achado mais antigo, conta a paleontóloga Cláudia Maria Magalhães Ribeiro, especialista em reprodução de répteis pré-históricos, também ocorreu em 1945, na mesma obra que retificou a linha da Mogiana, em Mangabeira. "Foi o primeiro ovo fossilizado descoberto no Brasil e em toda a América Latina. Como era esférico, os operários jogaram bocha com ele, pensando que fosse uma bola de barro. Isso provavelmente fez com que a casca se perdesse, devido ao atrito com o chão", lamenta Cláudia. "Restou apenas o molde interno – o interior do ovo, preenchido por uma mistura de areia e argila."

A raridade foi estudada por Llewellyn Ivor Price, que, em trabalho publicado em 1951, relacionou a descoberta a dinossauros saurópodes. Outros ovos vieram depois. Em 1967, em Peirópolis, três deles, menores e elípticos, foram encontrados durante a perfuração de um poço. Estavam fragmentados, mas puderam ser recompostos. Em 1993, muitas cascas de ovos de dinossauros foram desenterradas no vizinho distrito de Ponte Alta. Mais um ovo surgiu quatro anos depois, novamente em Peirópolis. Semi-esmagado pelo peso dos sedimentos, tinha grande parte da casca preservada. "Pelas características, associo essa descoberta ao tipo de ovo encontrado em 1945", afirma Cláudia.

Os ovos fossilizados também datam de 80 milhões a 70 milhões de anos atrás. Recobertos por sedimentos, conservaram-se nos locais de postura, acredita a paleontóloga. "Foram provavelmente depositados em ninhos nas margens de rios ou em locais protegidos, próximos a alagadiços, num grande vale que caracterizava a região de Uberaba no Cretáceo", explica. Os de Peirópolis são subesféricos, com 16 a 18 centímetros de diâmetro, assemelhados a outros descobertos fora do país. A paleontóloga, que estudou os ovos em seu doutorado, não tem dúvidas: "O tamanho, a ornamentação e a microestrutura das cascas estão associados a ovos com postura relacionada a titanossauros".

O encontro dos ovos singulariza ainda mais a região de Uberaba no panorama da paleontologia brasileira, pois não há outros achados semelhantes no país. "Levando em conta a fragilidade de um ovo, descobertas desse tipo são extremamente raras, ainda mais porque as características climáticas do Brasil, nos últimos milhares de anos, têm sido marcadas por condições intempéricas severas. Sol e chuva, combinados, são essenciais para a agricultura, mas altamente danosos para os fósseis", diz Cláudia. Professora de paleontologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), ela faz pesquisas na região desde 1995.

Peirópolis vive, literalmente, dos dinossauros e outros animais que habitaram a região. De pousadas a restaurantes com nomes de dinossauros, passando pela fabricação de doces e outros produtos artesanais, a economia é movimentada pelo turismo cultural o ano todo. "É um grande exemplo de como a pesquisa científica pode ter retorno social", observa Souza Carvalho, da UFRJ. No DNPM, Santucci concorda: "A população está engajada na preservação do sítio, pois todos lucram com a grande quantidade de visitas ao museu". A preocupação dos moradores faz escola. Em Uberaba, a prefeitura só autoriza obras após parecer do centro paleontológico.

O futuro do povoado passa pela ascensão ao status de segundo geoparque do país, no rastro do Geopark Araripe, no Ceará. "Os sítios da região de Peirópolis contribuem para a compreensão dos ecossistemas terrestres no Cretáceo e das transformações ambientais nos continentes a partir do surgimento do Atlântico", destaca Souza Carvalho. Outro sonho é o reconhecimento como patrimônio cultural da humanidade. A campanha está só começando, com o registro de Peirópolis na Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep) – primeiro passo para pleitear o título à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).


Dos dinossauros ao Homo sapiens

Éon

Era

Período

Fanerozóico

Paleozóico

Cambriano

Ordoviciano

Siluariano

Devoniano

Carbonífero

Permiano

Mesozóico

Triássico

Jurássico

Cretáceo

Cenozóico

Paleogeno

Neogeno

Quantos anos tem a Terra? Os cientistas estão longe de chegar a um acordo, mas convivem com a idéia de que ela existe há cerca de 4,5 bilhões de anos. A escala do tempo geológico divide-se em éons, constituídos por eras, formadas por períodos, que são compostos por épocas, subdivididas em idades. Contando de trás para a frente, estamos no éon Fanerozóico (iniciado há 545 milhões de anos), era Cenozóica (65 milhões de anos), período Neogeno (23 milhões de anos), época do Holoceno (de 11 mil anos para cá).

Os dinossauros também viveram no Fanerozóico, mas na era Mesozóica (de 248 milhões a 65 milhões de anos atrás). Essa era inclui os períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo. Este último é constituído por duas épocas: Inferior (de 145 milhões a 99 milhões de anos) e Superior (de 99 milhões a 65 milhões de anos). O gênero Homo apareceu muito depois, no Neogeno (período dividido em quatro épocas: Mioceno, Plioceno, Pleistoceno e Holoceno), mais exatamente entre 2,5 milhões e 2 milhões de anos atrás, no fim do Plioceno e início do Pleistoceno. Do gênero, a única espécie sobrevivente é o Homo sapiens, surgido há 200 mil anos, durante o Pleistoceno.


De norte a sul, muito passado a revelar

O Brasil possui sítios paleontológicos do Oiapoque ao Chuí, pois conta com requisito vital para a ocorrência de fósseis: a existência de grandes bacias sedimentares. Essas áreas se formaram devido à erosão de rochas e ao acúmulo de materiais orgânicos em terrenos que, há milhões de anos, eram mais baixos. Por isso, restos de animais e vegetais pré-históricos vêm sendo encontrados de norte a sul desde o século passado. Há relatos de achados que remontam ao Brasil Colônia.

No caso dos dinossauros, o mais antigo registro científico data de 1924. Na Paraíba, o engenheiro Luciano Jacques de Moraes, da Inspetoria de Obras contra a Seca, encontrou pegadas desses animais no leito seco do rio do Peixe, em Sousa. No município, novos rastros e sítios de fósseis do Cretáceo Inferior, com 110 milhões de anos, foram descobertos nos anos 1970 pelo padre paleontólogo Giuseppe Leonardi. Sousa tem hoje parque temático e museu, e conta com uma barragem que mantém a cheia do rio longe das pegadas.

Em 1937, no município gaúcho de Santa Maria, uma expedição da Universidade Harvard localizou os fósseis do mais antigo dinossauro de que se tem notícia no Brasil. O Staurikosaurus pricei – homenagem a Llewellyn Ivor Price, que estava no grupo – foi o primeiro a ser descrito no país. Com 2 metros de comprimento e 60 centímetros de altura, viveu há 225 milhões de anos, no Triássico Superior. Seus ossos estão no Museu de Zoologia Comparada de Harvard, nos Estados Unidos.

Além dos sítios mineiros e paulistas da bacia Bauru, duas regiões se destacam no panorama atual, que registra descobertas em vários estados. Uma é a chapada do Araripe, no Ceará, onde o cientista inglês George Gardner se deparou com fósseis de peixes na década de 1830. A outra é a laje do Coringa, na ilha do Cajual, perto de São Luís, no Maranhão. Descoberta em 1994 pelo geólogo Francisco José Corrêa Martins, da UFRJ, e datada do Cretáceo Superior, apresenta a maior concentração de restos de dinossauros a pequena profundidade no Brasil.

Campo não falta, portanto, para os paleontólogos – só a Sigep tem descrição de 27 sítios. "A paleontologia é muito jovem no Brasil. Considerando a extensão do país, nosso número de doutores ainda é modesto. Mas eles já existem em quase todos os estados, o que é fundamental para a pesquisa", observa o presidente da SBP, João Carlos Coimbra. Os pesquisadores defendem a criação de linhas especiais de financiamento para a atividade. Ainda é sonho, mas há boas notícias: os recursos federais para a paleontologia, testemunha Coimbra, vêm aumentando nos últimos anos.

 

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