Sporting despede-se de Alvalade

Começou com uma derrota a vida do Sporting no Estádio José Alvalade. A 10 de Junho de 1956, contra os brasileiros do Vasco da Gama, o Sporting perdeu por 3-2. O primeiro "onze" leonino que subiu ao relvado era composto por: Carlos Gomes, Caldeira, Pacheco, Cabrita, Falé, Juca, Hugo, Vasques, Miltinho, Imbelloni e Martins. O primeiro golo foi um autogolo de Juca. Estavam mais de 60 mil pessoas nas bancadas. No dia da inauguração, foi colocado um pedaço de terra proveniente de Olímpia, Grécia.Hoje, frente ao já despromovido Vitória de Setúbal, o Sporting vai despedir-se daquela que foi a sua casa durante os últimos 47 anos. Quando faltam menos de dois meses para a inauguração do Alvalade Século XXI, o Sporting cumpre o seu último jogo num recinto que ajudou a construir a reputação de um dos "grandes" do futebol português. Enquanto esteve em Alvalade, o Sporting conquistou nove títulos de campeão português, oito Taças de Portugal e uma Taça das Taças."O que me vai fazer mais confusão vai ser quando tudo aquilo for abaixo. Mas tenho orgulho do novo estádio que se está a fazer. Tenho pena de já ter esta idade e não poder jogar. Tive muitas alegrias em Alvalade, mais alegrias que tristezas", confessou ao PÚBLICO Jesus Correia, um dos cinco "violinos" que marcaram o futebol do Sporting durante os anos 40 e 50. Mesmo sem nunca ter jogado em Alvalade (trocou o futebol pelo hóquei em patins em 1952), o antigo avançado "leonino" nunca deixou de ir ao estádio. "Deixei de jogar futebol, mas nunca deixei de ir ao estádio, vou sempre para o meu lugarzinho lá na tribuna, mato as saudades e revejo os amigos", refere.Cerca de 1400 homens ergueram o estádio que recebeu o nome do fundador do clube, José Alvalade, neto do visconde de Alvalade e avô de José Roquette, que seria presidente do Sporting nos anos 90. Segundo o recém-publicado livro de Luís Miguel Pereira "Estórias de Alvalade", foram utilizadas na construção do recinto, projectado pelos arquitectos António Augusto Sá da Costa e Anselmo Fernandez - este, o técnico que conduziu o Sporting à conquista da Taça das Taças -, sete mil toneladas de cimento, 30 toneladas de pregos e foram retirados 85 mil metros cúbicos de terra provenientes de escavações e aterros.O novo Estádio de Alvalade não deu sorte imediata ao Sporting. Na época 1956/57, a primeira na nova casa, o título nacional foi para o Benfica (o Sporting foi quarto), mas na época seguinte, ainda com dois dos cinco "violinos" (Travaços e Vasques eram os sobreviventes, após o abandono de Albano, Peyroteo e Jesus Correia), os "leões" estrearam-se a ganhar campeonatos em Alvalade.E não foi só com futebol que se escreveu a história de Alvalade. No espírito do ecletismo que sempre marcou o emblema do "leão", o recinto foi palco de grandes momentos em outros desportos. Foi em Alvalade que, por exemplo, Fernando Mamede, sem "lebres" e em contra-relógio, bateu o recorde da Europa dos 10 mil metros, fixando a marca em 27m27,07s. Também o ciclismo passou pela pista do estádio em várias ocasiões. Muitas vezes a Volta a Portugal em bicicleta terminou em Alvalade, quase sempre com dezenas de milhar de espectadores a assistir. Joaquim Agostinho, Eddie Merckx, Alves Barbosa e Marco Chagas foram alguns dos homens que pedalaram no estádio.No último dia de Alvalade, Jesus Correia, agora com 79 anos, vai ter a oportunidade de dar uns toques na bola, quando der o pontapé de saída do jogo dos "Antigos Campeões" e promete estar presente na inauguração do novo recinto, marcada para 6 de Agosto com os ingleses do Manchester United. "Agora com o campo novo vou ver se não morro entretanto para vestir novamente a camisola e jogar no novo campo", diz o "violino", que ainda não tem lugar no Alvalade XXI. "Mas vou ter", garante.

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