De Kennedy Alencar, na Folha Online
Além da disputa pelo poder congressual, a eleição para presidente da Câmara foi palco de demarcação de terreno entre os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito de 2010. Ciro Gomes (PSB) distanciou-se do PT, que se dedicará nos próximos anos a construir um novo projeto presidencial. Lula, que disputou cinco vezes o Palácio do Planalto, não poderá concorrer.
É cedo para análises definitivas. Leitores indagam como é possível avaliar uma disputa tão distante. Ora, é da natureza dos políticos tomar decisões de acordo com seus planos de médio e longo prazo. E foi isso o que andou acontecendo nos últimos dias.
A vitória do deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) na eleição da Câmara fortaleceu a seção petista de São Paulo. Esse grupo foi o que mais perdeu quadros nas crises do mensalão e do dossiegate. A maioria trabalha a favor do sonho presidencial da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. E pressiona Lula para que a coloque na pasta da Educação.
Dois outros petistas compõem com Marta o que seria uma espécie de primeiro pelotão do partido: o governador da Bahia, Jaques Wagner, e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel.
Wagner e Pimentel integram o grupo que atribui à hegemonia paulista do PT a origem das grandes crises do governo Lula. Wagner está no primeiro mandato na Bahia. Hábil articulador e amigo do peito de Lula, ele terá o desafio de fazer uma administração com boa repercussão nacional. O presidente da República está disposto a ajudá-lo.
Os ministros do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, das Relações Institucionais, Tarso Genro, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, também surgem como presidenciáveis nas avaliações petistas, mas hoje parecem ter menos chance de emplacar do que Marta, Wagner e Pimentel.
Patrus é também um político de Minas, o segundo mais importante Estado da Federação. Toca uma área do governo que teve êxito reconhecido nas urnas em 2006, a social. Afina-se com Pimentel no pensamento moderado sobre economia e política. Pode ser uma surpresa.
Um trunfo de Tarso é a boa relação que tem mantido com o PMDB, partido que forma o núcleo da aliança que sustenta Lula no segundo mandato. Peemedebistas elogiam a sua condução nas articulações sobre a presidência da Câmara e na negociação a respeito do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A um passo do Ministério da Justiça, Tarso precisará vencer a desconfiança de partidarização da Polícia Federal. Se vier mesmo a substituir o sagaz Márcio Thomaz Bastos, e se avançar no difícil terreno da segurança pública das grandes cidades, o PT poderia se render à sua candidatura. O ministro, porém, gosta sempre de afastar a possibilidade de ser candidato. Nas conversas reservadas, coloca-se fora do páreo. Mas é da política, todos os cotados agem assim.
Dilma Rousseff é lembrada como presidenciável por ser a ministra mais poderosa do segundo mandato. Apesar de tocar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) num comitê gestor com os colegas da Fazenda e do Planejamento, ela se comporta como a dona do plano desenvolvimentista.
Petistas, porém, avaliam que Marta está anos-luz à frente de Dilma na preferência partidária. Ela teria de se revelar um talento em articulação política, o que não parece ser o caso dada a forma dura como trata colegas e subordinados. Tem ainda relação ruim com a imprensa.
Dilma possui uma biografia respeitável. Militante de organização clandestina que combateu a ditadura militar de 1964, foi prisioneira. Apesar desse currículo, é uma "novata" no PT. Mineira, ela fez carreira no PDT de Leonel Brizola (seção gaúcha desse partido) antes de ingressar nas fileiras petistas.