INTRODUÇÃO
... as flores que nunca morrem,
são essas que em ti se movem.
Árvore do Mundo, Carlos Nejar
... as flores que nunca morrem,
são essas que em ti se movem.
Árvore do Mundo, Carlos Nejar
Quem vai podar o homem dos sonhos, das suas ilusões, da imaginação fértil e livre que constrói os básicos sentidos para o mundo e a vida. Isso, até hoje, não pode, e não deve ser contido. Os símbolos e a linguagem (outro símbolo) planam soltos. Vêm, de onde ninguém sabe. E são eles que identificam uma sociedade, um povo, dando-lhe uma identidade singular, onde quer que ele esteja.
Os mitos e as lendas são fenômenos da psique, dos dados individuais e coletivos, da trajetória épica, trágica ou cômica, dos seres humanos. Através dos mitos e das lendas pode-se penetrar nos meandros psicológicos dos homens, investigar seus desejos e suas leituras da terra e de si mesmos; o que é, num certo sentido, conhecer a própria história. Só que em uma visão mais ampla do que a análise fatual. É uma tarefa árdua tentar divisar nas mitologias seus possíveis adventos fatuais. Mitos de criação do mundo, com seus heróis épicos em luta com a natureza e os deuses, são comuns nas sociedades antigas.
Essas histórias estão recheadas de eventos naturais catastróficos e monstros transumanos, contra os quais os heróis e heroínas se põem em luta bravia, para redimir a sociedade, de uma falta, uma culpa, ou um desvio impensado das conveniências divinas. Muitos desses eventos parecem ter sido ocorrências físicas, ou geológicas, reais. Mas, como o homem podia explicar o inexplicável? Os rituais de nascimento, morte e de passagens, as viagens fantásticas, são procedimentos necessários de expiação, busca da paz, da superação, da transposição para uma nova posição individual e social; são caminhos para o apaziguamento da alma. E, assim, os mitos e as lendas se fizeram e se fazem.
Como para a poesia está o poema. Ou seja, a antiga discussão entre forma e conteúdo. Sendo o poema a forma, as vestes da poesia, que se vela muito mais além e guarda os sentidos mais próprios. Muitas vezes está a lenda para o mito. O mito é fundante, mais profundo, uma matriz originária; as lendas e contos populares contam os mitos, de diversas maneiras, sendo que esses relatos vão se metamorfoseando, conforme o tempo passa, a natureza e a sociedade mudam.
O tempo e a imaginação popular se encarregam de rebuscá-los, continuamente. Como uma pintura que jamais é finalizada, interminável; pois, a cada dia o artista, ou os artistas, lhe altera as cores, os tons, as formas. E assim infinitamente.
As lendas e os contos populares, porém, estão libertos. Não estão presos ao destino de serem cantores dos mitos. Soltos, criam suas próprias histórias. Sua base fundamental é a oralidade. A fala do povo. É na conversa do povo, nos sotaques, feitos e jeitos, na produção artística e no trabalho, nos acontecimentos que "ninguém" viu, mas ouviu dizer, que os contos florescem. Férteis, sólidas crenças e crendices, pois bem arraigados na liberta imaginação.