14 de março de 2013

CONVERSANDO SOBRE JOÃO PAULO RAMALHO





**ESCLARECIMENTO:  Localizamos na cidade de Praia Grande, litoral de São Paulo, a irmã do dublador João Paulo Ramalho.
 Entramos em contato, pessoalmente, com Maria José Ramalho de Oliveira, a qual nos forneceu algumas informações a respeito da biografia de seu irmão.
Encontro realizado em 13/01/2013 em sua residência.

OBS> Procuramos retirar o máximo da oralidade no texto.

***************

M.A.: Primeiramente, quero lhe agradecer Maria José por ter nos recebido, para trazer mais dados para os fãs do João Paulo que estão espalhados pelo Brasil.

M.J.: É bom saber que meu irmão é ainda lembrado por algumas pessoas !

M.A: Vocês são de São Paulo ? Como foi a infância de vocês ?

M.J.: Meu irmão nasceu em 6 de agosto de 1932. Sou mais nova apenas dois anos. Praticamente somos de São Paulo. Nascemos numa cidadezinha do interior chamada Olímpia. Passamos alguns poucos anos lá, mas meu pai foi transferido para São Paulo quando tínhamos por volta de 10 anos de idade, mais ou menos. Por isso, acabamos sendo mais paulistanos !

M.A.: O João Paulo sempre demonstrou vocação em querer seguir a carreira artística ?

M.J.: A adolescência naquela época era muito diferente e o  meu irmão adorava desde uns 14 anos de idade, ouvir os programas de Rádio, mas era fã das rádio-novelas. Eu me lembro de que ele ficava sempre lembrando minha avó paterna, que morava conosco, para não esquecer de ligar o Rádio. Ele já dizia que queria ser artista, mas o que mais o deixava apaixonado eram as rádio-novelas. Na realidade, já com uns 16 anos queria ser radioator.

M.A.: E como ele conseguiu ?

M.J.: Primeiro, foi muito difícil convencer a meu pai sobre essa carreira. Lembro que havia certos conflitos, porque o João Paulo já frequentava algumas rádios para ser conhecido. Meu pai, então, resolveu dar a ele uma proposta: ele frequentaria um curso superior e depois de formado poderia seguir a carreira artística.

M.A.: Foi isso o que ocorreu ?

M.J.: Bem, o João Paulo começou a frequentar o curso de Direito, mas sempre vivia infiltrado nas diversas emissoras de Rádio, sem que meu pai soubesse, é logico. Dessa forma, ele foi formando um círculo de amigos e assim que se formou conseguiu um pequeno personagem, creio que na Rádio Difusora. No fim, meu pai acabou cumprindo a palavra, porque ele já havia feito uma faculdade, mas era radioator.

M.A.: Como foi a carreira de radioator ?

M.J.: Meu irmão era motivado pela paixão em interpretar e, rapidamente, foi conseguindo personagens de maior destaque. Confesso a você, Marco Antônio, não pelo fato de ser o meu irmão, mas o João Paulo tinha uma força extraordinária  para fazer rádio-novela, para mim era um dos melhores devido, não só a voz, mas também à interpretação.

M.A.: Como foi para ele o declínio da rádio-novela ?

M.J.: Foi difícil. Ele não aceitava. Ele tinha até reservas contra as novelas da tv por causa disso. A última rádio em que atuou foi a Rádio São Paulo, onde ficou durante muitos anos. Nos anos 60, muitos radioatores já estavam indo para a dublagem, porque a Rádio São Paulo foi desativando, aos poucos, as rádio-novelas. Ele, praticamente ficou até o final, mas aí as condições financeiras começaram a apertar a situação. Muitos colegas seus, que estavam na dublagem, diziam que era o novo caminho. Mas somente com a insistência do Wolner Camargo é que fez com que ele fosse para a dublagem. No início achava meio estranho, mas depois também se apaixonou pela profissão, porque poderia interpretar diversos personagens.

M.A.: Você se lembra de algum fato sobre esse período da dublagem ?

M.J: Nessa época, já estávamos morando separados, porque cada um já havia casado. Eventualmente, ele citava que adorava dublar os atores mais dramáticos e os vilões.

M.A.: Ele dublou, mais ou menos de 1965 até 1976 quando o estúdio AIC encerrou as atividades, o que ocorreu depois ?

M.J.: O João Paulo possuía uma certa dificuldade para lidar com as mudanças que ocorrem nas nossas vidas. Tudo muda para todo mundo. Quando a AIC fechou, ele se isolou um pouco, mas ainda fez algumas dublagens, mas como fazia algumas pontas em novelas da Tupi, ele acreditava que um dia teria um bom destaque numa novela. Mas, a Tv Tupi estava em declínio e isso nunca ocorreu. Com a falência da Tupi, ele viu que essa porta se fechava definitivamente. Aí, ele sempre teve grandes amigos, e o Davi Cardoso começou a chamar para participar de alguns filmes nos anos 70.

M.A.: Um filme em que ele é muito lembrado é "Jeca e o seu Filho Preto" do Mazzaropi, houve outros ?

M.J.: Esse filme, ele gostou muito de ter participado, porque inclusive eu acho até que ele fez um advogado, se não me engano. Mas, vivíamos num período onde o Cinema brasileiro era muito censurado, filmes de baixa qualidade e isso o desanimou, porque não surgiram bons personagens. Foi um período muito difícil !

M.A.: Mas ele retornou à dublagem na década de 80 e 90 com sucesso.

M.J.: Meu irmão, novamente, foi lembrado para dublar por um grande amigo do meio da dublagem. Eu acho que foi no estúdio Álamo onde ele retornou, além de dirigir dublagens. Aí, estando no meio da dublagem, os convites retornaram. Algumas vezes dublava um personagem em um filme, mas os anos haviam passado, muita coisa mudou e não era mais escalado para tantos personagens, porque ele gostava mais de dublar do que dirigir a dublagem, mas financeiramente compensava um pouco mais.

M.A.: Porque ele abandonou a dublagem ?

M.J: No final dos anos 90, ele começou a se sentir cansado, mas digo fisicamente mesmo. Não sei exatamente o ano, talvez tenha sido já em 2000, ele descobriu que tinha uma doença no fígado e que precisava de um longo tratamento. Nessa época, ele estava divorciado e eu já estava viúva. Aí, o convidei a vir morar comigo aqui no litoral para que eu pudesse cuidar do seu tratamento. Infelizmente, a sua insuficiência hepática não permitia que ele trabalhasse mais e se deslocasse para os estúdios de dublagem, porque necessitava de muito repouso.

M.A.: Ele faleceu desse problema no fígado ?

M.J.: Infelizmente sim. Apesar de que morou comigo durante alguns anos, mas praticamente ninguém sabia o que havia ocorrido com ele. O João Paulo não queria que as pessoas soubessem que ele estava muito doente, por isso você encontrou dificuldades em saber informações a respeito.

M.A.: Quando ele faleceu ?

M.J: Foi em 10 de dezembro de 2006. Quanto às fotos da carreira dele, tudo isso ficou com os meus sobrinhos em São Paulo.

M.A.: Muito obrigado por este depoimento !

M.J.: Eu agradeço imensamente em poder falar sobre o meu irmão que foi um excelente artista, embora totalmente esquecido, mas fico feliz em saber que há pessoas que ainda admiram o seu trabalho e se lembram dele !



**Aqui, temos o trecho do filme "Jeca e o seu Filho Preto, de 1978, no qual João Paulo Ramalho faz o personagem do Promotor no julgamento.
Ele participa somente neste trecho.
OBS> Devido ao áudio do Cinema Nacional apresentar certas deficiências, naquela época, a captação do som é desigual, portanto em alguns momentos fica difícil o entendimento do que é falado.
video


**Neste vídeo, encontramos João Paulo Ramalho dublando Kirk Douglas no filme Spartacus:
video


**Aqui, uma das últimas dublagens realizadas pela AIC. 
João Paulo Ramalho dubla o ator Martin Milner, personagem principal, na série de tv "A Famíla Robinson":
video








**Marco Antônio dos Santos**

0 comentários:

Postar um comentário