Jangada Brasil, a cara e a alma brasileiras
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Maio 2005 - nº 78 - Ano VII


Sumário

Festança

Tambor de crioula
Domingos Vieira Filho

Festa do Divino
Francisco Pati

A festa da cumieira
Guilherme Santos Neves

Cancioneiro

Saruá
Carlos Devtnelli

Saudação aos noivos

Martelos de Rufino, por Hermógenes Lima Fonseca

Imaginário

O moço que deixou de jogar
Lindolfo Gomes

Três Deus fez
Lindolfo Gomes

Contos de adivinhação
Fausto Teixeira

Colher de Pau

Manual de cozinha
Amadeu Amaral

Cajus
Alfredo de Carvalho

Culinária tradicional goiana
Iara Barbosa Navas

Oficina

A viagem do boiadeiro
Deise Sabbag

Um mercado original funciona em Taubaté
Almir Gajardoni

A cerâmica utilitária de São Sebastião
Oswald de Andrade Filho

Palhoça

O lenço
Júlia Lopes de Almeida

Idalino, tipo popular
Manoel Higino dos Santos

Tirar o chapéu

Panacéia

Os maronitas
João do Rio

Padre nosso pequenino...
Guilherme Santos Neves

Fanatismo religioso
Edigar de Alencar

Veja o que foi publicado em Imaginário
Apoio Cultural
Simplicitate Design

Veja como sua empresa pode apoiar a nossa iniciativa.

Imaginário
Textos sobre lendas e mitos; contos; personagens; fábulas; narrativas populares; seres fantásticos...

O moço que deixou de jogar

Lindolfo Gomes

Havia um moço muito viciado no jogo. Passava as noites fora de casa, não se importava com os negócios, ia cada vez em pior.

A mulher pedia-lhe sempre, com boas maneiras, que deixasse aquele vício, que mudasse de vida.

Qual o quê! Não havia meio de conseguir nada. Todas as tardes o moço montava na sua egüinha e ia jogar no arraial.

Estava mesmo perdido por uma vez. Uma tarde, a mulher lhe pediu ainda que não fosse para o jogo, que ficasse em casa com ela e o filhos e largasse de jogar. E chorava a coitadinha que metia dó.

Mas o moço respondeu que não havia de largar de jogar nem pelo diabo.

— Pois vai, Manuel! — era este o seu nome — mas quando voltares me acharás morta.

— Pois morra com o diabo!

E foi mesmo.

À meia-noite em ponto, quando mais estava o moço perdendo, aparece um desconhecido à mesa de jogo.

Aproximou-se do moço e disse-lhe que a mulher tinha morrido.

— Pois morra com o diabo!

Quis ainda ficar, mas os parceiros acabaram com o jogo e teimaram com ele que fosse para casa.

Ele saiu, montou na egüinha e quando tocou viagem viu que o desconhecido ia montado na garupa. A égua partiu na disparada corcoveando que fazia medo, rompendo cercas, saltando valos e o desconhecido sempre agarrado com o cavaleiro, que tremia de pavor e já estava todo machucado, com o braço quebrado e o rosto escorrendo sangue.

Assim foram parar num lugar muito distante, num palácio de onde saía fogo de todos os lados. Era o perfeito inferno.

O desconhecido, que era o diabo, atirou o moço fora da montaria. E foi mostrar-lhe o quarto dos joagdores.

Era um cômodo todo de fogo, de matar a gente de calor. E por todos os cantos havia mesas de jogo e almas jogando e soltando gemidos.

O moço recuou horrorizado e pediu ao companheiro que o levasse dali para fora.

O desconhecido levou-o, mas o outro lugar onde estavam as almas que as pessoas no mundo mandavam para o diabo.

Era o mesmo fogo, o mesmo calor que o moço ainda que de longe, não podia suportar.

No meio daquelas almas, reconheceu a mulher, que gemia de cortar o coração. O desconhecido perguntou ao moço:

— Conhece aquela alma?

Ele respondeu, cheio de pavor:

— Sim, se conheço! É a pobre da minha mulher, a quem eu hoje disse que morresse com o diabo.

— Por isso está aqui. Quer levá-la?

— Se isso fosse possível...

— Depende da sua vontade. Largue de jogar.

— Se largo! pois não vi o destino dos jogadores?...

— Promete-me, pois então está feito. Quando chegar à sua casa encontrará sua mulher viva. Mas nunca mais torne a dizer que nem pelo diabo deixa de jogar.

Levou-o para fora, montaram a cavalo e partiram. Quando chegaram a uma encruzilhada deram duas horas e o desconhecido desapareceu num estouro.

O moço, meio fora de si, reconheceu que estava no caminho de casa. Tcoou a galope e quando chegou, vinha o dia clareando. Bateu na porta, já com outros modos. Veio abri-la a mulher, a quem ele perguntou se tinha morrido.

Ela respondeu que tinha sonhado que morrera e fora para o inferno onde também o vira.

O sonho concordou com o que havia passado e o moço fez-se um bom marido, muito trabalhador e deixou de jogar por uma vez.

(Gomes, Lindolfo. "O moço que deixou de jogar". Folha de Minas. Belo Horizonte, 24 de março de 19??)
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