O administrador-delegado da TDM não vai cumprir o mandato até ao fim. Depois de um ano conturbado na empresa que assegura o serviço público de rádio e televisão de Macau, Manuel Gonçalves decidiu sair. E não foi o único.
Isabel Castro
Manuel Gonçalves apresentou demissão das funções de administrador-delegado da Teledifusão de Macau (TDM), soube ontem o PONTO FINAL junto de fonte conhecedora do processo. O responsável pela empresa que presta serviço público de rádio e televisão no território tinha mandato até ao final de Agosto próximo. Estava na TDM desde o dia 1 de Setembro de 1996.
A saída de Gonçalves surge depois de um ano atribulado na TDM: a empresa foi alvo de um estudo feito por um grupo de trabalho liderado pela deputada Kwan Tsui Hang, que deu origem a um relatório em que se apontou a necessidade de reestruturação profunda das estações de televisão e rádio, tendo sido ainda proposta a transformação da sociedade anónima em “empresa pública”.
Já em Dezembro último, o Governo constituiu uma nova comissão para pensar na TDM: o Grupo de Trabalho para o Serviço Público de Radiodifusão e Teledifusão, liderado por Ieong Weng Ian, auditora e ex-deputada à Assembleia Legislativa. O conjunto de peritos contratados pelo Executivo tem até ao final deste ano para apresentar propostas que permitam “a transformação da TDM em fornecedor de serviço público de radiodifusão e teledifusão”.
Na altura, numa conferência de imprensa que serviu para prometer que a TDM não vai passar a ser uma direcção de serviços, o porta-voz do Governo, Alexis Tam, pronunciou-se sobre o que o Executivo esperava então de Gonçalves: o administrador-delegado ia “ajudar a TDM a passar para empresa pública”. Tam salientou que “Manuel Gonçalves tem uma vasta experiência de gestão”, acrescentando que “o grupo de trabalho e o Governo da RAEM precisam da sua ajuda”.
O PONTO FINAL sabe ainda que, além de Manuel Gonçalves, também está de saída o director dos canais em língua chinesa da TDM. Henry Tam, funcionário com mais de 20 anos de casa, tomou igualmente a iniciativa de deixar a empresa.
Ano atribulado
Além da ampla discussão que se gerou em torno da TDM, com a entrada em cena destes grupos de trabalho, 2010 foi ano complicado para a empresa – e para Manuel Gonçalves em particular – também pela forma como foi elaborado o relatório do Comissariado da Auditoria, tornado público em Outubro passado. O documento feito pela estrutura liderada por Ho Veng On (antigo Chefe de Gabinete de Edmund Ho) deixava bastantes chamadas de atenção às regalias de que gozava o administrador-delegado, pedindo-se contenção.
Depois, e a reboque do que foi sendo dito pelo primeiro grupo de estudo da empresa, surgiram várias queixas de trabalhadores em relação ao modo como a TDM funciona – o caso que mais impacto teve foi o de Ava Chan, uma jornalista que disse ter sido censurada e a quem foi instaurado um processo disciplinar por gravações de conversas com superiores hierárquicos, que terminou com um dia de suspensão.
A imprensa em língua chinesa esteve particularmente atenta à TDM nos últimos meses do ano – e algumas forças políticas e sociais também. Em Outubro, cinco associações de trabalhadores, lideradas pelo activista Lei Kin Iun, protestaram em frente à sede da empresa contra a alegada censura. Dias mais tarde, a Associação Novo Macau veio defender a instauração de um processo disciplinar às chefias do canal chinês da TDM e a suspensão de funções do administrador-delegado, tendo remetido propostas ao Governo nesse sentido.
Ontem, o PONTO FINAL tentou, sem êxito, chegar à fala com o administrador-delegado demissionário. Manuel Gonçalves encontrava-se com o telefone desligado. Também não foi possível, devido ao adiantado da hora, contactar o Executivo.
